Furto de bicicleta, a lei e o supermercado sustentável

Bicicleta presa a poste no centro de São Paulo. Foto: Apocalipse Motorizado
Aos ciclistas, os postes.
Foto: Apocalipse Motorizado

Uma das grandes dificuldades para o uso da bicicleta em uma cidade como São Paulo, que privilegia o uso do automóvel em detrimento de todas as outras formas de locomoção, é ter um lugar seguro para estacionar a bicicleta. Quando muito, conseguimos um cantinho escondido, onde não ocupe em hipótese alguma o espaço de quem chega de carro, muitas vezes atrapalhando quem passa a pé. E temos que torcer para a bicicleta estar ali quando voltarmos.

Luciana estava tão habituada a ir de bicicleta a uma mesma loja do supermercado Pão de Açúcar que já nem se preocupava. Por prender sua bicicleta sempre ao lado da guarita dos seguranças, ficava tranquila, acreditando que ela estaria segura ali. Cliente assídua da loja, fez isso diariamente por dois anos, até que um dia sua bicicleta novinha foi levada. Simplesmente evaporou. Ninguém sabe, ninguém viu e ainda tentaram convencê-la de que ela estaria “confusa” e não teria ido de bicicleta naquele dia.

Cadê o bicicletário?

Bicicletário no Pão de Açúcar da Vila Clementino, em São Paulo. Infelizmente, ainda uma exceção.
Bicicletário no Pão de Açúcar da V. Clementino, em São Paulo. Infelizmente, ainda uma exceção.
Foto: Divulgação

O supermercado que diz ter “responsabilidade socioambiental” e “respeito e entendimento ao próximo” não se esforça muito em entender os clientes que usam a bicicleta para ir ao supermercado. Apesar do discurso verde e social, raras são as lojas que disponibilizam local adequado para estacionar e prender uma bicicleta. A impressão que nós ciclistas temos é que a rede tem interesse apenas em receber cilentes que cheguem de carro.

A Lei Municipal 14.266 da cidade de São Paulo diz, em seu artigo 8o, que “centros de compras e outros locais de grande afluxo de pessoas deverão possuir locais para estacionamento de bicicletas, bicicletários e paraciclos”. Essa lei, dificilmente cumprida nessa cidade, também é ignorada pela rede de supermercados Pão de Açúcar, mesmo com seu posicionamento “socioambiental”.

Seguro

Como agravante, a lei que obriga seguro em estacionamentos contempla apenas veículos de passeio. Bicicletas, motos e até mesmo utilitários ficam de fora. Com isso, um furto de algum desses veículos se torna um transtorno enorme para o proprietário, que é obrigado a entrar na justiça para conseguir seu direito de ressarcimento do bem. E se o bem é uma bicicleta, relativamente barata, as custas do processo e o aconselhamento de um advogado podem custar mais do que o prejuízo causado pelo ladrão.

Mas cabe aqui um parênteses para uma boa notícia, que merecia até uma matéria à parte mas vou contar aqui mesmo: foi aprovado na Câmara Municipal de São Paulo um Projeto de Lei que prevê a ampliação da cobertura de seguro contra roubos em estacionamentos, cobrindo também as bicicletas. Falta apenas a sanção da Prefeitura.

Disso derivam dois resultados positivos: casos como o da Luciana passam a ter solução mais rápida e, ao menos em tese, estacionamentos comuns passarão a se interessar em receber bicicletas, pois o maior impedimento alegado pelos proprietários de estacionamentos seria a falta de cobertura do seguro, implicando para o proprietário o risco de arcar integralmente com o prejuízo de um furto.

Desdobramentos

Durante a produção desta matéria, procurei a empresa para obter um posicionamento quanto ao caso. Encaminhei a eles o depoimento da Luciana, que depois disso certamente circulou dentro da empresa. No final da tarde de hoje me pediram um contato da cliente, para conversar diretamente com ela sobre o assunto. Quando consegui receber um e-mail da Luciana, soube através dela mesma que nesse meio tempo a empresa já havia entrado em contato para negociar uma solução.

