Cartazes demonstravam a indignação da sociedade. Foto: Rachel Schein

Solidariedade e indignação mobilizam cidadãos em apoio a ciclista atropelado

Veja como foi o protesto na Av. Paulista, saiba sobre as manifestações de apoio que vêm ocorrendo e os novos protestos do domingo 17/03.

Cartazes demonstravam a indignação da sociedade. Foto: Rachel Schein
Cartazes demonstravam a indignação da sociedade. Foto: Rachel Schein
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Apenas algumas horas após a realização de mais uma edição brasileira do World Naked Bike Ride em SP, ou Pedalada Pedala, na qual ciclistas pedalam com pouca (ou nenhuma) roupa para chamar a atenção sobre sua fragilidade no trânsito, mais um usuário da bicicleta foi covardemente atropelado e mutilado em plena Avenida Paulista.

A história está sendo exaustivamente exposta pela mídia. Entenda o caso e acompanhe seu andamento aqui no Vá de Bike.

O crime aconteceu por volta das 05h30 da manhã, horário calmo, com poucos carros nas ruas, mas muitos bêbados saindo das festas. Quem pedala de madrugada (ou de manhã muito cedo para treinar) sabe que existem os picos e locais das saídas de balada. David Santos de Souza talvez não soubesse disso (e nem deveria precisar saber). Ele precisava trabalhar, simples assim.

"Omissão mata" e tinta vermelha para lembrar que o Poder Público também é responsável pelas mortes no trânsito. Foto: Rachel Schein
“Omissão mata” e tinta vermelha para lembrar que o Poder Público também é responsável pelas mortes no trânsito. Foto: Rachel Schein

David e Alex Siwek têm praticamente a mesma idade e realidades completamente distintas. Eles se cruzaram numa espécie de filme de terror macabro, que terminou com um braço no córrego, o mais frágil no hospital e outro na delegacia.

Algumas horas depois do ocorrido, as ligações começavam a pipocar em busca de notícias sobre o “acidente”. Logo, já havia articulação na internet e centenas de pessoas absolutamente indignadas com o ocorrido. Eram muitas perguntas sem resposta.

Por volta das 16h, cidadãos se encontraram no local da tragédia, ainda com marcas de sangue no asfalto. Deitaram no chão simulando um corpo atropelado, gritaram por “mais amor, menos motor” e “não foi acidente”. Penduraram cartazes com frases de indignação, entre elas “por que viramos MONSTROS no trânsito?” e “omissão mata”. Enquanto isso, outros ciclistas protestavam na porta da Delegacia de Polícia onde o estudante de psicologia Alex prestava depoimento sobre o caso.

Foi realizado mais um "Die-in", que simula corpos atropelados no asfalto. Foto: Ignacio Aronovich / Lost Art
Foi realizado um “Die-in” na Avenida Paulista, simulando corpos atropelados no asfalto. Foto: Ignacio Aronovich / Lost Art – veja a galeria completa

A imprensa da carnificina continua buscando justificativas que culpem a vítima pela própria tragédia e coloquem na bicicleta o status de “veículo perigoso”, chegando até a questionar a embriaguez de Alex Siwek – que se negou a fazer teste do bafômetro e exames de sangue e urina, mas provavelmente ingeriu doses de vodka como mostra sua comanda da balada. Tentam crucificar o ciclista porque trafegava na contramão, como se isso fosse relevante para ser atropelado por um motorista em alta velocidade, alcoolizado e que fazia zigue-zague em plena Avenida Paulista, passando sobre os cones de área segregada para as bicicletas. As perguntas não mudaram, o foco ainda é o mesmo.

Na contramão de tudo, está nossa sociedade que não percebe a existência de uma família destruída, um corpo mutilado e muitos sonhos interrompidos, para permanecer no fluxo dos valores invertidos dizendo que o perigoso mesmo é pedalar, caminhar e viver. Sintomas de uma sociedade doente, como bem lembrou Leonardo Sakamoto, que não percebe que um braço arrancado é bem mais do que apenas um braço arrancado, é o reflexo de uma “não-cidade” que expulsa, mata e mutila seus cidadãos.

 

Doação de sangue

Enquanto isso, acompanhamos surgir uma rede de cidadania e solidariedade que se forma diante de um cenário tão brutal e violento. Gleice Silva, prima de David dos Santos, anunciou em uma página do Facebook a necessidade de doação de sangue para o ciclista.

