"A CET começou a pintar a ampliação da Ciclofaixa de lazer até o Villa Lobos. Aqui é a Pça Panamericana." (Bikerreporter)

Ampliação da Ciclofaixa de Lazer de São Paulo

A Ciclofaixa de Lazer da cidade de São Paulo, que hoje liga os parques do Ibirapuera, das Bicicletas e do Povo, será ampliada para chegar ao Parque Villa Lobos ainda neste mês. Segundo fonte na Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, o trecho novo deve ser inaugurado no próximo dia 23 de janeiro.

O trabalho de pintura e sinalização já começou. Um dos Bikerrepórteres da Rádio Eldorado foi conferir e publicou no Twitter várias fotos que mostram um pouco do trajeto. Veja-as a seguir, com os comentários feitos por ele:

"A CET começou a pintar a ampliação da Ciclofaixa de lazer até o Villa Lobos. Aqui é a Pça Panamericana." (Bikerreporter)

"Será que aqui o ciclista terá que subir na calçada para atravessar?" (Bikerreporter)

"Na Pte Cidade Universtária o ciclista terá que pedalar na faixa da esquerda. Será que vai dar certo?" (Bikerreporter)

"Sinalização da ciclofaixa em frente a entrada principal da USP, na Rua Alvarenga. Nesse ponto será mão dupla." (Bikerreporter)

"Sinalização do novo trecho da ciclofaixa de lazer. Na Rua Alvarenga, em frente à USP. Mão dupla." (Bikerreporter)

Queixas

As queixas sobre a ciclofaixa de lazer dificilmente questionam sua existência. As reclamações costumam ser são sobre algumas características da sua operação:

  • Ciclofaixa de Lazer na faixa esquerda da Av. Hélio Pellegrino. (Willian Cruz/Vá de Bike)

    Funciona apenas nas manhãs dos domingos, caracterizando a bicicleta como objeto de lazer para muitos motoristas, que passam a hostilizar os ciclistas durante a semana por acreditar (equivocadamente) que fora do dia e horário especial  as bicicletas não têm direito de utilizar as vias. Isso é fato e há vários relatos de ciclistas que, depois de quase terem sido derrubados por um automóvel durante a semana, tiveram que ouvir uma bobagem dessas de algum motorista extremamente irritado e “cheio de razão”.

  • É operada apenas até as 14h, mesmo com os milhares de pessoas que a utilizam todo domingo. Depois desse horário, a CET considera que a circulação de quem usa o automóvel é mais importante que separar uma única faixa para as bicicletas, o que faz com que muitos pais tenham que voltar com seus filhos pela calçada até o paruqe de origem (ou pedir resgate de carro para a esposa).
  • Não há ligação com a Ciclovia Rio Pinheiros, mesmo estando a menos de 700 metros de sua entrada (veja como chegar).
  • Usa quase que unicamente a faixa da esquerda, o que pode dar impressão ao ciclista iniciante de que aquela é a melhor faixa para se trafegar de bicicleta, mesmo onde não houver ciclofaixa.
  • Mesmo sendo declaradamente para lazer e funcionando apenas meio dia por semana, a ciclofaixa é contada como parte da infraestrutura cicloviária da cidade pela secretaria municipal de transportes, para inflar o número irrisório de quilômetros de vias exclusivas. E sua extensão é contada duas vezes, uma na ida e na volta, para inflar ainda mais esse número. Os 5 km viram 10, e agora que serão 15 certamente virarão 30 nas informações oficiais. Chega a ser patético.
Vantagens
Apesar de concordar com praticamente tudo que está nessa lista de queixas comuns aí em cima, ainda acho que as vantagens compensam em muito as desvantagens:
  • Ciclofaixa chega a reunir 10 mil pessoas em um único domingo. Na foto, o Parque das Bicicletas no dia da inauguração. (Willian Cruz/Vá de Bike)

    A ciclofaixa é uma nova alternativa de lazer na cidade, estimulando o uso da bicicleta, mesmo tendo como objetivo direto apenas o lazer. A cidade de São Paulo carece de alternativas de lazer populares, gratuitas e envolvendo prática esportiva. A bicicleta atinge todas as classes sociais e todas as idades. É possível chegar a ela de trem, pois aos domingos o transporte de bicicletas nos trens da CPTM é permitido durante todo o dia.

