Para blog do Portal Jovem Pan, rua não é lugar de bicicleta
Blog do Portal Jovem Pan afirma que “ruas não foram feitas para bicicletas”. E promover esse conceito equivocado pode causar problemas graves para quem pedala.
“As ruas não foram feitas para as bicicletas. Foram feitas para a locomoção da população.” – Bruno Vicari, repórter e comentarista da rádio Jovem Pan, colaborador da revista Vo2 e triatleta amador, promovendo a intolerância e o ódio dos motoristas em seu blog, no portal Jovem Pan.
Me desculpem, mas não tenho como aceitar isso. A bicicleta é meu meio de locomoção, portanto a afirmação acaba por se contradizer. Parece que a única população que o Bruno Vicari reconhece é a que circula de carro.
Posso até concordar que as ruas não foram feitas para bicicletas. Mas tampouco foram feitas para carros. Foram feitas para pessoas – ou, como o autor do texto diz, para locomoção da população. Os carros vieram depois, bem depois. Com o tempo, o fluxo de pessoas foi relegado para segundo plano, dando prioridade ao fluxo de automóveis e forçando as pessoas a utilizá-los, para terem seu direito de circulação respeitado. As pessoas deixaram de ser importantes, dado-se cada vez mais espaço e prioridade ao deslocamento de automóveis.
E é isso, em essência, que está errado. Essa percepção das ruas como lugar de carros é distorcida e PRECISA ser mudada. Ruas entupidas por milhões de automóveis com uma única pessoa dentro quando há ônibus levando uma centena precisando passar é um absurdo sem tamanho. Isso sim é uma afronta e um cerceamento da liberdade de locomoção da população.
Promover o ódio a ciclistas pode causar mortes
É de um preconceito sem tamanho, de uma intolerância indesculpável, fazer uma afirmação dessas em um portal de renome como o da Jovem Pan, que tem uma imagem a zelar. Dói no coração ver alguém que também é ciclista, embora não pedale nas ruas, dizer uma coisa dessas. Uma afirmação assim nunca deveria ser publicada em um blog que toma emprestado o respeito e a legitimidade de uma rádio séria como a Jovem Pan. Principalmente porque incita maus motoristas a se vingarem da presença da bicicleta nas ruas, acreditando que ela está no local errado, que o ciclista não tem direito de estar ali e consequentemente merece ser punido.
É essa crença, baseada em preconceito, intolerância, egoísmo, falta de conhecimento das leis e falta de respeito ao compartilhamento do espaço público, que faz com que ocorram crimes como o que Ricardo Neis cometeu em Porto Alegre. Os motoristas que nos colocam em risco propositalmente nas ruas passando perto demais (e 30cm já é perto DEMAIS), ou me prensando contra a calçada para mostrar que eu não deveria usar a rua, o fazem por ter certeza de que eu não deveria estar ali e portanto preciso aprender uma lição, para parar de atrapalhar a vida de quem está usando um carro.
Divulgar idéias assim, de que ciclistas nas ruas são folgados que não têm o que fazer e que a rua não é lugar de bicicletas, faz com que mais motoristas já predispostos ao desrespeito cometam atos que podem causar uma morte, uma mutilação, uma sequela irreversivel, a desestruturação de uma família. Escrever artigos sobre um tema tão delicado requer muita responsabilidade, bem mais do que a demonstrada nesse texto.
Desejo crer que essa não seja a opinião da Rádio Jovem Pan, da equipe responsável pelo Portal de mesmo nome e nem da revista onde Bruno Vicari é colaborador. Me recuso a acreditar que esses veículos de comunicação endossem uma opinião tão equivocada, preconceituosa e irresponsável, e principalmente as consequências que dela podem advir, em termos de ameaças e agressões a ciclistas nas ruas por parte de motoristas tão equivocados quanto o intolerante autor desse lamentável texto.
Bicicleta é transporte
É inegável que a bicicleta seja um maravilhoso instrumento de lazer e um excelente equipamento esportivo. Sei muito bem disso porque também a utilizo dessa forma (inclusive enquanto me desloco) e cheguei até a participar despretenciosamente de algumas competições no passado. Mas quando colocada nas ruas, ela se torna um VEÍCULO, reconhecida como tal pelo Código de Trânsito e, portanto, com direito legal de utilizar as ruas.
