Londrino pedala em ciclofaixa. Foto: Moving Target, via Flickr

Uso da bicicleta rende £3 bi por ano ao Reino Unido

Relatório indica ainda que a indústria já empregava 23 mil pessoas em 2010 e que ciclistas habituais adoecem um dia por ano menos que a média. Saiba mais.

Foto: Raquel Jorge
Foto: Raquel Jorge

Um relatório da London School of Economics (que, aliás, merece ser lido), aponta que o uso da bicicleta gera cerca de 3 bilhões de libras/ano à economia do Reino Unido, incluindo £51 milhões em faturamento para os fabricantes pelos 3,7 milhões de bicicletas vendidas em 2010.

O estudo levou em conta fatores como fabricação e venda de bicicletas e acessórios, serviços relacionados à bicicleta e empregos na área. Cada ciclista gera em média 233 Libras por ano.

Londrino pedala em ciclofaixa projetada para uso como transporte. Foto: Moving Target, via Flickr

A nação cresce com a bicicleta

O crescimento do uso da bicicleta foi extremamente vantajoso para o Reino Unido. O setor empregava cerca de 23 mil pessoas e contribuiu em £500 milhões em 2010, segundo o relatório. As vendas de bicicletas novas aumentaram 28% em relação ao ano anterior.

1,3 milhão de pessoas começaram a usar a bicicleta em 2010, levando o total de ciclistas a 13 milhões. Desses novos ciclistas, meio milhão agora pedalam regularmente. Sozinhos, contribuíram em £685 milhões para a economia do Reino Unido.

Causas

Todo esse crescimento não veio à toa: o país investiu bastante em infraestrutura e no estímulo ao uso da bicicleta. O relatório apontou um aumento de 200% na infraestrutura cicloviária nacional, com um acréscimo de cerca de 20 mil quilômetros.

Uma lista dos principais motivos que fazem as pessoas usarem a bicicleta por lá mostra bem que a valorização e a proteção do ciclista são importantes. Entre eles, está a preferência – de fato – no trânsito em relação aos veículos motorizados, com sinalização específica (inclusive semafórica), caminhos mais curtos para quem vai de bicicleta, redução dos limites de velocidade, áreas onde carros são proibidos e a prioridade legal do ciclista em acidentes de trânsito, assumindo-se sempre que o motorista foi responsável pela colisão.

O empréstimo e aluguel de bicicletas também tem parte importante nesse processo, incentivando seu uso em curtas distâncias, para quem não tem bicicleta ou a deixou em casa. Quer sair para almoçar com um amigo? Pega uma bicicleta ali naquela esquina, devolve perto do restaurante…

Uso da bicicleta no Reino Unido em 2010,
segundo o relatório da LSE

23 mil pessoas empregadas no setor

1,3 milhão de novos ciclistas

3,7 milhões de bicicletas vendidas

40% das famílias possuem uma bicicleta

208 milhões de viagens ao ano

Ciclistas habituais adoecem 1 dia/ano a menos

20 mil novos km de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas

Potencial de mercado de £141 milhões
para os próximos dois anos

Economia

Uma informação interessante é que ciclistas regulares ficam doentes um dia a menos por ano. Só essa redução do absenteísmo é responsável por uma economia de 128 milhões de Libras ao Reino Unido. Isso dá uma amostra de quanto as empresas têm a lucrar quando incentivam o uso da bicicleta entre seus funcionários. Lá, aqui e em qualquer lugar do mundo.

O relatório afirma que se houvesse um aumento de 20% no uso da bicicleta em cinco anos, haveria uma economia de £207 milhões em redução de congestionamentos, £71 milhões em diminuição da poluição e £52 milhões no Sistema Nacional de Saúde (NHS).

A ministra dos transportes, Theresa Villiers, disse à época que “o governo está comprometido em encorajar o uso da bicicleta como uma forma saudável e divertida de sair por aí. Ajuda a reduzir os congestionamentos, dá às crianças mais oportunidades de exercício e pode ser parte da luta contra as mudanças climáticas”.

Veja também: Londres terá mais bicicletas que carros nas ruas nos próximos anos

23 comentários em “Uso da bicicleta rende £3 bi por ano ao Reino Unido

  1. Sou Guarda Municipal de Trânsito em Blumenau, SC e patrulho as ruas da cidade, desde que entrei para GMT a 4 nos, de bike e não a troco a por nada. Sempre dando uma atenção especial aos condutores mau educados e desrespeitosos que insistem em estacionar em ciclofaixas e passeios.

