Ciclovia na av. Nove de Julho, região central, inaugurada em 2016 pela gestão passada: apesar de ser alvo de severas críticas devido à readequação das faixas de rolamento e estacionamento, cresce, a cada dia, o número de pessoas das mais variadas idades por ali. Foto: Federica Fochesato

São José dos Campos promete diálogo, mas não ampliará ciclovias

Prefeitura alega falta de recursos para atender à demanda por infraestrutura. E as ciclovias existentes seguem sem manutenção.

Necessidade urgente de colocação de semáforo para pedestres e ciclistas no cruzamento mais movimentado da ciclovia da avenida Nove de Julho. Reivindicação não foi atendida pela PMSJC. Foto: Federica Fochesato
Necessidade urgente de colocação de semáforo para pedestres e ciclistas no cruzamento mais movimentado da ciclovia da avenida Nove de Julho. Reivindicação não foi atendida pela PMSJC. Foto: Federica Fochesato

Não é somente em São Paulo que, desde a troca da gestão municipal, pairam dúvidas sobre o que irá acontecer com as ciclovias, ciclofaixas e demais estruturas destinadas aos ciclistas. Elas serão expandidas, criando mais conexões a fim de compor um eficiente sistema cicloviário fazendo valer a própria Política Nacional de Mobilidade Urbana? Ou as estruturas deixarão até mesmo de receber manutenção básica – como já está ocorrendo em algumas cidades –, comprometendo a segurança de quem pedala?

Pedido de diálogo

Em São José dos Campos, município de quase 700 mil habitantes a cerca de 90 km da capital paulista, tais interrogações foram enviadas de maneira formal à prefeitura através de uma Carta Aberta protocolada pelo coletivo independente Ciclistas de SJC. Tal documento deixou claro o intuito da população de querer dialogar sobre as políticas públicas em torno do modal bicicleta, participando, portanto, dos processos decisórios como preconiza o próprio Estatuto da Cidade.

O que estimulou o envio da carta – assim como também ocorreu na cidade de São Paulo – foi, sobretudo, um pronunciamento do prefeito Felicio Ramuth (PSDB) sobre a revisão das ciclovias e ciclofaixas, incluindo até mesmo a eliminação de trechos. O pronunciamento levou aos seguintes questionamentos: quais critérios serão utilizados para revisar as ciclovias e ciclofaixas? Quem fará tal revisão e de que forma (serão funcionários da prefeitura sem envolver quem pedala pela cidade)? E a efetiva execução do plano cicloviário que integra o Plano Municipal de Mobilidade Urbana? Com isso, na carta, foi solicitada uma reunião junto ao prefeito.

Reunião entre membros do coletivo Ciclistas de São José e o chefe de governo, Anderson Farias. Foto: Guilherme Pereira
Reunião entre membros do coletivo Ciclistas de São José e o chefe de governo, Anderson Farias. Foto: Guilherme Pereira

Sem novas ciclovias, nem manutenção das atuais

O encontro direto com Felicio Ramuth não ocorreu. Quem recebeu, no fim de março, três ciclistas do coletivo foi o chefe de governo, Anderson Farias, que ouviu as reivindicações apresentadas e se comprometeu a abrir um canal de diálogo participativo junto à Secretaria de Mobilidade Urbana – em 25 de maio ocorrerá a primeira reunião com o secretário da pasta, Paulo Guimarães.  No entanto, Farias foi bastante objetivo ao reforçar que atualmente a prefeitura não tem metas relativas à construção de novas ciclovias, e alegou falta de recursos para tal, embora reconheça a importância de se estimular o uso da bicicleta.

A mesma declaração, bastante mal recebida pelos usuários da bike, já havia sido dada por Guimarães durante uma entrevista na qual um dos enfoques era a falta de manutenção das ciclovias e ciclofaixas da cidade, fato que coloca em risco quem pedala. Outro destaque da reportagem foi a necessária interligação das ciclovias existentes, principalmente no eixo centro-sul, que implica na travessia da rodovia Dutra.

Para Simone Mendes dos Santos, 50, psicanalista e integrante do coletivo Ciclistas de São José, a manutenção das ciclovias é essencial e deve ser uma ação constante, como uma lição de casa. “Mas não podemos aceitar a ideia de que novos quilômetros de ciclovias não serão feitos. Dessa forma, o modal bike não será incentivado, o que se traduz numa visão ainda muito atrasada quanto à democratização da mobilidade urbana”.

Perfil cicloviário de São José dos Campos

Hoje, somando-se ciclovias, ciclofaixas e calçadas compartilhadas, São José possui cerca de 88 km de espaços destinados à bike. Destes, 39 foram construídos entre 2002 e 2011. Entre 2012 e 2016, o município recebeu mais 49 km quando foi governado por Carlinhos de Almeida (PT).

Os trechos inaugurados na região central em 2016 foram aqueles que mais receberam críticas por parte da sociedade – principalmente na avenida Nove de Julho, zona nobre. E os motivos, como costuma ocorrer na maioria dos municípios que assistiu cegamente à construção da cidade com foco na fluidez do automóvel, giraram em torno das alterações quanto ao estacionamento de carros ao longo das calçadas e a readequação das vias de rolamento, seja com seu estreitamento ou redução das faixas.

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