Começando a pedalar nas ruas

Leia o relato emocionante e inspirador da Heloísa sobre sua primeira experiência com a bicicleta na rua, ao lado de um Bike Anjo.

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Quando começou a pedalar pelas ruas, a Heloísa Garcia Mota escreveu em seu blog um relato emocionante e inspirador sobre sua primeira experiência, ao lado de um Bike Anjo.

É um relato vale a pena ser lido – e que reproduzimos aqui no Vá de Bike:

Pedalando em voz alta

É realmente impressionante o que uma bicicleta pode fazer por você. E digo isto sem hiperbolismos característicos da minha personalidade emotiva, romântica, exagerada, artista… enfim, geminiana.

Heloísa Garcia Mota. Foto: Arquivo pessoalEu lembro até hoje de quando pedalei minha primeira Ceci, cor de rosa, com cestinha, lá em frente de casa em Andradina. E claro que foi a coisa mais emocionante do mundo, circular pelo quarteirão com o presente de Natal mais legal que eu já havia ganhado. Lembro que passou uma pessoa na rua, olhou pra mim e disse: alguém ganhou uma bicicleta de presente de natal adiantado (faltavam umas duas semanas pro 25), e eu fiquei com vergonha. Aí eu fico a imaginar onde foi que a empolgação de ganhar uma bicicleta se perdeu no tempo, mas esta é outra história.

Eu nunca achei que o passeio turístico mais interessante de São Paulo poderia ser a Bicicletada, que acontece toda última sexta feira do mês saindo da Praça do Ciclista, estrategicamente localizada no início (ou fim) da Avenida Paulista, na frente do metrô Consolação. Em Julho, saíram umas centenas de bicicletas para passear não só pela avenida mais cheia de vida deste mundo, mas para vivenciar em grande estilo o centro velho da cidade que eu mais amo no Brasil. Paradinha na Praça da Sé, e definitivamente alguma coisa aconteceu no meu coração quando eu cruzeia Ipiranga e a Avenida São João pedalando, ouvindo um chorinho tocando na porta do Bar Bhrama, enquanto a massa se unia para impedir os carros de passarem. Haja sensação boa de sentimento coletivo, como podem tantas pessoas legais se reunirem em um só lugar! Eu só conseguia pensar em quando eu ia comprar a minha bicicleta, a minha Amelie (sim, eu já tinha encontrado até um nome para ela!).

O plano da bicicleta tinha sido adiado para mim, em nome do aniversário da minha mãe. Valeu a pena, porque ver a pessoa que te deu a sua primeira bicicleta chorar de emoção porque você está dando a última bicicleta que ela esperava na vida dela traz uma satisfação indescritível.

Mas depois da bicicletada ficou impossível adiar a compra da minha própria magrelinha, e eu perdi qualquer boa desculpa que havia surgido naquele sábado chuvoso e fui em busca da minha Amelie, uma Amelie que coubesse no meu orçamento, claro. E comprei uma Caloi 500, roxinha, linda, maravilhosa, que só espera uma cestinha pra completar seu visual Cycle Chic. Mas só ia ficar pronta na terça-feira, então eu tive uns dias de ansiedade a enfrentar pela frente. Pra ajudar, dei de cara com o livro Diários de Bicicleta, do David Byrne (Psycho Killer!) na entrada da Saraiva, piscando pra mim com um prefácio do Tom Zé. O Tom Zé eu conheci num show do auditório Ibirapuera com o meu amigo mais ciclista, o JP. Parecia impossível não ler o livro depois de tantas ciclocoincidências, e meus dias de ansiedade foram recheados das histórias do David Byrne conhecendo o mundo a pedaladas.
E numa bela quarta-feira de Agosto, eu fui buscar minha bicicleta, com meu bike anjo, o JP claro, e vim pedalando pra casa. E não foi fácil, foi difícil. No começo você pensa: equilíbrio, trânsito, segurança, fica esperta, motoristas de ônibus demoníacos, não vai fazer feio na frente do seu bike anjo, subida (mas por que eu to fazendo horas de academia, céus? Tenho certeza absoluta que meu professor de BIKEEE não simulou uma subida dessa na aula de RPM), ufa, desciiiida (qual freio eu uso, qual freio eu uso?!) marchas, marchas e suas 21 velocidades, onde estão vocês? E quando eu menos esperei, eu estava em casa! Mas por que foi que passou tão rápido, eu agüentava tudo de novo (menos a subida).

A primeira experiência que eu tive como ciclista devo confessar que foi o meu zelador pentelho e mal humorado. Que ele era tudo isso eu já sabia, mas que ele ia me impedir de guardar a bicicleta na garagem, não. Tudo bem, meu Plano B era perfeito, guardar a bicicleta na sacada enorme do apartamento, que no momento tem espaço de sobra, alem de espaço de sobra ocupado por coisas inúteis. Mas eu tinha esquecido que tem gente que tem preconceito. E não é que foi exatamente o que aconteceu com a minha Amelie, sofreu bullying a pobrezinha.

Começou comigo tentando convencer os porteiros de me ajudarem a convencer o zelador, e exceto o Seu Zé faxineiro, que levou bronca por abraçar minha causa e o porteiro da noite que me ajuda a equilibrar a Amelie no elevador toda noite desde então, ninguém ficou do meu lado. E o pior, todos tentaram me convencer de que não era nenhuma boa idéia eu sair por aí pedalando em São Paulo. E eu lembro que foi quando comecei a aumentar meu tom de voz: com isto eu não estou preocupada, eu estou segura de que posso pedalar tranquilamente. Eu estou preocupada sobre onde eu vou guardar minha bicicleta.

