Muitos ciclistas usam a calçada por serem ameaçados pelos motoristas quando tentam usar a via. Foto: Willian Cruz

Quando a bicicleta subversivamente passa a fazer parte do sistema

Aline Cavalcante fala sobre infrações de ciclistas, comparando a situação de alguns anos atrás com a atual, em que a bicicleta começa a ser legitimada como parte do sistema de transportes. E faz um relato sobre a alteração de seu comportamento no trânsito, motivada por essa mudança.

Recentemente participei como palestrante da Adventure Sports Fair e a parte mais interessante desse tipo de experiência é, sem dúvida nenhuma, ouvir as mais diversas histórias das pessoas e suas bicicletas. Alguns pontos são sempre bastante polêmicos e controversos, inclusive entre os ciclistas mais experientes. É sobre alguns desses pontos que vou falar agora.

Alguns anos atrás

Quando eu comecei a andar de bicicleta na cidade, em 2009, ficava muito insegura em dividir espaço com os carros, não sabia direito como me posicionar, nem se podia pedalar entre eles. O barulho do trânsito assustava, bem como a real possibilidade de morrer atropelada. Meus primeiros passos, digo, pedaladas, foram pelas péssimas calçadas e, vez ou outra, me arriscando no asfalto.

Se hoje os paulistanos têm se mostrado cada dia mais dispostos a discutir o uso da bicicleta, há alguns anos era bem diferente. Não existiam ciclofaixas de lazer, ciclorrotas, mídia, protestos, sustentabilidade, gente famosa nem políticos falando sobre o assunto. O ciclista era muito mais invisível e incompreendido do que hoje.

Atualmente pedalo com bem menos freqüência pela calçada – exceto em situações de perigo iminente – mas não me sinto no direito de recriminar quem o faz. Como apontar o dedo e dizer que o lugar de ciclista é na rua quando nas ruas nos sentimos ameaçados e “invasores” do espaço do carro? Como exigir que um ciclista cumpra a lei, se a lei não está sendo cumprida em favor dele? É difícil julgar.

O uso da calçada é só um dos exemplos de um universo imenso de “infrações” cruelmente jogadas no colo dos ciclistas, onde a intenção é colocar no mais frágil, vulnerável e desprotegido a responsabilidade destrutiva do outro.

É certo cometer infrações? Não.

É aceitável ou justificável? Nem sempre.

É compreensível? Sim!

Além da desinformação generalizada (tanto do poder público, mídia, motoristas, pedestres e dos próprios ciclistas) sobre legislação de trânsito e a segurança real de quem usa a bicicleta, existe o fato das nossas ruas e cidades terem sido (re)construídas e (re)planejadas para dar vazão ao número cada vez maior de automóveis em circulação. Nesse contexto, quem utiliza bicicleta é, aos olhos da sociedade, um pobre e fracassado que ainda não tem um carro.

Com o advento das discussões sobre mobilidade urbana, da falta de espaço, congestionamentos, escassez de combustível, poluição, mortes e o real custo das coisas, os ciclistas ganharam um novo “status”:  São agora uma parte da solução.

Houve aí uma sensível e importante mudança de paradigma, pois quem pedala como meio de transporte passou a ser encarado de outras maneiras, desde um maluco-revoltado-subversivo-ao-sistema até um riquinho-consciente-da-moda.

Fato é: a partir do momento que a sociedade e órgãos de trânsito passam a entender novamente a bicicleta como um veículo, os ciclistas – por tabela – voltam a ter direitos e deveres, com necessidade de cumprir regras e normas para circular nas vias sem colocar a vida de ninguém em risco (inclusive e principalmente a própria).

Mudança de atitude e efeito cascata

A Secretaria Municipal de Transportes (SMT) e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que são os órgãos responsáveis pelo trânsito de São Paulo, têm feito algumas ações (ainda que tímidas e desconectadas) de bastante importância para garantir a vida dos ciclistas.

