Você é louco de andar de bike nas ruas?

Um diálogo imaginário em que o uso da bicicleta é refutado com diversos argumentos que estamos cansados de ouvir, todos respondidos pacientemente e com coerência.

Foto: Willian Cruz
Foto: Willian Cruz

Um diálogo imaginário em que o uso da bicicleta é refutado com diversos argumentos que estamos cansados de ouvir, todos respondidos pacientemente e com coerência. Enviado pelo leitor Américo Focesi Pelicioni, de São Paulo. Vale a leitura.

Trânsito louco da minha cidade

Estava voltando do trabalho a pé, quando escutei um louco conversando com sua própria consciência. Fui acompanhando-os e escutando o diálogo entre os dois:

– Olá, há quanto tempo não te vejo?

– Acho que faz uns 3 anos, pelo menos.

– E como vai você?

– Normalmente vou de bike.

– Que? Você é louco?

– Sim, eu sou.

– Mas você não tem medo?

– Não, eu sou um louco bonzinho.

– Eu quero dizer, você não tem medo de cair de bike?

– Não, eu sei pedalar bem, normalmente eu tenho medo é que me derrubem, por que motoristas de carro e ônibus ou motociclistas impacientes ou imprudentes ficam tirando fina de mim, às vezes até de propósito, para me ensinar que lugar de bike não é na rua, mas sim em parque.

– É por que a cidade não foi feita para andar de bike.

– É mesmo, tem razão, mas ela também não foi feita para andar de carro ou de moto, ela foi feita para andar a pé. Os carros, ônibus, motos e bicicletas vieram bem depois.

– Mas é que a cidade não é boa para andar de bike, por que tem muita subida e descida.

– É verdade, por isso eu costumo escolher caminhos mais “retos”. Por exemplo, se você estiver na Pompéia e pegar a Alfonso Bovero, vai chegar na Dr. Arnaldo em uma reta. De lá pode pegar a Sumaré e ir para a Lapa ou para a Marginal Tietê, ou para a Av. Brasil e Ibirapuera, ou ainda pegar a Av. Pacaembu para chegar na Marginal Tiete, no Centro, ou na Radial Leste-Oeste, e de lá dá para pegar a 23 de Maio para o Ibirapuera ou dá para ir para a Zona Leste. Se for em frente na Dr. Arnaldo dá para pegar a Av. Paulista e de lá chegar para lá do Jabaquara, tudo mais ou menos sem subidas e descidas! É só aproveitar o relevo e usar os vales onde antigamente passavam os rios ou a parte mais alta das montanhas, como no caso da Paulista!

– Mas aí são as grandes avenidas e vias expressas da cidade, por onde passam os carros e motos! Vocês deviam era usar as ruas menores e menos movimentadas de dentro dos bairros.

– Mas elas são cheias de subidas e descidas como a Al. Santos, que é paralela à Av. Paulista, ou as ruas paralelas à Av. Pacaembu e Av. Sumaré, ou como em quase todas as ruas dos bairros que acompanham a Radial Leste-Oeste. O que já sabemos que é muito ruim para quem está de bicicleta ou a pé. Seria melhor é que os carros e motos, que tem motores, andassem por esses caminhos tortuosos e deixassem as avenidas para calçadões e ciclovias, para que quem está de bicicleta ou a pé possa chegar em casa mais rápido, com menos esforço e de forma mais segura, separado dos carros e motos!

– Então, mas a cidade não tem ciclovias separando bicicletas de motos e carros para que essas avenidas sejam seguras para os ciclistas.

– Pois é, mas agora o prefeito está pintando ciclovias em várias ruas e avenidas para separar os ciclistas dos motoristas e motociclistas, e anunciou que vai continuar aumentando o numero de vias segregadas para bicicletas até o final de seu mandato.

– Mas isso tira espaço do carro na rua e o trânsito fica pior.

– Verdade, mas se muitas pessoas começarem a pedalar e a andar a pé, vai ter cada vez menos carros na rua para parar o trânsito e menos gente para lotar o metro ou o ônibus.

– Não sei não, acho melhor acabar com as ciclovias e manter as bicicletas compartilhando as ruas com os carros, assim não perdemos faixas de rolagem ou vagas de estacionamento. Bicicleta atrapalha mais do que ajuda no trânsito.

