O automóvel e o desgaste social
Estudo aborda vários aspectos da influência negativa do automóvel na sociedade, entre eles a maneira como a cidade tira das pessoas o direito ao uso da rua, impedindo por exemplo que crianças possam brincar nas vias e andar de bicicleta.
O Caderno de Veículos do Correio Braziliense publicou, algum tempo atrás, um artigo bastante interessante entitulado “Automóvel no banco dos reús“. O texto fala sobre a tese de mestrado de Tatiana Schor, que tem como tema a deterioração das relações entre as pessoas causada pelo automóvel.
Em seu estudo, Tatiana aborda vários aspectos da influência negativa do automóvel na sociedade, entre eles a maneira como a cidade, planejada para o uso de veículos motorizados, tira das pessoas o direito ao uso da rua, impedindo por exemplo que crianças possam brincar nas vias e andar de bicicleta.
Status
Outro aspecto que ela aborda é o do uso do carro como demonstração de status, por ser “um bem que é consumido em público” e que é usado para demonstrar uma pretensa superioridade. Esse, inclusive, foi o fato que a fez se decidir por esse tema, ao saber que 90% das pessoas que compram veículos off-road não o utilizam para o fim ao qual ele supostamente se destina.
Em artigo entitulado “O Automóvel e o Desgaste Social” (Revista São Paulo em Perspectiva, vol.13-nº3, 1999), Tatiana escreve algumas frases que me sinto na obrigação de ressaltar:
“Como compreender essa necessidade de ter um carro cada vez maior para se conseguir estacionar cada vez menos e cada vez mais veloz para se locomover mais devagar? Onde está o sentido?“
“ao mesmo tempo que este meio de transporte possibilita um passo no processo civilizatório, visto que diminui as distâncias no mundo e o integra, é também um processo de-civilizatório, pois é uma das maiores causas de mortes (violentas) deste final de século.“
“O indivíduo-átomo se vangloria de sua quantidade de dinheiro através das mercadorias que pode comprar e expor. (…) O automóvel, em particular, encaixa-se perfeitamente nesta forma de relação social.“
“Podemos então falar de uma “cultura” automotiva? Sim, pelo fato das relações derivadas do uso do automóvel impregnarem, de determinada maneira, o jeito de ser do homem modernizado: eles se reconhecem pelo carro que têm e nem imaginam como seriam suas vidas sem “Ele”.“
“a velocidade transmite uma sensação de liberdade ao homem preso ao sistema“
“restringir o uso do automóvel implica restringir a única sensação de liberdade para além da liberdade formal; e é esta a dificuldade de superação tanto do automóvel como meio de transporte, quanto da modernização, pois é nos objetos produzidos por esta modernização, as mercadorias a serem consumidas, que se mostram as formas de satisfação, mesmo que ilusórias, do desejo de ser livre.“
O texto é denso, como é comum a toda produção científica que não objetiva o leitor leigo, mas os argumentos são todos justificados com bastante coerência. É difícil ver textos que andem na contramão do consenso, mostrando o que deveria ser óbvio, com tanta propriedade. Em outro texto que encontrei, este bem curto, ela questiona o fato de nenhum candidato ou partido político questionar abertamente o uso do automóvel.
Tatiana Schor teve formação em Economia e em Filosofia, concluiu o mestrado em Geografia Humana com o tema citado acima e doutorou-se com louvor em Ciência Ambiental. Atualmente, leciona na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), no departamento de Geografia, coordenando estudos sobre a relação entre as cidades e os rios no Amazonas. Tem uma visão de mundo que eu admiro e considera o fim do automóvel como uma utopia, mas acredita que um dia ela ainda chegue.
Muito bom William, bons trechos os selecionados também.
abs.
matias
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acabo de verificar no sistema da USP, tem cópia da biblioteca. Se alguém tiver um scanner, por fvr entre em contato para digitalizarmos o documento. abraços,
Zenga
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Zenga, eu faço Letras na USP, se quiser, podemos nos encontrar e eu digitalizo aqui no trabalho.
Beijos
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Nossa, agora que eu vi que os comentários são super antigos hahahaha
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companheiros,
faço geografia na USP e tentarei pegar essa tese lá. A orientadora Odette Seabra trabalhava com Geografia Urbana, mas se aposentou há uns 2 anos. Vou ver se está disponível na biblioteca. Alguém tem um scanner pra fazermos a digitalização? abraços
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Luddista, talvez seja interessante tentar entrar em contato com a orientadora da Tatiana para conseguir a dissertação. É a prof. Odette Carvalho de Lima Seabra. Veja nessa página da USP os contatos dela: http://www.geografia.fflch.usp.br/posgraduacao/orientadores.htm
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É um %!@$&@#artigo esse da Tatiana. O Cris (lá de PoA) me incumbiu de ir atrás da tese dela lá na USP. Ele tá afim de digitalizar, porque a autora não o tem mais em meios digitais.
Devo fazer a correria ainda esta semana e depois do trampo realizado compartilho com todos.
Sábia Tatiana, que além de tudo foi pra bem longe da selva de carros…
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