Adultos e crianças de Fernando de Noronha ganharão bicicletas como parte de plano de mobilidade
Com bicicletas de trilha para uso de turistas e doações de bikes a todos os moradores, projeto ousado quer incentivar deslocamentos sustentáveis na ilha.
Fernando de Noronha recebeu um primeiro lote de dez bicicletas no último dia 20 de outubro, como parte de um plano de mobilidade por bicicleta que envolverá turistas e moradores. O projeto difere de sistemas de bicicletas públicas implantados em outras cidades em pelo menos três pontos principais: as características técnicas das bikes utilizadas, a ausência de estações com trava e controle de acesso e a doação massiva de bicicletas aos moradores da ilha. Sim, é isso mesmo: os ilhéus ganharão bicicletas para usar em seus deslocamentos cotidianos.
A iniciativa é do Banco Itaú, com apoio do Governo do Estado do Pernambuco. Foram entregues dois bicicletários e as dez primeiras bicicletas, em um piloto do novo modelo. “Queremos mobilizar toda a população e os turistas com essa iniciativa. A chegada das bicicletas simboliza o começo de uma mudança cultural muito importante para a ilha, que sempre se preocupou em preservar suas belezas naturais”, explica Felipe Carreras, secretário de Turismo e Esporte do Governo de Pernambuco.
“Realizamos uma pesquisa na Ilha e 80% dos entrevistados responderam que utilizariam bicicletas como principal meio de transporte. Isso é um pouco lógico, pois quando você anda de bicicleta tem a oportunidade de conhecer melhor os locais e chegar onde os carros não chegam. Queremos transformar Noronha em um exemplo de transporte sustentável e promover uma melhor qualidade de vida para os moradores e visitantes”, comentou Carreras.
Ao final da primeira etapa, que deve acontecer até dezembro, a expectativa é que mais 18 bicicletários e 95 bicicletas adaptadas para as condições locais, para uso de turistas, sejam entregues pelo banco, além das bicicletas para as crianças (veja mais abaixo). Os bicicletários são construídos com materiais sustentáveis, como madeira plástica, e levam o nome de personalidades importantes das ilhas, com breves resumos de suas histórias, o que contribui para a aceitação do projeto pela comunidade local.
A ação tem o objetivo de reduzir a emissão de CO2 no arquipélago, com o estímulo ao uso de meios de transporte não motorizados. O banco doará também sinalização para as trilhas de bicicleta que já existem na ilha. A BR e as principais vias e cruzamentos também serão contempladas com placas de sinalização para alertar os motoristas sobre a presença de ciclistas.
O Vá de Bike esteve na inauguração do sistema e traz para você detalhes do projeto.
Bicicletas para uso turístico
As bicicletas que vimos nessa fase inicial são de excelente qualidade, em razão dos tipos de terreno existentes na região. Os principais caminhos da ilha são asfaltados, mas para acessar os locais turísticos, praias e alguns pontos mais afastados é necessário acessar trechos com terra e pedras, bastante irregulares. Por isso as bikes têm suspensão, freio a disco, pneus mais largos e quadros resistentes.
Não há “carenagem”, como em projetos de bicicletas públicas. Entendemos que a escolha por não aplicá-la deva-se principalmente ao fato de que a trepidação faria com que ela quebrasse rapidamente. Quem gosta de mountain-bike vai adorar pedalar nessas bicicletas. Configuradas para trilha, desempenham bem também no asfalto.
As bicicletas para uso dos turistas serão disponibilizadas diretamente nas pousadas e hotéis.
Bicicletas especiais
Além de 100 bicicletas convencionais, serão disponibilizadas duas tandems (bicicletas de dois lugares), para deficientes visuais, e três handbikes (bicicletas “pedaladas” com as mãos) para pessoas com deficiência ou restrições de mobilidade.
Doação de milhares de bikes
Todos os moradores adultos que se inscreverem ganharão uma bicicleta. O prazo para distribuição a todos os inscritos é de até dois anos. A intenção é facilitar a mobilidade da população, oferecendo uma alternativa não poluente, gratuita e com baixo custo de manutenção. Hoje são cerca de 1.200 veículos motorizados, incluindo motocicletas. E o combustível é bastante caro na ilha, passando dos R$ 5 por litro, o que certamente também atua como incentivo para substituir o modal. Informações fornecidas durante a inauguração dão conta de que há 4.500 moradores em Fernando de Noronha.
Todas as crianças frequentando a escola também receberão bikes, em modelos pequenos e intermediários, para conscientizar os pequenos desde cedo sobre questões ambientais e a importância da bicicleta como um modal sustentável de transporte. Essas bicicletas devem ser entregues até dezembro de 2015.
“O Itaú acredita na bike como uma solução sustentável de mobilidade e por isso investimos em iniciativas como essa”, conta Luciana Nicola, Superintendente de Relações Governamentais e Institucionais da instituição. “O grande diferencial do plano de mobilidade pela bicicleta de Noronha é que ele envolve toda a comunidade, crianças e turistas nessa mudança coletiva, o que é fantástico”, completa.
Com a quantidade de bicicletas que deve ganhar as ruas de Noronha nos próximos dois anos, haverá um efeito colateral extremamente benéfico: o respeito ao ciclista, já consolidado na ilha pelo que pudemos perceber, se fortalecerá ainda mais. Isso porque quanto mais bicicletas nas ruas, mais seguras elas se tornam para os ciclistas: além de se tornarem mais percebidas e aceitas como meio de transporte pela sua presença maciça, mais e mais pessoas que dirigem terão familiares, amigos e amores que também usam a bicicleta em seus deslocamentos, passando a entender cada vez mais os ciclistas como pessoas em deslocamento, não obstáculos atrapalhando a fluidez de quem está motorizado.
