Ciclista Gisele Valle vindo do Jardim Satélite, na zona sul, e indo para o trabalho na Vila Tatetuba, na zona leste. Foto: Federica Fochesato

São José dos Campos (SP) tem sua primeira contagem de ciclistas

Contagem foi feita em uma das passarelas sobre a Dutra, que faz a conexão sul-centro. Cidade tem 42 mil viagens de bicicleta/dia (2,58% dos deslocamentos).

Ciclista Gisele Valle vindo do Jardim Satélite, na zona sul, e indo para o trabalho na Vila Tatetuba, na zona leste. Foto: Divulgação
Ciclista Gisele Valle vindo do Jardim Satélite, na zona sul, e indo para o trabalho na Vila Tatetuba, na zona leste. Foto: Federica Fochesato

São José dos Campos, município localizado a cem quilômetros de São Paulo e que possui cerca de 700 mil habitantes, realizou em agosto sua primeira contagem de ciclistas, impulsionada pelo coletivo Ciclistas de São José. O objetivo do levantamento é dar visibilidade às pessoas que pedalam pela cidade por meio do registro do número de viagens e trajetos realizados com esse modal de transporte. Com dados em mãos, torna-se mais forte e palpável a pressão exercida pela sociedade civil para que o poder público implemente políticas públicas de mobilidade na cidade.

Em São José, foi escolhida para a contagem uma das passarelas sobre a rodovia Presidente Dutra (conhecida como Passarela do Vale Sul), que faz a conexão sul-centro. Foram computados os ciclistas que circulam sob aquele eixo da Dutra em seus dois sentidos, suas marginais, nos acessos ao anel viário e na própria avenida Andrômeda, que também desemboca e tem a sua ciclovia no canteiro central – aliás, esta foi a primeira ciclovia a ser construída em São José, há 13 anos.

Sobre a passarela foi registrada uma ampla conexão de percursos que não oferecem nenhuma infraestrutura aos que estão de bicicleta ou a pé, mas que acabam tendo que ser enfrentados quando se trata de atravessar a Dutra para chegar “do lado de lá”.

Voluntário Allan Yu Iwama no cafezinho das 17h30 durante a contagem. Foto: Federica Fochesato
Voluntário Allan Yu Iwama no cafezinho das 17h30 durante a contagem. Foto: Federica Fochesato

Metodologia

Com apoio técnico da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), cerca de 20 voluntários organizados pelas redes sociais ajudaram no levantamento dos dados, durante 14 horas, dividindo-se entre contagem, apoio para lanche, tabulação e outras tarefas. A voluntária Cristina Bestetti, que sequer tem uma bicicleta, conta que participou para fortalecer as ações do grupo e por acreditar que os dados ajudam a subsidiar reivindicações. “O aumento do uso das bicicletas possibilita a ocupação dos espaços da cidade de uma outra forma, humanizando-os e democratizado a mobilidade”, disse.

A tabulação e a análise dos dados estão em andamento e assim que forem finalizadas novas ações estratégicas junto à prefeitura serão traçadas pelo coletivo Ciclistas de São José. No momento, o coletivo vem testando um segundo ponto de contagem na zona leste de São José. Os resultados da contagem serão divulgados aqui no Vá de Bike.

Sem avanço

Um dos motivos que levou à realização dessa primeira contagem em São José dos Campos foi o fato de o Plano Cicloviário da cidade, que integra o Plano Municipal de Mobilidade Urbana (Planmob), não ter apresentado nenhuma solução para o local. Ou melhor: foi apresentada uma solução que penalizaria ciclistas e pedestres fazendo-os andar (ou pedalar) mais por trechos de acentuado aclive/declive para acessar as extremidades da via. Por ocasião da discussão do Planmob realizada em duas audiências públicas em maio desse ano – e diante da insatisfação de ciclistas –, o secretário de Transportes da cidade, Luiz Marcelo Santos, disse que iria rever os traçados em busca de uma solução.

Após esta declaração oficial, a prefeitura de São José dos Campos passou a dizer que com a futura instalação do BRT, a solução seria alcançada, já que “em todo o seu trajeto (que engloba a região em foco) está prevista a ciclovia”. No entanto, o trâmite do BRT segue a passos lentos quanto à licitação, além do fato de haver dúvidas técnicas sobre seu traçado e a real viabilidade para a inclusão das ciclovias. Com isso, fica o claro o temor dos ciclistas da cidade de que tudo permaneça exatamente como está, e a necessidade do levantamento de dados que subsidiem futuras pressões sobre o poder público.

