Moto polui mais que ônibus. Como assim?
90% do monóxido de carbono e dos gases de Efeito Estufa no município de São Paulo são emitidos pelos veículos automotores. Quando precisar de serviços de motoboy, experimente usar um serviço de bike-courier. |
Algumas vezes eu já disse por aqui que uma motocicleta polui mais que um ônibus. Cabe uma explicação, para que não pareça que eu estou tirando dados da cartola ou manipulando informações para favorecer a bicicleta.
Os dados que eu cito aqui no site sempre vêm de alguma fonte. Na maioria das vezes, eu já deixo um link para o lugar onde se pode confirmar a informação ou a página de onde ela foi obtida. No relato sobre o Desafio Intermodal eu não coloquei, em parte porque os dados não estão muito claros na página para onde eu poderia apontar.
De onde vem a informação
A informação sobre a poluição causada pela moto e pelo ônibus foram obtidas na página do Ibama que fala sobre os Programas de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE, para automóveis, e PROMOT, para motocicletas).
Nesses programas, a poluição é mensurada por km rodado e não por litro consumido, porque o objetivo do Ibama não é diminuir consumo e sim emissão. Um combustível “bem aproveitado” pela queima adequada no motor e que passa por um sistema de exaustão com catalisador, mesmo que consumido em maior quantidade, pode emitir menos poluentes que um combustível consumido moderadamente mas sem aproveitamento e filtragem adequados. Óleo misturado ao combustível também aumenta a emissão de poluentes.
Vale citar que os valores constantes nas tabelas dizem respeito às quantidades máximas de poluentes que os veículos referenciados por elas podem emitir. Ou seja, alguns fabricantes podem até produzir veículos que poluam menos do que esses limites, o que dá alguma margem de erro aos cálculos aqui apresentados.
Comparando emissões
As tabelas apresentadas nessa página mostram emissões diversas: monóxido de carbono, hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio e material particulado (este em algumas tabelas).
Compare por exemplo um ônibus comum (que se enquadra na categoria veículo pesado a diesel convencional), com uma moto de até 150cc, ambos zero Km. Essa comparação a princípio deveria favorecer a moto, já que com menor cilindrada ela polui um pouco menos e que o ônibus escolhido poderia ser um movido a GNV em vez de diesel. Os dados abaixo refletem essa comparação e foram retirados daquela página:
Ônibus | Moto | |
Monóxido de Carbono | 5,45 | 5,5 |
Hidrocarbonetos | 0,78 | 1,0 |
Óxidos de nitrogênio | 5,0 | 0,3 |
Conclusão
Percebe-se que a moto só emite menos óxidos de nitrogênio que o ônibus, mas emite mais monóxido de carbono e hidrocarbonetos.
É importante lembrar que, além de perder em dois dos três quesitos disponíveis para análise, a moto transporta no máximo duas pessoas (salvo utilizações bizarras). O ônibus, por sua vez, leva em média algumas dezenas. Esse fato supera em muito qualquer margem de erro ou incorreção que as comparações acima possam ter.
Mesmo que a moto poluísse um décimo do que um ônibus polui, a poluição individual que uma pessoa causa utilizando um ônibus velho é bem menor que se ela utilizar sozinha uma moto de 150 cilindradas, zero quilômetro.
Para fazer uma comparação mais justa, poderíamos comparar um único ônibus velho com dezenas de motocicletas zero quilômetro com catalisador. Eu não tenho dúvida sobre qual grupo de pessoas poluiria mais, considerando-se o total emitido pelo grupo. Mas você não precisa acreditar em mim: é só obter os dados nas tabelas do site do Ibama e fazer as contas…
Carlos, obrigado pelo comentário! Mas vamos analisar as informações que você me oferece.
Avaliando pelo seu ponto de vista, eu deveria concluir que não há mal em motos poluírem muito, mesmo as novas, já que há outros veículos que poluem mais. A poluição que eu e você causamos geralmente não é algo de que nos envergonhemos, porque decorrem de ações que passaram a fazer parte de nossa vida, como por exemplo usar um carro ou uma moto. Mas ela causa mal às pessoas do mesmo jeito (inclusive a nós mesmos!), a diferença é não percebemos isso. E, quando percebemos, o problema é *a poluição*, como se ela fosse um mal em si e não a conseqüência de nossas ações. Isso porque fomos ensinados que quem polui são as indústrias. Sim, elas também poluem (e muito), mas não são só elas.