Depois de ler e reler diversas faixas espalhadas pelas ruas com frases incisivas para o motorista priorizar e proteger o ciclista, senti que estamos mesmo vivendo num momento ímpar e propício à transformação, por isso resolvi mudar aos poucos algumas atitudes minhas. Essa iniciativa é particular e motivada num voto de confiança que quero dar à administração pública, mesmo desconfiada do ano eleitoral e com plena consciência sobre nosso atraso histórico.

Apelo por respeito à faixa de pedestres em Curitiba. Foto: Aline Cavalcante

Voltei a exercitar a calma e a paciência no trânsito, saindo da posição de defesa e ataque constantes para a posição de equilíbrio e igualdade. A partir de agora tentarei furar menos os faróis vermelhos, parando mais nas faixas de pedestres nem que seja apenas para olhar, ter certeza que ninguém vai atravessar e continuar meu trajeto ou aguardar o tempo do semáforo mais à frente da faixa – nunca em cima dela.

Continuarei exercitando, como sempre fiz, a prioridade e respeito MÁXIMOS aos pedestres, independente da circunstância e situação.

Pedalarei com mais legitimidade e consciência sobre meus atos, tendo um pouco mais de certeza de que todos os outros envolvidos no trânsito sabem dos meus direitos em trafegar ali. Vou testar e exercitar essa mudança de postura, abordagens positivas, mesmo diante das recentes e intragáveis perdas causadas pela intolerância e omissão do poder público.

A gentileza de todos no trânsito garantirá a paz nas ruas e o direito de ir e vir com segurança e respeito. Em efeito cascata, esperamos que os cidadãos se espelhem e espalhem boas práticas, contribuindo para a diminuição das mortes e aumento do número de pessoas experimentando os prazeres da bicicleta.

Vamos tentar juntos?

64 comentários em “Quando a bicicleta subversivamente passa a fazer parte do sistema

  1. boa noite a todos,e parabens aline pelo seu texto, infelizmente vivemos em uma guerra pelo espaço no transito,temos que tomar cuidado para não sairmos ferido,abrços.

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  2. … SLOW BIKE …

    Slow Life, long life …

    Isso me remete ao comentário de um fantástico professor que dizia.:

    “tanto faz comer torresmo ou cereal, se estressar vai travar…”

    Amigos lembrem-se ao subir na sua bicicleta que o caminho é mais importante … 3 segundos em semáforo podem lhe trazer surpresas fantásticas …