Uso do carro acima da média nacional

Em São José dos Campos, a pesquisa Origem Destino (OD) realizada em 2011 pelo IPPLAN (Instituto de Pesquisa, Administração e Planejamento de São José dos Campos), apontou 41.990 viagens de bicicleta ao dia, o que representa 2,58% do total de deslocamentos feitos com outros modais de transporte. O percentual corresponde à média nacional para municípios de mesmo porte segundo a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos). Ainda segundo a OD, a duração média da viagem de bicicleta é de cerca de 22 minutos. Outro dado relevante da pesquisa, e também preocupante, é o percentual de uso do modo automóvel: 44%, 12 pontos acima da média nacional. Num momento em que a Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 12.587 de 2012) traz em suas diretrizes a preferência do transporte público e dos modos não motorizados sobre o transporte individual motorizado, fica evidente que em São José a urgente tarefa de redução do uso do automóvel nos deslocamentos será bem árdua.

Vale destacar que a pesquisa OD está entre os estudos que embasaram o Plano Municipal de Mobilidade Urbana (Planmob) apresentado em maio deste ano à população durante duas audiências públicas. Atualmente, o plano segue em fase de revisão para que possa ser efetivamente sancionado pelo poder Executivo. Quanto ao Plano Cicloviário apresentado como parte do Planmob, foram feitos diversos apontamentos e sugestões por parte do coletivo Ciclistas de São José – principalmente sobre os traçados das ciclovias a fim de melhor interligá-las.

A pesquisa Origem Destino aponta ainda que “parcela de ciclistas que se dirigem do centro para as macrozonas sul e oeste (mais de 10% das viagens em ambos os casos) e também a grande proporção de ciclistas que se dirigem da macrozona oeste para a macrozona sul (11,4% dos deslocamentos ciclísticos partindo daquela macrozona)”. Ou seja: a própria pesquisa deixa claro que, mesmo sem uma infraestrutura adequada às bicicletas, muitos ciclistas enfrentam as duras transposições da Dutra e seu entorno nos trajetos centro-sul e oeste-sul. O ciclista existe, circula e resiste diariamente dentro de um município que prioriza, acima de tudo, a fluidez dos veículos motorizados individuais.

Hoje, a malha cicloviária joseense possui 68 quilômetros de vias entre ciclovias, ciclofaixas e calçadas compartilhadas, porém de baixa conexão entre si.

Ciclista descendo pela passarela. Pista logo ao lado é o sentido Dutra Rio-São Paulo, muito utilizado pelos ciclista na mão ou na contra-mão. Foto: Federica Fochesato
Ciclista descendo pela passarela. Pista logo ao lado é o sentido Dutra Rio-São Paulo, muito utilizado pelos ciclista na mão ou na contra-mão. Foto: Federica Fochesato

6 comentários em “São José dos Campos (SP) tem sua primeira contagem de ciclistas

  1. Mto boa a reportagem. São José precisa de meios de transporte alternativos, mas para funcionar o transporte de bicicleta, a prefeitura precisa interligar as ciclovias.

    Bjos.

    Thumb up 0 Thumb down 0

  2. Não é de se estranhar que o uso do carro em SJC seja tão alta…não há nenhuma opção de deslocamento para o carro que não seja o ônibus. Não tem metrô e nem trem. Se antes houvesse uma malha cicloviaria de pelo menos 200 km e toda interligada, poderia ser uma opção para deslocamentos curtos e médios.

    Uma cidade extremamente rodoviarista. E bem mais quente que SP.

    Thumb up 0 Thumb down 0

  3. Que maravilha, mudei de volta para SJC de SP e vocês também postam sobre nossa cidade aqui 🙂

    Infelizmente aqui é mais dominado pelos carros ainda. Um inferno total. Carros buzinam e mandam você pra calçada. O pior é que em muitas ruas principais há estacionamentos para carros!

    Thumb up 0 Thumb down 0

  4. Parabéns pela matéria Kika!
    Que possamos nos manter unidos e ativos nesta busca de soluções por uma cidade melhor e mais democrática.

    Thumb up 0 Thumb down 0

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *