Bicicletas de varias operadoras amontoadas em calçada de Shangai (China). Foto: Ctny (cc)

Vêm aí as bicicletas compartilhadas sem estação, em São Paulo

Conheça as vantagens e desvantagens desse sistema e como ele tem funcionado em outros países

Bicicleta compartilhada em sistema dockless em Nijmegen, na Holanda. Foto: Willian Cruz

Três meses depois do prefeito João Doria prometer 10 mil bicicletas compartilhadas em São Paulo dentro de um ano, a Secretaria de Mobilidade e Transportes (SMT) abriu o credenciamento para empresas interessadas em operar o novo sistema na cidade. Entre as novidades, a Prefeitura abre a possibilidade de sistemas sem estação de estacionamento (dockless ou freefloating).

Sistemas que dispensam uma estrutura para fixar a bike são utilizados em muitas cidades no mundo, trazendo tanto vantagens quanto problemas. Quando estivemos este ano em Nijmegen, na Holanda, pudemos utilizar um desses sistemas em situações reais de deslocamento (veja vídeo) e isso ajudou na nossa avaliação.

Vantagens

Alta disponibilidade: sem precisar de estações, fica fácil encontrar uma bicicleta dockless em pontos de grande movimento. Na foto, um ponto turístico em Milão (Itália) Foto: Mobike/Divulgação

A principal vantagem é a disponibilidade porta a porta: quando a quantidade de bicicletas é alta e há bastante utilização na região onde você está, é fácil encontrar uma bicicleta disponível por perto e ela pode te levar até exatamente seu local de destino, sem que você precise procurar uma estação para deixar a bicicleta e depois se deslocar de outra forma até onde pretende ir. Para encontrar uma bike disponível, você consulta um aplicativo que aponta onde elas estão.

Outra vantagem é que, sem o custo das estações, o sistema tende a ser mais barato, permitindo um número maior de bicicletas com o mesmo investimento.

Desvantagens

Quanto às desvantagens, uma delas é também a disponibilidade. Vamos explicar com um exemplo claro. Em São Paulo, a maioria dos deslocamentos se dá em direção ao centro da cidade ou aos centros econômicos da cidade, como Berrini e Paulista. Isso significa que essas bicicletas tendem a migrar todas para essas regiões no começo do dia e, se você precisar de uma no meio da manhã e estiver fora dessas áreas, terá dificuldade em encontrar uma.

Se considerarmos que os sistemas que dependem de estações também tem esse problema para resolver, a solução deve ser a mesma para ambos: redistribuir as bicicletas nos pontos de retirada ao longo do dia. Mas quando as bikes ficam espalhadas, em vez de concentradas em estações, a logística da coleta para redistribuição se torna um desafio.

Bicicletas de sistema dockless espalhadas ao longo de calçada em Pequim (China). Foto BabelStone(cc)

Outro problema está intrinsecamente ligado à desnecessidade de estações. Como as bicicletas podem ser deixadas literalmente em qualquer lugar – no meio da calçada, por exemplo -, essa característica pode se tornar uma grande dor de cabeça para a mobilidade a pé. Basta imaginar as calçadas de uma avenida como a Paulista passando o dia apinhadas de bicicletas utilizadas por quem chegou ali pedalando de manhã.

Essa situação tem causado polêmica em muitos países, gerando uma forte reação de pessoas e movimentos que já eram contrários à utilização da bicicleta e que passam a ter fortes argumentos para contestar os sistemas de bike sharing. E isso gera um outro problema.

Bicicletas de várias operadoras amontoadas em calçada de Shangai (China). Foto: Ctny (cc)

Como a bicicleta estacionada não está fixa a uma estrutura, fica muito mais vulnerável à depredação. Em muitas cidades, bicicletas tem sido vandalizadas por quem não aguenta mais vê-las espalhadas para todos os lados. Alguém para uma bicicleta no meio da calçada, outra pessoa se revolta com a situação e “resolve o problema” ali na mesma hora, derrubando e amassando a bicicleta, inutilizando-a ao menos temporariamente. Ou a atira em um rio.

E por serem muitas vezes bicicletas com baixo custo de produção (e também baixa qualidade), pode ser mais barato colocar mais uma em circulação do que recolher e consertar a estragada. Nesse momento elas começam a virar entulho e ocupar cada vez mais espaço. E a irritação da população aumenta, principalmente a de quem não utiliza o sistema e vê nas bicicletas espalhadas indisciplinadamente um grande estorvo.

No vídeo abaixo, uma mulher vandaliza uma bicicleta dockless em Washington, descontando toda sua raiva acumulada.

Tentando evitar os problemas

Em muitos casos, as operadoras de sistemas dockless simplesmente chegam em uma cidade espalhando suas bicicletas, sem regulamentação ou consulta à municipalidade – como, sejamos sinceros, tem feito o Uber, com todas as benesses e problemas dessa estratégia. Para evitar isso, São Paulo se antecipou criando regras que tentarão conter o problema que se avoluma no horizonte e que, a médio prazo, terá que se enfrentado por toda grande cidade.

A prefeitura também tenta evitar o problemas de bicicletas abandonadas. Na Resolução que regulamenta o novo serviço de bicicletas compartilhadas (Resolução CMUV nº 17, de 12/12/2017), há uma cláusula obrigando a operadora a “retirar as bicicletas e equipamentos danificados das vias e logradouros públicos”.

