Foto: Shopping Eldorado/Divulgação, via Facebook

Shoppings de SP tentam inovar e falham na criação de bicicletários

Por falta de pesquisa e de consultoria especializada, shoppings e outros estabelecimentos têm disponibilizado bicicletários inadequados.

Foto: Shopping Eldorado/Divulgação, via Facebook

Os shoppings de São Paulo têm se esforçado, mas raramente tem conseguido criar estrutura adequada para receber os ciclistas. O caso mais recente, e talvez mais polêmico, é o do Shopping Eldorado, que reinaugurou seu bicicletário no dia 15 de dezembro, para tentar atender melhor seus clientes ciclistas. E o que era para ter uma repercussão positiva, reforçando o posicionamento sustentável que o shopping tem buscado, acabou saindo como um tiro pela culatra.

O bicicletário é bonito, o ambiente agradável. Segundo informações divulgadas na fan page, há bebedouro, ar condicionado, armários, calibrador de pneus, pia para se lavar e um funcionário cuidando das bicicletas, das 6 às 23h. Poxa, muito bacana!

Seria tudo lindo se não fosse o design escolhido para os paraciclos (os suportes onde se prendem as bicicletas ao estacionar). Com esse modelo, a bicicleta precisa ser colocada em pé, com a roda encaixada entre os canos de metal.

Por que esse modelo é ruim péssimo?

  • Ao encaixar a bicicleta, parte do peso ficará apoiado na ponta do garfo, podendo danificá-la e também à blocagem.
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  • Torna-se quase impossível prender a bicicleta com uma u-lock, que deve ser presa ao quadro.
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  • Se a bicicleta desequilibrar para o lado com um esbarrão, a roda pode entortar.
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  • Paralamas “envolventes” podem ser danificados com essa estrutura.
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  • Nem todo mundo consegue levantar a bicicleta, principalmente as pessoas de baixa estatura, pouca força nos braços ou de idade mais avançada. Bicicleta deve ser para todos, não só para “atletas”.
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  • Os donos de dobráveis, mais curtas e com aro bem menor, também terão dificuldades para estacionar sem danificar a bicicleta.
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  • O bicicletário fica no segundo subsolo,  fazendo com que os ciclistas tenham que subir dois andares para sair e ainda tenham que pedalar numa rampa em curva, onde os motoristas não tem muita visibilidade e frequentemente sobem em velocidade.

O bicicletário tem também carregador para bicicletas elétricas. Agora alguém me explica, por favor, como uma pessoa que tenha uma bicicleta elétrica, que chega a pesar até 35kg devido ao motor e à bateria, vai fazer para equilibrá-la ali de pé? [Atualizado: Segundo matéria do site Na Bike, as vagas para bicicletas elétricas não são essas da parede.]

Histórico positivo, resultado decepcionante

O Shopping Eldorado possuía bicicletário há anos. E o fato de contar com um funcionário para cadastrar as bicicletas, fornecendo um cartão de identificação, também merecia menção positiva. Mas falhou terrivelmente ao aprovar um projeto que privilegia a forma em detrimento da praticidade.

Já usei várias vezes o bicicletário antigo, que já não dava conta da demanda e precisava mesmo ser ampliado, mas me desculpem, recuso a prender minhas bicicletas nisso aí.

Bastava uma pesquisa com o Google para descobrir quais os melhores modelos e que cuidados tomar na construção de uma área para estacionar bicicletas. Aqui no Vá de Bike mesmo já escrevemos sobre o assunto, citando os manuais da Transporte Ativo. Há empresas especializadas como a Ciclomídia, que fazem um ótimo trabalho nessa área, instalando paraciclos em U invertido.

A ideia de ter ar condicionado para refrescar quem chega com calor e armário para guardar os pertences é excelente, temos que admitir. Mas as perguntas que os ciclistas mais têm feito são “como eu uso?”, “quem construiu isso?” e “por que não perguntaram para algum ciclista antes de mandar fazer?”.