Derivando esse raciocínio para outras ações reprováveis, podemos fazer afirmações aterradoras. Correndo o risco de ser criticado por exagerar, vou fazer uma delas. Se eu pegar uma arma e der um tiro para cima, eu fiz algo errado? Aparentemente não, porque eu não atirei em ninguém, não tentei matar ninguém. No máximo assustei algum vizinho. Posso guardar minha arma de novo na gaveta e dormir tranqüilamente. Mas se eu pensar que em algum momento aquela bala que subiu vai ter que cair e que, quando cair, ela pode atingir alguém de forma fatal, estarei vendo a conseqüência da ação que a princípio parecia inocente. A chance daquela bala matar alguém é muito pequena, mas devo por isso continuar atirando? E usando a mesma lógica do seu argumento, porque eu me preocuparia com a bala que eu atiro com o revólver, se tem gente que faz o mesmo com uma metralhadora?
Você diz que esse assunto só vale a pena ser discutido quando a frota de carros zero superar a frota de carros velhos. Bom, essa afirmação tem um problema estrutural: a não ser que em um momento pontual toda a frota existente seja instantaneamente substituída por carros zero, isso nunca vai acontecer, porque saiu da loja já não é mais zero… Vamos entender então que a frota de carros velhos seja toda substituída por carros com menor emissão de poluentes, a tão cultuada “renovação da frota”. O problema então seria a quantidade: como levará anos para que essa renovação ocorra, para cada carro velho que for substituído teremos até lá dez carros novos que poluem menos. Terá havido grande ganho? Quando será a hora de nos preocuparmos com a poluição?
Você também comenta que existem cidades sem motos e com ônibus e que, por isso, as informações aqui prestadas seriam inúteis. Tudo bem, para essas cidades as informações que eu prestei *são* realmente inúteis. É como dizer a alguém que vive na Finlândia que a graviola tem gosto melhor que o cajá, para essa pessoa não vai fazer mesmo a menor diferença. Mas para grandes cidades, faz muita diferença. Para quem mora numa cidade como São Paulo, onde as pessoas passam de 1 a 6 horas por dia no trânsito, faz muita diferença. Numa cidade em que se perde 2 anos de vida por causa da poluição, a mesma cidade em que 8 pessoas por dia morrem por causa da contaminação do ar, faz muita diferença. Mesmo.
Você teme que eu tenha escrito esse texto para atacar as motos de maneira disfarçada. Na verdade eu escrevi para esclarecer uma afirmação que eu fiz em outro artigo e que foi contestada, como eu mesmo também contestaria se não soubesse a fonte. Também me assustei quando descobri que motos poluíam mais que carros, porque a princípio me parecia que o contrário, principalmente pelo menor consumo e pela necessidade de mover um peso total muito menor. me assustei mais ainda quando descobri que poluíam mais que os ônibus, quem poderia imaginar isso?
Não tenho porque atacar especificamente as motos. O que eu ataco são principalmente as conseqüências do uso excessivo de veículos automotores, sejam motos, carros, ônibus ou caminhões (ok, muitas vezes ataco a cultura do automóvel e as propagandas abusivas das montadoras). Mas não tenho nada contra o automóvel ou a motocicleta, ambos são invenções maravilhosas, muitas vezes com mostras surpreendentes de tecnologia. Também não tenho nada contra quem usa um carro ou uma moto de maneira responsável.
Mas me sinto obrigado a mostrar às pessoas a conseqüência que esse uso traz. Se, mesmo assim, o leitor desses textos quiser continuar usando sua 4×4 diesel, muito bem, é a opção que ele faz. É como o fumante que sabe todo o mal que o cigarro causa e prefere continuar fumando. Cada um é livre para fazer o que quer de sua vida, como eu sou livre para reclamar da fumaça de um cigarro ou de um escapamento, pois ambas afetam minha vida, não apenas a de quem as emite.
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Dê uma olhada nessa notícia fresquinha da OMS:
http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2006/pr52/en/index.html
“Air pollution is estimated to cause approximately 2 million premature deaths worldwide per year”.
Veja esta outra notícia, também recente:
“A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o tabagismo responda por 5 milhões de mortes anuais, podendo chegar a 10 milhões nos próximos anos”
http://radioclick.globo.com/cbn/wma/wma.asp?audio=2006/noticias/fumo_060828.wma
Ou seja a poluição mata quase metade do que o cigarro mata. Isso é assustador. Proibiram os comerciais de cigarro, será que não seria o caso de proibir também os anúncios de motos e automóveis?