– Tem razão, e tive uma ideia! Para aumentar o número de faixas para os carros, a gente podia acabar com as calçadas. Só na Avenida Paulista dava para criar mais duas faixas de cada lado. Seriam 6 faixas para ir e 6 faixas para voltar!

– Epa, e os pedestres, por onde vão andar?

– Oras bolas, no mesmo lugar que os ciclistas e motoristas! Todo mundo vai compartilhar a rua, ué?!

– Cara, você é louco mesmo! Não vê que é um absurdo você querer que as pessoas e os carros andem na mesma pista?

– Mas é você quem acha que a bicicleta deve usar a mesma pista que o carro para que o carro não perca seu espaço. É quase a mesma coisa! Calçadas são separadas das ruas para proteger o pedestre, e acho que todo mundo concorda que elas devam existir. Por que tem gente que acredita que as ciclovias, que são “as calçadas” do ciclista, são só um transtorno que deveria sumir?

– Bom sei lá, acho que afinal você nem é tão louco assim!

22 comentários em “Você é louco de andar de bike nas ruas?

  1. Com relação a ter poucos ciclistas é simples, a coisa esta começando, esta no inicio, a alguns anos atrás não tinhamos nada nem as miseras ciclofaixas de lazer, hoje já temos até ciclovias, o numero de pessoas usando a bike, aumentou consideravelmente, talvez boa parte por modismo?? Pode até ser, mas o fato é que isto vai gerar um habito, é ai que a moda vira rotina, e mais e mais pessoas vão acordar para a realidade que de bike na ciclovia ela chega muito mais rápido do ponto A ao ponto B, e de quebra se distrai, aprecia a paisagem e faz exercicio, é uma questão de costume, habito e educação, leva ainda algum tempo, estes mesmo 12 ciclistas na ciclofaixa que falaram ai daqui pouco tempo pode virar 120 e assim vai.
    O mais importante é os ciclistas respeitarem a lei de transito TAMBÉM!!! Respeitar os pedestres TAMBÉM!!! E a fiscalização cair de pau em cima dos MONSTRORISTAS TROLLS que gostam de tirar fina, desrespeitar a ciclovia e a sinalização.
    Gente o mais importante é que a semente esta sendo jogada, a coisa esta brotando, na Holanda foi assim ou vcs acham que lá todo mundo já saiu aderindo a bicileta, melhor começar tarde do que nunca.
    Daqui para frente aquela celebre frase vai faser sentido CONSTRUAM E ELES VIRÃO !!!! Bom pedal a todos !

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  2. Eu entendo o argumento do Eduardo e concordo em parte.

    – Mesmo tendo perna, não acho seguro pedalar em vias de grande movimento, com faixas de ônibus, vários pontos de travessia de pedestres e bifurcações da pista (os ” Y “, em que uma via larga quebra em duas, etc.). Nesses locais, devido à desvantagem natural da bike em termos de velocidade, visibilidade, aceleração e capacidade de frenagem brusca em comparação com os carros, sou a favor de ciclovias espaçosas, como a da Faria Lima, que é sensacional. Não acho nem um pouco inteligente alguém pedalar a 15Km/h no meio da Paulista, assim como acho perigoso pedalar numa boa velocidade e precisar brecar de repente. Enfim, basta fazer uma análise de risco ou levar algum tombo para começar a refletir sobre. Eu já fui um moleque imbecil em cima de uma bike muito antes de “virar moda” e acho que sei o que estou falando.

    – Para o restante das vias, um ponto negativo das ciclovias é transmitir ao motorista que lugar de bike não é na rua. Por acaso isso mudará a cultura de segregação que existe? Duvido. Onde não precisar realmente de ciclovia deve haver compartilhamento, como nas ruas de bairro ou vias paralelas às grandes avenidas, como a Al. Santos. Sim, ela mesma, independentemente das subidas que nem são tudo isso que muitos pintam, basta um mínimo de condicionamento… Muitos trajetos que faço passam por essas ruas onde os veículos não passam de 40Km/h e posso dizer que é bem mais seguro.

    – Porém, o preço do compartilhamento é uma responsabilidade maior por parte dos ciclistas e a sua responsabilização por condutas infratoras, algo que infelizmente está presente no dia-a-dia. O que é ser responsável? É ter um mínimo de condicionamento físico (ciclista cansado = ciclista desatento), ter uma bike regulada com manutenção em dia, respeitar as regras, mesmo que isso implique ficar parado como um carro às vezes (nada mais irritante do que um moleque boçal folgado cagando no bom comportamento de vários ciclistas).