  • A alta utilização mostra claramente que há demanda reprimida, tanto por espaços de lazer com bicicleta na cidade como para seu uso como meio de transporte. Só não vê quem prefere não ver. Criem melhores condições para o uso da bicicleta também nos dias úteis e mais pessoas deixarão o carro em casa.
  • Como é uma via segregada e em forma de “circuitinho de lazer”, faz sentido estar na esquerda, analisando pelo aspecto de segregação, pois isola e protege os ciclistas do tráfego motorizado. A CET ainda não entendeu que dá pra compartilhar a via. E não está preparada (e nem interessada) em incentivar o respeito por parte dos motoristas, a convivência pacífica entre os diferentes veículos e a tolerância no compartilhamento da via. Isolar, proibir e impedir é sempre mais fácil que resolver de fato um conflito.
  • Aos domingos, no entorno da ciclofaixa, cria-se um fluxo considerável de bicicletas utilizando as ruas e dividindo-a com os carros. É muito comum ver pessoas indo e voltando da ciclofaixa pelas ruas, até mesmo com crianças. Quanto mais ciclistas nas ruas, mais os motoristas se acostumam com sua presença, o respeito ao uso da bicicleta aumenta aos poucos e as ruas vão se tornando mais seguras para todo mundo – até mesmo para os motoristas, que passam a dirigir com mais cuidado.
  • A ciclofaixa anima mais pessoas a usar a bicicleta e algumas delas passam a utilizá-la também fora da ciclofaixa. É um “útero” de novos ciclistas.
Futuros ciclistas urbanos? Cicloativistas trabalham por cidades em que eles, também, possam pedalar em segurança. (Willian Cruz/Vá de Bike)

Milhares de pessoas estão tendo seu primeiro contato de bicicleta com as ruas movimentadas de São Paulo na segurança da Ciclofaixa de Lazer. Muitas dessas pessoas começarão, em algum momento, a usar a bicicleta também em outras situações. É por isso que ciclofaixas e ciclovias podem ser considerados úteros de novos ciclistas.

Ok, muitos dos que ali frequentam são “natimortos”, que embarcam em suas SUVs na hora de ir embora. Mas assim como na natureza, onde há espécies que botam milhares de ovos para resultar em apenas algumas dezenas de descendentes, a ciclofaixa acaba por nos trazer algum sucesso evolutivo. Portanto, deixemos os ovos chocarem ao sol nas manhãs dos domigos, alguns deles hão de eclodir em uma nova geração de ciclistas. Uma geração que nascerá devorando aos poucos o organismo carrocrata onde nasceram, de dentro para fora, sem alarde, até consumi-lo de forma irremediável.

Cabe a nós, ciclistas mais experientes, ajudar esses novos filhotes a pedalarem sem as rodinhas da ciclofaixa, perdendo o medo de voar e conquistando finalmente sua liberdade. Por isso é importante o trabalho voluntário de bike anjo.

Conclusão

Apesar dos pontos a melhorar (e note que praticamente todos dependem unicamente da CET), a Ciclofaixa de Lazer traz benefícios para a cidade, para os “ciclistas de fim de semana” e para o uso da bicicleta em geral, acostumando aos poucos os motoristas à presença das bicicletas – não por efeito direto, mas pela presença de bicicletas indo ou voltando da ciclofaixa.

O que temos que nos atentar é que iniciaitivas como ciclofaixas e ciclovias de lazer (como é a Rio Pinheiros) sejam vistas como solução de mobilidade para a cidade, nem usadas como argumentação para mostrar um trabalho a favor de seu uso como meio de transporte. A bicicleta tem que deixar de ser vista como brinquedo pela administração pública. Sim, ela pode ser um brinquedo, mas pode ser muito mais que isso quando vista por olhos sem preconceito.

Não podemos permitir que a prefeitura utilize iniciativas como essa para convencer os ciclistas e a imprensa de que está trabalhando em favor dos ciclistas urbanos da cidade, amenizando as cobranças e livrando-se da necessidade de um plano cicloviário sério, integrado, abrangente ecorretamente planejado. Queremos pedalar também ao trabalho, à escola, à casa de amigos, não apenas de um parque a outro no final de semana.

Mais do que ciclofaixas e ciclovias, precisamos de respeito. Tanto dos motoristas quanto da Secretaria de Transportes. O que ocorre em São Paulo é que outras secretarias, excedendo-se em suas atribuições, esforçam-se para incluir a bicicleta no planejamento da cidade, já que a secretaria de Transportes, orgão que deveria promover esse avanço, mal se mexe, justificando sua inércia com pequenas ações de apoio a projetos de outras secretarias e de subprefeituras.

Essa situação é revoltante e precisa mudar. Mas não é por isso que não vamos apoiar a ciclofaixa, uma iniciativa ótima e que traz muitos benefícios para a cidade de São Paulo, principalmente em termos de lazer. Ainda mais sabendo do empenho que várias pessoas na Secretaria de Esportes, em especial Walter Feldman e Daniel Guth, tiveram para que a ciclofaixa conseguisse sair do papel.

Inauguração do novo trecho

Como dito no início do texto, a inauguração está prevista pra o dia 23 deste mês, obviamente um domingo. Veja mais detalhes sobre hora/local da inauguração e o mapa do novo trajeto.

Veja no vídeo abaixo como foi a inauguração do primeiro trecho, em 2009:

8 comentários em “Ampliação da Ciclofaixa de Lazer de São Paulo

  1. Bela matéria William, gostei em especial do trecho sobre como é feita a contagem da malha cicloviária da cidade. Eis o trecho:

    “A ciclofaixa é contada como parte da infraestrutura cicloviária da cidade pela secretaria municipal de transportes,[…] E sua extensão é contada duas vezes, uma na ida e na volta, […] Os 5 km viram 10, e agora que serão 15 certamente virarão 30 nas informações oficiais”.

