Em seminário, comissão holandesa anuncia já ter fechado parcerias com a prefeitura de São Paulo para implantar soluções de mobilidade. População não foi ouvida, como prevê o Estatuto da Cidade. Foto: Rachel Schein

São Paulo e Holanda fecham acordos na área de mobilidade

Empresários e gestores holandeses disseram já haver acordos firmados com a prefeitura de São Paulo para soluções de mobilidade.

Em seminário, comissão holandesa anuncia já ter fechado parcerias com a prefeitura de São Paulo para implantar soluções de mobilidade. População não foi ouvida, como prevê o Estatuto da Cidade. Foto: Rachel Schein
Em seminário, comissão holandesa anuncia já ter fechado parceria com a prefeitura de São Paulo para implantar soluções de mobilidade na cidade. População não foi ouvida, como obriga o Estatuto da Cidade. Foto: Rachel Schein

Uma comissão da Embaixada do Reino dos Países Baixos esteve em São Paulo em 3 de abril para compartilhar suas experiências na área de mobilidade urbana e sistemas inteligentes de transporte. O seminário aconteceu no auditório do Museu do Futebol, anexo ao Estádio do Pacaembu, e contou com a presença de cerca de 50 participantes, entre autoridades locais, internacionais, especialistas em mobilidade e cicloativistas.

“Nós enxergamos a bicicleta como um símbolo do que queremos oferecer às cidades. Temos o imenso prazer de compartilhar algumas soluções encontradas por companhias holandesas com vocês e com outras cidades brasileiras também”, comemorou o Embaixador do Reino dos Países Baixos, Kees Rade.

Já a vice-ministra de Infraestrutura e Meio Ambiente, Wilma Mansveld, adiantou que “os prefeitos de São Paulo e Amsterdã firmaram diversos acordos nos últimos meses, entre eles, alguns relacionados a soluções de mobilidade”. Ciente das diferenças entre as duas cidades, Wilma completou: “nós gostamos de inspirar as pessoas, espero que nossa tecnologia ajude a nos conectar também, mesmo vindos de mundos aparentemente tão diferentes”.

Nenhum detalhe sobre valores, prazos e conteúdo dos acordos foi exposto durante o seminário. Além disso, o formato do evento não permitia que a audiência fizesse perguntas ou comentários sobre o conteúdo apresentado.

O Estatuto da Cidade, lei federal que estabelece diretrizes da política urbana, é claro ao determinar que a gestão das cidades deve ser democrática, e que isso se efetiva “por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano”.

Veja um pouco do que foi o evento, no vídeo de Rachel Schein:

Seminário Urban Mobility em São Paulo from Vá de Bike on Vimeo.

Membros da comissão holandesa fizeram "experiência de mobilidade" pedalando em estacionamento. Bicicletário oferecido a quem chegou de bike ficava distante do local do evento. Foto: Rachel Schein
Membros da comissão holandesa fizeram “experiência de mobilidade” pedalando em estacionamento. Bicicletário oferecido a quem chegou de bike ficava distante do local do evento. Foto: Rachel Schein

Descompasso

Apesar do clima geral de apoio à mobilidade por bicicleta, o discurso holandês destoava da prática dos organizadores brasileiros do evento. Embora dezenas de bicicletas do sistema de bike sharing da prefeitura de São Paulo estivessem disponíveis para empréstimo gratuito à porta do museu, quem foi pedalando ao local precisou lidar com a desinformação dos organizadores e com a falta de cuidado em relação ao ciclista, já que o único bicicletário disponível ficava do outro lado do estádio, um pouco mais afastado. Além disso, seguranças tentavam impedir que ciclistas amarrassem suas bicicletas às grades de proteção ao redor do museu, fato que demonstrou o abismo existente entre as práticas internacionais exaltadas durante o seminário e a realidade encontrada do lado de fora do auditório.

No intervalo entre as palestras, a comissão holandesa foi convidada a fazer uma “experiência de mobilidade” utilizando as bicicletas do bike sharing para dar uma simples volta na Praça Charles Miller, em frente ao Pacaembu, em ambiente protegido.

