Motorista assustado

Hoje cedo, quando eu ia de bicicleta para o trabalho por uma rua tranquila, um carro que vinha por trás de mim esperou pacientemente por mais de uma quadra, até ter o espaço que ele julgou seguro para ultrapassar. A rua era de mão única e relativamente larga, havia espaço para ultrapassagem. Mesmo assim ele esperou. Quando ultrapassou, o fez devagar e a quase 2 metros de distância.

Um pouco adiante o alcancei no sinal e vi que estava de janela aberta. Parei do lado para agradecer e comecei a dizer, sorrindo, “se todos dirigissem como você…”. Eu ia completar com “haveria mais gente pedalando e menos carros nas ruas”, mas não deu tempo. Ele fez uma cara de pânico e começou a se explicar:

– Desculpa! Mas eu não fiz nada errado, passei devagarzinho…

– Mas eu não estou reclamando, estou te elogiando!

– Ah!… É?… Pensei que você tava sendo irônico, achei que eu tinha feito alguma coisa errada…

– Não, eu to justamente te agradecendo por dirigir assim, eu ia dizer que se todo mundo dirigisse assim, mais gente ia poder usar a bicicleta, porque muita gente tem medo de sair com a bicicleta na rua!

– Puxa, desculpa! Eu acho que você tá certo de usar a bicicleta, não faria nada de errado mesmo!

– Sim, você fez tudo direitinho, esperou pra poder ultrapassar, passou com cuidado, a uma boa distância, tá tudo certo mesmo! Não estou sendo irônico não, estou sendo sincero, estou te elogiando. Tem gente que acha que a gente não deveria estar com a bicicleta na rua, que deveria estar no parque, mas eu também estou indo pro trabalho. Mas você fez tudo certinho sim, fica tranquilo!

– Ah. Então tá bom! Mas desculpa, viu?

– Tudo bem, não tem do que se desculpar! – Sinal abrindo. – Tchau, bom trabalho para você!

– Obrigado, pra você também!

Me senti até mal por ter assustado o rapaz. As pessoas dentro dos carros ficam com tanto medo do mundo lá fora que logo vêem bom dia como ameaça.

Mas o mais interessante nesse mal entendido é que ele não conseguia compreender por que eu estava agradecendo. O comportamento que ele teve ao me ultrapassar lhe é tão natural, tão óbvio e instintivo, que ele não conseguia perceber o motivo do meu agradecimento, só conseguia imaginar que estava fazendo alguma coisa errada. Me pediu desculpa várias vezes durante a conversa.

Precisamos de mais motoristas assim, que por instinto protegem os outros usuários da via em vez de ameaçá-los, sem precisar que lhe expliquem o quanto isso é importante. Afinal, não deveria ser um comportamento a ser incentivado, mas algo natural, que não precisa ser dito. Ou elogiado.

E você, pratica abordagem positiva com os motoristas? Conte aqui nos comentários!

15 comentários em “Motorista assustado

  1. Hoje um motorista passou tirando fina e ainda me fechou na avenida sapopemba, horário de pico. Conheço a sapopemba desde pequeno e bike anda mais rápido que o carro, acelerei e peguei ele no farol. Parei do lado da janela e dei boa noite, ele estava com uma senhora do lado que ficou toda assustada. O monstrorista falou q rinha um buraco (mentira) e que o aro da roda dele é pequeno e se entortasse a roda dele? Como faria? Eu expliquei pra ele, disse q ele não poderia fazer aquilo e falei q uma vida é mais importante q uma roda, o farol abriu e ele zarpou. Tô com muita raiva até agora.

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    1. Agiu bem, Renie. Difícil manter a calma nessa hora. Mas você passou duas mensagens que vão fazê-lo pensar: a lição de moral e a demonstração de que o ciclista pode alcançá-lo na próxima esquina. Um dos dois deve fazê-lo pensar melhor antes de repetir isso. 🙂

      Uma vez, depois de me fechar com uma pickup gigante, um motorista (de uns 50 anos) me deu a desculpa de que fecharam ele e que se não fizesse isso, ia bater. Perguntei se ele preferia passar em cima de mim do que amassar a lataria do carro, mas ele riu dizendo “ah, mas eu não ia passar em cima de você, né?”. Fui embora antes de fazer uma das 500 besteiras que passaram pela minha cabeça naquele momento.

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  2. Engraçado, mas lembrei de algo que no mínimo é curioso:
    Andando na cidade, enfrentando essas “grandes avenidas”, tanto os motoristas de carros de passeio, caminhoneiros e demais motoristas profissionais, em grande maioria, não costumam demonstrar respeito, e os de veiculos pesados parecem que fazem questão de tirar fina da gente, principalmente na subida, não são capazes de abrir alguns centímetros ao passar pela gente, e alguns até jogam o caminhão mais pra direita ainda, mas, quando tenho a oportunidade de andar na estrada, os caminhoneiros (ou uma grande parcela deles – uns 90%) passam distante dos ciclistas, alguns quase invadindo a contramão, alguém tem idéia de como explicar esse comportamento?

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  3. Em compensação, agorinha mesmo um motorista abriu espaço pra eu poder passar numa subida.
    Acho que ele fez isso mais por medo de riscar a lataria do que por camaradagem, mas fiz questão de agradecer, com um sinal de positivo e um aceno de cabeça.

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  4. Em geral o que acontece é justamente o oposto. As pessoas buzinam e xingam a gente por estarmos de bike.

