Justiça protege lucro de montadoras em detrimento da saúde
As pessoas podem respirar ar sujo, as crianças podem ficar doentes, os idosos com falta de ar. Isso não tem problema. O que não pode é dar prejuízo para as montadoras.
É o que diz, indiretamente, o juiz Marcus Vinícius Kiyoshi Onodera, da 2ª Vara da Fazenda Pública, ao negar uma liminar do Ministério Público Estadual que impediria a venda de veículos a diesel com níveis excessivos de emissão de enxofre.
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As montadoras já tiveram tempo suficiente pra pensar no assunto do Diesel S-50 e tomar as medidas que deveriam ter sido tomadas. Há quase SETE ANOS, o Conama fez uma resolução obrigando a ter menos enxofre no diesel a partir de janeiro de 2009. Mas não quiseram “desperdiçar dinheiro” com essa bobagem e agora quem paga é a gente, com nossos alvéolos pulmonares.
O enxofre é o poluente mais nocivo à saúde humana e causa a morte de cerca de 3 mil pessoas ao ano só em São Paulo. O paulistano tem 20% mais risco de ter câncer de pulmão, 30% mais risco de sofrer doenças cardiovasculares e 12 pessoas morrem por dia em consequência direta da poluição. E 90% dessa poluição é causada pelos veículos automotores.
As montadoras e a Petrobras alegaram até agora que a ANP publicou as especificações do tal Diesel S-50 somente em outubro de 2007, o que “atrasou o cronograma”… Mas:
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1) Nos cinco anos que antecederam a divulgação da especificação, não dava pra ter uma idéia de como ela seria e já ir se preparando, pesquisando o assunto e tal? Afinal, há um padrão internacional para a quantidade de enxofre no diesel, não é?
2) Se há um padrão internacional para a quantidade de enxofre no diesel, qual a dificuldade em adaptar os carros, se TODAS as montadoras de veículos têm matriz no exterior e filiais no mundo todo? Nenhuma delas tem a tecnologia necessária já desenvolvida?
3) Catorze meses não foi tempo suficiente para desenvolver, adaptar – ou o raio que seja – os motores para trabalharem com o tal diesel? Nem o processo de produção do combustível para que ele esteja nos níveis internacionais?
Agora arrumaram uma desculpa melhor: a crise. Põe a culpa na crise que tá tudo certo. E o juiz, na melhor das hipóteses, acreditou na desculpa da crise e teve a boa intenção de salvar empregos ao custo de saúde e vidas.
As pessoas devem continuar morrendo porque as montadoras não quiseram gastar dinheiro numa coisa que não dava retorno financeiro, apenas salvava a vida das pessoas e zelava por sua saúde?
As montadoras têm mais é que se virar! Elas não dizem que se preocupam com o meio ambiente, não produzem carros ecológicos? Têm que dar um jeito! Não fizeram ainda? Que corram atrás do prejuízo! SE VIREM! Ou vão continuar matando gente?
Matar sem olhar nos olhos da vítima não pesa na consciência.
Os países ‘emergentes’ são atualmente palco das práticas outrora comuns no primeiro mundo. Infelizmente iremos passar por essa lavagem cerebral um bom tempo ainda, tanto por parte da população quanto por parte das autoridades, pois não devemos ferir o orgulho do Deus carro, que entope os intervalos comerciais com propagandas absurdas e representa um bem de valor inquestionável até para quem não possui. Quando chegar o dia da revelação, quando não houver mais jeito de manter esse sistema de transporte no mínimo insustentável, quando finalmente as pessoas abrirem os olhos, o preço pago terá sido a vida de milhares de seres humanos e animais, milhões de automóveis obsoletos sucateados entupindo as cidades, bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera, dentre outras coisas. Só espero que não seja tarde de mais. Até lá, sigo pedalando.
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