O Shopping Bourbon trata muito bem os clientes que chegam de carro. Quem chega de bicicleta é tratado como incômodo. (Imagem do vídeo "Hot Wheels", do Cinema de Rua)

Shopping de São Paulo discrimina ciclistas

O Shopping Bourbon, em São Paulo, tem bicicletário, como manda a Lei. Mas para chegar até ele, o ciclista é obrigado a EMPURRAR a bicicleta por todo o trajeto, o que mostra que sua presença é apenas tolerada.

O Shopping Bourbon trata muito bem os clientes que chegam de carro. E os seguranças não se preocupam se sua velocidade está colocando os pedestres em risco. Já quem chega de bicicleta é recebido como incômodo e apenas tolerado. (Imagem do vídeo "Hot Wheels", do Cinema de Rua)

O Shopping Bourbon, em São Paulo, tem um bicicletário seguro da UseBike. Você pode deixar sua bicicleta estacionada em segurança enquanto passeia e faz suas compras. Ate aí muito bem, cumprem-se as Leis Municipais 13.995/0514.266/07, que obrigam o shopping a tê-lo.

Mas, por mais absurdo que possa parecer, não é permitido circular de bicicleta no estacionamento. Para chegar ao bicicletário, o ciclista é obrigado, pelos seguranças, a empurrar a bicicleta. Para muitos ciclistas, motivo suficiente para não frequentar mais o shopping.

Situação persiste há anos

Não é de hoje que o shopping trata com diferença quem chega de bicicleta. Há cerca de dois anos, Aline Cavalcante enviou uma reclamação para o shopping e foi ignorada. Nessa segunda-feira, voltou ao local para participar de um evento de sustentabilidade e foi recebida da mesma forma. O segurança a fez desmontar e empurrar a bicicleta junto aos pedestres.

“Assim que me aproximei da entrada, ele já sinalizou para que eu descesse e usasse o acesso dos pedestres”, conta Aline. Ela então fez um comentário em voz alta com a amiga que a acompanhava, dizendo que o shopping não trata a bicicleta como veículo, mas os seguranças não se  preocuparam em dar ao menos uma justificativa. Não pode e pronto.

É irônico que um evento de sustentabilidade ocorra em um local que trata com diferença quem opta por um meio de transporte sustentável.

Há clientes que desistem

No início do ano passado, o desenvolvedor de sistemas Afonso Savaglia, 38, foi de bicicleta ao shopping com alguns amigos. O segurança disse que ele teria que desmontar e empurrar. Savaglia perdeu a paciência: “falei pra ele dizer para os motociclistas descerem e empurrarem até o estacionamento de motos. Passou um carro com uma família dentro e eu repeti pra ele dizer para descerem e empurrar”.

Não adiantou. Irritado, se sentindo discriminado e ofendido com a intransigência do segurança, Afonso desistiu e foi embora, deixando os amigos para trás. “Nunca mais volto naquele shopping. E olha que hoje eu trabalho ali do lado”.

Shopping insiste na medida

O Vá de Bike tentou sensibilizar o shopping em relação ao assunto, através de contato telefônico e e-mail, até conseguir um posicionamento oficial. Reproduzo abaixo, na íntegra, a resposta obtida:

O Bourbon Shopping SP informa que possui estacionamento exclusivo para ciclistas, o Use Bike, com 20 vagas, visando o bom atendimento dos clientes do empreendimento. A recomendação para que o usuário desça da bicicleta ao entrar no estacionamento tem como objetivo apenas zelar por sua segurança e pela segurança de pedestres, principalmente crianças e idosos, e cadeirantes, uma vez que há vagas destinadas à portadores de necessidades especiais próximas a esse local.

Ou seja, o ciclista não pode pedalar até o bicicletário por dois motivos: os carros lhe oferecem risco e as bicicletas colocam em risco as outras pessoas. E note que a medida é chamada aqui de recomendação, apesar dos seguranças não permitirem que o ciclista a ignore. Não é recomendação, é obrigatoriedade.

Para sua segurança

Se os carros oferecem risco aos ciclistas, uma forma muito mais elegante e respeitosa de resolver o problema seria implementar sinalização pedindo que motoristas circulem em velocidade compatível com área onde transitam pessoas a pé e placas instruindo a tomar cuidado com ciclistas. Mas o shopping prefere impedir que bicicletas circulem do que explicar para os outros clientes, aqueles que entram em velocidade para estacionar no valet, que deveriam tomar cuidado com as pessoas que passam por ali.