Melhor seria deixar de ver o mundo de dentro do próprio umbigo e perceber que muita, muita gente mesmo, usa a bicicleta como meio de transporte, principalmente para ir e voltar do trabalho. E são essas pessoas as que lutam por espaço nas ruas, não os vagabundos desocupados que Bruno Vicari enxerga.
Veja aqui por que ciclistas devem sim utilizar as ruas – com considerações legais e de segurança do ciclista.
A Bicicletada não promove o caos
A Bicicletada não tem por objetivo tumultuar o trãnsito e promover o caos, como Bruno acusa no texto do Portal Jovem Pan. O movimento pretende mostrar, entre outras coisas, que o ciclista (que por definição é todo mundo que senta num selim, até mesmo o Bruno) tem o mesmo direito de usar as ruas que as pessoas dentro dos carros. Por que a Av. Paulista entupida com centenas de carros que não conseguem circular, impedindo inclusive o fluxo de veículos de emergência, é algo normal, enquanto bicicletas usando a mesma avenida é promover o caos?
A Bicicletada não tem líderes. Não tem um mestre que mande os outros pararem a avenida. Sua atitude coletiva é o resultado dos pensamentos e ações dos que dela participam. Se não gosta da atitude que a Bicicletada tem, participe e tente mudá-la, divulgue sua opinião entre os participantes, proponha comportamentos e torne-a melhor. Foi o que me sugeriram atrás, quando eu também reclamava detrás de um teclado. Aceitei o desafio, participei presencialmente inúmeras vezes, frequento a lista de discussão com regularidade, proponho, falo, ouço. Mudei vários pensamentos e comportamentos, inclusive os meus.
As bicicletas não bloqueiam a avenida. Elas circulam. Elas não ficam paradas ocupando o espaço sagrado do automóvel. Transitam, enquanto os carros congestionam. Também não ocupam todas as faixas da avenida, como afirma o texto do portal Jovem Pan. Quando um veículo de emergência surge, a massa de bicicletas se abre como o Mar Vermelho, permitindo que esse veículo a cruze em questão de segundos. Já viu quanto tempo leva para uma ambulância andar uma quadra na mesma avenida, em horário de pico?
Bicicletas não causam trânsito, são parte do trânsito
Todas as noites, quando volto do trabalho, há milhares de carros pelo meu caminho, todos em velocidade menor que a minha e ocupando todo o espaço da rua. Alguns estão até estacionados, impedindo a mim e a todos os carros em volta de passar por aquele pedaço de asfalto! E olha que não estão fazendo nenhuma manifestação, não estão lutando por direito nenhum, estão apenas pensando em si próprios, tentando a todo custo ultrapassar quem está logo à frente, como se cada um deles tivesse mais direito de circular que todos os outros.
Eu desvio, espero, ultrapasso quando é possível, até mudo meu caminho se já sei que uma rua é muito entupida, sem chances de ultrapassagem dos que a estão congestionando. Não saio dizendo que todos os motoristas que estão ali são desordeiros sem nada pra fazer, que estão atrapalhando “quem está trabalhando”. Cada um tem seu motivo para estar ali e, mesmo que estejam passeando, têm todo o direito de fazê-lo. Como eu também tenho o direito de usar as ruas e chegar em casa inteiro.
Prezado Bruno Vicari,
queria saber como você recomenda a seus leitores da Vo2 irem para os treinos de ciclismo ?
Devem ir de carro, estacionar e pedalar depois AONDE, se na rua não é lugar de ciclista ?
Pois o ÚNICO lugar reservado EXCLUSIVAMENE aos ciclistas é a ciclofaixa, nem mesmo a ciclovia do rio Pinheiro é exclusiva dos ciclistas, mas compartilhada com o transito dos veículos de manutenção da Eletropaulo e CPTM.
E CILCOFAIXA não é lugar pra ciclista treinar, convenhamos …
Bruno espero REALMENTE que mude de opinião.
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“A burguesia fede mais tem dinheiro para comprar perfume”
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