    Abs … Parabéns Aline …

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  3. Vai ficar redundante mas merecemos elogios sempre quando fazemos algo bem feito, como este seu texto que se encaixa perfeitamente nessa mudança no trânsito à tantos anos dominados pelo carros. Parabéns Aline.
    Quem anda de bike como meio de transporte hoje está envolvido (mesmo que não queira, ou nem saiba)com esta situação ,que como todo processo de mudança é difícil, barulhento, às vezes cruel com os mais fracos e principalmente, que sempre terá dois lados.
    Moro em Guarulhos e vejo um número bom de pessoas que usam a bike durante a semana, e na sua grande maioria são crianças indo ao colégio ou trabalhadores (geralmente da construção civil, visto que os prédios estão pipocando aqui), e que provavelmente nem tenham ideia do que seja um código de trânsito. Se nós, que somos ou já fomos motoristas, e agora usam a bike não dermos o simples exemplo, realmente a sociedade continuará achando que somos um pobre e fracassado que ainda não tem um carro (como vc disse), ou loucos sem responsabilidade sobre a própria vida que vive se arriscando todo dia no trânsito. Devemos entender que nossas atitudes contam, tem valor e consequência. Somos responsáveis pelo que fazemos e no trânsito por aqueles que nele convivem. Se eu ciclista não protejo o pedestre, como cobrar uma atitude de proteção de um motorista? Se sou hostil, obrigo o outro a se proteger, e ele vai usar o que tem pra isso…se sou gentil, a resposta será outra.
    E como vc bem disse, escolhemos a bike porque temos um prazer nisso, e se nos concentrarmos em andar de uma forma mais ‘slow’ fica mais fácil ser gentil e zelar pela nossa vida e pela nossa saúde, afinal dependeremos dela pra pedalar na volta pra casa.
    Acho que me encaixo mais no tipo adoro-pedalar-e-detesto-andar-de-carro e sendo assim muitos amigos sempre me perguntam dos ‘contras’ de usar a bike: chuva, trânsito, perigo, tempo, conforto..etc. Eu respondo a eles que uso a bike pq fico feliz com isso. Gosto! E gosto não se discute. E então pergunto à eles: “vocês gostam de carro, pagam caro por ele, pagam pra cuidar e mantê-lo né? Então porque quando estão lá, sentadinhos em seus carros que tanto amam, se estressam, buzinam, correm e sequer curtem o momento de dirigir?”
    Geralmente a resposta é: “ah, mas o trânsito acaba com o humor de qualquer um!” E aí fica a minha deixa: “então, eu de bike sou um carro a menos pra congestionar…se você respeitar e não ameaçar o ciclista, incentivar e não xingar, seremos cada vez menos carros nas ruas pra te atrapalhar…que tal??”
    Espero que daqui uns anos, quando nossas cidades parem de babar nas cidades holandesas, dinamarquesas, etc., possamos nos orgulhar de ter feito realmente parte desta mudança no trânsito.

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    1. Li o editorial esta manhã: uma série de lugares-comuns sem a menor reflexão, um copia-e-cola superficial e tendencioso. Olhos cegos, até pior: seletivos e maldosos na cegueira.
      Sobre parar ou não no sinal, que foi o exemplo que mais ficou em evidência: não significa que o ciclista quer ganhar um minutinho a mais, mas sim que quer evitar uma situação de confronto em que uma turba de carros que estava parada quer acelerar sobre ele e ultrapassá-lo, como se aquela bicicletinha atrapalhasse o fluxo e a vida da cidade toda.

      Polêmico. O que acha? Thumb up 5 Thumb down 3

  4. Excelente post Aline! Também acredito que estamos em um momento ímpar, onde a bicicleta está começando a ser encarada como um meio de transporte. E se queremos que a bicicleta seja realmente tratada como meio de transporte, devemos utilizá-la como tal, tentando seguir ao máximo as leis impostas (claro, como aqui já comentado, desde que seja preservada a integridade física nossa e a dos outros). Devemos lembrar que não é raro vermos comentários de “especialistas” dizendo que o “correto” seria proibir bicicletas em avenidas de grande porte. Ciclistas infringindo tais leis estão contribuindo para que estes pensamentos ego-centristas se espalhem e tomem corpo, podendo soar como verdades.

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  5. Aline, parabéns pelo texto. Concordo com voce que nós, enquanto ciclistas, devemos tentar ao máximo respeitar as regras. Infelizmente, o que tenho mais visto, são ciclistas fazendo bobagem, e isso me deixa extremamente chateada porque atitudes assim podem comprometer anos de luta por espaço e respeito. Vejo MUITO ciclista circulando na contramão, na calçada em alta velocidade, furando sinal sem ao menos olhar para o lado. Queria pegar todos eles e explicar as regras e a importância de seguir-las e de ter respeito pelo direito dos outros. Enquanto não formos o exemplo para sociedade, nunca terão respeito por nós. Terão sempre uma justificativa: “ah, mas esses ciclistas não respeitam nada…” E eu espero chegar o dia de dizer que eles estão errados.
    bjos

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    1. Poisé, esse é o problema. Isso que você disse “Queria pegar todos eles e explicar as regras e a importância de seguir-las e de ter respeito pelo direito dos outros” é exatamente o que devemos esperar da lei e dos orgãos públicos. E como ciclistas, motoristas e até quem sabe um dia, pedestres que dividem um espaço público devemos cobrar e sermos cobrados no cumprimento de um acordo de convivência que se chama LEI.

