Willian Cruz no estúdio do programa Alesp em Pauta, comentando sobre segurança dos ciclistas

O especialista em ciclomobilidade Willian Cruz, do Vá de Bike, foi convidado para falar sobre a segurança de ciclistas nas estradas e nas ruas. Imagem: TV Alesp/Reprodução

Projeto de Lei pretende conscientizar sobre acidentes com ciclistas

Especialistas discutiram a segurança de ciclistas, em meio à preocupante diminuição das ciclovias na capital e às proibições a bicicletas em rodovias do estado

O que é preciso para melhorar a segurança dos ciclistas, nas cidades e nas estradas? A aplicação da Lei é suficiente ou também precisamos conscientizar quem dirige? O planejamento de tráfego precisa mudar? O especialista em ciclomobilidade Willian Cruz, do Vá de Bike, foi convidado pelo programa Alesp em Pauta para responder a essas questões.

Além da presença de Willian Cruz no estúdio, o programa de entrevistas comandado por Sérgio Ewerton contou com as participações virtuais de Renata Falzoni, do Bike é Legal, e de Marcelo Braga, da Federação Paulista de Ciclismo (FPC). A TV Alesp é o veículo de comunicação oficial da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.


Semana de Conscientização e Prevenção

O ponto de partida do debate foi o Projeto de Lei nº 549/2022, de autoria do ex-deputado Castello Branco (atualmente no PL), que institui a “Semana Estadual de Conscientização e Prevenção de Acidentes ao Ciclista”.

O objetivo da data, a ser realizada anualmente na semana de 10 de novembro, será promover debates e eventos sobre a mobilidade sustentável e a segurança dos ciclistas no trânsito. Além disso, pretende ser um ponto de partida para estimular o uso da bicicleta como transporte, esporte e lazer, sensibilizando sobre seus benefícios à economia, à saúde e à sustentabilidade.

Como melhorar a segurança dos ciclistas?

Com um rico debate, foram apontadas as dificuldades e riscos que os ciclistas enfrentam, tanto nas ruas e avenidas quanto nas rodovias. Nas estradas, apesar do direito garantido em Lei de usar o acostamento, as proibições à circulação de bicicletas são cada vez mais comuns. E mesmo quando nos é permitido usar o acostamento, somos colocados em risco por motoristas imprudentes que utilizam o espaço para ultrapassagens.

“Geralmente se fala [só] sobre o motorista embriagado. Claro, esse é um risco óbvio, mas o motorista imprudente também é um risco muito grande para quem anda de bicicleta”, ressaltou Willian Cruz. Renata Falzoni acrescentou que o conceito de Visão Zero, ao qual a cidade de São Paulo em tese aderiu, “é uma maneira de gerenciar o trânsito em que se sabe que, se tem ser humano envolvido, vai ter erro, transgressão e imprudência”. Portanto, é preciso projetar e gerir o viário tendo esse ponto em consideração, reforça a jornalista e cicloativista.

Portanto, a gestão de tráfego deve priorizar sempre a proteção à vida, não a fluidez. Caso contrário não reduziremos o número de mortes. “Um dos problemas que a gente tem hoje é que a prioridade sempre é dada ao automóvel, que nem mesmo representa a maioria dos deslocamentos. Ele ocupa mais espaço no trânsito pela área que ocupa individualmente, mas é usado em apenas cerca de 30% das viagens”, apontou Cruz. “Além disso, não é uma questão de quem está circulando mais ter mais direitos. Quem tem mais direito é a vida, a gente tem sempre que proteger a vida.”

Willian Cruz, especialista em ciclomobilidade, falando sobre segurança dos ciclistas na TV Alesp
Willian Cruz, sobre prioridades no planejamento de tráfego: “Não é uma questão de quem está circulando mais ter mais direitos. Quem tem mais direito é a vida, a gente tem sempre que proteger a vida.” Imagem: TV Alesp/Reprodução

Ciclovias sumindo na cidade de São Paulo

Em dado momento, Sérgio Ewerton perguntou a Renata Falzoni se as ciclovias da capital paulista estariam atendendo às necessidades de deslocamento e qual seria sua situação atual. Renata então alertou sobre o atual processo de “desconstrução” das ciclovias da cidade, que estão sendo removidas pelo recapeamento e deixando ciclistas expostos ao tráfego de automóveis – muitas vezes no contrafluxo.

“Você está indo de frente para os automóveis e a ciclovia simplesmente desaparece. E eu fui atropelada numa ciclovia na Vila Mariana exatamente por isso. Estava chovendo, a ciclovia sumiu, eu continuei descendo a rua e um motorista se sentiu no direito de me atropelar porque eu estava ‘na contramão’, contou Falzoni, causando indignação no entrevistador.

Renata acrescentou que a cidade deveria ter recebido 300 km de ciclovias na gestão atual de Ricardo Nunes (MDB), mas foram criados menos de 30 km. E acrescentou que os outros 270 km dificilmente serão entregues até o final do mandato.

“A grande verdade é que perdemos muito espaço de malha cicloviária, porque depois das obras de recapeamento estamos tendo muita dificuldade em fazer essas ciclovias regressarem”, afirmou, lembrando que as ciclofaixas da Av. Roberto Marinho levaram mais de um ano para voltar. E foram necessários protestos e ações midiáticas dos ciclistas para que fossem devolvidas.

“É como se o prefeito começasse a retirar as faixas de travessia de pedestre da cidade toda, dizendo ‘calma que um dia voltam’. Enquanto isso, as pessoas que se virem para atravessar. É o que está acontecendo com as ciclovias”, ponderou Willian. Marcelo Braga, da FPC, também alertou que “as ciclovias estão sendo apagadas e isso está sendo aproveitado pela gestão para que não voltem tão cedo”.

Apresentado por Sérgio Ewerton (ao centro), o programa também contou com as participações de Renata Falzoni e Marcelo Braga. Imagem: TV Alesp/Reprodução

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