Ciclistas não são suicidas. Uma pessoa que consegue pedalar nas ruas em meio a carros, ônibus e caminhões até chegar ali, tem capacidade de sobreviver por meio minuto em um estacionamento de shopping center. Ninguém vai ao shopping para passear de bicicleta no estacionamento, existem lugares na cidade muito mais agradáveis para se fazer isso. O ciclista está ali para estacionar, como o motorista e o motociclista. E o principal: ele também é cliente.

Mas nessa cultura de casa grande e senzala, torna-se preferível punir o ciclista pelo mau comportamento de quem supostamente tem maior poder aquisitivo. Como se ciclista não consumisse, não tivesse salário, não gastasse dinheiro no shopping. Como se ele não fosse uma pessoa como todas as outras e não merecesse o mesmo respeito e o mesmo tratamento dispensado a quem chega num automóvel, numa motocicleta ou num helicóptero.

O tratamento dispensado aos ciclistas lembra situações lamentáveis do século passado

Ciclistas são irresponsáveis

A segunda parte da justificativa diz que ciclistas colocam em risco crianças, velhinhas e cadeirantes. Pelo jeito, somos todos irresponsáveis. Se a preocupação fosse realmente com o risco que um veículo em movimento oferece às pessoas, os motociclistas também precisariam empurrar suas motos. Por que exigir isso apenas dos ciclistas?

Me desculpe, Bourbon, mas essa justificativa é um absurdo sem tamanho e carregada de um enorme preconceito. Se existem outras vagas de automóvel próximas às vagas especiais, os motoristas que estacionam ali também precisam empurrar o carro até a vaga? Um veículo de uma tonelada não coloca um cadeirante em risco, mas uma bicicleta de 15kg sim?

Proibir os ciclistas de circularem no estacionamento alegando que são um risco às pessoas é tratar a todos como “moleques”. É achar que os ciclistas vão para o shopping para apostar corrida no estacionamento. É acreditar que a bicicleta não é um veículo de gente séria. Ciclistas só são bem vindos se aceitarem se subordinar à segregação imposta pelo shopping e ao tratamento pouco educado dos seguranças. Ciclista, para esse shopping, é um baderneiro e um cidadão de segunda classe.

Ciclista também é cliente, Bourbon. Só chegou ao shopping de outra forma.

Não deixe que o preconceito seja banalizado

Já parei de ir a restaurantes em que fui mal recebido de bicicleta, apesar de terem sido extremamente educados comigo quando em outras épocas eu chegava de carro. Já recusei ofertas de emprego porque não teria como ir de bicicleta. Já deixei de fazer compras em supermercados que não tinham local seguro para estacionar meu veículo. E agora deixo de frequentar um shopping center que me faz sentir indesejado.

Está na hora de dar um basta à discriminação e ao preconceito com quem usa a bicicleta em seus deslocamentos. Os ciclistas devem boicotar empresas que discriminem e tratem como “gente diferenciada” quem chega em uma bicicleta.

Vamos mostrar que ciclistas também consomem – e que também deixam de consumir.

O Vá de Bike se mantém aberto a publicar novo comunicado do shopping, principalmente por acreditar que haverá o bom senso de reavaliar o tratamento dispensado aos clientes que chegam de bicicleta.


Vídeo do Cinema de Rua, mostrando o fluxo de carros nas rampas de um shopping.

46 comentários em “Shopping de São Paulo discrimina ciclistas

  1. Olá,

    Moro em perdizes e costumo visitar o Shopping Bourbon de bicicleta com minha esposa frequentemente. Apenas para constar, os seguranças do estacionamento AINDA NÃO PERMITEM entrar de bicicleta no shopping. Houve vezes em que consegui fazê-lo simplesmente porque ignorei os chamados do segurança.

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  2. Para evitar esse tipo de estress, dou preferência para estabelecimentos onde eu possa deixar minha bike em segurança e sem ser incomodada por seguranças chatos. Moro em Curitiba, e sempre tenho opção de escolher as lojas e shoppings que tratam bem a mim e á minha bike; o resto, esses tem que boicotar mesmo.

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  3. Ola ! é triste mas aki no litoral (Praia Grande) aonde existe uma das maiores ciclovias do estado de São Paulo, também é assim. O Shopping Litoral Plaza equinora seus clientes que vão de bike para o seus estabelecimento! Detalhe existe uma ciclovia que passa na frente !!! e mais absurdo ainda existe um placa em um dos portões proibindo as bicicletas de serem presas na grande..lamentavel. Já perdi três bicicletas nas proximidades do shopping. Enfim este tipo de descaso não é só exclusividade de São Paulo

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  4. Fico indignado com isso, certa vez fui ao shoping comprar minha bike e ao sair com éla da loja assim que desci a rampa de acesso ao estacionamento o segurança falou pra mim descer da bike e que eu só poderia levar éla empurrando, fiquei indignado com isso.