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  6. Adorei Aline !!!
    Estou com vc nessa !!

    Eu sei que quando escolhi há pouco mais de 1 mês a bike como opção (essa opção está se fazendo cada vez mais presente no meu dia a dia…), iria mudar muita coisa na minha vida, a forma em que eu via a cidade, as pessoas, o jeito de fazer as coisas… e como já falamos, ainda me olham como o louco, o excêntrico, mas sei que a escolha foi acertada…
    valew !!

    Pedro

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  7. Excelente texto, Aline! Parabens!

    falar em slow bike é ir direto no problema que não esta so nas ruas, mas na vida toda das pessoas: a pressa. ha alguem (ou uma meia duzia de alguens) que ganha vendendo a cultura da pressa, da economia de tempo, etc, etc. mas a quem interessa essa economia de tempo, afinal, a nao ser a essas pessoas que ganham grana com isso? o tempo economizado quase nunca se converte em seu uso com qualidade. pelo contrario. o tempo economizado eh usado pra alimentar ainda mais a propria pressa de cada vez mais fazer mais coisas, numa velocidade maior, e chegar no fim do dia com um estresse absurdo, irritabilidade em niveis altissimos, agressividade e uma angustia bizarra que vem da sensacao de termos corrido demais e nao termos feito tudo o que precisavamos fazer. e precisar fazer algo e querer fazer algo sao duas coisas bastante distintas.
    sei que o assunto aqui eh a legitimacao das bikes nas ruas e a seguranca do ciclistas. mas, no fim das contas, o que nos faz cumprir (ou descumprir) leis de transito (motoristas, ciclistas, pedestres, etc) eh sempre a pressa de se chegar a algum lugar. to no mesmo movimento que o Mauricio e voce. pedalando cada vez com mais paciencia, com mais respeito pelas outras pessoas e por mim tambem, pelo ritmo do meu corpo e pela qualidade da minha vivencia na rua. comecei a pedalar na cidade pra chegar mais rapido aos lugares. mas de uns tempos pra ca, resolvi mudar a chave. nao quero mais chegar rapido, quero chegar com qualidade. e isso faz toda a diferenca no fim do dia.

    valeu pelo texto!!
    beijo
    s

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    1. Sabrina,

      isso me fez lembrar que em um dado momento nas palestras da Adventure falei uma coisa que nem eu tinha me tocado do quanto mexeu comigo (e com aquelas pessoas ali me ouvindo).

      Eu falava da descoberta da bicicleta em função da pressa e do tempo perdidos no trânsito, mas hoje não vejo mais assim. Todos perdemos tempos e tempos nos deslocando pela cidade. A diferença é que o ciclista consegue converter esse tempo “perdido” em um ganho de qualidade de vida (em outros níveis, os usuarios de transporte publico tb conseguem converter isso, nem que seja com a cochilada no vidro, uma pessoa nova que conheça ou uma página a mais lida do seu livro).

      Cada um decide sobre onde perder/ganhar tempo e qual prioridade dar para as coisas da vida. Se hoje eu escolhi vir trabalhar de bicicleta, com certeza não o fiz pq chegaria mais rápido (mesmo que isso realmente aconteça), mas fiz isso pra tornar a minha vida melhor, pq gosto, pq tava a fim! Não quero perder esse “brilho” da bicicleta em mim.

      Por isso me recuso a entrar nesse ritmo doentio que o próprio transito e a sociedade impõem pra vc – seja a pé ou de bicicleta.

