Prioridade ao automóvel asfixia comércio da Av. Santo Amaro, em São Paulo

A avenida Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo, é impraticável para pedalar. Poucos ciclistas se arriscam. Apesar de terem direito legal de circular, bicicletas não são bem recebidas pelos motoristas, que aceleram, buzinam, fecham, espremem contra a calçada. Você pedala ali uma vez, agradece aos céus por ter escapado, e não volta mais.

Pra ajudar, as calçadas são uma porcaria para caminhar. Buracos, placas, carros estacionados, postes de sinalização no meio do espaço e em muitos pontos só passa uma pessoa por vez. Sem contar a velocidade dos automóveis, próximos à calçada estreita, trazendo a sensação contínua de perigo iminente.

Com esse ambiente afugentando as pessoas, na maioria dos trechos passa muito pouca gente. Não tem quase ninguém a pé, nem de bicicleta. Com isso o comércio não vende e com o tempo foi minguando.

Culpa do corredor de ônibus?

Muitos comerciantes (e até moradores) colocam a culpa no corredor de ônibus, claro. Acham que sele ele fosse substituído por MAIS faixas de carros, o problema se resolveria.

Mas logo o corredor de ônibus? Se não fosse ele atraindo milhares de pessoas para a avenida, aí que o comércio morreria mesmo. É só parar do lado de qualquer ponto por alguns minutos, para ver quanta gente embarca e desembarca o tempo todo. No horário de pico então, é um amontoado de gente.

Só que essas pessoas entram e saem dos ônibus e “somem” nas transversais – assim como os ciclistas, que apenas cruzam a avenida e “desaparecem”.

Essas pessoas não circulam pela avenida porque não há espaço pra isso. E porque é barulhenta, com carros acelerando e buzinando o dia inteiro, passando em alta velocidade a centímetros de quem espera um tempo enorme para atravessar a rua. E quem tenta cruzar as pistas tem que correr em poucos segundos, porque o semáforo já começa a piscar assim que colocam o pé no asfalto.

E quem mora no entorno nunca caminha nessa avenida. Mas caminha nas ruas em volta, que via de regra são arborizadas e bastante agradáveis. Mas que não servem de alternativa para o deslocamento a pé ou de bicicleta, porque não são contínuas e têm subidas, tornando o deslocamento ativo muito mais longo e cansativo.

Comércio poderia florescer na Santo Amaro

Para que o comércio floresça nessa via, é preciso atrair gente para viver a avenida. E não há como fazer isso mantendo a prioridade ao automóvel.

Além do corredor de ônibus, há duas faixas para carros em cada pista. Se reduzíssemos uma dessas faixas em cada lado da avenida, haveria espaço para inserir uma ciclovia e alargar calçadas. As travessias poderiam ser melhoradas. Iluminar bem as áreas de pedestres e ciclistas incentivaria seu uso no período noturno, além de aumentar a segurança. E colocando verde, bancos e paraciclos ao longo do percurso, em pouquíssimo tempo ela encheria de gente. Inclusive à noite, quando se torna bastante inóspita.

Ruas multimodais (ou ruas completas) consideram também a mobilidade ativa, criando espaço seguro e agradável para pedestres e ciclistas. O aumento no fluxo de pessoas em ritmo “humano”, que podem ver vitrines, fachadas e entrar imediatamente para consumir, resulta em vendas no comércio.

No entanto, infelizmente não é o que está acontecendo na reforma da Avenida Santo Amaro. Ciclovias não serão implantadas, com a justificativa de que “já existem ciclovias” em vias próximas. Ainda que isso descumpra a legislação sobre reforma de avenidas, que já existe há mais de 20 anos.

Assine aqui a petição que pede uma ciclovia nessa avenida

E você que nos lê, reflita: quantas avenidas conhece nessa mesma situação, em que a dificuldade de caminhar e pedalar reflete em ambiente inóspito, que afugenta as pessoas, com comércio minguando?

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