Bike anjo
O pessoal do movimento Bike Anjo também participará do projeto, ajudando a formar ciclistas e ensinando quem ainda não pôde aprender a andar de bicicleta. E os primeiros Bike Anjos da ilha já foram escolhidos pelo Ênio Paipa na inauguração do projeto: cinco crianças, que ensinarão as que ainda não sabem pedalar. Durante a inauguração já foi realizada a primeira oficina para aprender a andar de bicicleta.
E em uma coincidência mais que feliz, a primeira escolhida foi uma menina chamada Evelyn – mesmo nome de uma das pessoas que formalizou o Bike Anjo e tanto trabalhou para fazer o movimento crescer e se expandir pelo Brasil e pelo mundo. Junto com JP Amaral, Evelyn Araripe agora está na Alemanha, desenvolvendo projetos por lá. #sdds
Cartilha e capacitação
Para estimular a convivência entre os diferentes modais, cartilhas bilíngues estão sendo distribuídas para motoristas e ciclistas, dando dicas de como pedalar e dirigir com segurança, respeitando quem está nas bicicletas. E entre 4 e 6 de novembro será realizado um curso de capacitação para 240 pessoas, focado em motoristas de ônibus públicos e receptivos, taxistas, operadores de mergulho, guias de turismo e órgãos institucionais.
Uma coisa que nos chamou muito a atenção enquanto pedalamos pela ilha foi o respeito dos motoristas para com o ciclista, tanto por parte de moradores quanto de visitantes. A principal via é a BR-363, uma rodovia sem acostamento, o que a princípio nos deixou apreensivos. Mas a preocupação se desfez ao percebermos que TODOS os motoristas que encontramos desviavam para a pista contrária para fazer a ultrapassagem, inclusive os motoristas de ônibus.
A única ressalva foi um casal de turistas em um buggy, que passou por nosso grupo enquanto aguardávamos a saída do passeio inaugural. A senhora que estava no carona gritou, com sotaque paulistano e expressão de ódio, para as cerca de 20 pessoas incluindo autoridades: “Vocês estão sem capacete! Estão errados! Estão sem capacete!” Como o capacete é tão obrigatório para o ciclista quanto para o motorista (ou seja, não é obrigatório a nenhum dos dois), respondi que ela também estava sem capacete. Como resposta, gritando ao longe sem olhar para trás, a turista exibiu um cinto de segurança.
Todos os ciclistas representados na cartilha estão de capacete. Mesmo compreendendo que a intenção é estimular um comportamento considerado seguro, essa representação reforça o conceito equivocado de que apenas ciclistas de capacete são responsáveis, criando preconceito contra quem não o utiliza. Por outro lado, a cartilha representa os motoristas dos buggies sem o cinto de segurança, esse sim de uso obrigatório por lei, passando a ideia de que essa é uma situação corriqueira e aceitável…
Sabemos que a maioria da população brasileira não usa esse equipamento, que não é obrigatório por lei, e sejamos sinceros: poucos ilhéus irão utilizar. Esse estereótipo acaba por gerar situações como a descrita acima, além de comportamentos agressivos por parte de maus motoristas, que muitas vezes ofendem ou colocam em risco ciclistas nas ruas com a justificativa de que “não merecem respeito”. Em nossa opinião, a maior parte dos ciclistas retratados deveria estar sem capacete (ainda que ele fosse recomendado explicitamente no texto), para não alimentar esse preconceito preocupante e perigoso e também para representar mais corretamente a realidade das ruas.
Você pode conhecer o Manual do Ciclista de Fernando de Noronha baixando o arquivo PDF aqui no Vá de Bike.
Galeria
Fernando de Noronha é um lugar de belezas inesquecíveis. Nessa galeria, juntamos momentos da inauguração com alguns dos cenários registrados em nossa curta estadia.
Iniciativa fantástica! Incentivar o uso de bicicletas num local tão belo, que ainda visitarei 🙂
Sobre o eterno terrorismo contra quem não usa capacete: só lamento. Indica como as pessoas não sabem diferenciar os usos e riscos associados a cada forma de pedalar. Pedalar cotidianamente, sem capacete é tão seguro que qualquer retaliação é mero preconceito.
Eu uso uns dias, não uso outros, a escolha é minha. Usar capacete e pedalar como um louco não faz do ciclista alguém mais responsável.
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Fui atropelado semana passada e cai de lado machucando braço e costela, se não fosse o capacete teria acertado a nuca no chão e provavelmente não estaria mais entre vc’s. Capacete não é obrigatório mas pode SALVAR NOSSAS VIDAS.
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Não concordo sobre representar ciclistas sem capacetes! Capacete, apesar de não ser obrigatório, deveria ser senso comum! Que mal um capacete pode fazer? E a falta dele?
Acho que capacete deveria sim ser obrigatório, e que ativistas deveriam incentivar sem restrições seu uso!
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Jamais andaria sem capacete… Mas também jamais obrigaria alguém a usá-lo.
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Não concordo em representar pessoas cagando sem capacete!
Apesar de não ser obrigatório, deveria ser senso comum! Que mal um capacete pode fazer? E a falta dele?
Acho que capacete deveria sim ser obrigatório, e que ativistas de privada deveriam incentivar sem restrições seu uso!
Quedas no chão molhado do banheiro matam e incapacitam MILHARES!!
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