    – Um pensamento que acho bem errado é usar a bike para chegar mais rápido, pois isso te leva a pegar vias perigosas e a se comportar de forma errada. Em alguns anos rodando direto só levei umas 3 buzinadas, que foi em dias que tive pressa e fiz merda, assumo. Bike é liberdade e saúde principalmente. Chego mais rápido que os carros muitas vezes, mas este não é meu objetivo.

    Polêmico. O que acha? Thumb up 4 Thumb down 5

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  4. Seria bom que o Eduardo procurasse as informações oficiais sobre levantamento de ciclistas na cidade de São Paulo, de onde, com certeza, o Willian tirou os números que menciona.

    Posso fornecer algumas fontes, tais como Ciclocidade que, além de suas próprias estatísticas, reúne outras como as do Metrô.

    http://www.ciclocidade.org.br/biblioteca/estatisticas

    Vale ressaltar que, em horários de pico, se substituirmos hoje as bicicletas pelo mesmo número de automóveis, com certeza os paulistanos ficariam estacionados em alguns pontos da cidade durante muito tempo.

    Sem contar o prejuízo com a saúde de seus habitantes.

    Informação é fundamental para transformar a cidade e colaborar para torná-la mais humana, cidade para pessoas.

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  5. Eduardo, na sua lógica, deveriamos fechar as ruas onde passam poucos carros, afinal pra que ruas pavimentadas para passar alguns carros por dia. Podemos transformá-las em boulevards. Provavelmente a rua da sua casa ficaria assim, afinal ela só vê carro às 5hs da manhã e às 21hs. Que tal?

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    1. Assim sendo, vamos retirar também as faixas dos carros da Paulista e transformar tudo em calçadão, afinal são 90 mil carros por dia contra um milhão de pessoas a pé. “A conta não fecha” e “essa avenida acarreta em prejuízo para a cidade”.

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        1. Não é questão de demanda, mas de proteção à vida. É o mesmo motivo pelo qual temos calçadas em vez de ter os pedestres caminhando junto aos carros. Mas se você não quer entender isso, paciência.

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  7. Por falar em louco, acho que vou sugerir para o Suplicy aderir a bicicleta … :-). Já que a prefeitura é do PT … então ele vai ser um bom garoto propaganda das ciclovias. :-).

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  8. Cheguei a seguinte conclusão sobre este assunto que parece não ter fim ciclistas x o mundo ! kkkkkk Não existe o bom ou o mal motorista ou ciclista, mas na verdade o que existe é gente mal educada e estupida, seja de que lado for, sempre tem aqueles que acham que o sol foi feito só para ele, infelizmente é assim.
    Nunca da para agradar tudo e todos, eu sou motorista e ciclista, e seja lá como eu estiver no dia procuro respeitar quem estiver do outro lado, não poruqe defenda A ou B mas sim porque tenho educação e conciência.
    Quando encontro pessoas que são avessas as bicicletas nas ruas , são avessas as ciclovias etc, eu nem dou bola, nem perco meu tempo discutindo e tentando contra argumentar, ao invés de passar nervoso ou ficar jogando conversa fora, prefiro por meu capacete, minhas luvas , sentar na magrela e sair pedalando e curtindo tudo que a vida e a cidade me proporciona, foi exatamente o que eu fiz neste Domingão de sol e céu azul que passou, pedaleui e muito em duas ciclovias, na rua e onde mais deu, e assim vou continuar pedalando e pedalando, porque ? Porque gosto de saúde, de sentir o sol, o vento a paidsagem e o mais importante que só a bike proporciona A LIBERDADE ! BOM PEDAL A TODOS !!!!

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  9. Sou louca babante… não existe vida dentro de uma caixa de aço com janelas de vidro, sei porque tenho que usar deste tipo de veículo para transportar minha mãe e algumas coisas muito grandes…
    Já na minha bicicleta eu vejo, cheiro, escuto, falo com minha cidade.

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  10. Pela quantidade de carros que eu vejo estacionados nas calçadas e motociclistas que transitam por elas, acho que a resposta desafiadora do ciclista pode ser acatada por muito motorista….

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