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    1. Não só os governantes ( que são eleitos por nós ), nós eleitores. É papel de nós que temos uma melhor visão ensinar as consequências e perda de oportunidades. Mário Sérgio Cortela tem livro chamados “Política para não ser idiota.” ( um dos vídeos https://www.youtube.com/watch?v=n9LM9SnXCLg ) e “Não nascemos prontos.” ( Um dos vídeos https://www.youtube.com/watch?v=NYT7vahkr_0 ), tem outros livros ( e videos no YT ) que mostram porque os ciclistas geralmente são mais “politizados” que pedestres e motoristas. Agora, para nós é incentivar a população a serem mais politizados em relação a bicicleta. O modelo de mobilidade da cidade por carro é muito caro, e, no Brasil, como o carro é muito caro, não sobra muito dinheiro para o pessoal investir em qualidade de vida e até mesmo serem mais gentis ( este outro lado da moeda de sermos mais politizados: veja no FB Gentileza gera Gentileza ).

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    2. Com a cultura da bicicleta, a cidade não tem que gastar em obras caras para os carros passarem, vai fazer as obras com uma fração do que gastaria. E como as pessoas terão mais dinheiro para aplicar em qualidade de vida, a cidade será o maior beneficiário deste dinheiro. É um círculo vicioso. Veja o caso de São Paulo, creio que o Haddad vê esse lado, meio que contrariando o partido PT que é mais pró carro ( por causa dos metalúrgicos da área automobilista em São Paulo ), e a resistência da população que está ainda com a mentalidade do uso do carro como locomoção.

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  2. Olá Willian Cruz,

    Satisfação em receber notícias do mundo bike. Passei me interessar por bike com mais afinco em 2012, embora minha admiração por bike vem desde criança… Essa matéria foi muito interessante para podermos intencificar a noção que a mobilidade via bicicleta e muito viável para nossas cidades. Seja economicamente seja sobretudo por qualidade de vida.
    Vou repassar essas informações e dados aqui em Belém do Pará para nossos novos amigos da bike e representantes da prefeitura para quem sabe construir uma política para mobilidade em nossa cidade.

    Abraços!
    Joao Barbosa – amante do ciclismo.

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  3. Salve William. Salve geral.

    Estou há quase sessenta dias em Londres e aqui ficarei por mais alguns poucos meses. Neste período fiz apenas uma viagem de metrô e nenhuma de ônibus. Logo na primeira semana comprei uma bike usada e desde então ela tem sido minha fiel companheira. Pedalar aqui é moleza. A cidade está fervilhando de ciclistas de todos os estilos, cores e idades. Há ciclovias e ciclofaixas para todos os lados e os motoristas realmente respeitam quem está sobre duas rodas. A sensação de segurança é tão grande que até minha esposa está pedalando cerca de duas horas por dia, algo que ela nunca fez em São Paulo. Mas estou comentando tudo isso apenas para ressaltar como a perspectiva humana é curiosa demais…

    Hoje eu li no jornal que na semana passada uma estudante coreana pedalando uma fixa morreu debaixo de um caminhão (https://mail.google.com/mail/?hl=pt-BR&shva=1#drafts/13305329be687c69). Foi o décimo terceiro acidente fatal neste ano aqui em Londres. No mesmo dia, por coincidência bem perto de onde moro, uma outra ciclista sofreu um sério acidente num choque com uma van. Fuçando a net me deparei com o blog de um cicloativista local que num determinado post comenta sobre a gestão do atual prefeito: “Boris Johnson is talking a lot about the “cycling revolution” that is supposed to happen in London. However, the reality is slightly different. Traffic planning in the city is still car-centric and not cycling friendly.” (http://cycling-intelligence.com/2011/07/28/join-the-blackfriars-flashride-on-friday/). É evidente que a imagem de cidade amiga das bicicletas que norteia os sonhos desse blogueiro é Copenhague ou qualquer outra no mesmo nível, referências urbanas de fato ainda muito distantes da realidade de Londres. No entanto, eu que pedalo em São Paulo e que me sinto realizado pedalando por aqui não pude deixar de imaginar como esse blogueiro se sentiria bicicletando em Sampa (tomando fechada de ônibus e ocupando espaço nas vias na marra), o quanto estamos longe de alcançar o nível atual de Londres e ao mesmo tempo (não há paradoxo aqui) o quanto já foi conquistado nesses últimos anos. Entendo e apoio a indignação do colega londrino, mas quem me dera que a minha cidade fosse tão carrocêntrica quanto a dele.

