Oficializando o compartilhamento das vias. Foto: Vá de Bike

Ciclorrotas

Oficializando o compartilhamento das vias. Foto: Vá de Bike

A Companhia de Engenharia de Tráfego da cidade de São Paulo vem realizando um ótimo trabalho em sinalizar o compartilhamento das vias e a presença de bicicletas, em um formato de infraestrutura cicloviária chamado Ciclorrota.

As Ciclorrotas representam os melhores caminhos para se trafegar em bicicleta. Costumam ser sinalizadas em caminhos e vias que já existem e já são utilizados por ciclistas mais experientes, que conheciam bem as ruas dos bairros. A sinalização atua tanto para indicar aos ciclistas quais as melhores ruas para se utilizar, quanto para torná-las ainda mais seguras, diminuindo a velocidade dos automóveis e estimulando o compartilhamento das vias.

As vias sinalizadas indicam a presença e a preferência da bicicleta sobre os demais veículos, como rege o código de trânsito para todas as vias. Portanto, o principal objetivo de uma Ciclorrota é garantir o óbvio, o direito de circulação das bicicletas.

Não há horário de funcionamento, como é de se esperar de qualquer infraestrutura cicloviária séria que seja voltada ao transporte. A Ciclorrota é permanente, disponível para os ciclistas em qualquer dia, a qualquer hora, como as “rotas para os carros” (sinalizadas pelas placas verdes com os nomes dos bairros). Podem ser implementadas ciclofaixas ou ciclovias em trechos com maior volume ou maior velocidade de tráfego, como foi feito em Moema e no Butantã.

Vantagens

Ciclorrota em Moema. Foto: Vá de Bike

As Ciclorrotas costumam ser implementadas em regiões críticas, onde as avenidas principais são estreitas, com tráfego rápido e corredores de ônibus. Principalmente se não houver ruas paralelas às grandes avenidas que possam se tornar caminhos intuitivos.

Nesses casos, as rotas alternativas são entrecortadas e, para a maioria dos ciclistas, desconhecidas. O trabalho realizado pela CET é o de sinalizar e tornar mais seguras essas rotas, para que as pessoas que estiverem por ali de passagem as reconheçam e utilizem facilmente, em vez de correr riscos maiores nas vias principais.

Mas as vantagens não param por aí. A sinalização legitima a presença da bicicleta nas vias e estimula o compartilhamento e o respeito. Isso é o que o ciclista mais precisa. O custo é extremamente inferior ao de ciclovias segregadas, não há redução do espaço destinado ao automóvel e, como pudemos ver nas ciclorrotas já existentes, o tempo de implementação é muito mais curto.

A diminuição de velocidade para 30km/h, alteração comum nas ciclorrotas, é um ponto importante pois aumenta a segurança nas vias, tanto para os ciclistas como para os pedestres e os próprios motoristas.

Conceito original

Bicycle boulevard em Portland. Foto: Portland State University/Divulgação

O conceito das Ciclorrotas lembra os Bicycle Boulevards que existem em algumas cidades de outros países. Ruas que já possuíam menor tráfego têm sua velocidade reduzida e recebem sinalização vertical e horizontal, priorizando o uso da bicicleta e desencorajando o uso do automóvel.

Às vezes algumas quadras são fechadas para tráfego apenas local (de quem mora ali), exceto para quem passa de bicicleta. Cruzamentos e rotatórias são replanejados para tornarem-se mais seguros para o ciclista e os cruzamentos com vias arteriais recebem sinalização específica para os motoristas.

Muitos conceitos de traffic calming são utilizados nos Bicycle Boulevards, tornando o ambiente muito mais agradável e seguro para as pessoas que transitam a pé ou de bicicleta, priorizando a vida e não a fluidez. Os Bicycle Boulevards seguem o conceito de “cidades para pessoas”. E são um dos caminhos para se humanizar o trânsito da cidade.

A Universidade Estadual de Portland disponibiliza na internet um guia para a criação de Bicycle Boulevards. Há também o guia elaborado pela cidade de Berkeley, que implementou com sucesso diversos Bicycle Boulevards. Mais informações podem ser obtidas aqui.

Erros de avaliação

Habituados com ciclofaixas e ciclovias feitas apenas para o lazer, como a da foto acima, muitos jornalistas - e até "especialistas"! - têm dificuldade em compreender o conceito das Ciclorrotas, por não fazerem uso da bicicleta em seus deslocamentos. Foto: Vá de Bike

As vias sinalizadas como ciclorrotas não são caminhos exclusivos para bicicletas, como ciclovias e ciclofaixas. São espaços compartilhados, por isso não há a necessidade de cones, cavaletes, tachões ou outro tipo de separação física. Para entender melhor, veja aqui as diferenças entre ciclovia, ciclofaixa e ciclorrota.

