Paulistanos fazem homenagem a ciclista atropelado e pedem ciclovia na zona sul da cidade
Falta de segurança na via e de respeito à distância de 1,5m causaram morte de Noel Moreno Leite, 55 anos. Avenida tem projeto de ciclovia. Veja fotos da ação.
A capital paulista, infelizmente, ganhou mais uma ghost bike. Desta vez em memória a Noel Moreno Leite, de 55 anos, que perdeu a vida em 2 de fevereiro ao cair de sua bicicleta numa curva da avenida Belmira Marin, na zona sul da cidade, e ser atropelado em seguida por um ônibus. No domingo 8/2, ciclistas e familiares penduraram uma bicicleta branca no local e pintaram no asfalto um pedido de ciclovia.
tenha se desequilibrado,
se o motorista estivesse
respeitando a distância de 1,5m
essa tragédia poderia ser evitada”
Para Marina Moreno, irmã de Noel, a provável causa da queda foi um limo que escorre pelo canto da pista. “Os dois, ônibus e bicicleta, estavam devagar”, afirma Marina.
A esposa de Noel, que pedalava na calçada enquanto ele seguia pela rua, acompanhou tudo. Além da esposa, Noel deixou 4 filhos e 2 netos. “Ele gostava mesmo de andar de bicicleta. A Jane, mulher dele, vai trabalhar de bicicleta todo dia mesmo tendo carro”, conta Marina, que criou um blog em homenagem ao irmão. Na página recém-criada, Noel aparece pedalando em Amsterdam, capital da Holanda, e saltando de para-quedas em Boituva, interior de São Paulo.
Respeito, redução de velocidade e ciclovias
A implantação de ciclovias em São Paulo virou uma disputa partidária, quando na verdade deveria ser uma questão de segurança e saúde pública. Enquanto grupos de moradores ou comerciantes querem desviar a ciclovia da porta de suas casas ou estabelecimentos, outros pagam com a vida pela falta de estrutura e desrespeito de motoristas.
É bom lembrar que ciclovias não ligam o ponto de partida ao ponto de chegada. Estruturas cicloviárias ajudam o ciclista a trafegar com segurança em trechos de seu trajeto. Em grande parte das ruas, terá que haver o compartilhamento do espaço com o respeito de ambos, mas principalmente do veículo maior em relação ao menor, como obriga o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Para quem acha 400 km de ciclovias um plano ousado, vale ressaltar que São Paulo possui 17.000 km de vias – 400 km não preenchem nem 5% das ruas e avenidas. Portanto, onde não houver a segregação que garante a segurança do ciclista, deve haver o respeito, que inclui a distância lateral de 1,5m que o CTB obriga ao motorista ao ultrapassar alguém em uma bicicleta.
“Mesmo que meu pai tenha se desequilibrado, se o motorista estivesse respeitando a distância de 1,5m essa tragédia poderia ser evitada”, diz André Moreno, filho de Noel.
Redução de velocidade em toda a cidade também é uma pauta que os ciclistas levam às reuniões com a prefeitura para tentar diminuir o número de mortes no trânsito. Nova York começou a implantar ciclovias em 2007 e agora tem uma meta ambiciosa: reduzir a zero as mortes no trânsito.
Av. Belmira Marin tem projeto de ciclovia
Apesar das ladeiras que permeiam a avenida Belmira Marin, é grande o número de ciclistas que passam por lá. E não é para menos: as ruas ao redor são entrecortadas e com subidas ainda mais frequentes. Enquanto a reportagem do Vá de Bike esteve acompanhando a homenagem a Noel Moreno Leite, foi possível perceber a quantidade de pessoas pedalando e fotografar algumas delas (veja na nossa galeria, mais abaixo).
Segundo informação da SPObras, empresa da prefeitura responsável por executar projetos definidos pela administração municipal, está prevista a construção de estrutura cicloviária de 2,5m de largura na avenida e 3,1 km de extensão, que será executada junto com as obras do corredor de ônibus previsto para o local. O projeto, porém, ainda está em fase de revisão. O motivo da demora é a tentativa de diminuir o número de desapropriações na área necessárias para o alargamento da via.
