
Antes e depois: substituição de faixas de carros por ciclofaixas e mais espaço para pedestres fez vendas do comércio local duplicarem na Vanderbilt Avenue, em Nova York. Foto: NYCDOT/Divulgação
Ciclovias não prejudicam comércio: na verdade, aumentam vendas e empregos
Ciclovias e mais espaço para pedestres fizeram vendas do comércio crescerem em até 102%. Entenda como essa infraestrutura impacta positivamente a economia local
Um dos argumentos mais antigos e persistentes contra a implantação de ciclovias é o de que elas “vão quebrar o comércio local”. A ideia de que remover vagas de estacionamento ou uma faixa de rolamento para carros afastaria os clientes é um fantasma que assombra projetos de mobilidade ativa em todo o mundo.
No entanto, uma série de estudos robustos, incluindo análises detalhadas em grandes cidades americanas, não apenas desmente esse mito, mas aponta na direção oposta. Ruas mais seguras para ciclistas e pedestres são, na verdade, um ótimo negócio.
Longe de serem um prejuízo, as melhorias na infraestrutura para o transporte ativo demonstram ter impacto positivo na economia local. As evidências, baseadas em dados concretos de vendas e emprego, fornecem um argumento poderoso para que planejadores urbanos, poder público e a própria comunidade empresarial abracem a bicicleta como uma aliada do desenvolvimento econômico.
Dados desfazem mito sobre ciclovias e comércio
Uma extensa pesquisa realizada pela Portland State University em parceria com a PeopleForBikes analisou os efeitos econômicos em 14 corredores que receberam infraestrutura cicloviária em seis cidades dos EUA: Indianápolis, Memphis, Minneapolis, Portland, São Francisco e Seattle. A conclusão foi categórica: há pouquíssima evidência de que as melhorias para o transporte ativo tenham um impacto negativo nos negócios.
Pelo contrário, em muitos casos, a infraestrutura para bicicletas e pedestres demonstrou ter impactos positivos nas vendas e no emprego nos setores de varejo e serviços de alimentação. O estudo revelou que o setor de restaurantes e cafés parece ser o maior beneficiado, com aumento nas vendas e no número de empregos mesmo em locais onde faixas de rolamento ou vagas de estacionamento foram removidas para dar lugar a uma ciclovia.
Para o varejo em geral, os benefícios também são claros. Em nove dos 14 casos analisados, as vendas e/ou o número de empregos no setor foram positivamente impactados pelas melhorias na rua. A análise utilizou múltiplas fontes de dados, como registros de emprego, salários e impostos sobre vendas, comparando o desempenho “antes e depois” com o de áreas de controle que não receberam as mesmas intervenções.
Nova York: o exemplo que virou referência
Talvez o estudo mais emblemático sobre o tema seja o realizado pelo Departamento de Transportes de Nova York (NYCDOT). A cidade foi pioneira ao desenvolver uma metodologia robusta para avaliar os efeitos econômicos das “ruas sustentáveis”, utilizando dados de impostos sobre vendas para medir a vitalidade dos negócios de forma objetiva, focando principalmente no comércio local e em pequenos empreendedores.
Os resultados são impressionantes. Na Vanderbilt Avenue, no Brooklyn, a instalação de ciclofaixas e de uma ilha de segurança arborizada foi seguida por um aumento de 102% nas vendas do varejo local em três anos, um desempenho muito superior ao da média do bairro e da cidade. Na Nona Avenida, em Manhattan, a criação de uma ciclovia segregada resultou em um crescimento de 49% nas vendas, superando todas as áreas de comparação.
O estudo nova-iorquino conclui que “ruas mais acessíveis e um ambiente mais acolhedor geram aumentos nas vendas do varejo”. A lógica é simples: ruas mais agradáveis convidam as pessoas a caminhar, a permanecer no local e, consequentemente, a consumir. Ciclistas e pedestres, por se deslocarem em menor velocidade, têm mais chances de notar uma vitrine interessante e fazer uma compra por impulso, algo que raramente acontece com quem passa de carro.
Uma nova lógica para o desenvolvimento urbano
Os dados derrubam a premissa de que o sucesso comercial depende exclusivamente do acesso de automóveis. Em centros urbanos densos, uma grande parcela dos clientes já chega a pé, de bicicleta ou por transporte público. Melhorar a segurança e o conforto para esses modais não apenas atende à demanda existente, mas também atrai novos frequentadores, criando um ciclo virtuoso de movimento e consumo.
Essas pesquisas oferecem aos gestores públicos e defensores da mobilidade sustentável uma ferramenta poderosa para combater a desinformação. Em vez de um debate baseado em achismos e relatos subjetivos, é possível apresentar números e casos concretos que provam que investir em ciclovias é também investir na economia local, na geração de empregos e na vitalidade dos bairros. Afinal, cidades feitas para pessoas são cidades onde os negócios prosperam.
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