Negócios e mobilidade urbana

Dando início à rodada de apresentações das empresas nacionais e internacionais, a Dutch Cycling Embassy mostrou como o incentivo ao uso da bicicleta nas cidades pode mudar completamente sua dinâmica sócio-cultural, econômica e ambiental. A entidade, que se autointitula como “os peritos mundiais de ciclismo”, foi escolhida por gestores locais para aplicar em São Paulo as soluções de ciclomobilidade já desenvolvidas em Amsterdã. “A bicicleta é o combustível do futuro, nós sabemos disso e acreditamos que boa parte da mudança virá com mais pessoas pedalando”, afirmou a diretora da Dutch Cycling Embassy, Aletta Koster.

Na sequência, outras empresas falaram sobre seus produtos, serviços, novas ideias, conceitos e tecnologias que vêm sendo desenvolvidas a fim de melhorar a mobilidade urbana das cidades. Grande parte do que foi apresentado tinha como base informações de deslocamentos geradas por GPS, dados de internet, celular e “big data”.

Túnel submerso ligará Santos ao Guarujá

Entre as tecnologias de empresas brasileiras, Durval Bacellar, diretor técnico da Royal Haskoning DHV, falou sobre a construção de um túnel submerso que ligará as cidades de Santos e Guarujá, litoral sul paulista. “O túnel terá passagem segura para pedestres e ciclistas e pretende desenvolver ainda mais a atividade portuária local, valorização imobiliária, além de conectar as duas cidades, oferecendo mais uma alternativa de mobilidade”, explicou Bacellar.

A obra, de responsabilidade do Governo do Estado de São Paulo por meio da Secretaria de Logística e Transportes de São Paulo e DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S/A), custará cerca de 2,4 bilhões de reais e deve começar em julho desse ano com previsão de conclusão para 2018.

Negócios firmados entre o governo de São Paulo e empresas holandesas não tiveram detalhes revelados ao público durante o evento. Foto: Rachel Schein
Negócios firmados entre o governo de São Paulo e empresas holandesas não tiveram detalhes revelados ao público durante o evento. Foto: Rachel Schein

12 comentários em “São Paulo e Holanda fecham acordos na área de mobilidade

  1. @Cícero I do not have (financial) reason, just experience. I am dutch, i know the bike paths in the Netherlands very well, they are just great. I am living in Santos….. i bike here, and here in Santos i easily experience the lack of knowledge in how to do a roads for bikes.It misses a certain logic. If these companies can bring that and Brazil takes than it’s own path with the knowledge…. it is the thing to do. Brazil growing into a new time… and it needs foreign knowledge to go further, we all learn from each other. It is like a samba teacher who gives lessons in The Netherlands… it happens 🙂

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    1. O problema não está no financeiro, René, mas exatamente o que você disse sobre experiência. Quer dizer, não aquela estrangeira, de onde quer seja, de Amsterdã, Copenhaguem, Londres, Portland, Nova Iorque, Tóquio, Pequim… O problema está na falta de experiência de nossos gestores públicos e privados e, em adição, na boa vontade deles, na vontade política de implementar uma estrutura de transporte público diversificada, racional e satisfatória (incluindo aí portanto as bicicletas), com a devida retidão técnica e econômica para tal processo, claro.

      O que ocorre é que a nossa cultura democrática é muito jovem, o que ainda cria resistências mesmo às razoáveis demandas da sociedade. E temos um forte histórico de privilégios para a indústria automobilística, em detrimento dos outros modos de transporte, e isso desde os anos 50 do século passado, com o então nosso “moderno” e desenvolvimentista Juscelino kubitschek bossa nova como presidente!

      E então penso que é pré-condição para aprendermos um com outro (nacional e estrangeiro) aprendermos um com outro localmente (governo e sociedade).

      De qualquer forma, René, estamos chegando lá, aos poucos estamos encontrando nosso caminho no bom caminho, em direção ao futuro. Aos poucos estamos vendo o tráfego ganhar a diversidade necessária, com um pouco de samba, de bossa nova, forró, axé, frevo, sertanejo, rumba, jazz, rock’n roll, blues, rhythm&blues, música clássica…rs.

      (Google translate, sorry.)

      The problem is not financial, but exactly what you said about experience. I mean, not that foreign, wherever it is, Amsterdam, Copehaguen, London, Portland, New York, Tokyo, Beijing. The problem is the lack of experience of our public and private managers, and in addition, the good will, the political will to implement a structure of public transportation diversified, rational and satisfactory (including there so the bike), with due uprightness technical and economical for such a process, of course.