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  5. Lendo esta notícia, lembrei que no shopping metro tatuapé e boulevar tatuapé não foi possível nem deixar a bicicleta no recinto, alegam que não disponibilizam de locais para as mesmas.Sendo shoppings que estão em uma região que existe ciclovia, mas não existe vaga para quem esta numa bicicleta.Peço que verifiquem se ainda ocorre este fato, digo isto pois o ocorrido se deu por volta do começo do ano.

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      1. Obrigado William, muito legal o link. Eu gostei disso. Aqui em Vitória existe uma lei não aplicada que exige bastante bicicletários. Estou tentando fazer o que posso aqui para ver essa lei aplicada mas estou receoso de ver aparecer bicicletários inadequados o que não adiantaria nada! Já temos alguns bicicletários em Vitória mas nenhum em U invertidos, ter uma especifícação precisa ajuda!

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  6. Já fui ao shopping em questão e de fato eles pedem para desmontarmos da bike para poder transitar pelo estacionamento.
    Como estava com pressa, acabei não tendo a oportunidade de questionar a medida.
    Eles tomaram uma iniciativa tão bacana que foi a instalação do bicicletário, mas pecaram nesse aspecto. Uma pena.

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  7. Evidente que as justificativas escondem a maior preocupação, que o ciclista(débil mental na concepção deles) arranhe um carro e o Shopping será obrigado a cobrir o prejuizo. Porque afinal, carro é um “bem”, o coração das pessoas está dentro dele, triste.
    “diga-me onde está teu tesouro e estará ali também teu coração”.

    Abraços

    Márcio Campos

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  8. De boa, tem que ir 2 pessoas de bike, uma filmando, e não parar de pedalar dentro do estacionamento, se um segurança derruba o ciclista, ou tem um comportamento mais rude, oq é bem provável que aconteça, vale forçar um pouco a situação (neguinho de fixa fazendo track sand? é esse o nome do esquema de ficar equilibrado, e parado, na bike, enquanto fala com o segurança) e depois é só jogar o video no youtube e distribuir o link que em 2 segundos vira febre, uma baita imagem negativa para o shopping, só assim eles vão mudar algo….

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  9. Fui ao Bourbon tentar falar c/ alguém da administração e depois de meia hora esperando, só consegui falar c/ o chefe de segurança. Não adiantava argumentar, pois sempre esbarrava na justificativa das normas do shopping. O que senti foi uma preocupação de ocorrer ações judiciais contra o shopping em caso de acidente dentro do estacionamento envolvendo bicicleta-pedestre e carro-bicicleta. Não sei se tem fundamento essa preocupação e penso que, mesmo que existir, eles devem conviver com isso em respeito aos clientes. Mas no final, eles querem mesmo é tirar os deles da reta.
    Acabei fazendo uma reclamação por escrito no balcão de atendimento ao cliente e irei fazer o mesmo no site deles acrescentando a informação acima do JP Amaral sobre o tratamento favorável no Shopping West Plaza, afinal são concorrentes diretos.
    No mais, admiro a postura do André Pasqualini em seu comentário.

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    1. Sim, somos discriminados. Mas uma coisa não tem relação com outra, até pq o kassab, serra e o resto da quadrilha já desfilaram de bike por ai e não fizeram absolutamente nada de concreto para mudar a situação! Por favor, tenha noção ao falar das coisas! Sim, a presidente pode fazer algo relevante sobre isso, mas quem pode fazer algo concreto, rapidamente, não faz (prefeitura e estado de sp)! Ah tá… fazem ciclovia incompleta e sem saídas e ciclofaixa para burguês passear com os filhos aos domingos, afff…

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      1. Quem repasse o dinheiro para as cidades não é principalmente o governo federal? O Brasil é assim, não existe um sistema que repasse automaticamente dinheiro para as cidades, assim o pais não anda porque cada dinheiro tem que ser negociado a nível político etc… A maior parte dos repasses tem que ser automático, depender, por exemplo da população ou da área da cidade e não podem depender de boa vontade…
        Mas é claro Dilma não pode fazer “nada” sem o apoio da câmara dos deputados que sempre pode ameaçá-la de um impeachment como aconteceu com Lula durante o mensalão… haha!

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  10. Em Salvador, o único shopping que trata o ciclista de forma “diferenciada” é o Shopping Paralela. É preciso desmontar da bicicleta e empurrá-la até o suposto bicicletário. Aliás apenas no Shopping Salvador existem paraciclos específicos. Em todos os outros as biciletas pega a rebarba das motos, nas grades e afins. Não raro recorrer ao velho e bom poste.

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