Luciana, que usa a bicicleta para levar o filho na escola, fazer compras, atender clientes de suas aulas de inglês e se deslocar para onde mais for preciso, estava bastante indignada e frustrada com a maneira como a empresa vinha tratando o caso, como vocês podem acompanhar no depoimento dela em seu blog. Depois do contato de hoje, está mais otimista.

Diferentemente da mídia tradicional, o Vá de Bike vai acompanhar essa história e contar a vocês como ela termina. Esperamos que acabe bem, para que a ciclista tenha de volta a parte de sua vida que lhe foi subtraída e para que a empresa consiga reverter essa situação constrangedora para sua imagem de marca. Este site mantém aberto o espaço para a resposta da empresa, entendendo que a melhor resposta até o momento foi a ação de contato com a cliente.

E que o Grupo Pão de Açúcar finalmente perceba que ciclistas também são clientes, consomem, gastam seu dinheiro nas lojas da rede e merecem o mesmo respeito do cidadão que chega com sua SUV importada, ocupando sozinho uma área de estacionamento onde caberiam dez outros que usem a bicicleta.

Numa cidade onde ainda poucas empresas recebem bem quem chega de bicicleta, esse pode ser um belo diferencial para a empresa, fidelizando clientes que seriam conquistados pela emoção ao serem bem recebidos. Mas é preciso se aproveitar o timing. Fica a dica.

20 comentários em “Furto de bicicleta, a lei e o supermercado sustentável

  1. minha bike tambem foi furtada dentro do estacionamento do carrefour hipermecado da rua Oratório, 85 – Santo André – São Paulo. Deixei junto das motos por achar mais seguro. Conversei com a responsável pelo estacionamento ( Brasil Park ) onde informou a mesma coisa, eles não são responsáveis por furto de bicicletas e éra para eu levar a nota fiscal e o boletim de ocorrêcia, como levar a nota fiscal de bicicleta antiga.

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  2. Boa noite,

    Fui furtada no dia 24/11/20 dentro do estacionamento do Hipermercado Extra Penha, estava com corrente no bolsão das motos e próximo tem uma cabine de pagamento do estacionamento e ficam muitos funcionários circulando por lá e mesmo assim ninguém viu nada é sempre assim, frequento esse Hiper com essa minha bicicleta desde 2012 quando adquiri minha magrelinha linda, estilo modelo europeu, mandei colocar marchas aquele Nexus inter 8v, tinha retrovisores, buzina, luz traseira e adesivos de patinhas, era toda customizada levei tempos para deixar do jeitinho que queria, pra em pouco menos de 1 hora de compras dentro do supermercado levarem e ninguém mais ninguém mesmo dar notícias, e o pior não existe sistema de segurança, câmeras pelo menos ali dentro do bolsão para pelo menos identificar o pilantra, entraram em ctt comigo hj 30/112020 para enviar nota fiscal, mais já sei que vou ter que acionei a defensoria pública para reaver o meu prejuízo.
    Pensei que estava segura nesse ambiente e agora depois do ocorrido, percebi que nem um pouco.
    Me senti e me sinto enganada, triste e frustada tbm pelo fato, era meu meio de transporte pela cidade e agora estou sem, e com muita raiva e um transtorno enorme agora que terei que correr atrás.

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  3. Pessoal,

    preciso de ajuda. Roubaram minha bicicleta do estacionamento do meu prédio. As câmeras de segurança não pegaram o ladrão e os funcionários do prédio não viram nada. É de responsabilidade do condomínio pagar uma nova bicicleta? Galera de direto, please help!

    Comentário bem votado! Thumb up 4 Thumb down 0

    1. Urbano, o que diz o condomínio sobre o ocorrido? Mais ainda: o que diz o regulamento do condomínio sobre fatos semelhantes? Por exemplo: o regulamento dispõe sobre as responsabilidades (do condomínio ou dos particulares) em caso de roubo/furto de veículos, por exemplo? Ou mesmo dano desse tipo de patrimônio?

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