Foto: Willian Cruz

19 razões para apoiar a implantação de ciclovias

Entenda por que a construção de estrutura cicloviária é tão importante para as cidades brasileiras.

 

Entenda nesta página por que a implantação de ciclovias é tão importante – mesmo para quem não as utiliza

ciclovia nao prejudica o comercioA construção de ciclovias, em São Paulo e em outras cidades brasileiras, representa um enorme passo em direção a cidades mais justas, mais inclusivas e mais democráticas.

Mesmo que ainda existam pontos de melhora, que as ciclovias ainda não estejam totalmente conectadas e que não atinjam toda a cidade, elas representam melhor aproveitamento do viário, com mais segurança e saúde para seus cidadãos, menos estresse, menos congestionamento e menos mortes no trânsito. Uma cidade que nossos filhos merecem receber de nossas mãos.

Sabemos que há um crescente movimento contrário à implantação de ciclovias na capital paulista que, apesar de alegar motivos nobres como “qualidade” e “segurança do ciclista”, resumem-se a uma disputa mesquinha para preservar áreas de estacionamento e não reduzir em hipótese alguma o espaço de circulação do automóvel (nem mesmo na forma de redução da largura de faixas de rolamento em avenidas).

Ao mesmo tempo em que nega o direito de utilização segura das ruas em bicicletas, essa mobilização defende a continuidade do uso do espaço público para fins particulares, priorizando o estacionamento de automóveis em detrimento da proteção à vida das pessoas que utilizam o veículo bicicleta.

É importante ressaltar que estacionar o carro na rua não é direito garantido por lei, seja na esfera municipal, estadual ou federal, ao contrário da destinação de espaço seguro para circulação de bicicletas. Além disso, comodidades e interesses econômicos individuais não podem sobrepujar a coletividade, a proteção à vida e o direito do cidadão que utiliza a bicicleta de circular com mais segurança, sem se sentir ameaçado por pessoas que pensam de forma diferente e se utilizam de outros veículos.

A maior cidade do Brasil ainda está estacionada no século passado em relação à mobilidade. Negar o desenvolvimento sustentável e o uso da bicicleta como alternativa de transporte aos cidadãos é manter um conceito ultrapassado e já abandonado nas cidades mais desenvolvidas do mundo, além de negar a quem utiliza esse meio de transporte seu direito inalienável de escolha.

Na decisão de apoiar ou se opor à construção de ciclovias, deve-se pesar os pontos abaixo:

1Construir ciclovias significa preservar vidas, pois a bicicleta é frágil frente ao tamanho e velocidade dos demais veículos nas ruas. Queremos uma cidade onde idosos e crianças possam ocupar as ruas sem medo.

2Ciclovias promovem ocupação do espaço público, tornando-o espaço de convivência e não apenas de passagem. Espaços ociosos, pouco frequentados e abandonados pelo poder público e pelos cidadãos têm maior índice de criminalidade. Por isso, investir na bicicleta aumenta a segurança pública.

3Ciclovias são boas para o comércio, pois ciclistas são clientes potenciais que passam em baixa velocidade e não exigem grandes áreas de estacionamento, podendo facilmente parar em frente a uma vitrine, entrar numa loja, conhecer um serviço. No entorno da Ciclofaixa de Lazer, onde 100 mil pessoas circulam a cada domingo, comerciantes mais conectados com as tendências de mercado souberam aproveitar o fluxo de clientes potenciais e estão lucrando com isso. Um estudo da Portland State University mostrou que quem vai às compras de bicicleta visita as lojas mais vezes e, na média total, consome mais. Em Melbourne, na Austrália, comerciantes que investem em uma vaga de carro têm AU$ 65 de retorno por hora, mas substituindo esse espaço por seis vagas de bicicletas o retorno é de AU$ 283 por hora. Sem contar o quanto ajudam nas entregas.

4Há demanda pelo uso da bicicleta em São Paulo. Pesquisa de Mobilidade da Região Metropolitana, realizada pelo Metrô em 2012, registrou 333 mil viagens diárias em bicicleta durante os dias úteis, mesmo com a infraestrutura ainda reduzida, deficiente e desconectada. Vale ressaltar que esse número já representava, naquele ano, mais do que o dobro das viagens de táxi, contabilizadas em 158 mil/dia.

