O frio da capital chilena não desanima quem escolhe a bicicleta para se deslocar. Mulheres já são responsáveis por mais de 30% dos deslocamentos em Santiago. Foto: Claudio Olivares Medina, via Flickr

Crescimento espantoso do uso da bicicleta no Chile obriga governo a construir ciclovias

Nos últimos seis anos, Santiago ganhou um milhão de novos ciclistas. Descubra o que causou essa explosão no uso da bicicleta, que está fazendo o governo pedalar atrás do prejuízo.

 

Mulheres já são responsáveis por mais de 30% dos deslocamentos em Santiago. E nem o frio da capital chilena desanima quem escolhe a bicicleta para se deslocar. Foto: Claudio Olivares Medina, via Flickr

Nos últimos seis anos, Santiago ganhou um milhão de novos ciclistas. Incentivos governamentais? Infraestrutura adequada? Sinalização das vias? “O que mudou foi a percepção social da sociedade em relação a bicicleta”, antes vista como “coisa de quem não deu certo na vida”.

Quem afirma é Amarilis Horta Tricallotis, diretora do Centro de Bicicultura, organização cidadã que promove a cultura da bicicleta em Santiago. Leia no Ir e Vir de Bike.

Nas ciclovias, nas ruas: em Santiago, as bicicletas estão por toda parte. Foto: Claudio Olivares Medina, via Flickr

Aumento exponencial

Em uma população estimada em 7 milhões, essa quantidade de novos ciclistas representa um número surpreendente. Alguns dos fatores que causaram esse crescimento foram o aumento das tarifas de transporte público e os congestionamentos, que causaram grande aumento no tempo de viagem. Nenhuma novidade para nós.

Outro fator que fez os chilenos optarem por esse meio de deslocamento foi a preocupação com o meio ambiente. Em São Paulo, o veneno no ar continua sutil e, apesar de hospitalizar crianças e idosos, ainda é quase imperceptível para quem acredita que a culpa é do ar seco ou que basta fechar as janelas; em Santiago, as características geográficas agravam o problema e fazem com que os alertas ambientais sejam comuns.

Durante esses alertas, a circulação de automóveis se torna ainda mais restrita (nesse 19 de julho, 40% dos carros sem catalisador – 4 dígitos finais das placas – estão proibidos de circular o dia todo). Barreiras como essa ao uso do automóvel fazem os cidadãos buscarem outras maneiras de se locomover, ajudando a diminuir poluição, congestionamentos e acidentes de trânsito (e é por isso que há tanta gente por aqui defendendo a implementação do pedágio urbano).

A contagem foi realizada em duas das ciclovias mais utilizadas da cidade. Foto: AyT/Divulgação

Levantamento e saturação

A consultoria Urbanismo y Territorio (UyT), em ação conjunta com a organização Cuidad Viva, realizou contagens de ciclistas em alguns pontos da cidade, com equipamento automatizado. Enquanto o fluxo de bicicletas no final de semana se manteve praticamente estável, o crescimento de seu uso nos dias úteis cresceu de forma espantosa.

A página da UyT com os resultados da pesquisa afirma que, tomando como base determinado ponto em uma das principais ciclovias da cidade, verificou-se uma taxa de crescimento anual do fluxo de bicicletas de 18,2%, no período entre 2005 e 2012. Ou seja, em pouco mais de 5 anos a demanda duplicou. A empresa afirma ainda ser urgente revisar o desenho das ciclovias, pois estão chegando ao limite de sua capacidade.

Reação do governo

O Governo chileno afirma que não teve tempo de reagir, pois o crescimento foi repentino. Alega que há planos de ciclovias para médio prazo e que, agora, são necessários  “planos de segurança, normas e programas de educação”. Mas cicloativistas e urbanistas desconfiam e denunciam que o investimento ainda é insuficiente, se comparado ao aumento de usuários de bicicleta.

O poder público afirma haver hoje 550km de ciclovias em Santiago – infraestrutura questionada por organizações de ciclistas, já que muitas delas não cumprem padrões de segurança, não se conectam entre si e, em muitos casos, são voltadas apenas ao lazer. É como quando, aqui em São Paulo, contam as ciclovias dentro de parques como parte da infraestrutura cicloviária da cidade (e, ainda assim, não chegamos a um terço do que há em Santiago).