Veja também |
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O que são Ghost Bikes e onde foram instaladas as outras 16 em São Paulo |
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) também informa que a avenida Belmira Marin passa por algumas obras de alargamento para instalação da faixa exclusiva de ônibus (diferente de corredor) para priorizar o transporte coletivo e estuda caminhos alternativos em vias próximas da avenida para a implantação de ciclovias que atendam os ciclistas da região, interligando pontos de interesse. Importante ressaltar que nos trechos onde houver corredor de ônibus, haverá ciclovia. Onde houver faixa exclusiva, as ciclovias passarão por vias alternativas.
É difícil ver as fotos, lembrar de tudo. Como seria bom se tudo isto nao tivesse acontecido. Quantas famílias tristes. Quantas bikes sem ciclista, pintadas de branco! Dia 17 de setembro foi o aniversário de nascimento do Noel. Que saudades!
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Olá: estou procurando por David Moreno Leite. Ele é casado com Erineia leite. Caso o conheça, por favor peça para entrar em contato comigo, pois sou seu amigo de Vitoria ES. Ass… Clenaldo.
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Clenaldo, se puder entre em contato com a Marina, irmã dele no email dagazema@gmail.com
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A VIDA É UMA AVENTURA
Texto: David Moreno Leite (USA) irmão do ciclista
Há pouco tempo recebi uma noticia trágica de que meu irmão Noel Moreno Leite faleceu num acidente de bicicleta na zona sul de São Paulo. Embora ele tivesse automóvel e moto por muito tempo, ao que consta continuava fiel ao veiculo de duas rodas.
A bicicleta em alguns países da Ásia é um dos meios de transporte mais populares, devido ao seu baixo custo de manutenção e valor de compra. Em países como Holanda, a questão não é valor, mas uma tradição que persiste por anos. Utilizar bicicleta naquele pais é uma demonstração de que nem sempre a utilização do carro é necessária. A bicicleta não polui, ocupa pouco espaço e pode ser estacionada em qualquer canto.
Em outros países europeus, como por exemplo a França, a bicicleta evoluiu na forma de ciclismo uma modalidade esportiva que atrai milhares de expectadores como é o caso do Tour de France. No Nepal, onde estive algumas vezes, a bicicleta funciona como táxi e transporte de carga.
No Brasil, devido ao seu tamanho continental, relevo e condição econômica de algumas regiões, faz com que a bicicleta seja usada em larga escala em alguns lugares, enquanto inexpressiva nos grandes centros urbanos. A cidade de Blumenau , Santa Catarina por exemplo é famosa pelo uso intensivo da bicicleta como meio de transporte urbano. Em grande parte do Nordeste, exceto nas capitais, ela também tem seu destaque.
Na cidade de São Paulo, onde nasci, o uso da bicicleta é misto – meio de transporte alternativo e lazer. A realidade é que a cidade cresceu no ritmo de megalope querendo ser a Chicago da America Latina. O automóvel se impôs e dominou o cenário. Com a grande concentração de população a partir da década de 50, o transporte coletivo também tiveram seu espaço conquistado e preferência garantida.
Neste período de desenvolvimento, abertura e alargamento de avenidas, canalização de rios, a bicicleta ficou de fora dos projetos municipais.
Até recentemente não se ouvia falar de ciclovia (espaço designado para bicicleta). O problema porém não está apenas relacionado com este espaço exclusivo, é cultural. Grande maioria dos motoristas que transitam nas ruas paulistanas não respeitam as bicicletas. É a lei da selva urbana – Sai da frente que estou passando!. Muitos motoristas alegam que o uso da bicicleta no transito urbano complica ainda mais a situação.
Nesta selva de pedra, nasceu uma competição entre motos e autos. Às vezes uma moto quebra um espelho de um carro, e noutra situação um carro empurra a moto, obviamente com o piloto para o acostamento ou outro espaço disponível. A pobre da bicicleta não tem espaço nem consegue se impor por causa de seu tamanho insignificante.
