Protesto contra ausência de plano cicloviário chama atenção em passeio organizado pelo Governo de PE
Ciclistas de Recife questionaram foco do poder público no uso da bicicleta apenas como lazer, e não transporte, durante o passeio ciclístico Pedala PE.
Durante passeio ciclístico realizado em 20 de setembro em Recife e promovido pelo Governo de Pernambuco, ciclistas protestaram contra o atraso na implantação do Plano Diretor Cicloviário (PDC). Com faixas, cartazes e panfletos, membros da Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo) chamaram a atenção dos ciclistas e organizadores do evento. Foram distribuídos panfletos informando o que é o PDC, as responsabilidades de cada órgão e os prazos para a implantação, dando destaque, principalmente, ao não cumprimento dos cronogramas.
O Plano Diretor Cicloviário (PDC) foi lançado em 5 de fevereiro de 2014, após cobranças de setores da sociedade civil organizada, e prevê a implantação de 590km de estrutura cicloviária até 2024. São 224 km de uma rede metropolitana sob responsabilidade do Governo do Estado e outros 346 km de rede complementar a ser executada pelos municípios.
Após quase 600 dias de lançamento do PDC, o discurso de inversão de prioridades do governo do Estado e da prefeitura do Recife não passou de mera promessa. Segundo o cronograma, no curto prazo previsto no PDC (2014-2015), o governo estadual deveria implantar um total de 136,74 km de estrutura cicloviária. Ao mesmo tempo, caberia à prefeitura do Recife entregar 26 km de ciclofaixas e ciclovias. No entanto, ambos não entregaram nenhum quilômetro.
Paralelamente, a Secretaria de Turismo, órgão atualmente responsável pela execução do Plano Diretor, organizou o seu quarto Passeio Ciclístico Pedala PE, com o objetivo de incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte. Mas como incentivar que as pessoas troquem o carro pela bicicleta se não há nenhuma estrutura que proteja o ciclista? Dessa forma, fica evidente ao cidadão que o espaço seguro para usar a bicicleta se limitará aos passeios ciclísticos com carro de apoio e às ciclofaixas de lazer móveis aos domingos e feriados. Ou seja, apenas para quem está em busca de lazer ou esporte.
Importante salientar que recentemente o PDC foi transferido da Secretaria de Cidades para a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer (SETUR), o que, para muitos, só corrobora a visão limitada que o governo de Pernambuco tem sobre a bicicleta: turismo, esporte e lazer.
Alta demanda
Um dos trechos mais importantes do PDC é a avenida Caxangá, importante via que liga a zona oeste e outros municípios vizinhos até o centro do Recife. Via de trânsito pesado e rápido, a avenida possui seis faixas de rolamento, sendo duas delas para uso exclusivo do BRT. Ainda assim, é a melhor opção existente para muitos ciclistas. Em contagem recente, apurou-se que mais de três mil ciclistas passam por ela diariamente.
O Plano Diretor Cicloviário prevê ciclovia em todo o seu trajeto, mas o governo do Estado e a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), responsável pela gestão de trânsito do Recife, se desentendem sobre com qual órgão atualmente estaria o projeto.
A Gerente de Ciclomobilidade da Secretaria de Turismo do Estado recentemente declarou a um jornal local que a ciclovia da Caxangá não sai por falta de autorização da CTTU. Em outra matéria, a CTTU afirma que o projeto está com a SETUR.
Em reunião com o secretário Municipal de Mobilidade no dia 24/9, a Ameciclo questionou sobre o paradeiro do projeto, e foi informada que somente com o fim das obras dos terminais de ônibus, após a retirada dos ônibus comuns da via, haveria espaço para a implantação da ciclovia. A previsão para essas obras é de um ano e meio a dois anos.
Constantemente atropelados pela desinformação, os ciclistas do Recife se perguntam onde está o projeto da ciclovia da Caxangá, se ele realmente ainda existe para os governos municipal e estadual ou se já está perdido no fundo de alguma gaveta.