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Valeu Zenga, corrigi meus comentários!
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Fala Willian,
tem uma correção no seu post. O CO (monóxido de carbono) é substância considerada poluente, assim como os óxidos de nitrogênio (NOx). Já o CO2, tb emitido na queima de combustíveis, é um ar que já existe naturalmente na atmosfera, só que o aumento da sua concentração é um dos principais causadores do efeito estufa. O certo então é: CO=poluição, CO2=efeito estufa. Abraço!
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Concordo com o Michel, plenamente
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ISSO QUE DIZER QUE , SE UMA MOTO FAZ + OU – 40km/LITRO, E UM ONIBUS FAZ 6KM/LITRO, ENTAO
UMA MOTO DAR PARA 2 PESSOAS, E O ONIBUS +/- 40 PESSOAS, OU SEJA, SAO 16 PESSOAS NAS MOTOS CONTRA 40 DO ONIBUS, ENTAO A MOTO POLUI MAIS EM RELAÇÃO AO ONIBUS,
MAS O QUE SE DEVE FAZER, E QUE TODO OS GOVERNOS DEVEM SE CONSIENTIZAR , E CRIAR METRO EM TODAS AS CIDADES , E INVESTIR MAIS EM TECNOLOGIAS QUE NAO POLUA, COMO VEICULOS MOVIDOS A ENERGIA SOLAR, POIS UM DIA O PETROLEO VAI ACABAR, E AI….
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Me pareceu quase inútil essas informações se formos considerar a enorme frota de carros velhos que temos no país. Além disso, não podemos esquecer que muitas cidades do interior utilizam ônibus velhos que sobram da renovação das frotas da capital, os quais dificilmente passam por revisões periódicas. E, geralmente, nessas pequenas cidades, quem não anda de ônibus anda de bicicleta, ou seja, esses ônibus não concorrem com as motos para a poluição.Acho que essa matéria não vem só trazer informações sobre poluição de veículos, mas vem para atacar (disfarçadamente) outros aspectos negativos que as motos têm quando do seu mau uso.Quando a frota de carros zeros superar a de carros usados será possível discutir esse assunto novamente.Antes disso, é apenas acrescentar mais um ponto desfavorável a um veículo já tão mau visto no trânsito.
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Chester, a informação que você procura está no índice ali do lado direito. Abra o item “Bicicleta é transporte” e clique em “Bicicletas dobráveis” (o link é muito comprido para eu colar aqui). Essa A-Bike tem o design muito parecido com o da Strida e o que eu penso dela é o mesmo que eu comento sobre a Strida lá no outro post. 😉
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Eduardo, se essa informação sobre o catalisador for verdade, então a situação é pior do que eu imaginava.
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Carlos, eu não esqueci de colocar não, repare no texto: “Nesses programas, a poluição é mensurada por km rodado e não por litro consumido, porque o objetivo do Ibama não é diminuir consumo e sim emissão” . Essa informação também está na página do Proconve e pode ser confirmada lá.
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interessante, e justamente o que vi em San Francisco na California foi um exercito de bicicletas fazendo exatamente o que os nossos motoboys fazem por aqui. Alias la, tem faixas exclusivas p/bicicletas em quase todas as ruas e a preferencia sempre e deles. Outro dado importante e a forma que os onibus estao preparados pra levar suas bikes qdo eles querem optar por nao pedalar. E olha que San Francisco e puro morro.
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Essa tabela é a emissão por litro de combustivel , ou por uma unidade de tempo? vc eskeceu de colocar, pq c for por litro, a moto faz 60km/l enquanto o busão faz 6
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Segundo eu soube não foi nem será adotado o catalisador para as motos, mas será obrigatório substituir o ineficiente carburador pela injeção eletrônica… em 2009! Apenas duas motos nacionais, um pouco mais baratas, estão vindo com injeção eletrônica, uma de 660 cc e outra de 250 cc.
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Muito oportuno o post. Me estimula a continuar substituindo a moto pela bicicleta+ônibus (e, em breve, possivelmente apenas esta).
Aproveitando: lembro que em um post antigo você falava em bicicletas alternativas, mas não achei (precisava de uma busca aqui, não? já é muita informação!). Eu gostaria de saber o que você acha desse brinquedo: http://www.a-bike.co.uk/store/about.php
Eu gostei da idéia de ter uma bicicleta que possa levar comigo. E quem inventou o ZX Spectrum não pode estar errado! 😉
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