Diz o texto: “para doar PARA ELE: (David) vc tem q ir no Hospital das Clínicas, (com seu RG) e dizer que vai doar sangue para David Santos Sousa (o sangue pode não ser exatamente para ele, pode ser simplesmente para repôr o Estoque do Hospital. Mas doem assim mesmo). Para doar POR ELE: (David) vc vá em uma unidade de saúde proxima de vc, e simplesmente doe sangue para alguém que precise. Qualquer uma das duas maneiras será uma causa nobre”.

 

Ciclista ganhará uma prótese

Também estava sendo articulada uma maneira de juntar dinheiro coletivamente para conseguir um braço mecânico para David, a campanha está com mais de 6400 inscritos (número atualizado em 14/03) e recebeu uma agradável surpresa: o ortopedista Nelson Nolé, de Sorocaba-SP, doará uma prótese de braço para o ciclista. “David não vai precisar abandonar a paixão pela arte”, resumiu Nolé, em matéria do G1.

 

Cartazes espalhados também nas estações de metrô da Av Paulista. Foto: Rachel Schein
Cartazes foram espalhados também nas estações de metrô da Av Paulista. Foto: Rachel Schein

Novas manifestações no dia 17

Está sendo organizada, também pelas redes sociais, mais uma manifestação em São Paulo em apoio ao David e contra a barbárie que vivemos no trânsito. O evento será no domingo, dia 17/03, com concentração às 16h na Praça do Ciclista e saída em direção ao local do crime às 16h30. A caminhada terá apoio de parentes e amigos de David, inclusive com um grupo de ciclistas saindo de Santo André às 13h.

Ainda no domingo, dia 17, homenagens e protestos também acontecerão em Belo Horizonte. “A ideia é sair da Praça da Estação e ir até a região hospitalar, onde diversos ciclistas de BH já foram parar por imprudência e desrespeito de motoristas”, diz o evento no Facebook.

Entidades e sociedade civil precisam continuar acompanhando bem de perto mais este caso, fazendo pressão para que, quando julgado, possamos finalmente ter jurisprudência em tratar os crimes de trânsito realmente como crimes. Há que se aprender a deixar de tratar assassinos irresponsáveis e imprudentes como vítimas, que pagam com fiança e trabalhos comunitários as atrocidades que cometeram e as famílias que destruíram.

Leia tudo que já publicamos sobre o caso aqui no Vá de Bike

19 comentários em “Solidariedade e indignação mobilizam cidadãos em apoio a ciclista atropelado

      1. Wagner,

        Com todo o respeito ao Marcelo, ele não merece sua resposta. Será que não havia pergunta mais inteligente para ele fazer?

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  1. Quando penso no ocorrido o meu corpo grita de “Dor” e minha alma CHORA, pela falta de amor e generosidade de uma pessoa tão jovem e tão covarde.Pedalo todos os dias para ir ao trabalho,passo na paulista duas vezes ao dia só peço uma coisa aos motorista- GENTILEZA,GENTILEZAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.

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  2. Aline, por que você minimiza o fato dele estar na contramão? Já parou para pensar que se ele tivesse obedecido a CTB e andado do outro lado, não teria encontrado esse bêbado e sido atingido?
    Por que que nós ciclistas não assumimos a nossa má conduta no trânsito como andar na contramão, passar farol vermelho, desrespeitar o pedestre com o mesmo desrespeito que os motoristas tem com a gente, etc? A bicicleta só será respeitada quando mostrar uma atitude diferente no trânsito ou o que eu estou falando é mentira?

    Ciclista em certa medida também se acha o dono da rua e tá cagando para o pedestre.

    OBS: SOU CICLISTA

    Polêmico. O que acha? Thumb up 3 Thumb down 7

    1. Sergio, antes de julgar é importante analisar todo o contexto e o motivo dele ter ido na contramão. Também sou contra pedalar na contramão, porém, o David teve um motivo para isso.

      Segundo o jornal Folha de SP, o David estava pedalando do outro lado junto aos carros (sentido correto) e ao ver que tinham começado a colocar cones da ciclofaixa no outro lado da avenida ele decidiu ir por esse caminho para ter mais segurança e ficar isolado dos carros, não esperava encontrar um monstrorista derrubando os cones e dirigindo em zigue-zague na ciclofaixa.

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    2. Sérgio, desculpe a sinceridade, mas você é um completo de um imbecil.