      What happens is that our democratic culture is very young, which still creates resistance to even the reasonable demands of society. And we have a strong history of privileges for the automotive industry at the expense of other modes of transport, and that since the 50s of last century, with then our “modern” and developmental Juscelino Kubitschek bossa nova as president!

      And then I think that is a precondition for learning each other (domestic and foreign) learn with each other locally (government and society).
      Anyway we are getting there, slowly we are finding our way back on track toward the future. Gradually we’re seeing traffic gain the necessary diversity, with a bit of samba, bossa nova, forró, axé, frevo, sertanejo rumba, jazz, rock’n’roll, blues, rhythm & blues, classical music…

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    2. Em complemento e em síntese, René:

      Vocês querem investir conhecimento no nosso país? Invistam na sociedade. Invistam nas organizações sociais que defendem responsavelmente os interesses da bicicleta como meio de transporte. Invistam nos ciclistas, que são extremamente receptivos a tal conhecimento. Quantos aos governos e aos “atravessadores” meramente acadêmicos, tratar com eles é nossa exclusiva responsabilidade, deixe que a gente cuida disso.

      (Google translate, sorry again.)

      Complementing and synthesis, René:

      Do you want to invest knowledge in our country? Invest in society. Invest in organizations that advocate, with responsibility, the interests of the bicycle as transport modality. Invest in cyclists who are extremely receptive to such knowledge. With respect to governments and the “middlemen” merely academic, dealing with them is our sole obligation, let us handle it.

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  2. @Du Dias,
    I think you missed the point. The first videos show that 3 cities in Brazil get help by the dutch government, some organisations and some dutch companies. Of course these companies want to sell, that is why they are companies. Some of the products of these companies are unique because of the ‘traffic’ situation in Holanda. They have knowledge and experience that Brazilian companies do not have right now. Biking is indeed popular in Brazil, when it get’s more safe and we can do some international trading of products and knowledge will hurt nobody. Because… Brazil is not an island anymore.

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  3. Ficou bem claro que o objetivo deste evento era puramente mercadológico. A ideia dessa “Embaixada ciclística Holandesa” é nada menos do que promover empresas holandesas que atuam na área de mobilidade. A presença dos ciclo-ativistas me pareceu apenas uma ferramenta para legitimar suas ações, sem qualquer participação deste ou qualquer outro grupo da sociedade civil em qualquer discussão. É holandês querendo vender seu peixe, aproveitando o boom das bicicletas no Brasil e o momento econômico do país.

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    1. O René tem lá suas razões, Du. Se o peixe for bom, se for a preço justo, e se com o peixe pudermos aprender a aperfeiçoar o nosso próprio modo de fisgá-lo (know-how), acho que está ok.

      A crítica que eu faço (e fiz aliás, em algum lugar aí) é com relação aos intermediários nativos. Eu bati o olho nesses experts de mobilidade e… sei não. E mesmo checando o currículo de alguns e… sei não. Quer dizer, confesso que é coisa minha, meio intuitiva, intuí que era gente “menos gorda” que nunca pedalou no viário “mais gordo”, então… sei não. Só sei que não me inspiraram confiança.

      Então espero que os cicloativistas que aderiram à, hum, causa, não se deixem levarem pelo, hum, glamour dela.

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  4. Já que o governo não faz, que as empresas de fora façam. Holanda tem um dos melhores sistemas de mobilidade do mundo baseado no uso de bicicletas. Se isso servir pra tornar São Paulo mais ciclista, que seja bem vindo!

    Comentário bem votado! Thumb up 4 Thumb down 0

    1. Que chegue a Fortaleza e demais capitais, aqui no CE, “recebemos” uns milhões do BID para investimento e tornar a cidade, entre outras que também receberam este recurso, em modelo de mobilidade ciclística em nosso país, esperemos pois as autoridades tem até o final do ano que vem para concluir os 300 km de ciclovias e ciclofaixas entre outros meios adequados ao uso da bicicleta.

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  5. Agora vai virar moda contratos sem prestação de conta a população. Só não se falou em integrar empresas Brasileiras e estrangeiras e o melhor, tudo no final do segundo tempo, ou seja, sem licitação pública.

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