    O purgatório é um paraíso para quem vem do inferno.

    Abraços a todos.

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    1. Na realidade, não existe a coisa ideal, utópica funcionando. O importante é a mudança para o melhor. E esse reconhecimento que a cultura da bicicleta traz de bom é importante. E puxando um pouco para o nosso lado, o Mario Sérgio Cortela, tem dado uma contribuição importante para a nossa discussão, ( e com certeza os britânicos devem estar reconhecendo isto ) de que “Política para deixar de ser idiota”. Política no caso, é a participação de todos na discussão e colaboração no âmbito público para o uso de bicicleta como transporte. Com isto, vai se adequando os espaços e as vias para o uso segura da bicicleta. Pois Copenhagen passou por duras penas até chegar o que é o uso adequado da bicicleta. Acredito que o Reino Unido terá que passar por problemas e conflitos até se estabelecer um conjunto de práticas, leis, costumes para o uso seguro da bicicleta. São Paulo também passará por isto, por isto que temos vários conflitos. É também bom mencionar o caso de Nova Iorque, que também teve e tem seus problemas para implantar ciclovias e até mesmo uma cultura.

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  4. o ciclismo deveria ser mais publicado e ter mais incentivo e brasil precisa mais cultura a rspeito do esporte qui e bicicleta e saude

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    1. Boa Rosana ! Basicamente o que dá para se entender pela cultura de bicicleta, as pessoas são mais observadoras. Sendo mais observadoras são mais politizadas ( Tem um livro do Mário Sérgio Cortella chamado “Política para não ser idiota.” uma boa leitura sobre isto ). Portanto, tem mais expressão política que os que não praticam. Afinal ciclista tem que estar atento ( mais que motociclista ) senão pode lhe custar a vida numa cidade como São Paulo.

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  5. Viva a 22 de setembro!!!! É isso aí! bike é tudo de bom! pena que não tenho amigos e nem apoio em sair andando pela cidade.
    Ótimo blog!
    Abração!!!!

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  6. Como seria bom se os nossos governantes dessem uma olhada p/ o Reino Unido, quem sabe eles aprenderiam um pouquinho. Mais infelismente neste país só interessa p/ eles vantagens políticas p/ se enriquecerem.

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    1. É o exercício que faz bem. Andar de bicicleta é um dos exercícios. Numa cidade voltada para carros, é custoso e difícil fazer exercício ao ar livre. A primeira coisa que fazem é pegar o carro e ir para a academia. Vejam o que de perda de tempo e dinheiro esse comportamento nos traz.
      Com bicicleta você faz isto como condição necessária para se locomover, é óbvio que usar bicicleta como meio de transporte tenha como consequência uma saúde melhor.

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  7. Oi Willian!
    Acabei de perdir uma ajuda pro Thiago Benicchio e me deparei com este seu ultimo post.
    Entrei no meu último ano de faculdade e comecei (literalmente) a fazer o meu tgi, que, pra minha felicidade, irá tratar sobre bicicletas.
    Você sabe me indicar alguma fonte de pesquisa (site, órgão, associação, etc) na qual eu possa encontrar dados sobre o mercado de bicicletas no Brasil?
    Conversei com o João Lacerda e ele me indicou a Abraciclo. Lá até encontrei alguns dados, porém, ainda são poucos.
    Gostaria de encontrar alguns dados menos “mercadologicos”, como alguns aspectos sócio-culturais, comportamentais, etc. O surgimento de associações como a Ciclocidade, por exemplo, me interessa. Dados sobre o crescimento do assunto “bicicleta” na mídia, também são bons. Muitas coisas estou pesquisando e retirando aqui do seu blog. Se você souber de algo, fico agradecido! Brigadão e um abraço!

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    1. Vitor, você já bateu nas portas certas: Abraciclo e Ciclocidade. Se nenhuma das duas instituições tem esses números, provavelmente eles não existem. Nem mesmo o Censo se preocupa com as bicicletas. Você pode tentar ainda a Transporte Ativo – ta.org.br

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  8. O que nos cabe é divulgar, falar, espernear sobre isso que sabemos a muito, mas nosso povo insiste em querer seu carro a preço de ouro…

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