    Pra mim tudo bem, conta a ida e a volta, (que nem um aparelhinho de ciclo computador. Porém, que tal a CET, SMT, PMSP, ou qualquer um adotar essa nova medida para medir o trânsito na cidade? Principalmente nas ruas e avenidas de mão dupla.

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  2. (agora sim comento no lugar certo!)
    Além do ‘esquecimento’ sobre a Ciclovia Rio Pinheiros, acho que faltou ‘lembrar’ da Ciclovia que há no canteiro central da Faria Lima. É um outro caminho de ligação entre o Parque do Povo ao Villa-Lobos.

    Inclusive poderia ser motivo para melhorar vários trechos ali, que estão bem prejudicados pela falta de planejamento das obras no Lgo. da Batata, crateras, subitamente a ciclovia acaba, inseriram uns pontos de ônibus (que prejudica quem usa este transporte), estacionamentos improvisados, etcs.

    Enfim, vamos ver se um dia acordo cedo e confiro esse percurso todo.

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  3. Perfeito, Willian.

    Questiono apenas as críticas a respeito da utilização da faixa da esquerda. Não acredito que incentive o ciclista a pedalar nesta faixa quando não há segregação. O CTB é muito claro quando diz que o ciclista deve estar nos “bordos” do viário (entende-se, portanto, lados esquerdo e direito). Com uma prática mínima e até um senso óbvio de observação, o ciclista perceberá que a faixa da direita é mais adequada (até porque os veículos mais lentos devem se manter nesta faixa).
    Já que se trata de uma faixa segregada, com propósito claro de lazer, até o canteiro central seria funcional. Muitas ciclovias – incluo as bem construídas e funcionais – também foram construídas seguindo o canteiro central.
    Como temos o primeiro trecho inaugurado desde Agosto de 2009, já se percebe maior assimilação dos motoristas quanto à sinalização, respeito e regras mínimas de compartilhamento. Falo por experiência própria: nunca fui xingado por pedalar fora do domingo (e olha que a minha rotina diária inclui todo o percurso da ciclofaixa).

    Entenda que a minha opinião vem carregada da responsabilidade de um dos operadores e mentores disto desde o início…

    Última questão, ainda estagnada na minha mente: Há uma clara resistência às políticas implementadas (e não implementadas) para a bicicleta na cidade. Eu também sou (e sempre fui) muito crítico a elas.
    Acho que faltam muitas coisas, particularmente infra-estrutura cicloviária. Mas há um aspecto que você tocou e que pela primeira vez eu vi escrito e valorizado: a criação de uma cultura favorável à bicicleta.

    Lembremos do impressionante dado de que há mais de 4 milhões de bicicletas paradas na cidade de Sâo Paulo. Isto significa que a opção pelo modal passa por um processo de escolha e não apenas de acesso. O deslocamento dos usuários do Pq Ibirapuera é de 4 a 5km em média (ou seja, saem de casa com seus carros, dirigem 4/5 km, estacionam e tiram a bicicleta do porta-malas ou sem para correr no parque). O que os impede de sair a pé de casa? O que os impede de sair pedalando de casa?

    São relevantes questões para debatermos o que é mais importante: termos uma perfeita e capilar malha cicloviária ou investirmos na criação de uma cultura que nos leve naturalmente a uma adequação das nossas vidas, considerando o modal bicicleta como primeira opção?

    Certamente as duas coisas concomitantemente. Ouso dizer até que a criação de uma cultura perene seja mais urgente do que a estrutura cicloviária. Então pergunto: Por que há resistência pela criação de ciclofaixas de lazer? Por que há resistência com importantes passeios como o Bike Tour (que já injetou mais de 15 mil novas bicicletas nas ruas ou garagens de SP)?

    A bicicleta não é um fim. Nem como modal, tampouco como tema de vida. Exemplo disto é o cicloativismo, que aparentemente condena a bicicleta vista como lazer, mas agrega temas como meio ambiente, nutrição, urbanismo, turismo, na mesa de debates. Por que é tão difícil conceber que 20 mil pessoas pedalando todos os domingos representam todos estes temas juntos? Além da incubadora de novos ciclistas, é também uma incubadora de pessoas mais fraternas, mais felizes, mais atentas à cidade.

    Para concluir, sou um ferrenho defensor desta fração de políticas públicas que concebemos para enaltecer uma nova ciclo-cultura na cidade. Não voltaria atrás em nada e ouso dizer que vamos ampliá-las todas.

    A fração de políticas públicas de infra-estrutura cicloviária, no entanto, é um novo capítulo para debates.

    Daniel Guth

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  4. Concordo em tudo que vc falou.. só discordo que a ciclovia rio pinheiros é de lazer… claro 90% dos usuarios que usam é só nos finaisde semana ..eu uso todo dia praticamente… e vejo alguns também.. aquilo foi uma obra espetacular… devia ser feita a 20 anos atrás..

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  5. Esses dias estava me perguntando o que eram essas faixas vermelhas pintadas perto da USP.
    E elas já fizeram efeito, levei um xingão e uma fina de um taxista na frente do parque Villa Lobos hoje de manhã, afinal, bicicleta é pra andar na ciclofaixa nos horários determinados.

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