Em países civilizados, como nos Estados Unidos onde resido, o uso da bicicleta nos grandes centros urbanos é limitado, pois a maioria opta pelo uso do carro, metrô e ônibus. Mas há exceções . A cidade de Nova York implantou, com o patrocínio de um banco, um sistema que permite ao usuário alugar uma bicicleta num ponto da cidade e devolvê-la em outro, pagando com cartão de crédito.
O brasileiro tem o péssimo costume de imitar os americanos em muitas coisas, especialmente na área musical e moda, mas falha ao não tentar imitá-los em relação ao respeito pelo ciclista.
Ciclista aqui não é um coitado, que não tem dinheiro comprar um carro, ou pagar a tarifa de transporte público; mas por alguma razão prefere ir de bicicleta ao seu destino.
Quando um automóvel encontra um ciclista no mesmo sentido de direção e necessita ultrapassá-lo, isto é feito com um cuidado cirúrgico. O motorista está 100% consciente de que se causar ao ciclista uma queda isto vai lhe custar entre outras coisas, pagamento de advogado, audiências nas cortes, pagamento das despesas hospitalares da vitima (só a ambulância fica em 700 dólares) . Ainda há o risco de ter sua carteira de habilitação suspensa, cancelada e houver morte do ciclista, uma provável condenação por homicídio.
Infelizmente onde a cultura latina predomina (do México até a Terra del Fuego), prevalece o descaso, falta de pulso forte por parte das autoridades competentes e leis obsoletas.
A morte de meu irmão, ao que consta parece não ter sido imprudência do motorista, mas um desequilíbrio que acabou por resultar no atropelamento. Mas pelo código de trânsito, o outro veículo deveria estar distante, pelo menos 1,5 metro.
Certamente acidentes continuarão acontecendo enquanto houver motorista e ciclista dividindo o mesmo espaço.
Ciclistas perderão vidas ou a mobilidade física como conseqüências de tais acidentes. Se existe no código de transito uma regra de que o veículo deva passar a um metro e meio do ciclista, então é responsabilidade dos órgãos de segurança fiscalizar e multar os infratores.
Infelizmente há motoristas que só aprendem a lição quando seu bolso é afetado. O respeito pelo ciclista não deveria ser motivado apenas por causa de multas, mas conscientizar de que sobre a bicicleta está um ser humano, um pai de família, um estudante, um esportista, etc.
Pedalar na cidade de São Paulo é uma aventura. Aliás, viver é uma aventura que só termina quando o protagonista encerra sua carreira, às vezes de forma trágica. Posteriormente inicia outra aventura desconhecida – a eternidade.
David Moreno Leite (USA)
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Eu aposto que se o motorista do ônibus tivesse ultrapassado com segurança, hoje o senhor Noel estaria vivo. Nossos motoristas, pelo visto, já se habituaram com a morte.
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Domingo dia 08.02.2015 nasceu com um céu lindo, do jeito que o funcionário público e ciclista Noel Moreno Leite amava.
Sol, dia claro, tudo convidando as pessoas para passear, fazer algo de bom. Neste domingo, inúmeros ciclistas tiveram um compromisso de carinho. Foram até um local de tragédia. Foram onde se cometeu o assassinado de mais um. Mais uma vítima da negligência, MAIS UM CICLISTA, MAIS UM NÚMERO.
Rachel Schein fotografou, nos ouviu, registrou um pouco de nossa dor.
Publicando esta linda homenagem neste site, ela deu vida ao grito de inúmeros ciclistas que reivindicam e não são ouvidos. Ela, também uma ciclista, em nome de todos os ciclistas que ali compareceram, está indignada.
Obrigada a todos vocês pelo carinho, sobretudo por fazer algo para mudança.
Minha família gosta de pedalar, sempre sou cuidadosa quando estou ao volante, mas depois desta tragédia, estou mais atenta às reportagens, a tudo possível. É assim! A tragédia não acontece só na casa dos outros.
Espero que a discussão sobre viabilidade de ciclovias, de conscientização de segurança, tudo que for para melhorar o PEDALAR ….. continue.
E que naquele local escutem o que foi pintado, que o recado seja ouvido: CICLOVIA JÁ !
Marina Moreno Leite ( dagazema@gmail.com )
irmã de NOEL MORENO LEITE
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