      Pelo show walking também =)

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      1. Adorei a postagem e a discussão sobre slow bike.
        Ainda sou usuária de transporte público/pedestre, ciclista só em raras ocasiões (mas vontade não falta, o que pesa é a questão financeira e, principalmente, um sentimento de culpa por causa dos meus pais, que têm certeza de que assim que eu tiver uma bicicleta eu vou ser atropelada e morrer…).
        Queria só comentar que concordo 100% com o comentário sobre o ganho em qualidade de vida. Nunca tive vontade de ter um carro. E estava justamente pensando enquanto lia os comentários que sinto muitas saudades do tempo em que trabalhava do outro lado da cidade e gastava uma hora e meia / duas horas para ir e mais duas horas ou mais para voltar, porque foi a época da minha vida em que mais tinha tempo para ler!

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    2. Perfeito, Sabrina.

      E não acho que sejam apenas alguns a vender essa pressa. Tudo é rápido. O elevador tem de vir logo, a USB é 2.0, a internet é de 10MB, tudo tem de ser instantâneo.

      Essa é um assunto bem mais complexo que no meu entendimento tem TOTAL relação com a postura no trânsito. A necessidade da rapidez, associada a impotência no trânsito, causa essas cenas deploráveis que temos visto.

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  8. Boa tarde Aline, fico feliz ao ver que não sou o único a acreditar que mudando nossas atitudes enquanto pedestres, motoristas, e ciclistas, podemos melhorar e muito o convivio no trânsito. Todos os dias ultulizo a bicicleta como meio de transporte e percebo que cada vez mais gentileza gera gentileza, procuro seguir o código de trânsito a risca pois acredito que para ter respeito é preciso respeitar. Paro sim em faróis, respeito faixas de pedestres, não ando em calçadas( apenas desmontado), e principalmente não ando na contramão. Estou sempre a uma velocidade onde é possivel evitar pequenos acidentes, e NUNCA entro em uma dividida com os carros, e procuro não entrar em discussões. Resultado? Nunca me envolvi em um acidente, fiz varios amigos no trânsito e meu trajeto se tornou muito mais agradável, sou 100% menos estressado. Tenho carro que uso para passear com a familia, e mesmo sendo ciclista, me irrita ao cruzar com uma bicicleta na contramão, ou quando um ciclista avança o sinal vermelho, principalmente quando estou dirigindo. Seguindo as regras os motoristas começam mesmo que ainda muito devagar a,nos ver como veículos, fator essencial, para nosso convivio. Da mesma forma que não custa para o motorista esperar 10 segundos para nos ultrapassar, para nós também não sera o fim do mundo aguardar o farol abrir, claro que falta muito principalmente por parte dos governantes para atingirmos o ideal, mas se cada um fizer sua parte, estaremos dando um grande passo.
    Abraços e bom pedal a todos

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  9. Esse é o ponto.

    Faz uns meses que passei a esperar os semáforos abrirem. Afinal, o argumento que usamos para educar os motoristas é pra esperar uns segundos a mais, não é? Por que pra gente isso é diferente? – O que percebi com isso? Que não interfere em nada no meu tempo de trajeto e condiz mais com a postura “slow bike” que tenho tentado assumir.

    Nesse momento de quebra de paradigmas, eu não quero ser o responsável pelos comentários reacionários do tipo “mas também, o ciclista também só faz cagada, se acha acima da lei”. Prefiro economizar minha argumentação para defender os ciclistas em TODAS as outras circunstâncias, em que os argumentos carrocratas não condizem com o que é previsto em lei.

    Mas concordo com você, não tem como criminalizar quem faz uma infração em nome de sua própria segurança (ou vida), desde que essa infração não coloque a vida/segurança de mais ninguém em risco.

    Já escrevi há algum tempo sobre isso, também:
    http://www.maucantara.com/blog/2010/02/27/diarios-de-bicicleta-parte-2-primeiro-esboco-sobre-cinismos-e-complexidades/

    Bjs
    mau

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    1. Perfeito Mau!
      Estou tentando adotar essa postura “slow bike” pra pedalar e pra viver mesmo, tb descobri que não influencia tanto no tempo e ainda chego menos suada nos lugares.