Ao shopping, fica a dica: para atender quem usa a bicicleta, é preciso pensar como ciclista. Imagine alguém que nunca dirigiu e nunca tentou manobrar um automóvel projetando um estacionamento para carros? No que daria?

Esperamos sinceramente que o shopping reveja o projeto, pois conseguiram piorar a estrutura, que já era ruim.

[Atualizado: Em matéria publicada no site Na Bike em 18 de dezembro, o Shopping admite a possibilidade de readequar o espaço e esclarece que, além das 19 vagas na parede, há outras dez onde a bicicleta é estacionada na horizontal, mais as duas vagas para recarregar bicicletas elétricas, também na horizontal.]

Veja foto do bicicletário antigo, feita em 2010:

Estrutura antiga: paraciclos do tipo "entorta roda", presos ao chão, em um espaço apertado do primeiro subsolo. Ao menos o acesso era fácil e não era preciso levantar a bicicleta. Recentemente, o bicicletário ficava muito mais cheio que isso, com as bicicletas penduradas na vertical.
Cartão de identificação e controle de retirada sempre foram diferenciais positivos do Eldorado.

Outros maus exemplos em São Paulo

O Shopping Market Place também tentou inovar na criação do bicicletário e acabou adotando um modelo inadequado. Qualquer esbarrão pode entortar a roda, principalmente se o pneu for fino. Foto: Thiago Ciclista Urbante, via Facebook
Shopping Vila Olímpia também adotou o modelo "entorta roda". Faltou consultoria especializada.
Modelo "entorta roda" no Parque do Ibirapuera. Perceba, ao fundo, que os ciclistas preferem improvisar naquele pequeno pilar amarelo, que não foi feito para isso mas possui uma argola que permite prender a bicicleta pelo quadro. Também faltou pesquisar antes de investir.

Modelos adequados

O paraciclo em forma de U invertido é o mais indicado. Com ele, o ciclista apoia a bicicleta e prende por onde achar melhor (geralmente pelo quadro). Foto: Ciclomidia/Divulgação
O formato R também é bastante adequado, permitindo prender pelo quadro com facilidade. Tem sido usado nas lojas do supermercado Pão de Açúcar.

Nunca prenda apenas pela roda

Principalmente se sua bicicleta tem “blocagem” (quick release). Sempre prenda o quadro e, de preferência, também as rodas.

Essa foto mostra uma situação mais que errada: além de prender apenas pela roda, a bicicleta estava presa pelos raios, que podem ser cortados com qualquer alicate. Foto: Kristian Ovaska/Wikimedia Commons

45 comentários em “Shoppings de SP tentam inovar e falham na criação de bicicletários

  1. Olá Pessoal

    Achei o tema sem dúvida interessante, principalmente por se tratar de Bicicletas que em muitos casos possuem valores consideráveis.
    Desenvolvi um modelo de Bicicletário que está em uso em vários pontos em Sorocaba-SP e que acredito que tenha resolvido bem as questões aqui discutidas.
    A maioria dos modelos de Bicicletários adotados em Condomínios, formam verdadeiras montanhas de Bicicletas que ocasiona danos aos equipamento quando ficam inclusive completamente enroscadas. Ficam pendurados em Tips de “Ganchos de Acougue” e sujeito a constantes colisões.
    O modelo que projetei está sustentado por “preservar a Bike” e em dois modelos o de Piso e ou de Parede. No projeto gabaritamos a entrada da Roda em 60mm de forma que se auto centra com contato apenas com pneu. Fundamentalmente deixamos espaços entre uma vaga e outra de 470mm , possibilitando portanto inclusive para o usuário entrar e sair junto com sua Bike, mesmo com as vagas ao lado estejam ocupadas.

    Se quiserem ver o modelo visitem meu Blog http://metamil.blogspot.com

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  2. conheci um modelo ideal, em joinville SC. pois alem de adequados eles teem fechaduras de alta segurança, ainde as chaves não podem ser copiadas e enm michadas, alem do sistema ter chave mesmtra em caso de emergencia, achei muito interessante, acho que é da Lockers do brasil

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