5Em locais onde ciclovias foram implantadas na cidade, o uso da bicicleta cresceu espantosamente: na avenida Faria Lima, onde quase não passavam ciclistas, o contador instalado na ciclovia contabiliza hoje 2500 viagens diárias; na Consolação, contagens indicam aumento de 227% no fluxo de bicicletas após a implantação da ciclofaixa. Estrutura cicloviária induz demanda.

6Grande parcela da população só adotará a bicicleta a partir da proteção oferecida por áreas segregadas. Na pesquisa sobre Mobilidade Urbana realizada pela Rede Nossa São Paulo e Instituto Ibope, em 2012, entre as pessoas que afirmaram não utilizar nunca a bicicleta, 63% afirmaram que passariam a usar havendo melhores condições. Dentre essas pessoas, 27% traduziram essa falta de segurança expressamente em necessidade de ciclovias.

7A mesma pesquisa apontou que uma em cada quatro pessoas já usa a bicicleta, ainda que eventualmente. Entre os jovens de 16 a 24 anos, esse número saltava para 47%. A quantidade de pessoas que utilizava a bicicleta “todos os dias” ou “quase todos os dias” também é bem maior do que se imagina: 7%. Somados, os ciclistas habituais e eventuais representavam, em 2012, 32% da amostra, praticamente um terço da população entrevistada e o dobro da parcela de pessoas que usava frequente ou eventualmente a moto (16%).

8O uso da bicicleta é benéfico à saúde dos cidadãos, pois o simples fato de usar a bicicleta como transporte os afasta do sedentarismo e de todos os problemas de saúde deles decorrentes. A atividade física regular previne doenças cardíacas e AVCshipertensão, ajuda a prevenir e a controlar o diabetes, aumenta a resistência aeróbica, reduz a obesidade, ativa a musculatura de todo o corpo, diminui a ocorrência de doenças crônicas, faz bem para a saúde do idoso e aumenta o tempo de vida.

9O uso da bicicleta melhora a qualidade de vida de quem a utiliza, não só pelo ganho em saúde mas também pela diminuição do stress, melhorando os relacionamentos interpessoais e humanizando o trânsito e a cidade.

10As ciclovias proporcionam uma retomada do uso das ruas pelas crianças, sendo uma opção de lazer que resgata uma faceta da infância há muito esquecida nas regiões mais urbanizadas da cidade. Já temos crianças utilizando as ciclovias junto a seus pais e, conforme sua aceitação, abrangência e conectividade aumentarem, esse fenômeno tende a crescer, com o potencial de permitir que pedalem sozinhas até a escola.

11Quem opta pela bicicleta economiza tempo, sobretudo nos horários de pico, quando a velocidade média dos automóveis chega a meros 6,9 km/h em alguns casos – a mesma de alguém caminhando com pressa. Os Desafios Intermodais realizados desde 2006 comprovam que a bicicleta é bem mais rápida que o carro nesses horários – em um deles, chegou antes até mesmo do helicóptero, que necessita aguardar autorização para decolagem e tráfego.

12A bicicleta traz economia em dinheiro, pois os custos com compra, utilização e manutenção são muito menores que o do automóvel, representando redução de gastos até para quem a utiliza em substituição ao transporte público. Além de ser um fator importante para as camadas sociais mais baixas, o valor economizado pode ter destino em consumo, aquecendo comércio e serviços.

13O uso da bicicleta é benéfico à cidade, por ser um meio de transporte não poluente. Conforme pesquisa do Instituto Saúde e Sustentabilidade, nos próximos 16 anos a poluição atmosférica matará 256 mil pessoas no Estado (quase 44 pessoas por dia) e a concentração de partículas poluentes no ar levará a internação de 1 milhão de pessoas e um gasto público estimado em mais de R$ 1,5 bilhão, com pelo menos 25% das mortes (59 mil) ocorrendo na capital. Construir ciclovias, portanto, preserva vidas também de forma indireta e diminui o gasto público com o sistema de saúde e o da população com medicamentos para tratar doenças causadas pela poluição.

14A bicicleta é um veículo silencioso e sua adoção em maior escala trará uma diminuição da poluição sonora da cidade.

15A construção de vias para bicicletas têm um custo muito menor que a de vias para veículos motorizados. Quanto mais cidadãos as adotarem, menor será o gasto com criação e manutenção do viário a longo prazo, economizando o dinheiro da cidade.

