Motoristas de ônibus de Porto Alegre levam “finas” em treinamento profissional
Empresa de ônibus de Porto Alegre pretende ensinar funcionários a respeitar quem pedala nas ruas simulando situação de risco que ciclistas enfrentam.
Depois de iniciativas ocorridas em Recife e Florianópolis, é a vez dos motoristas de ônibus de Porto Alegre sentirem uma parte da agressividade do trânsito na pele dos ciclistas. Em um treinamento ministrado a funcionários da empresa Sudeste, pelo setor de educação da Empresa Pública de Transporte e Educação, motoristas pedalando bicicletas estáticas foram ultrapassados por colegas na distância de 1,5m e em distâncias ainda menores: levando, portanto, a famosa “fina” (ou “fino”, de acordo a região do país).
A ação, que teve início no mês de março, faz parte da formação de 15 novos motoristas da companhia que atende parte das linhas da zona leste da capital gaúcha, mas deve ser estendida a seus outros 300 motoristas ao longo dos meses. O propósito da prática é sensibilizar os trabalhadores sobre a importância de respeitar regras que, mais do que normas legais, são fatores de prevenção de incidentes que podem ser fatais: a distância obrigatória de 1,5m para ultrapassagem do ciclista, equivalente à troca de faixa de rolamento (artigo 201 do Código de Trânsito Brasileiro) e o art. 220, que aponta a obrigação de diminuir a velocidade nas ultrapassagens. A prática foi precedida de vídeos e palestras informativas aos motoristas em formação e também aos outros funcionários da empresa.
Realidade atenuada
A formação, no entanto, é diferente da realidade das ruas, pois acontece no pátio da própria empresa de ônibus. Os motoristas pedalam bicicletas fixadas em cavaletes especiais, portanto estáticas e não sujeitas a trepidações, buracos e ondulações de terreno, nem do desequilíbrio provocado pela ultrapassagem em alta velocidade e a uma distância reduzida. São justamente essas condições que oferecem risco a quem pedala nas ruas e que já resultaram na morte de ciclistas como Márcia Prado e Julie Dias, em São Paulo, e Daise Lopes, em Porto Alegre. De acordo com dados da EPTC, no primeiro trimestre de 2014 houve 57 incidentes com ciclistas em Porto Alegre, sendo dois no mesmo dia, que resultaram na morte de Daise e da estudante Patrícia Figueiredo, ambas atingidas por motoristas de ônibus das concessionárias STS e Conorte, concessões da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
A iniciativa se mostra especialmente necessária em um momento onde se acirra, na capital gaúcha, a discussão sobre a necessidade de campanhas de educação no trânsito voltadas ao convívio entre usuários de bicicleta, transporte público e particular, e a realização integral do Plano Diretor Cicloviário, temas que estão sendo tratados de maneira questionável pela administração municipal.
O que diz a Lei
Agir como o motorista da simulação é incorrer em pelo menos duas infrações de trânsito:
Art. 201. Deixar de guardar a distância lateral de um metro e cinqüenta centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta:
Infração – média;
Penalidade – multa.
Art. 220. Deixar de reduzir a velocidade do veículo de forma compatível com a segurança do trânsito:
(…)
XIII – ao ultrapassar ciclista:
Infração – grave;
Penalidade – multa.
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