Tá Heloísa, mas você não disse que tinha um Plano B de guardar em casa. Pois é… se eu fosse o Julio Cesar teria gritado dramaticamente: Até tu Brutus! Dentro de casa também não estava parecendo que iam aceitar a minha bicicleta tão linda, e que estava consumindo e recarregando todos meus pensamentos positivos da semana. E quando me disseram: você devia ter falado com o zelador antes… eu aumentei meu tom de voz pela segunda vez em nome da Amelie: Mas isso não mudaria em nada o fato de que eu ia comprar a minha bicicleta. E foi mais do que ótimo! E a coisa boa, é que a outra morante que não havia visto a bicicleta ainda, amou a minha idéia, e pela primeira vez dentro da minha própria casa eu me senti apoiada pela iniciativa de ir pedalando pro trabalho. Eu nunca vou esquecer a sensação de alivio e alegria que esta pessoa me passou nesta quinta-feira, nunca vou poder agradecer o bastante, espero que um dia ela saiba disso.

Na sexta de manhã eu já estava pedalando sozinha pro trabalho, me sentindo a melhor pessoa do mundo. Parecia que eu não precisava ter tanto medo das coisas, elas dão certo, o que antes parecia super complexo e difícil, se transformou em: vai e pedala minha querida (mas vê se presta atenção na rua!).

Na volta pra casa na sexta feira, JP me arranjou um outro bike anjo, outra pessoa muito gentil que topou perder um tempinho pra me acompanhar em casa. E ainda me apelidou de cinderela, quando perdi a minha sapatilha vermelha de lacinho que voou no meio do caminho…

De novo, fui abrir minha boquinha em nome das pedaladas na Amelie, pedindo carona de bike anja no grupo de meninas que pedalam todo primeiro Sábado do mês, as Pedalinas. E obtive tantas respostas que confirmei o que eu pensava: ciclistas são uma espécie de ser humano que evoluíram para o tipo de pessoa que eu quero me tornar.

Não vou me arriscar a dizer que são melhores ou piores que qualquer outro tipo de espécie de ser humano, mas se eu idealizo o tipo de pessoa que eu quero ser, e as pessoas com quem quero estar, elas estão muito próximas de um ciclista que vive tentando ganhar seu espaço em São Paulo. E isso com certeza não tem a ver apenas com as pedaladas.

Muitas primeiras pedaladas, e infelizmente na volta pra casa na segunda feira, eu perdi o pedal da Amelie, que saiu voando enquanto eu terminava de subir a pior das subidas do nosso caminho. E o paciente JP bike anjo subiu comigo carregando a bike, já que depois de algumas diversas tentativas, concluímos (ta bom, ele concluiu sozinho) que o parafusinho do pedal espanou. Como eu não tenho carro para carregar a bike pro conserto, e embora o atendente português da bicicletaria tenha sugerido a remota chance de eu pedalar com uma só perna, meus amigos se ofereceram para carregar a Amelie. Primeiro o Gui, depois a Ná, e o próprio JP disse que carregava ela paralela com a bike dele, e no fim a fofa da Martinha! Isso prova outra teoria minha, que eu sou a pessoa mais sortuda do mundo, com os melhores amigos do mundo… e quero muito ser como eles um dia!

Então, o JP que também é meu twitter anjo, foi twittar para o Movimento Caloi sobre esta tragédia de segunda feira. E a esposa dele, a Evelyn, mandou ver junto com ele. E hoje até eu consegui ser cínica com o Movimento Caloi num twitter matinal… e me fez bem! Segundo o JP, em breve a bicicleta me transformará tanto que eu nem vou estar mais pedindo desculpa por tudo (sou capaz de pedir desculpa por existir).

E foi quando ele disse: Bicicleta transforma, que eu me toquei que eu queria contar sobre isso no blog que eu tinha “desativado”há quase um ano! Por que não? Por que não continuar escrevendo… e dessa vez divulgar pra um número maior de pessoas do que 4 (e pedir segredo eterno!).

E corro o grande risco de não ser compreendida por toda essa empolgação, mas definitivamente, nos últimos tempos andar de bicicleta foi a melhor iniciativa que eu tive. Se você não entendeu direito, ou acha que eu estou exagerando, eu recomendo a participação em uma Bicicletada , porque estando lá, com as pessoas que com certeza construirão um mundo melhor, você será tocado pela leveza na alma que bicicleta pode trazer pra você.

Pra quem está procurando um jeito de se tornar uma pessoa melhor, de ter uma vida melhor, de acordar com mais bom humor, de dar mais risadas, de sentir novas sensações, que acha que poderia lutar mais pelos seus direito de escolher o branco ao invés do preto e de ignorar a mente coletiva em busca de novas e outras opções(como cantariam os caras da segunda melhor banda do mundo) e, se você já cansou de ouvir os paulistanos reclamarem do trânsito em todas as situações, quando eles mesmo são o trânsito….. #vadebike!

Só acho um absurdo eu nunca ter feito isto antes!

22 comentários em “Começando a pedalar nas ruas

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