16O incentivo e a garantia de uso seguro da bicicleta democratizam o deslocamento, aumentando o acesso dos cidadãos às diversas áreas da cidade, ainda que as condições de transporte coletivo dificultem a chegada a alguns locais. Todos os cidadãos são importantes para uma cidade, não apenas os que se deslocam em automóveis e essa mensagem é passada claramente com a construção de ciclovias.

17Ciclovias atuam no sentido de reduzir os congestionamentos e a lotação dos transportes públicos, ao passo que cada vez mais pessoas troquem suas opções de deslocamento pelas bicicletas, ainda que eventualmente.

18O Plano Diretor Estratégico de São Paulo (PDE), que tem força de Lei Municipal, tem como uma de suas diretrizes a “prioridade no sistema viário para o transporte coletivo e modos não motorizados”. Isso significa que o uso de bicicletas deve ter prioridade sobre o uso do automóvel. Portanto, a construção de ciclovias cumpre uma das diretrizes dessa Lei. O PDE também determina que a cidade deve “desestimular o uso do transporte individual motorizado”, “adaptar as condições da circulação de transportes motorizados a fim de garantir a segurança e incentivar o uso de modais não motorizados”, “garantir o deslocamento seguro e confortável de ciclistas em todas as vias” e “implantar redes cicloviárias”, entre outros apontamentos.

19Da mesma maneira que o PDE, a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que tem força de Lei Federal, tem como uma de suas diretrizes a “prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados”, determinando que o uso de bicicletas deve ter prioridade sobre o uso do automóvel. A construção de ciclovias cumpre, também, uma das diretrizes dessa Lei, que determina ainda a “dedicação de espaço exclusivo nas vias públicas para os serviços de transporte público coletivo e modos de transporte não motorizados”, entre outras citações.

59 comentários em “19 razões para apoiar a implantação de ciclovias

  1. São Paulo, 15 de junho de 2021
    Olá Willian Cruz
    Eu sou Enzo Bongiovani de 11 anos eu vi essa materia e eu acho que isso esta certo pois bicicletas não da poluição e é saudável por isso eu gostei de sua materia

    Até logo e tenha um bom dia

    -Enzo

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  2. São Bernardo do Campo, 07 de março

    Ao “Vá de bike”, coluna “Painel do Leitor”
    Prezado Willian Cruz,
    Meu nome é Jamilly, 11 anos, estudante. Li essa matéria (as primeiras 5 razões) e me interessei muito, pois, as bicicletas ajudam o meio ambiente, é saudável, e acho que as ciclovias deveriam estar localizadas em parques, praças e áreas de lazer.

    Atenciosamente,
    Jamilly Costa

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    1. Cara Maria Eduarda. Seu argumento faz sentido, mas do ponto de vista da Mobilidade Urbana pode ser questionado. No conceito geral, todos os espaços pertencem ao pedestre, porém como não é possível retirar os carros, então o espaço onde eles podem circular ficou delimitado pelas guias nas ruas e avenidas. Para que os pedestres possam continuar usando esse espaço foram criadas as faixas de segurança. Hoje em dia, as medidas tomadas pelo Poder Público são com o objetivo de desestimular o uso do carro, e por isso são criadas ciclovias e ciclofaixas diminuindo o espaço dos carros e assim incentivando as pessoas a trocar seus automóveis por bicicletas e transporte coletivo. A ideia é reduzir os índices de poluição e melhorar a qualidade de vida das pessoas, principalmente nas grandes cidades, e isso é uma tendência no mundo todo. Continue sempre pesquisando sobre trânsito e transporte público porque é um tema fascinante. Abraços e boa sorte!

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      1. Edson bom dia, adorei seu comentário, me chamo Thainara e estou fazendo um tema de TCC relacionado ao transito e as ciclovias, gostaria de saber se você não teria alguns artigos, livros, algo do tipo para indicar, ou até mesmo sua opnião eu gostaria.
        se você estiver disposto a isso me chama no whats 18 981476078

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  4. [Comentário oculto devido a baixa votação. Clique para ler.]

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    1. A velha mentalidade atrasada de que o unico meio de deslocamento é o carro.

      70% de todos os deslocamentos feitos todos os dias na cidade é a pé e de transporte publico…..Os deslocamentos feitos por carro representam a minoria, mas ocupando 7 vezes mais espaço publico….ou 80% do espaço.

      Sugiro que estude mobilidade e se informe melhor antes, pois essa ideia é bem anos 60.