Agora, o poder público local vai ter que pedalar atrás do prejuízo, já que mais de um sétimo da população estará insatisfeita dentro de um ano, quando as ciclovias estiverem saturadas. E boa parte dessas pessoas vota.

Algumas fotos utilizadas aqui são de Claudio Olivares,
do ótimo blog chileno Ciclismo Urbano. Vale a visita.

21 comentários em “Crescimento espantoso do uso da bicicleta no Chile obriga governo a construir ciclovias

  1. Sou ciclista de final de semana e costumo fazer ciclo viagens. Em 2014 pretendo fazer uma ciclo viragem pelo o Chile juntamente com mais 10 amigos. Pretendo saber qual o melhor roteiro e o mês que devo programar?
    Abraço a todos!

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  2. Falando no Chile, nas minhas leituras sobre inclusão digital e governança local e as tecnologias de informação e comunicação, deparei com este país como referência de governo eletrônico. Que pode explicar o impacto que teve o aumento de cicilistas naquele país no governo chileno. Como estamos anos, senão década, atrasados em aritculação pública em forma eletrônica, um aumento expressivo em ciclistas não vai ter esse mesmo impacto no nosso governo. Temos muito trabalho a fazer até chegar o ponto em que estão os chilenos.

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  3. Olá

    Sou motorista, motociclista e ciclista. Cada dia mais aderindo a bike. Tenho a visão das três situações para falar com propriedade. Já vi e já vivi situações absurdas, nas três situações. E hoje chego a conclusão de que as pessoas precisam aprender a respeitar mais o próximo, aprender a ter mais educação!!! O principal que está faltando em nosso mundo em nosso trânsito é a educação!!! Como motorista, motociclista e ciclista já presenciei situações absurdas!!! Um desrespeito, pura falta de educação!! Outro dia fui literalmente atropelada em plena ciclovia por um ciclista amador ou não, pq pra mim se está em uma bicicleta é um ciclista, pois fui atropelada, porque ele simplesmente tentou fazer uma ultrapassagem na contra mão e se chocou comigo, quase causando um desastre, além do choque ter sido muito forte, me projetou a quase três metros a frente, quase que eu quebrei meus dentes na guia da calçada, fiquei super machucada cheia escoriações, e ainda por cima detonou com a minha bicicleta, agora você acha q ele se importou?? Não saiu andando, nem me prestou socorro!! Como eu disse o respeito a educação tem que ser mútua!!!! De todos os lados!!! Educação!!! Respeito!!!

    Comentário bem votado! Thumb up 4 Thumb down 0

    1. Essa foi um exemplo clássico de Massa Crítica, e, sem muito esforço. :-).
      Falando em educação, a educação chilena é muito boa. A economia e a sociedade chilena é um bom exemplo para os países da AL, lá os pessoal pensa em comunidade.
      Voltando à realidade, por mais que a gente peça por educação e respeito da forma tradicional, isto é, pedir para autoridades criar programas de educação, etc …, primeito temos que dar exemplo, e exigir educação e respeito … não das autoridades … mas da pessoa que está próximo a você … sem tutelagem. Nós reclamamos da impunidade, mas o principal culpado na história é da cada um de nós, que não cobramos do próximo a educação e o respeito, que por si só pode ser considerado uma punição, uma desaprovação do comportamento irresponsável e até mesmo criminoso. Pois se não há esta ação, as pessoas que as cometem vão se sentir impunes, e prontas a fazer ações piores, que é hoje, comum. Com essa idéia de Massa Crítica, e ações punitivas ( não significa prisão, multas ou que seja mais drástico ), com o tempo o comportamento geral irá mudar. Faça como os chilenos, exijam os direitos de ir e vir, e cobrem.
      Carmem, sinto muito pelo seu acidente, mas em última análise a culpa pelo seu acidente foi nossa, nós como sociedade. Tem todo direito de ficar indignada, mas não pode ficar só nisto. Essa pessoa que te abandonou sem prestar ajuda é o reflexo do que estivemos fazendo nos últimos anos desde o fim da ditadura militar, a de ficar omisso. Chile apesar de ter saído de um período ditatorial, voltaram a exercer os seus direitos e serem mais atuantes na vida pública.
      Vale a pena uma leitura da história do Chile de pelo menos 50 anos atrás.

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