As ciclorrotas também não são ligações entre pontos da cidade, nem roteiros para passeio (embora possa muito bem ser usado para isso). Esses são erros de avaliação que ocorrem frequentemente na imprensa e mesmo entre “especialistas” em trânsito (automotivo). Quem não usa a bicicleta em seus deslocamentos costuma ter dificuldade para compreender conceitos simples, porém incomuns para quem está acostumado apenas a dirigir ou usar o transporte público.

São rotas sinalizadas para tornar mais seguro o deslocamento de quem utiliza a bicicleta como meio de transporte, quando o ciclista precisar passar por aquela região – mesmo que seu destino seja outro lugar e ele esteja por ali de passagem. Por isso ela não se parece com um caminho para passeio, nem com uma ligação entre dois pontos. A ciclorrota é pensada para ser parte do trajeto.

Quem usa a bicicleta em seus deslocamentos não sai de casa para andar numa ciclorrota ou numa ciclovia. Sai para chegar a algum lugar, seja o trabalho, a escola, um restaurante ou a casa de alguém. E, se houver uma ciclorrota em seu caminho, esse deslocamento se tornará mais seguro e confortável.

Críticas por falta de entendimento

Foto: Ciclocidade

As principais críticas que circulam na imprensa invariavelmente incorrem nos erros de avaliação citados mais acima. Expectativas mal direcionadas e falta de compreensão do conceito fazem surgir afirmações como “leva do nada a lugar nenhum”, “há subidas” ou “passa por cruzamentos com avenidas”.

Ora, o objetivo da Ciclorrota não é levar de um ponto ao outro – como a Ciclofaixa de Lazer, que liga parques. É pura e simplesmente indicar os melhores caminhos para o tráfego de bicicletas e garantir sua prioridade e segurança nessas vias. A origem e o destino dependem de onde o ciclista veio e para onde ele vai. Não é um circuito de passeio e sim uma medida de apoio e incentivo ao deslocamento em bicicleta.

Subidas existem porque a cidade não é plana em sua totalidade. Existem trechos mais elevados, que obviamente precisam ser acessado através de uma subida. Ainda assim, as Ciclorrotas levam em consideração a altimetria, sinalizando as subidas menos íngremes. Analise as ruas ao redor de uma subida sinalizada e você verá que para evitar aquele trecho seria necessário utilizar outra subida mais íngreme, uma contramão ou um trecho arriscado de avenida.

Em um trajeto feito em bicicleta, quase sempre haverá cruzamentos com grandes avenidas. Há muitas na cidade, impossível evitar cruzá-las. Em alguns pontos, pode ser necessário até trafegar por elas por um curto trecho. A menos que a ideia fosse restringir a circulação do ciclista ao interior de bairros ou microrregiões, sem que ele pudesse se deslocar a outros pontos da cidade – o que não faz o menor sentido!

Críticas procedentes

Sinalização de solo em rua de paralepípedo, na Ciclorrota do Brooklin. Foto: Ciclocidade

Críticas mais procedentes citam o fato de haver ruas de paralelepípedos sinalizadas nas ciclorrotas. De fato, esse tipo de calçamento não é agradável ao ciclista e pode até prejudicar as rodas de algumas bicicletas. Compreendemos que a CET prefere sinalizar e oficializar a Ciclorrota sem ter que esperar pelo agendamento de um asfaltamento da rua, mas essa cobertura de asfalto, ainda que apenas na parte da via onde circulam as bicicletas, torna-se importante depois da implementação da rota. Esse asfaltamento deve ser cobrado pelo cidadão (sim, por você!) no site da prefeitura, pelo telefone 156 ou diretamente na subprefeitura da região.

Há também reclamações sobre a falta de fiscalização quanto à velocidade dos carros e à distância mínima de 1,5m para ultrapassagem, que não têm sido obedecidas. Para os motoristas levarem a sério essas determinações, é imprescindível que haja, ainda que eventualmente, fiscalização e punição. Essa fiscalização deve ser cobrada da CET (sim, por você!), através do telefone 1188.

Faixas ou placas comunicando a obrigação de guardar a distância de um metro e meio ao ultrapassar bicicletas também ajudariam bastante (art. 201 do Código de Trânsito). Muitos motoristas não sabem dessa distância ou não compreendem sua profunda importância. Entenda por que a distância de 1,5m é necessária.

As Ciclorrotas em São Paulo

O Vá de Bike preparou um mapa com as Ciclorrotas, Ciclovias e Ciclofaixas existentes na cidade. Algumas ciclovias ainda precisam ser incluídas, mas as ciclorrotas já estão todas mapeadas, inclusive as mais recentes (Lapa e Mooca).

3 comentários em “Ciclorrotas

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