"O negócio é sério", afirma motorista que passou pelo treinamento. Imagem: Roberta Soares/Reprodução

Motoristas de ônibus sentem na pele o que é levar fina numa bicicleta

Empresa de ônibus do Recife colocou seus motoristas no papel de ciclistas, em treinamento prático. Uma experiência que sem dúvida eles não esquecerão.

"O negócio é sério", afirma motorista que passou pelo treinamento. Imagem: Roberta Soares/Reprodução
“O negócio é sério”, afirma motorista que passou pelo treinamento. Imagem: Roberta Soares/Reprodução
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Uma das maiores empresas de ônibus do Grande Recife, a Itamaracá, realizou um treinamento prático colocando os motoristas em bicicletas, enquanto os coletivos tiravam “fino” deles (ou “fina”, dependendo do lugar do Brasil onde você está). “A proposta é sensibilizar os condutores da nossa equipe de motoristas para uma boa convivência com os ciclistas”, conta Maria Amélia, diretora da empresa, no vídeo que está no final deste post.

O treinamento foi realizado durante a SIPATMA, Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho e Meio Ambiente, em 2013. A atividade prática foi uma sugestão da Ameciclo – Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife. “A gente jamais poderia fazer uma ousadia dessas sem esse apoio”, ressalta Maria Amélia, que afirma ainda que a empresa está se preparando para se tornar amiga da bicicleta.

O ônibus passa a 50 cm dos motoristas em treinamento, que estão em bicicletas estáticas, presas ao solo, sem chance de desequilibrar com o susto – algo que acontece nas ruas. Nos vídeos, eles relatam o susto que levam, mesmo já preparados para o que vai acontecer. “O negócio é sério”, diz um deles, visivelmente assustado. Outro admite que já tirou fino algumas vezes, mas depois de viver essa experiência não vai mais fazer isso.

Vale lembrar que há nas ruas motoristas que passam a distâncias até menores que essa. O terror pode ser ainda maior e, mesmo sem tocar na bicicleta, causar um atropelamento decorrente da queda. Entenda aqui o motivo do 1,5m de distância lateral ao ultrapassar ciclista.

Segundo matéria do NETV (Globo), todos os 60 motoristas da empresa passaram pelo treinamento que, sem dúvida, foi muito instrutivo. Além da atividade prática, houve apresentação dos artigos do Código de Trânsito que se referem aos ciclistas e dicas de como se portar no trânsito compartilhado.

Iniciativas parecidas já aconteceram em várias cidades brasileiras, como Rio de Janeiro/RJVitória/ESManaus/AMSalvador/BAPorto Alegre/RS e Florianópolis/SC. Em São Paulo, há mobilização popular para pressionar a prefeitura a realizar nova ação com motoristas de ônibus (a última ocorreu em 2009).

O que diz a Lei

Agir como o motorista da simulação é incorrer em pelo menos duas infrações de trânsito:

Art. 201. Deixar de guardar a distância lateral de um metro e cinqüenta centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta:
Infração – média;
Penalidade – multa.

Art. 220. Deixar de reduzir a velocidade do veículo de forma compatível com a segurança do trânsito:
(…)
XIII – ao ultrapassar ciclista:
Infração – grave;
Penalidade – multa.

Saiba aqui o que o Código de Trânsito diz sobre bicicletas e ciclistas.

Vídeos

Se estiver sem tempo de ver todos, assista pelo menos o primeiro. Vale a pena ver também o último, a entrevista com a diretora da empresa, para ver a visão esclarecida que ela tem sobre bicicletas nas ruas. Parabéns.

Os vídeos são de Roberta Soares.

Via Raquel Rolnik

44 comentários em “Motoristas de ônibus sentem na pele o que é levar fina numa bicicleta

  1. O problema são os motoristas sádicos e/ou com direção ofensiva, ao invés de defensiva! Outro dia aconteceu comigo numa avenida aqui perto de casa, quando eu estava pedalando na avenida (deserta às 4:30 hs AM) indo para o trabalho, a mais ou menos 60 km/h, num trecho com calçada totalmente sem acessibilidade para pedestres (quanto mais para cadeirantes e/ou ciclistas?). Repentinamente surge atrás de mim uma perua de lotação que freia em cima da minha ro da traseira, desvia para a faixa de rolamento à minha esquerda e na sequência me empurra para a calçada para parar num ponto de ônibus a 20 metros a diante, um trecho que ele teria que esperar 10 segundos (ou pouco mais) para chegar. Por sorte eu estava atento à aproximação dele pelo retrovisor (nem todos os ciclistas urbanos usam), o que evitou que eu fosse atingido nas duas manobras ofensivas dessa lotação.
    Sorte também, naquele trecho o asfalto não ter grandes problemas de pavimentação, se não eu teria perdido o controle da bike ao frear forte para evitar a colisão lateral. Em fim… o motorista não está preparado para dirigir no Brasil. As Leis não funcionam e/ou só funcionam para alguns. A polícia só quer IBOPE (pequenos casos não interessam). Em fim, ciclistas cuidem-se, pois serão raros os casos de motoristas que nos respeitam, principalmente quando o trânsito estiver um caos!

