SP: Removidas pela prefeitura, ciclovias da Mooca correm risco de não voltar

Apesar da CET garantir que serão sinalizadas novamente, se depender do esforço de pelo menos dois vereadores, essas ciclovias não voltam.

Ciclista desvia, pelo meio da rua, do buraco que restou onde antes havia uma ciclovia. Foto: Leopoldo Leal

Leopoldo Leal levou um susto quando fazia seu trajeto de sempre de bicicleta, no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo: a ciclovia da rua Siqueira Bueno havia sumido. Em seu lugar, um asfalto bastante irregular e esburacado, que o colocava em risco não só pela ausência da área para proteger quem pedala, mas também pela condição do pavimento. “Não sei se é uma obra de recapeamento na via ou é uma desculpa para apagar as ciclovias do bairro”, comentou o designer gráfico e professor de 39 anos, em postagem na nossa fanpage.

Ciclista pedala com uma criança, à noite, onde antes havia uma ciclovia: sem proteção. Foto: Leopoldo Leal

Assim como ele, outros ciclistas ficaram preocupados e nos procuraram por diversos meios. “Triste, lamentável. E se acontecer um atropelamento ou acidente com ciclista aí, como fica?”, comentou um deles pelo inbox, que preferiu não ser identificado na reportagem. Leal relata não haver placa ou aviso informando que tipo de obra está sendo feita. E alerta: “também não existe nenhuma sinalização para os ciclistas”.

Consultamos a CET, que nos confirmou que a ciclovia teve sua sinalização retirada em razão de recapeamento. E garantiu que ela será reimplantada “de acordo com o andamento das obras de fresagem e recapeamento”.

Remover a ciclovia sem avisar – e sem sinalização temporária que preserve a vida de quem pedala – tem sido o procedimento padrão nas obras de recapeamento. E o receio dos cidadãos com a possibilidade de eliminação permanente da estrutura também tem sido recorrente, não só pela negligência com o ciclista nas ações do programa Asfalto Novo mas principalmente pelo posicionamento da prefeitura como um todo em relação ao tema.

Mas no caso da Mooca, existe um agravante: se depender do esforço de pelo menos dois vereadores paulistanos, essas ciclovias não voltam.

Vereadores não querem que a ciclovia volte

João Jorge (PSDB): “ciclovia que não serve pra nada”. Quero ver dizer isso praquele senhor levando a criança na foto de cima… Imagem: Reprodução/YouTube

A preocupação quanto ao retorno da ciclovia na Siqueira Bueno não é à toa. “Nessa rua tem várias lojas de carros usados e venda de acessórios automotivos e eles são contrários às ciclovias. Eu pensei: estamos perdendo o pouco de ciclovia que temos no bairro”, conta Leopoldo. Para piorar, pelo menos dois vereadores já reclamaram da estrutura cicloviária desse bairro e trabalham para que ela suma de vez: João Jorge (PSDB) e Ricardo Teixeira (PROS).

João Jorge, autor da Lei Anticiclovia que praticamente inviabilizava novas estruturas na cidade, fez um vídeo no local dizendo que os comércios estão “fechando as portas” por causa das ciclovias – o que sabemos ser uma afirmação que não se sustenta – e diz que a ciclovia da Siqueira Bueno é um exemplo de ciclovia que não serve para nada, devendo ser eliminada (passe lá para manifestar sua opinião e dar seu dislike).

Ricardo Teixeira (PROS) questiona a ciclovia “em uma rua que tem comércio”. Imagem: Reprodução/YouTube

E parece que essa ciclovia em especial incomoda bastante Ricardo Teixeira, que já fez diversos vídeos afirmando também que ela “não serve para nada” e acrescentando que ela “atrapalha o comércio” e tem que ser removida. Os vídeos estão aqui, entre diversos outros que mostram moradores e comerciantes agradecendo ao vereador por serviços que realizados pela prefeitura e pela CET, aparentemente por solicitação ou influência de Teixeira junto à gestão.

Esses vereadores não estão sozinhos nessa cruzada anticiclovia. Outros também se posicionam contrários às estruturas de proteção e vêm se esforçando para que elas sejam removidas. Para eles, vagas de estacionamento (ou, talvez, agradar quem os apoiou durante a campanha) é mais importante do que a proteção à vida.

Lei Anticiclovia

A Lei elaborada por João Jorge e outros colegas de partido, sancionada pelo ex-prefeito João Doria, poderia ser usada como justificativa para barrar qualquer nova ciclovia na cidade, gerando grande preocupação entre os cidadãos que usam a bicicleta. O texto, inclusive, inviabilizava a criação de ciclofaixas, priorizando as rotas compartilhadas com automóveis (ciclorrotas). Até a própria CET se posicionou contrária à aprovação da Lei, conforme documento que o Vá de Bike obteve com exclusividade, através da Lei de Acesso à Informação.

Mas não se preocupe. Felizmente, em abril de 2018 o prefeito Bruno Covas sancionou a Lei 16.885/18, que reverteu o estrago causado pela Lei anterior. Essa nova Lei, que estabelece o Sistema Cicloviário do Município de São Paulo (SICLO), é uma revisão de Leis anteriores e teve forte atuação da vereadora Soninha Francine (PPS) em sua elaboração.

6 comentários em “SP: Removidas pela prefeitura, ciclovias da Mooca correm risco de não voltar

  1. Eu só sei de uma coisa, aqui na mooca o pessoal começou a pintar as faixas do lado do comercio, evidente que ninguem gostou, como os carros irao estacionar para poder comprar suas coisas?? outra coisa, toda vez que eu passava perto não tinha uma viva alma andando de bike…acho que a prefeitura fez muito bem.

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  2. Bem-feito!

    Quem manda votar no PSDB? Tem mais é que piorar mesmo para aprenderem a não votar em bandidos e em partidos que dominam SP desde a decada de 90 e nada melhorou até hoje.

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  3. O próprio texto já diz tudo o que se precisa saber: há interesses escusos econômicos financeiros envolvidos nessa manobra. Já pedalei nessa região e sei o quão intransigentes são os proprietários dos pontos comerciais nesse local (alguns abandonam os veículos sobre a ciclo-faixa). Com a possibilidade de denunciar o acontecido – e a CET rapidamente desloca uma viatura para o local e aplica a multa – há um forte desejo de que essas estruturas (acesso às bicicletas) sejam removidas o mais rapidamente possível. Há um outro fator a ser lembrado também: desde o final da década de 90, muitos estacionamentos situados em zonas de intenso comercio varejista, para gerarem demanda pelos seus serviços, acabam estacionando os carros dos clientes mensalistas ou rotineiros nos locais que seriam destinados àqueles que buscam vagas na rua, por período muito curto de tempo. Nessa época o fato foi noticiado, se não me falha a memoria pelo periódico Folha de São Paulo, quando das queixas dos proprietários de carros furtados que não conseguiam receber os valores dos seguros. Em 2011 (se também não me falha a memoria), ocorreu o desbaratamento da “máfia do cartão azul” aqui no município de São Paulo, seguindo o mesmo ‘modus operamdis’.

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  4. O que não serve para nada são estas bosta de vereadores que legislão em causa própria ou de seus pares. Coloca o nome destes supostos representantes do povo, vamos fazer uma grande campanha para não serem mais eleitos e voltarem a trabalhar.

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