Matando árvores para dar espaço aos carros

Na calada da noite, como se feito às escondidas, árvores enormes e muito antigas estão sendo derrubadas para ampliar o “estacionamento” da Marginal Tietê. O solo será impermeabilizado, diminuindo a capacidade de absorção da água das chuvas. A ampliação da Marginal servirá para acomodar mais carros, trocando o congestionamento de lugar e dando a ilusão de menos “trânsito” na cidade.


Antes e depois. Foto: O Massacre do MotorSerraCicloBR

Marcadas para morrer. Foto: Aqui jaz uma cidade – luddista

O vídeo abaixo, feito pelo cicloativista André Pasqualini, do site CicloBR, mostra o assassinato de mais uma árvore centenária na Marginal do rio Tietê.

Infraestrutura gera demanda. Quanto mais avenidas, pontes, túneis e viadutos de uso exclusivo do automóvel forem construídas, mais se estimula o uso do transporte individual motorizado – carros e motos.


Ponte Estaiada: proibida para bicicletas e pessoas. Também não há linhas de ônibus passando por ali.
Foto: Matéria sobre a Ponte Estaiada – CicloBR

Enquanto isso, os ônibus têm de dividir o corredor com táxis. Isso quando não são obrigados a dar espaço aos carros, como acontece no túnel da Av. Nove de Julho. No túnel e sobre a Praça 14 Bis, o corredor some por algumas centenas de metros, com o efeito desastroso de gerar uma fila enorme que se estende pelo corredor. Todos os dias, vêem-se dezenas de ônibus enfileirados, parados por causa do congestionamento de carros.

Os ônibus, presos no corredor entupido, demoram mais para chegar ao ponto. Quando chegam, há muito mais gente esperando e todos tentam subir de uma vez, porque o próximo também vai demorar. O ônibus fica lotado, abafado, desconfortável, e não adianta simplesmente colocar mais ônibus na linha: precisa-se liberar o corredor para que eles fluam.

No vídeo abaixo, o corredor de ônibus parado para dar passagem aos carros, sob a batuta da CET.
Fonte: Inversão de prioridade: ônibus em fila à espera dos carros
(Blog do Mílton Jung – CBN)

Quem está dentro do ônibus, parado no corredor, paga pela decisão de priorizar o transporte individual em detrimento do coletivo. Quem opta pelo transporte coletivo ocupa pouco espaço na rua, polui muito menos (per capita), não causa congestionamento, nem acidentes de trânsito, nem usa o espaço público para estacionar seu bem particular. Mesmo assim, é esse o cidadão punido pelo uso excessivo do carro na cidade.

Já quem opta por usar o carro, colabora direta ou indiretamente para o aumento de todos esse problemas, mesmo que não perceba. Colabora inclusive para aumentar o tempo que leva para aquele outro cidadão, o do ônibus, chegar em casa. Ainda assim, é “premiado” com novas avenidas, pontes e túneis. E a palavra “premiado” vai entre aspas porque esse prêmio é uma falácia, um simples afago psicológico, porque o congestionamento continuará existindo, o excesso de carros continuará existindo, bem como todos os outros efeitos perversos do uso excessivo do automóvel.

Se o governo do estado e o do município decidissem mudar esse paradigma automobilista que perdura há mais de meio século, não ampliariam a Marginal. O máximo que fariam nela seria uma ciclovia próxima ao rio, com saídas em todas as pontes. Ou, talvez, um corredor expresso de ônibus na faixa esquerda da pista central, com pontos em cada ponte. Mas não: farão 23 quilômetros de pista e três novos viadutos – tudo para os carros.

É justo pagarmos todos, agora com nossas árvores, pela decisão de incentivar ainda mais o uso do automóvel na cidade de São Paulo?


Cadáveres cobertos.
Foto: O Massacre do MotorSerraCicloBR
Saiba Mais

10 comentários em “Matando árvores para dar espaço aos carros

  1. Estou de luto pelo assassinato de seis lindas arvores que viviam, na Av Caititu C.A.E.Carvalho em São Paulo; assassinos a sub prefeitura de Itaquera, Sub prefeito Laert de Lima Teixeira.

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  2. Realmente assustador! Mas sinceramente não da pra se espantar com mais nada. Lembrando que 2014 vem aí, mais obras absurdas virão! Você viu que em São Paulo e outros estados vão derrubar a lei de proibição de venda de bebidas alcólicas nos estádios? Porque a Budweiser é uma das patrocinadoras da Copa. Como disse o Juca Kfouri, no Brasil, até uma fábrica de cerveja americana manda mais que a lei. Por isso eu não duvido de mais nada.

    Agora mudando de assunto, queria te perguntar sobre a descida à Santos. Já foi tomada alguma providência em relação a proibição de bicicletas? Estava pesquisando também sobre a descida pela estrada antiga que está desativada, mas em alguns lugares diz que também é proibido o tráfego de bicicletas nela, em outros não.

    Abraço!

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  3. Espantosa é a velocidade com que esta obra está sendo tocada e o pouco caso (proposital) que a imprensa está fazendo. Deixa muito claro pra quem quer enxergar que para eleger candidato corrupto vale tudo, também vale voltar as atenções dos ecobobos para a amazônia, enquanto nosso quintal está sendo devastado. Brasil-sil-sil.

    Cássio

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