      Segundo o ciclista e confirmado pela polícia, a ciclofaixa só estava montada de um lado da pista naquele horário. Ele achou, MUITO LOGICAMENTE, que melhor e mais seguro seria andar na FAIXA SEGREGADA POR CONES, mesmo que na contra-mão, do que andar na mão certa sem segregação.
      Como a faixa estava SEGREGADA por cones, não fazia diferença se ele estava na contra-mão ou não, nenhum carro devia estar invadindo a faixa. A chance de ser atropelado andando na contra-mão numa faixa segregada é menor do que andando na mão certa sem ser em faixa segregada, principalmente num horário em que aconteceu, horário que ainda está escuro.
      Era impossível pra ele prever que um motorista bêbado e completamente retardado estaria fazendo zigue-zagues e derrubando os cones.

      Então pensa antes de defecar pela boca, sr. Sergio que é ciclista.

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      1. Bom, imbecil é você que não entendeu o que eu disse e defecar só se for na tua mãe.

        Claro que foi uma infelicidade ele ter pego a contramão achando que estava se protegendo e justamente acabou sendo prejudicado por isso. Eu não estou condenando o ato dele e justificando a barbárie do outro. Só estou dizendo que poderíamos aproveitar o momento e fazer autocrítica, rever nossas ações no trânsito, respeitar mais o pedestre.

        Talvez vc que deve ser um bosta de um ciclista não entenda, enfim, perda de tempo.

        Polêmico. O que acha? Thumb up 4 Thumb down 6

        1. Sergio,

          Concordo que do outro lado ele poderia ter evitado o choque. Agora, também nada mais correto do que permanecer na faixa reservada pelos cones.

          Discordo na questão da autocrítica. Eu sou muito, muito, mas muito caxias mesmo na hora de pedalar, sendo extremamente crítico (chato) com quem comete infrações. No entanto, o momento NÃO é o da autocrítica.

          Isso nós já discutimos aqui no VdB muito e sempre poderemos discutir. Mas não quando uma situação surreal dessa acontece. É melhor mantermos o foco no que é realmente importante no momento.

          E o nosso amigo “A.” apesar de ter razão, chutou o balde…

          Relax! 🙂

          Abraço,
          Laudari

          Comentário bem votado! Thumb up 8 Thumb down 1

          1. O momento é de autocrítica sim, porque esse espírito permissivo que existe entre nós ciclistas legitima os idiotas que criticam o uso da bike pela cidade.

            Se eu não me engano, a Folha fez uma matéria com as “infrações” dos ciclistas dias após a morte da Julie na Paulista.

            Para mim os assuntos estão ligados. Eles sempre vão dizer que a conduta do ciclista é autodestrutiva e minimizar o outro lado. Agora se a grande maioria respeitasse o pedestre e as leis de trânsito ao máximo( é claro que sei que elas não estão adaptadas à bicicleta) isso geraria uma mudança muito positiva pra nós.

            Se serve de exemplo, nos países em que a bike e o pedestre são mais respeitados, ciclistas e pedestres tomam multa. Então a ideia de punição também está ligada a inclusão.

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    3. Mas não sou todos assim não.
      Eu não sou assim, se você sabe que é assim é bom tentar melhor né Sergio, afinal, o exemplo começa com nós mesmos. Antes de apontar os erros dos outros é bom vermos o nossos erros…
      Algo que sempre penso quando estou na rua é que tenho que representar bem todos os ciclistas e trazer uma boa experiência a todos, pedestres e motoristas.

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  3. “O crime aconteceu por volta das 05h30 da manhã, horário calmo, com poucos carros nas ruas, mas muitos bêbados saindo das festas. Quem pedala de madrugada (ou de manhã muito cedo para treinar) sabe que existem os picos e locais das saídas de balada. David Santos de Souza talvez não soubesse disso (e nem deveria precisar saber).”

    SERÁ QUE A POLÍCIA SABE?

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  4. Parabéns a está iniciativa precisamos cortar esse mal pela raiz ,motorista imprudente na cadeia,sou motorista e ciclista e respeito tanto no volante quanto no Guidom ,peço a vocês irmãos de bike ,que protestem contra a desativação da ciclovia de taboão da serra , abraço que Deus proteja os ciclistas

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    1. Gil,
      Esse sábado termos na capital na câmara de vereadores uma audiência pública sobre a ciclovia na Eliseu de Almeida. Uma ciclovia está diretamente ligada a outra.
      Compareça pois conseguindo a ciclovia de SP esta terá continuação em Taboão, ou seja, o novo prefeito será pressionado a “refaze-la”.

      Mais informações:
      http://vadebike.org/2013/03/encontro-ciclovia-eliseu-almeida-camara/

      Comentário bem votado! Thumb up 5 Thumb down 0

  5. Pessoal, para que todas as manifestações realizadas sejam 100%, quem comparecer lá no dia 17 (se já não tiver feito) poderia passar pelo HC depois e doar sangue… \o/

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