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  2. A ideia é brilhante e deveria ser promovida pelos governos e não apenas por empresas privadas! Gostaria de compartilhar a experiência de um amigo que pedala em Londres e uma vez ele levou uma multa (não me lembro porque [sim, em Londres se multam ciclistas!]) e ao invés de pagar ele foi convidado para fazer um “curso” no qual ele tinha que entrar no caminhão e olhar para o retrovisor enquanto uma bike passava… assim ele percebeu que caminhões e ônibus tem pontos cegos e não vem o ciclista dependendo da distância que eles estão do veículo e do lugar onde estão!
    Acho válido o “teste” para todos os lados! Minha bicicleta é meu meio de transporte, mas vejo erros acontecendo de todos os “lados”, embora (obviamente) o estado não promova recursos básicos para facilitar a vida dos ciclistas!!!

    Abraços Xx

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  3. Mas aí é molinho… Parado…
    Quero ver com meio fio, buraqueira nas ruas, pedestres se jogando pra atravessar a rua, transito parado… Aí sim teria emoção e eles iriam não só respeitar a lei, mas passar a pelo menos 2 metros de um ciclista… #prontofalei

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  4. Meus parabéns pela iniciativa. Vamos compartilhar para mais empresas tomarem tal atitude. Vamos conviver em paz, pq não?

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  5. Excelente iniciativa! Outro risco da fina ao ciclista e motociclista é o enorme deslocamento de ar desordenado (Turbulência) desses veículos quando em velocidade muuuuito superior às bicicletas. O susto da fina, mais buzina, associado ao violento deslocamento de ar, pode fazer o ciclista cair, justamente sob o coletivo, outros veículos e, também pedestres! Educação é tudo! Como eu disse, excelente iniciativa dessa empresa!

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  6. Minha dica fica para o Grande ABCDMRR paulistano, educar melhor os motoristas que tiram cartas e tentam excluir o ciclista (que pena que alguns são excluídos deste mundo). A fina que deram no vídeo foi até boa, 50 cm, dá pra fazer muita coisa, mas dificilmente um ônibus , caminhão ou carro vão cumprir pelo menos os 50cm, sendo que na lei é 150cm… magnífico este post Willian Cruz, se tem algo, independente da realidade de cada cidade, que vc possa fornecer tipo de fazer leis, eu vou acatar… quem tiver me mande faggimozart@gmail.com em São Bernardo do Campo-SP

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  7. Este treinamento deveria ser obrigatório a TODOS os motoristas, principalmente de taxi e de ônibus… Ou então, pra quem tem algum tipo de respeito, ou amor, colocar um filho deles ou a mãe de bike pra ver se eles tiram fina neles!!

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  8. Sonho com o dia que a BHTrans obrigará os motoristas de ônibus e táxi a passar por esse treinamento em BH…

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  9. Muito bom, melhor ainda seria todos passarem por isso.
    trânsito seria mais amigável para todos não só ciclistas como pedestres, motoboys etc…

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  10. Sou ciclista e quase sempre que posso o meu transporte é a bicicleta. Evito muito pegar o carro para sair.
    Ando muito bem equipado, com capacete, óculos e a minha bike tem toda sinalização adequada.
    No entanto, essa lei de 1,50m de distância, na prática não funciona em nada.
    Primeiro por não haver espaços para os carros manterem essa distância. Se estou andando próximo ao meio-fio, tudo bem. Acontece que na maioria das vezes existem os carros estacionados e, então, como posso continuar meu caminho sem desviar deles; e aí é que a coisa não funciona na maioria das vezes. Alguns motoristas até se afastam para evitar a colisão, mas acabam entrando na contra-mão da via contrária ou então, acabam ‘fechando’ os veículos ao lado deles. Dá pra entender que na prática a teoria é outra.
    E pra reforçar eu digo que, quando estou dirigindo meu carro, eu respeito muito as bikes e motos que estão à minha frente, mas realmente, na maioria das vezes, é praticamente impossível respeitar a distância mencionada de um metro e meio.
    Não dá pra por isso em prática!

    Polêmico. O que acha? Thumb up 3 Thumb down 6

    1. Não vou negativar seu comentário, nem dar um positivo, pois você está entre o certo e o errado… concordo que na teoria é uma coisa e a pratica é outra, mas os 150cm cabem sim na rua.Uma rua para dois automóveis tem em média 7 metros… se vc(o automóvel) não consegue ultrapassar a bicicleta, tem que fazer apenas o seguinte, freie o carro, espere não haver nenhum automóvel do outro lado e vá. A lei não foi feita por acaso, foi pensada por quem calculava, sabia dos problemas nas ruas por ser um ciclista convicto. Este mesmo senhor calculou até os acidentes e como aconteciam, ia de carro e também sabia que os carros eram abusados. Hoje, eu vejo uma nova geração de motoristas e ciclistas, pois foi dado o sinal verde aos ciclistas, e muita gente que não aprendeu a pilotar uma bike, está começando a dar seus primeiros rolês (tipo sair de SP e ir até Santos)Quem é este homem? Depois que ele saiu da Cosipa, se aposentando, criou a CICLOSAN, na qual é responsavel por toda cicloviária da baixada Santista. Vejo mais respeito, vejo mais ciclistas, eu da bike anjo vou fazer mais e mais ciclistas… um nobre amigo meu vendeu seu carro, só vai de bicicleta e sua esposa que antes reclamou, hoje está nas pedaladas noturnas no ABC… Só o tempo ruim nos faz ir no coletivo(ônibus) no entanto, fora isso, é bike 100%

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    2. Meu caro, na Europa as ruas são muito mais estreitas que aqui. Sabe o que os motoristas de lá fazem? ficam atras da sua bike, e só ultrapassa quando pode. A bicicleta lá é vista como um automóvel. um abraço

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