Ciclistas de Recife colocam-se contra corte de árvores para construção de ciclovia
Prefeitura de Recife já marcou árvores que serão cortadas. “Humanização do trânsito não pode ser a qualquer preço”, dizem ciclistas.
A prefeitura do Recife (PE), por meio da Empresa de Urbanização do município (URB), pretende derrubar cerca de 40 árvores no entorno do Canal do Arruda para a construção de 7,4 km de ciclovia. Algumas árvores já estão marcadas com um simbólico “X” vermelho, como sinal de que devem ser cortadas. Como forma de compensação, a prefeitura prevê o replantio de duas mudas para cada árvore derrubada.
Ao tomar conhecimento de que a obra já estava licitada e que a derrubada das árvores poderia acontecer a qualquer momento, a Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo), posicionou-se contrária ao projeto, apesar de defender a construção da ciclovia, que atenderá cerca de seis mil ciclistas que diariamente passam pela região, segundo dados de 2008 da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU).
Segundo o coordenador-geral da Ameciclo, Daniel Valença, não é admissível que árvores adultas sejam retiradas para a colocação da ciclovia. “A Ameciclo defende a humanização do trânsito, uma luta bem mais ampla que uma simples demanda por ciclovias”, diz Valença. Ele salienta ainda que é possível implantar a ciclovia com traçados que evitem a derrubada das árvores e, até mesmo, com a supressão de uma parte da via destinada aos automóveis.
Vale destacar que a avenida onde se localiza o Canal do Arruda possui seis faixas de circulação de veículos. Parte dessas pistas são frequentemente utilizadas como estacionamento irregular.
O outro lado
Questionada pelo Vá de Bike sobre o corte de árvores, a URB enviou a seguinte nota:
A Empresa de Urbanização do Recife (URB) informa que as obras de requalificação do Canal do
Arruda estão em andamento. Estão em execução os serviços de limpeza do canal, com a reposição e instalação de placas de revestimento, e foi já foi realizada a dragagem do trecho que compreende a Avenida Norte até o Rio Beberibe. O próximo passo importante é a construção de três áreas de lazer elevadas sobre o canal (três praças, duas quadras esportivas). Também serão implantados: 7,4 km de ciclovias; 2,5 km de pista de cooper, quiosques, além de passeio público e passarelas para pedestres. A previsão de término das obras é para o primeiro semestre de 2016, com investimentos de aproximadamente R$ 83 milhões, devendo beneficiar 80 mil pessoas que vivem na região. A URB esclarece que atualmente existem 700 árvores no canal e que, no final da obra, serão mais de 1.400. A proposta é retirar as árvores que estão doentes, tombando (com risco de queda) ou as inadequadas ao paisagismo urbano e que, por isso, estão quebrando calçadas e comprometendo a estrutura do equipamento público. O traçado da ciclovia está sendo feito para se adequar às árvores que serão mantidas.
É importante ressaltar que a compensação ambiental na área do canal se dará por meio de plantio de árvores adultas e de mudas, conforme exigido pela Secretaria de Meio Ambiente do município. Para cada árvore retirada, será feito o replantio de outras duas (na área do canal e também nas vias do entorno). No primeiro trecho a ser trabalhado, entre a Avenida Beberibe e a Rua Petronila Botelho, devem ser retiradas 40 árvores e plantadas 80 – divididas entre a área do canal e as ruas do entorno. A URB reforça que no canal, neste primeiro trecho, todas as árvores plantadas serão adultas (mínimo de 4 metros de altura).
Ciclovia e integração
Qualquer ciclista deseja mais ciclovias em sua cidade. No entanto, a construção dessa infraestrutura não pode ser a qualquer preço. Derrubar árvores com esse objetivo pode transformar a solução em problema, inclusive colocando-o na conta da coletividade. No Brasil, há diversos exemplos de construção de ciclovias integradas à natureza e com redução de espaço de circulação de veículos motorizados.
Esta notícia é mais uma amostra da generosidade e bom senso dos ciclistas, que desejamo melhor não só para si, mas para o meio ambiente urbano.
A resposta pasteurizada da prefeitura é muito preocupante, pois sabemos da distância entre discurso e realidade das políticas públicas.
Meu apoio aos recifenses que lutam por uma cidade mais humana e mais humanizada. Preservem as árvores que já existem, demandem outras mais, demora muitos anos para crescerem, isso se forem de fato plantadas!
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