As crianças que trouxeram vida às ruas de Amsterdam

Na década de 1970, crianças holandesas foram às ruas protestar pelo direito de brincar sem serem ameaçadas por automóveis. Deu certo.

Documentário holandês mostra a mobilização de crianças de um bairro de Amsterdam para ter ruas livres para brincar. Foto:Reprodução/YouTube
Documentário holandês mostra a mobilização de crianças de um bairro de Amsterdam para ter ruas livres para brincar. Foto:Reprodução/YouTube

Uma rua barulhenta de buzinas e motores. Lixo nas esquinas e perigo constante para chegar de um lado ao outro da via, atravancada de carros estacionados e outros engarrafados, sufocando o espaço já estreito.  Uma rua como tantas nos bairros mais populosos, onde famílias com filhos não têm outra escolha senão mantê-los em casa para ver TV, em apartamentos apertados, porém densamente povoados.

Esse panorama, bem comum em diversas cidades brasileiras, era o cenário predominante em Amsterdam, capital da Holanda, em 1972, mais precisamente no bairro De Pijp. Impedidas de brincar, as crianças da região resolveram tomar uma atitude: questionaram os adultos e exigiram, daquele universo que não os incluía, que os carros saíssem dali. Eles tinham chegado à conclusão de que o intenso tráfego motorizado os impedia de viver sua infância e, pior, traziam risco de machucá-las.


A saga das crianças do bairro De Pijp foi retratada em um documentário realizado naquele ano (a versão editada tem legendas em inglês), que mostra um choque de gerações, com adultos que sequer cogitavam a possibilidade de fechar o tráfego aos carros e outros que, como o violento motorista da Kombi branca no minuto 4:17, queriam simplesmente fazer valer sua vontade à força.

No entanto, as crianças holandesas, resolutas e com argumentos bem embasados, mostravam o problema e apresentavam a possível solução: queriam uma rua fechada aos automóveis, na qual pudessem circular com segurança. Além disso, queriam diminuir o limite de velocidade para 30 km/h onde houvesse tráfego de veículos. “Todos os espaços são usados para estacionar. Por que não podemos andar em nossas bicicletas?”, questiona um menino.

Atualmente, as ruas do bairro De Pijp e de diversos pontos de Amsterdã são propícias à circulação de pessoas, em prioridade aos veículos motorizados. Crédito: Google Street View
Atualmente, as ruas do bairro De Pijp e de diversos pontos de Amsterdã são propícias à circulação de pessoas, em prioridade aos veículos motorizados. Crédito: Google Street View

Mobilização necessária

Apesar de o vídeo terminar com um homem que faz uma promessa não muito convincente, hoje sabemos que a mobilização infantil do bairro De Pijp trouxe resultados duradouros. Mais de 40 anos depois, não só as ruas daquela localidade, mas de diversos pontos em Amsterdam, têm uma circulação segura de pedestres e, sobretudo, são locais de convivência humana.

É possível brincar, conversar e passear sem que a mobilidade urbana seja comprometida. A capital holandesa é, hoje, um dos referenciais mundiais de eficiência no transporte graças ao equilíbrio real entre o uso de bicicletas, carros, transporte público e deslocamentos a pé.

Mostrando que ao privilegiar apenas o automóvel as perdas eram maiores que os ganhos, as crianças do De Pijp deram um exemplo de ação direta que é adotada por outros grupos descontentes com o rumo que muitas cidades tomaram. Inspire-se!

Veja também: Consertando as cidades

3 comentários em “As crianças que trouxeram vida às ruas de Amsterdam

  1. E mais: o bairro ganhou as árvores que o garoto tanto queria!

    Vamos lá, criançada de São Paulo, já pra rua, tomar conta do espaço que é de vocês!

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