      Carro é um veículo caríssimo de se manter. E é altamente agressivo ao meio ambiente. A cidade não aguenta mais tantos carros.

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      1. E tem mais: Distancias maiores tem o trem e o metrô. E a bike pode ser usada como complemento intermodal: Vai até a estação de metrô/trem/terminal de ônibus mais próxima e de lá segue o resto do caminho de ônibus, metrô ou trem.

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        1. Depende miito da situação. Se a pessoa mora na Vila Madalena e trabalha no Itaim, o mais lógico é a bicicleta; se mora em Guarulhos e trabalha em Interlagos, e além disso tem de levar os filhos à escola, o carro é indispensável. SP é muito grande,e não há solução definitiva em transporte. A intermodalidade parece ser a melhor alternativa, porém deveria-se melhorar o transporte coletivo, que é usado pela esmagadora maioria. Bicicleta é ótima opção como complementar, mas como solução passa longe. Talvez em uma cidade menor o uso da bicicleta seja mais amplo.

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          1. Estamos falando de São Paulo, não de Guarulhos Tarantino.

            Tem que se pensar em todos, o carro já teve decadas e decadas de investimentos prioritários, tanto é que tem mais de 17 mil quilometros de vias, enquanto que o metrô não tem nem 80km, corredores exclusivos de onibus pouco mais de 100km, e ciclovias com pouco mais de 300 km

            E ainda vem bacaca chamar quem apenas pede mais espaço seguro para poder se deslocar, já que cada um tem o DIREITO de se deslocar como quiser.

            Vamos lembrar que é OBRIGAÇÃO do poder publico prover segurança aos mais frageis. Pedestres e ciclistas.

            Até paises com povos educados como a Holanda e Japão, mesmo possuindo um transporte publico eficiente, implantaram milhares de quilometros de ciclovias exclusivas e segredadas.

            O que não dá, é mentalidade egoista de carrocrata que acha que as ruas e o espaço é só dos carros.

            Sem mais!

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    2. Sempre quando um comentário começa com “Não sou contra *COLOQUE O QUE QUISER NESTE ESPAÇO* mas…” coisa boa não vem. Associar implantação de ciclovias com comunismo é no mínimo doentio!

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  5. Usar a bicicleta, é um meio de transporte barato, saudável e anti poluente. A ciclovia é um maravilhoso presente para a população de uma cidade, porém precisam ser expandidas e chegarem ao alcance de todos os cidadãos. APOIO AS CONSTRUÇÕES E A CONSERVAÇÃO DAS CICLOVIAS!!!!

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  6. Por ser ciclista já a 20 anos, sou totalmente a favor de ciclovia. Participei quando pude de manifestações por segurança e fui até a reuniões do ciclocidade. A adesão à bicicleta tem aumentado nos últimos anos, mesmo antes dos movimentos de cicloativismo começarem e continuarão assim mesmo sem as polêmicas ciclofaixas. Não gostei da forma como a prefeitura tratou a implantação das ciclofaixas, pois merecíamos coisa melhor. Na ânsia de mostrar serviço priorizou a quantidade e esqueceu da qualidade. Os defensores dizem que vai melhorar depois , mas melhorar quando???era melhor 200km bem feitos do que isso que jogaram nas ruas. Pena, pois quem perdeu foram os ciclistas.

    Polêmico. O que acha? Thumb up 9 Thumb down 7

    1. Melhorar quando? Pôxa, Antônio, depende de nós, depende de nós exigirmos essa qualidade. Depende de nós que uma malha ciclável mínima mas completa seja finalizada, depende de nós que se façam ajustes e aperfeiçoamentos nela em termos de funcionalidade, de sinalização, de segurança, depende de nós que licitações para asfalto pigmentado e paraciclos sejam levados adiante, depende de nós que se construa bicicletários em áreas estratégicas, como de integração de modais, depende de nós que novas companhas educativas tanto de incentivo e respeito à bicicleta como de formação adequada ao ciclista sejam feitas, depende de nós que os gestores municipais (CET, Secretaria dos Transportes, etc.) estejam mais afinados com nossas necessidades e demandas… Em suma, Antônio: depende de nós.

      E depende de nós também combatermos essa gente mesquinha e/ou hipócrita, né?, que acha que lugar de bicicleta é… é não ter lugar, é em lugar nenhum.

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