Foto: @NoProzac

Mais uma Ghost Bike e nada pra comemorar

Mais uma Ghost Bike foi instalada em São Paulo e os ciclistas continuam na luta contra a estupidez motorizada.

Mais uma bicicleta branca é instalada na cidade de São Paulo.
Mais um ciclista é vítima da violência no trânsito.
Mais uma vez cidadãos imploram por paz!

Foto: Thiago Benicchio

O Seu Francisco Jander Martins trabalhava como camelô no centro de São Paulo e foi atropelado por um ônibus na última quinta-feira, dia 04/08/2011. Não era diretor de nenhuma grande coorporação, mas também pagou com a vida pela “imprudência” de não estar dirigindo um carro naquele momento. Ele esteve em algumas manchetes de jornais por que atrapalhou o trânsito, quanta ousadia!

Mas quem atrapalha quem? Sua pressa vale uma vida?

Foto: Thiago Benicchio
Memorial Márcia Prado: flores e balões coloridos para tentar aliviar a dor. Foto: Aline Cavalcante

Ghost bikes são memoriais que mantém vivos os locais onde ciclistas morreram. Intervenções simples e diretas que representam o apelo por uma cidade melhor, sem tantas mortes banais nem famílias destroçadas e esperanças destruídas.

Não se trata de humor negro, como pensa o arquiteto Abilio Guerra, mas a luta contra a “higienização” das cidades que têm o poder de rapidamente apagar os vestígios das vidas absorvidas pelo asfalto – ignoradas e esquecidas por todos.

A história do Seu Francisco terminou no mesmo asfalto que nasceu uma bicicletinha pintada pelas mãos leves e inocentes do seu filho de apenas 3 anos de idade. Naquele momento, o pequeno se divertiu entre pincel e tinta, talvez os poucos segundos em que esqueceu por que estávamos ali. Tão logo veio a realidade seguida do choro engasgado.

Foto: @NoProzac

Não queremos um cemitério de histórias tristes! Não queremos mais Ghost Bikes! Mas enquanto crimes de trânsito forem considerados “acidentais” ou um “deslize”, continuaremos protestando e parando essa cidade para que ela enxergue quem são os verdadeiros culpados dessa barbárie.

Veja mais registros do Luddista

Muro da Cardeal Arcoverde/SP. Foto: Aline Cavalcante

Está sendo produzido um documentário sobre Ghost Bikes e em breve poderemos ver de perto como outras cidade e culturas entendem as bicicletas brancas.

As Ghost Bikes de São Paulo
A primeira Ghost Bike foi instalada no final de 2007, na Av. Luis Carlos Berrini, um dos principais eixos comerciais e de negócios da cidade. Foi retirada em poucos dias (acredito que tenha sido retirada até no dia seguinte). Ficava em um bairro nobre, em frente a um banco de luxo e não foi bem compreendida. Era feia, ruim para os negócios. Sumiu rapidamente.

A segunda Ghost Bike foi instalada em homenagem à nossa amiga Márcia Prado, assassinada por um motorista de ônibus em janeiro de 2009. A bicicleta branca encontra-se até hoje na Av. Paulista, no que se tornou um memorial onde ciclistas frequentemente ainda prestam suas homenagens. Márcia era muito querida na Bicicletada e é sempre lembrada por todos nós.

Márcia Prado foi homenageada com a criação de uma Rota Cicloturística com seu nome, ligando São Paulo e o litoral. Essa rota teve uma abertura experimental no início desse ano e está em vias de ser tornar oficial, aberta permanentemente. Hoje os ciclistas não têm nenhuma opção para chegar ao litoral, são totalmente proibidos, uma violação de direitos flagrante e impune. A Ecovias, concessionária que se acha dona das rodovias que levam à baixada santista, não permite o tráfego de bicicletas, impedindo a passagem de ciclistas com apoio da Polícia Rodoviária e até, pasmem, da Artesp, justificando que “não é seguro”. Não é, mas deveria ser. E a Ecovias não faz nada para torná-lo seguro. Afinal, ciclista não paga pedágio, que se danem seus direitos.

A terceira Ghost Bike foi instalada em novembro de 2009, em homenagem ao ciclista Fernando Martins Couto e ao gari Antônio Ribeiro. Para incluir o gari na homenagem, foi afixada uma vassoura de varrição de rua junto à bicicleta. Ambos estavam conversando na calçada, aguardando para realizar a travessia, quando foram “colhidos” por um ônibus em alta velocidade. Na instalação dessa Ghost Bike / Ghost Broom, estavam presentes ciclistas, garis, familiares da vítima e bastante gente que passava pelo local. Essa bicicleta branca também continua lá até hoje.

A quarta Ghost Bike, em homenagem a Manoel Pereira Torres, foi instalada em março de 2010. Seu Manoel, um senhor de 53 anos que usava a bicicleta para ir ao trabalho, atravessava na faixa, com o sinal aberto para os pedestres. Um motociclista vindo em alta velocidade pela pista do ônibus, com o sinal fechado para ele, atingiu Seu Manoel e o arremessou contra o semáforo, a três metros de altura. Sua bicicleta foi lançada contra o poste de aço e dobrou ao meio, tal a força da colisão. Os familiares não foram encontrados a tempo para a homenagem, que foi realizada por vários ciclistas. Um deles carregou a bicicleta branca nas costas por todo o percurso da Praça do Ciclista até a Av. Vereador José Diniz, onde ela foi instalada e ainda permanece, em local alto e visível.

A quinta Ghost Bike, em homenagem a Antônio Bertolucci, foi instalada em 13 de junho de 2011. Seu Antônio, de 68 anos, foi atropelado por um ônibus de turismo enquanto acessava a avenida Paulo VI por uma de suas alças. Ele era empresário, ciclista experiente e possuia 15 bicicletas, tamanha sua paixão. Os familiares compareceram ao ato e manifestaram repúdio à intolerância e  falta de respeito no trânsito de São Paulo.

8 comentários em “Mais uma Ghost Bike e nada pra comemorar

  1. Aqui em Florianópolis também temos nossas ghosts bikes. Elas são muito úteis mesmo para lembrar das vítimas. E infelizmente são tantas que já perdi a conta.

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  2. Sugiro para vocês ou para quem instala essas ghost bikes para fazer ações como a Fundação Thiago Gonzaga faz na sua campanha Vida Urgente http://www.vidaurgente.org.br/site/int_projetos-int.php?codigo=94 O Vida Urgente pinta nas vias essas borboletas como vocês podem ver no link que mandei. Eles tem autorização e apoio da Prefeitura de Porto Alegre e da Empresa de Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que é o equivalente gaúcho da CET de São Paulo.

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