O estacionamento inadequado também é uma preocupação da Resolução, sendo citado em diversos momentos no texto:

  • as bicicletas devem ser disponibilizadas em locais que não prejudiquem a livre circulação de pedestres;
  • esses locais devem ser aprovados previamente pela Prefeitura;
  • as operadoras devem “adotar medidas para incentivar o cumprimento, pelos usuários, das regras sobre espaços de estacionamento”, sem entretanto sugerir quais poderiam ser essas medidas;
  • deve-se exigir dos usuários a devolução das bicicletas “em locais que não interfiram na circulação dos pedestres e seus fluxos” ou que prejudiquem a acessibilidade.

Convenhamos: a exigência às as operadoras de que “incentivem e exijam” dos usuários que as bicicletas não prejudiquem os pedestres não é exatamente uma garantia de que isso não acontecerá. Só nos resta esperar que tudo dê certo.

Em muitas cidades, bicicletas abandonadas ou estacionadas inadequadamente são confiscadas pela municipalidade. O resultado, em uma grande cidade, pode chegar ao que se vê no vídeo abaixo, que mostra mais de 10 mil bicicletas confiscadas na cidade de Hefei, na China, por violarem regras de estacionamento ou serem descartadas nas ruas. Dá para ter uma ideia do ponto em que podemos chegar sem regulamentação e fiscalização adequada. Para estabelecermos uma comparação, Hefei tem cerca de 8 milhões de habitantes, contra os 12 milhões de São Paulo (dados de 2016).

16 comentários em “Vêm aí as bicicletas compartilhadas sem estação, em São Paulo

  1. “Mas quando as bikes ficam espalhadas, em vez de concentradas em estações, a logística da coleta para redistribuição se torna um desafio.”

    Eu acho que isso pode ser amenizado fornecendo alguma vantagem ao usuario se ele deixar a bicicleta em um determinado ponto ou proximo a ele (tipo até 3 quadras do shopping tal por exemplo)

    Queria entender também se não tem estação então qualquer um pode sentar nela e pedalar, tem algum tipo de trava?

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  2. Uma melhoria seria a de que a cidade tivesse muitos paraciclos, e a bicicleta tivesse uma trava eletrônica que se encaixaria no paraciclo ( padronizado, é claro ). Assim, teria a vantagem do sistema de estação, e disponibilidade de haver no próximo paraciclo. Poderia se pensar em uma trava que pudesse ser usada em postes e grades, mas acho que isto não seria boa idéia.

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  3. Desculpe usar o comentário para fazer uma denúncia mas não tenho Facebook.

    A Prefeitura de São Paulo está usando o Programa Asfalto Novo para destruir a ciclovia da Av. Engenheiro Caetano Álvares na Zona Norte. Dois quarteirões no sentido bairro já foram destruídos. Não sei se isto está acontecendo em outros pontos da cidade. Não há indicação de que a ciclovia será refeita. É péssimo pois ela é muito usada por pessoas que vão para o trabalho de bicicleta.

    Será que o Vá de Bike poderia ver o que está acontecendo?

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    1. Oi, Clara. A prefeitura garante que a ciclovia será reposta. Isso está sendo feito em muitas avenidas na cidade. De qualquer forma, deveria ter sido feita sinalização com cones para garantir a segurança dos ciclistas durante esse período, ou no mínimo faixas dizendo aos motoristas para proteger quem circula de bicicleta. Agora é torcer para que a estrutura realmente volte e que não tenha sua largura reduzida, como aconteceu na Líbero Badaró.

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    1. Ambos são bons, e não são excludentes.
      Para muitos usuários o sistema dockless dá mais agilidade e liberdade que estações fixas.
      A esperança é de que ambos sejam implantados e cada ciclista use o que preferir.

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    2. Lamentavelmente a tembici elitizou seu sistema cobrando valores absurdos de adesão aos planos, excluindo muitos de seus antigos usuários e desestimulando o acesso aos futuros, depois disso, mais do que nunca a esperança está na chegada das bikes sem estação.

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      1. Onde vocês.viram valores absurdos na Tembici? 0,50 centavos por dia para aquela qualidade de serviço não é nada absurdo, ainda mais pondo em vista que o sistema pode substituir uma integração tarifada de ônibus e metrô pela bike, são 2,96 por trecho de economia.

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        1. Em 4 anos de bikesampa gastei 15 reais, no modelo atual os próximos 4 anos me custarão mais de 600(dá pra COMPRAR uma bicicleta de qualidade), é uma diferença significativa, não?
          A cidade não tem malha cicloviária suficiente pra garantir todo o trajeto da maioria das pessoas, e para quem mora longe muitas vezes o percurso excede uma hora, portanto é falacioso dizer que ele estimula inter-modalidade já que não oferece desconto nenhum a quem integra a bike com transporte público, passou a ser muito mais barato pegar 2 ou 3 ônibus do que fazer o uso ônibus-bike.
          Os valores estão ABSOLUTAMENTE DESPROPORCIONAIS ao serviço prestado.

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        2. É triste porque no antigo modelo de preços, não era tão difícil convencer pessoas a pelo menos experimentar o uso da bike em parte de seus trajetos, nem que fosse aos poucos, uma vez por semana, ou por mês. Agora virou “pregação pra convertido” quem já pedala em alguns casos até vai ver vantagem em pagar esses valores, alguns como eu serão obrigados a trocar a bike de parte do trajeto pelo ônibus mesmo, e quem ainda não experimentou a bike, já será mais resistente a começar.
          Uma coisa seria cobrar esses valores em uma cidade com mobilidade ativa consolidada, outra é cobrar isso quando ainda estamos fazendo o trabalho de formiguinha para mostrar pro paulistano que a bicicleta compartilhada é uma boa alternativa em seus trajetos.

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