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    2. tb estou nessa de esperar o sinal. e ainda mais nem passo os carros, espero na fila mesmo. o respeito dos motoristas que estao atras de mim, vendo eu de bike esperando igual, aumentou muito, passam longeeeeee de mim. o que eu digo: facam uma semana de teste com essa atitude e depois cheguem a uma conclusao. (ps teclado sem acentos)

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    3. Mau,

      O ponto é exatamente esse!

      Entendo, no entanto, que muitas vezes as infrações dos ciclistas colocam sim os outros em risco. E, na maioria das vezes, ele mesmo, inclusive.

      Mas sou totalmente a favor da postura correta no trânsito. O “slow bike” cai bem como estilo de pedalada e de vida.

      Se quiser saber, eu fui muito pouco desrespeitado nesse um ano de bike. Talvez, porque eu também respeite os outros veículos!

      Abraço,
      RLN

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    1. Phil, o mais importante SEMPRE SEMPRE SEMPRE é a sua vida!
      Por isso eu pedalei na calçada, por isso não julgo quem o faz. Sei que não é má intenção da pessoa nem falta de vontade de ir pra rua (ou vc acha que ciclista gosta de incomodar pedestre?)
      A lei é LINDA e tem em seus artigos diversos argumentos para proteger a vida das pessoas. É sério. Na lei é impressionante como a vida está SEMPRE em primeiro lugar.
      O problema é que na prática a teoria é outra, infelizmente. Dai nosso desafio em fazer valer o que tá lá, escrito e que rege nossa sociedade. No dia que isso acontecer, tenha certeza que Lei e Vida serão plenamente contemplados

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    2. A vida, óbvio. Mas cuidado com a área cinzenta que você entra quando dribla a lei. O que você faz passa a ser copiado por outros que não necessariamente sentem-se em situações de risco (no meu comentário dei o exemplo de grupos de ciclistas que burlam as leis).

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      1. Pois é, Ricardo. Inclusive pessoas sem bike, várias vezes os motoboys pegam carona em mim quando furo um farol. Bizarro

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      2. Mas é esse o ponto! O que precisamos discutir não é aplicação da lei, mas sim a diminuição desta região cinzenta, que só acontecerá se tivermos uma campanha efetiva da prefeitura direcionada para o compartilhamento do espaço público.

        (Região cinzenta é um termo utilizado para as situações onde regulamentos podem ser contestados e não se aplicam de forma integral)

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    3. Sua vida é importante, mas não mais do que a vida dos pedestres que muitas vezes são desrespeitados por ciclistas irresponsáveis.
      Aliás, não só a dos pedestres, mas de outros ciclistas tbém. Já quase fui atropelada pq tive que desviar rapidamente de uma ciclista que estava na contramão em uma avenida movimentada.
      Eu tenho um ódio enorme por esses grupos de ciclistas, tipo night bikers. Eles não respeitam ninguém, se acham os donos da rua, os reis da bike, e desrespeitam todo mundo: motoristas, pedestres e outros ciclistas.

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      1. Concordo, Daniela! Tá cheio de ciclista irresponsável colocando a vida dos outros em risco. Devemos sempre fazer nossas escolhas pro nosso bem, mas respeitando o bem e a vida dos outros. E aqui vos fala uma quase-vítima de atropelo, na calçada e na faixa de pedestre, e não foi uma única vez não…

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  10. Aline, parabéns pelo texto. Sou um desses ciclistas novos e ainda não sei se me enquadro no “maluco-revoltado-subversivo-ao-sistema” ou no “riquinho-consciente-da-moda”, mas o fato é que sou um motorista-ciclista. Uso o carro para ir ao trabalho (55km ida e volta) e tento fazer todo o resto de bicicleta. Essa mudança no meu comportamento foi motivada principalmente pela ciclofaixa de lazer e pelo tempo perdido no transito da cidade.

    Sinceramente eu não sei dizer se antes de pedalar eu respeitava tanto o ciclista como hoje eu respeito. Talvez a palavra respeito não seja adequada, pois jamais buzinei ou fechei um ciclista. O que eu sinto pelo ciclista hoje quando estou dirigindo meu carro e ele está ali, na rua e desprotegido, é uma imensa, IMENSA empatia (colocar-se no lugar do outro).Eu sei como é estar lá, como é sentir medo e frio na barriga quando um carro passa rápido demais ou perto demais (ou os dois), portanto hoje até saio do meu caminho para proteger o caminho daquele ciclista desconhecido.

    Se por um lado eu reconheço essa mudanças no meu comportamento e também tenho a convicção de que a bicicleta é parte integrante e fundamental na solução da mobilidade urbana, por outro infelizmente há de se admitir que somos mal educados. Ciclistas, motoristas, motociclistas e pedestres compartilham dos mesmos valores e são filhos da mesma cultura, que funciona muito bem para gerar soluções individuais (jeitinho, tirar vantagem dos outros) e muito mal quando se pensa no coletivo (jeitinho, tirar vantagem dos outros). Essa constatação por si só é suficiente para derrubar qualquer argumento de se “driblar” a lei em prol do X da questão, que é o bom senso. Não existe bom senso num cenário de falta de educação e respeito, e se bom senso realmente funcionasse, não vejo o porque de termos leis.

    Sempre que encontro grupos de ciclistas na rua eu tenho o desprazer de encontrar pessoas que são ciclistas muito mais experientes que eu, que tem bicicletas caríssimas, tem todos os equipamentos possíveis e imagináveis e se vestem de roupa de super-heroi e… furam sinal, cruzam a faixa de pedestre (quando o sinal está aberto para eles!) e também fazem da faixa sua própria ciclovia. Isso é errado, porque grupos com mais de 4 ciclistas não sentem-se necessariamente hostilizados pelo transito dos carros, a sensação de segurança é muito maior quando se tem mais um ciclista do seu lado.

    Agora, finalmente o ponto em que eu queria chegar com esse comentário: tanto os ciclistas quanto motoristas (generalizando) são muito bons em olhar para os próprios umbigos. A maioria nem para para pensar sobre o que estão fazendo e falta empatia no trânsito, e dela deriva o respeito e a gentileza. Neste caso, precisamos sim contar com o aparato legal que cerque as responsabilidades e direitos do ciclista, e porque não, multá-los. Tenho certeza que aquele ciclista que quase me atropelou na virada cultural enquanto eu cruzava uma faixa de pedestres com o sinal aberto para mim sabia que se acontecesse algo, as consequências para ele seriam insignificantes. Do mesmo jeito que o motorista que ameaça um ciclista (até o dia 14, veremos) sabe que nada acontece com ele, é só um susto, uma fina educativa.

    Ontem eu postei no meu twitter 2 pensamentos e gostaria de terminar este post com eles:
    1o pensamento: ciclista, sejam a mudança que vocês querem no mundo. Respeite as leis de transito.
    2o pensamento: motorista, da próxima vez que vir uma bicicleta, imagine que nela pedala seu sobrinho. Sua atitude no volante mudaria?

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    1. SENSACIONAL seu comentário, Ricardo!

      É exatamente esse o ponto. Eu confesso e admito que muitas vezes uso o “jeitinho” para driblar situações onde a maior prejudicada serei EU, ou seja, infelizmente ainda preciso passar por cima da lei para me proteger!

      A questão é que agora chegamos num ponto onde é extremamente importante que os ciclistas passem a se entender como parte importante do Sistema de Transportes e, com isso, perder um pouco aquilo que é (também é lindo) da subversão e anarquia, em prol do coletivo, da legitimidade e para que mais pessoas se espelhem e tb pedalem.

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