ciclistas pedalam onde antes havia uma ciclofaixa, na av. jornalista roberto marinho

Ciclistas pedalam junto aos carros na Av. Jornalista Roberto Marinho, onde a ciclofaixa foi removida há mais de um ano. Foto: Guilherme Vignini/BZS

Descaso da Prefeitura com ciclovias coloca vidas em risco em São Paulo

Por omissão ou em consequência de ações da Prefeitura, ciclovias removidas, sem sinalização e invadidas por motoristas oferecem perigo a quem deveriam proteger

As ciclovias e ciclofaixas da cidade de São Paulo têm se deteriorado ao longo dos anos, revelando um descaso por parte da prefeitura que coloca em risco a segurança dos ciclistas. Ciclofaixas desgastadas, tachões e sinalizações ausentes, e a invasão constante por parte de motoristas e motociclistas são alguns dos problemas recorrentes nas vias destinadas a esse meio de transporte.

Anos sem manutenção efetiva resultaram em ciclovias desgastadas e, em alguns casos, praticamente invisíveis. A falta de sinalização adequada e a ausência de tachões tornaram-se um convite ao desrespeito por parte dos condutores de veículos motorizados. Somando-se à omissão da CET na fiscalização, torna-se cada vez mais comum observar motoristas estacionando sobre ciclofaixas ou motociclistas cortando o trânsito por elas.

O descaso da gestão Ricardo Nunes (MDB) com a estrutura cicloviária coloca diretamente em risco as vidas dos ciclistas, como você verá a seguir. E não são poucos os cidadãos que pedalam: 12% usam a bicicleta em São Paulo, o que se traduz em mais de um milhão de pessoas.

O vídeo abaixo mostra como a ciclofaixa da R. França Pinto, na Vila Mariana, se transformou em área de estacionamento após a remoção pelo recapeamento. As imagens mostram que, 20 dias depois da estrutura ser retirada, ainda não havia sido feita sinalização de solo. Também não há fiscalização por parte da CET, deixando impunes motoristas que estacionam até sob a placa que proíbe parada e estacionamento.

Programa de Manutenção não tem resolvido a situação

O Programa de Manutenção Permanente da Malha Cicloviária, anunciado em setembro deste ano, despertou esperanças de melhorias. No entanto, lamentavelmente, a situação desde então apenas se agravou. Principalmente porque outra ação de manutenção do viário, o Programa de Recapeamento, tem contribuído para o desaparecimento de estruturas destinadas aos ciclistas, expondo-os diretamente ao tráfego intenso.

O caso emblemático da ciclovia da Avenida Jornalista Roberto Marinho, na Zona Sul, ilustra a irresponsabilidade da Prefeitura. Removida em dezembro do ano passado pelo recapeamento da avenida, a ciclofaixa bidirecional até hoje foi apenas parcialmente reinstalada. No último dia 8, ciclistas fizeram uma comemoração irônica de aniversário no local, alertando que a remoção da estrutura de proteção já havia completado um ano.

Por estar sinalizada apenas em alguns trechos da avenida, ciclistas que trafegam no contrafluxo se veem subitamente circulando na contramão, sem uma segregação efetiva, sendo expostos a risco iminente. Para piorar, em algumas partes que já foram sinalizadas a largura diminuiu. Por sinal esse é um dos 5 alertas sobre a manutenção de ciclovias em São Paulo, que publicamos aqui no Vá de Bike recentemente.

Ciclofaixa removida causa atropelamento

Quando uma ciclofaixa bidirecional (mão dupla) não é sinalizada corretamente, muitas vezes ela “desaparece” do caminho do ciclista sem aviso. Como resultado, ele fica à mercê de motoristas que, muitas vezes, não aceitam a presença da bicicleta na via e o colocam em risco propositalmente.

Foi o que aconteceu com a jornalista e cicloativista Renata Falzoni, que foi atropelada intencionalmente por um motorista na R. Dionísio da Costa, Vila Mariana. Ao ser questionado, ele alegou tê-lo feito por ela estar na contramão, como você vê no vídeo abaixo. Na verdade, ela estava em uma ciclofaixa bidirecional, que naquele trecho havia sido apagada pelo recapeamento.

Sem sinalização, sem segurança

Uma demora de alguns dias na reposição da sinalização de solo é compreensível, pois é necessário aguardar a “cura” do asfalto para melhor fixação da tinta. Mas a ausência de medidas temporárias para garantir a segurança dos ciclistas, como a utilização de cones ou cavaletes, é inaceitável.

Ainda há casos em que a sinalização de solo foi refeita, mas não foram instalados os tachões segregadores. Afinal, quando o padrão de ciclovias da cidade deixou de ser a pintura vermelha em toda sua extensão, a alegação foi de que a segurança seria preservada pela maior quantidade de tachões. Portanto, esses elementos são imprescindíveis, atuando não somente como segregação física mas também como reforço visual, tornando claro que a área é proibida a automóveis e motocicletas.

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Motociclista invade ciclofaixa sem tachões na R. Abílio Soares, no Paraíso. Foto: Thomas Wang/BZS

Omissão da prefeitura pode causar mortes

É crucial ressaltar que a falta de atenção para com as ciclofaixas não condiz com as declarações de Ricardo Nunes sobre seu compromisso com a segurança dos ciclistas. A negligência e omissão evidenciados colocam diariamente em risco a vida daqueles que optam pela bicicleta como meio de transporte. A ausência de ações imediatas não apenas configura culpa, mas estabelece uma responsabilidade solidária que poderá ser apontada em processos judiciais, quando fatalidades vierem a ocorrer.

A cidade de São Paulo, reconhecida por sua extensa malha cicloviária, necessita urgentemente de uma revisão da atuação municipal em relação às ciclofaixas. É preciso garantir não apenas a manutenção efetiva, mas também a segurança e o respeito aos ciclistas, que contribuem para um trânsito mais sustentável e menos congestionado.

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