A polêmica sobre as ciclofaixas de Blumenau

Blumenau (SC) já tem ciclovias e ciclofaixas, mas elas não são interligadas. Existe um plano, que já está sendo colocado em prática, para interligar essas vias até o ano que vem, perfazendo um total de 145km. A Secretaria de Planejamento Urbano e a Seterb (Serviço Autônomo Municipal de Trânsito e Transportes de Blumenau) afirmam que essa é uma das medidas fundamentais para estimular o uso de meios de transporte alternativos e diminuir o número de carros nas ruas. E a Seterb vai além: reconhece a bicicleta como um dos mais seguros meios de transporte individual.

Turma do contra

Entretanto, sempre vai haver gente de visão estreita, com aquela velha opinião formada sobre tudo, achando que a bicicleta na rua atrapalha o trânsito. Os comerciantes reclamam, só conseguindo enxergar clientes que usam o carro. Além de reclamar da falta de estacionamento para os carros, ou seja, de não poderem usar a via pública para que seus clientes estacionem, alegam não haver necessidade de ciclofaixa porque passam poucos ciclistas na rua, sem perceber que é necessário ter infraestrutura para gerar demanda.

Estou certo de que se esses comerciantes colocassem uma cadeirinha na porta da loja para ver quantas pessoas passam de bicicleta ao longo do dia, perderiam o argumento. Ciclistas costumam ser invisíveis para quem está habituado a só prestar atenção nos carros.

Sinceramente, a posição dos comerciantes não me surpreende já que, pela visão enraizada de que gente com dinheiro é gente com carro, costumam reclamar até de ampliação de calçadas, sem enxergar que isso trará mais pessoas passando devagar em frente a suas vitrines (quando a reforma termina, as críticas somem). O que me surpreendeu foi a reação visceral do colunista de um jornal da cidade, Carlos Tonet.

Miopia

Tonet chama a ciclofaixa de “aberração urbana”, comete a bizarrice de dizer que a presença de ciclofaixas aumenta a poluição e até sugere, sabe-se lá se em tom de brincadeira, que se “raspe” a ciclofaixa dali. A lógica bisonha do jornalista é a de que ao utilizar para a ciclofaixa o espaço que seria dos carros, eles ficam mais tempo circulando, aumentando assim a poluição.

Para ele, a utilização dos carros é inevitável, portanto deve-se dar mais e mais espaço a eles, em detrimento dos demais usuários da via. Não percebe que quanto mais alternativas forem fornecidas ao uso de veículos motorizados de transporte individual, menos carros e motos poluirão o ar e ocuparão a rua. Ele até tenta fazer algum elogio ao uso dos ônibus, provavelmente tentando ser politicamente correto, mas nem passa por sua cabeça diminuir o espaço dedicado hoje aos carros para ampliar o espaço dado aos ônibus.

Ciclovia/ciclofaixa atrapalha os ônibus, que por sua vez atrapalham os carros. Ou seja: ônibus é legal, mas atrapalha os carros; ciclovia não serve pra nada e atrapalha os carros. Então tá!

Respostas às críticas

Diversos cicloativistas e entidades manifestaram publicamente seu desagrado com a falta de visão e a grosseria do jornalista. Estas duas páginas mostram algumas dessas respostas.

Reprise

Pensamento parecido tem Rob Anderson, um morador de San Francisco que acredita que o incentivo ao uso da bicicleta aumenta a poluição. Anderson frequentou audiências públicas sobre o plano de expansão das ciclovias da cidade, para expor seu ponto de vista e tentar barrar o projeto, mas foi ignorado.

Então, argumentando que não havia provas de que o aumento da infraestrutura para bicicletas diminui o uso do carro, Rob Anderson abriu uma ação contra a prefeitura de Los Angeles San Francisco exigindo um relatório de impacto ambiental. Um juiz o levou a sério e impediu que as obras continuassem.

Mas isso foi em 2008. De lá para cá, sua ofensiva demonstrou ter efeito contrário. A Agência Municipal de Transportes (MTA, na sigla em inglês), fez bem seu trabalho de casa. As implementações cicloviárias, que anteriormente seriam aprovadas uma a uma, foram agrupadas em um “pacote”. A MTA realizou estudos, convocou especialistas em planejamento cicloviário, em tráfego, fez audiências públicas e encontros com a comunidade e os comerciantes e até adaptou o projeto em alguns pontos de discórdia.

Agora o que se tem em San Francisco é um projeto amplo, ainda mais adequado que o original, com embasamento técnico e aprovação popular. Esse projeto deve ser implementado em breve.

Há Carlos Tonets que vem para o bem.

Nem tudo está perdido

Apesar de sempre haver jornalistas publicando bobagens baseadas em achismos, há sempre outros que apresentam uma visão mais coerente sobre o assunto, como Fabricio Cardoso. Vale a leitura.

10 comentários em “A polêmica sobre as ciclofaixas de Blumenau

  1. tenho o maior prazer em andar de bicicleta..vemos coisas sentimos a verdadeira essencia de como faz bem ter uma bicicleta tenho 30 anos e so ando de bicicleta nao pago impostos e nem faco parte da destruicao do planeta terra poluindo com os escapamentos suicidas entao amo minha bicicleta e nem troco por um carro…….quem tem medo da chuva e humano grande com pensamento pequeno

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  2. lamentável, infelizmente aqui no Brasil está cheio de gente que pensa como esse comentarista de Blumenau, só por que ele não anda de bike, acha que não é possivel ter a bike como meio de transporte, cérebro do tamanho de um grão de ervilha, lamentável mesmo.
    isso me lembra da ex-ciclofaixa de Garopaba, isso mesmo, já não existe mais a única ciclofaixa dessa cidade catarinense, quando fui para lá na fim do ano passado, até tirei fotos da ciclofaixa, que eu achava um exemplo a ser seguido, e como tinha gente andando de bike! era uma beleza.
    porém, devido a reclamação de comerciantes de “falta” de espaço para os carros ,o atual prefeito eleito cumpriu sua promessa: removeu a ciclofaixa.
    o efeito na primeira semana após esse des-serviço á sociedade, foi o atropelamento de pelo menos 2 ciclistas em apenas uma semana. mais uma vez, lamentável.

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  3. Sim, é San Francisco, erro meu. O Silvio Tambara também me mandou e-mail alertando. Eu tinha na cabeça que era LA, então escrevi o texto todo com a cidade errada e só depois me toquei que era SF. Saí mudando com pressa e subi o texto sem revisar. Valeu pelo toque!

    Ainda bem que eu tenho leitores atentos… 😉

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  4. Uma correçãozinha:

    Então, argumentando que não havia provas de que o aumento da infraestrutura para bicicletas diminui o uso do carro, Rob Anderson abriu uma ação contra a prefeitura de LOS ANGELES (não seria São Francisco?) exigindo um relatório de impacto ambiental. Um juiz o levou a sério e impediu que as obras continuassem.

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