Quem pedala e não polui será "beneficiado" por quem causa danos ao meio ambiente. Foto: Henrik Trygg/Stockholm Visitors Board

Projeto propõe cobrar de motoristas para beneficiar ciclistas em Estocolmo

Pesquisadores do Instituto Real de Tecnologia propõem “taxa de congestionamento” para financiar melhorias e serviços para quem pedala na capital sueca.

Quem pedala e não polui será "beneficiado" por quem causa danos ao meio ambiente. Foto: Henrik Trygg/Stockholm Visitors Board
Quem pedala e não polui será “beneficiado” por quem causa danos ao meio ambiente. Foto: Henrik Trygg/Stockholm Visitors Board

Estocolmo, capital da Suécia, está levando a sério a ideia de se tornar a capital mundial do ciclismo urbano. Três pesquisadores do Instituto Real de Tecnologia (KTH) desenvolveram um plano, cuja proposta é de que o motorista pague uma espécie de “taxa de congestionamento” para criar um fundo de financiamento aos projetos e iniciativas relacionados à bicicleta. Apesar dos avanços neste país, cerca de 160 mil automóveis ainda circulam diariamente nas ruas de Estocolmo, o que, para muitos suecos, é um fator de agressão ao meio ambiente e à qualidade de vida das pessoas.

Quatro grandes áreas se beneficiarão com o fundo criado pela taxa de congestionamento: infraestrutura, com investimentos em ciclovias e estacionamento para bicicletas; regulamentação; serviços, tais como oficinas para bikes; e a criação de um sistema de informações, incluindo a disseminação das regras de trânsito e direitos e deveres dos ciclistas.

O projeto “In-Car” foi desenvolvido pelo pesquisador da KTH, Teo Enlund, e suas doutorandas Hanna Hasselqvist e Mia Hesselgren. Eles explicam que a ideia é a de que quem optar pelo carro dentro da cidade, pague essa taxa de congestionamento. Já quem optar por se deslocar de bicicleta, receberá pontos que se reverterão em créditos para financiar, por exemplo, a manutenção da magrela. Ou seja, parte do fundo será destinado também aos serviços de manutenção de bicicleta, como a troca de um pneu furado e a lubrificação da corrente.

Se esse projeto for posto em prática, trará uma verdadeira mudança de prioridade, na medida em que onera o sistema para quem polui o meio ambiente e diminui a qualidade de vida na cidade, ao mesmo tempo em que “presenteia” quem decide pela bicicleta. “Muitos estudos mostram que cada centavo que a cidade investe na bicicleta volta com juros na forma de uma saúde melhor, um ambiente melhor e menos congestionamento. Investir em bicicleta é puro lucro para as sociedades”, defende Enlund.

Em relação à infraestrutura, a proposta é tanto melhorar o que já existe como ampliar outros projetos. Entre os exemplos, estão ciclovias incompletas ou que “terminam do nada”, obstáculos no meio da rua, buracos, cruzamentos perigosos e curvas apertadas. Já sobre os novos projetos, ele cita as chamadas “artérias de bicicletas”, que são rodovias com duas pistas: uma para ciclistas mais rápidos e outra para os mais lentos, além da separação total da pista destinada aos carros. A ideia é garantir segurança máxima para quem aposta na bicicleta.

Outro ponto abordado no estudo é a integração da bicicleta com o sistema de transporte público e a permissão de que elas viajem a bordo dos trens e do metrô. “Mobilidade precisa ser integrada para dar certo”, lembra Mia Hesselgren. E completa: “uma cidade completamente livre de carros é uma utopia. Mas fazer com que cada vez mais famílias se libertem do carro não é nenhuma utopia”.

Vivência

O Projeto In-Car começou um ano antes, desafiando diversas famílias a passar um ano sem carro. Além das bicicletas comuns, elas poderiam usar outros veículos de eficiência energética, tais como as bicicletas elétricas e os quadriciclos elétricos. As experiências das pessoas que participaram do projeto foram o ponto de partida para o desenho das propostas concretas. “Os participantes disseram como se sentiram inseguros no trânsito, com ciclovias estreitas, as curvas fechadas e a proximidade de carros e caminhões dirigindo muito perto”, foram os principais problemas citados pelas pessoas nesse um ano, disse a estudante de PhD, Hanna Hasselqvist.

A partir desses resultados, eles elaboraram três propostas/objetivos para tomar Estocolmo na capital mundial do ciclismo: a primeira seria a cobrança de taxa de congestionamento, revertida em prol do uso da bicicleta; a segunda seria a construção de rodovias para ciclistas com duas faixas, uma para os mais lentos e outra para os mais rápidos, tal como funcionam as rodovias para carros. E a terceira proposta foi promover a integração com o transporte público, com a permissão das bicicletas dentro de trens e metrô. Entretanto, o grupo de pesquisadores não detalhou como seria feita a cobrança, qual seria o valor, como seria distribuída a verba entre as pessoas que usam a bicicleta como modal e se a arrecadação da taxa de congestionamento seria de fato usada para melhoria da infraestrutura.

Medida semelhante já foi proposta em São Paulo

Por Willian Cruz

Em março de 2012, o então secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), e outros 18 representantes do governo propuseram a implantação de uma “ciclotaxa” no Estado de São Paulo. Seria um tributo a ser pago por quem tem veículo a gasolina (os que usam etanol não seriam cobrados), para financiar o estímulo ao uso de bicicletas.

O Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) aprovou por unanimidade essa e outras propostas para reduzir a poluição do ar. Doze representantes da sociedade civil também foram favoráveis à taxa, entre elas OAB e Fiesp. O valor ficaria entre R$ 15 e R$ 25 por ano, sendo cobrada junto com o IPVA. A receita poderia chegar aos R$ 105 milhões anuais e seria utilizada para financiar o Probici (Programa de Incentivo à Bicicleta), apoiando campanhas e a construção de ciclovias e bicicletários, entre outras iniciativas.

Para que essa proposta fosse enviada à Assembleia Legislativa em forma de projeto de lei, era necessária a aprovação do governador. Mas Geraldo Alckmin foi rápido em divulgar nota oficial esclarecendo que não criaria a taxa, apesar de aprovada por unanimidade pelo Consema, afirmando que o assunto “não foi discutido pelo governo”. A proposta vinha sendo debatida pelo conselho desde setembro do ano anterior.

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