    O pior é que de dentro do carro um monte de zé-ruela se sente o fodão.

    Mas esse cara aí foi firmeza, apesar de ser demasiado assustado.

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  5. Ontem mesmo, a noite, tinha um ônibus atrás de mim, percebi que ele queria passar mas não queria “tirar fininho”. Pedalei por mais alguns metros onde cheguei a uma esquina, joguei um pouco mais a bike para a direita e fiz sinal para que ele passasse. Ele passou e buzinou agradecendo. Mas isso é algo raro.

    Agora, o fato de o motorista a que você se referiu estar assustado e ter pedido desculpa por várias vezes reflete o estado de insegurança que vive a população brasileira. As vezes a gente pedalando vê um carro com a porta entreaberta ou com o cinto pra fora e a gente avisa o ocupante do carro o mesmo se assusta. A gente tem que ter o maior cuidado hoje em dia na rua quando vamos nos dirigir aos outros na rua (me incluo nessa).

    Pela experiência que tenho em estudos sobre segurança pública percebo que hoje os motoristas tem muito medo de motociclitas, pedestres que se aproximam dos carros e de outros motoristas (pelos motivos que todos nós sabemos). Os ciclistas também podem ser incluidos nesse grupo. Hoje em dia o “fator surpresa” deve ser levado em consideração. Daí todo esse panico que vive a população das grandes cidades.

    Infelizmente eu digo que hoje é meio complicado a gente se dirigir aos outros na rua… até para pedir uma informação.

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  6. Outro dia eu não parti a cara de um moleque que quase atropelou a mim, à minha esposa e a um amigo, por que estávamos pedalando na rua, veja só, e lugar de ciclista é na ciclovia.
    Não usei meu spray de pimenta na cara dele nem moí de porrada apesar de estarmos em 3 contra um. Tudo o que fiz foi enfiar o sujeito de volta no carro (tudo bem que a porta do carro deve estar selada até hoje), e mandei vazar.

    Nem mesmo depois que ele voltou a nos atacar, tentando me acertar com uma pedra e ao meu amigo com uma faca eu fui atrás dele pra quebrar-lhe o carro, e, quem sabe, alguns ossos.

    Então posso dizer que sim. Já pratiquei a abordagem positiva.

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  7. ja aconteceu cmg uma situação parecida.

    eu estava voltando pra casa do trabalho, subindo a washington luis sentido centro, proximo a chacara flora, naquele transito infernal de todo dia de manha, um motoqueiro segurou o transito pra mim enqto eu dava sinal pra entrar a esquerda e qdo ele passou por mim, tb bem longe, me falou:

    _”ja pode ir tranquila, eu ja pedalei hj de manha! bom dia pra vc!

    e eu virei pra ele agradeci e dei bom dia tb!

    aaah se tivessem mais motoristas, motoqueiros, caminhoneiros assim…. faz uma diferença!!!

    faz o transito mais humano!

    =p

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  8. Olá,

    Existe algum tipo de problema com os taxistas?

    Sou novo na bike e sempre que um taxi me ultrapassa redobro a atenção, além das eventuais buzinadas, finas e o não uso de seta (acessório de luxo).

    Aonde é que o Taxista compra habilitação?

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  9. a situação mais comum que acontece comigo é o motorista querer acessar a via, mas espera eu passar primeiro. toda vez que percebo que ele não avança e aguarda eu passar (mesmo sabendo que muitas vezes essa atitude foi praticamente induzida em função da minha não-redução de velocidade) eu olho e mando um joinha de agradecimento. sempre escuto uma buzinadinha.

    costumo tb me apoiar (sem descer da bicicleta) ao lado dos onibus enquanto espero o farol abrir. nesse momento sempre rola um “bom dia! td bem?” “ta gostoso o dia pra pedalar ne!” “vai com cuidado”.. enfim.. sinto que manter contato com os motoristas é uma das formas mais importantes de fazer com que ele te veja, respeite e mantenha a cordialidade!

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  10. Os motoristas por aki costumam ser solidários com ciclistas em casos mais extremos, qndo está chovendo, ou quando estamos carregando alguém na garupa, ou compras, por exemplo… No trânsito normal é muito raro alguém ser solidário… Zango muito mais do que agradeço, triste né?

    Se bem que a gente toma tanta trolhada que acaba nem reparando quando os outros são gentis…
    Mas gostei do texto! Vou prestar mais atenção quando forem legais e agradecer também!

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  11. Nunca tive o prazer de pegar um motorista educado dessa forma.
    Sempre no meu trajeto de casa-trabalho-casa, tem uns felas que tira fina, me manda andar na calçada.
    Mando se catar e pego outro rumo, as vezes sei que faço errado, mas é dificil segurar.
    Ah se todos fossem educados como no seu texto.
    Seria até um incentivo a mais pra patroa tbm ir pedalando.
    Hum bom sonhos rs
    Aquele

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  12. Respeitar as regras e agradecer são fundamentais pra conquistarmos nosso espaço. A gente tem que conquistar pela admiração, não pelo medo. Pego a Marginal quase que todo dia. Várias vezes fui “escoltado” por mais de 2 quarteirões por carros que iam dobrar a direita. Um jóia cordial já resolve.
    Motorista parou na preferencial, mesmo ela sendo sua? Agradeça. E lembre-se de sempre parar no vermelho e nunca ande na contra mão. Fazer isso é desserviço.

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