Leitor afirma que bicicletas não podem usar as ruas, para não atrapalhar os carros

Um debate complexo no Vá de Bike: o leitor Ricardo Dirani tem toda a certeza de que ciclistas não devem usar as vias e que elas são de uso exclusivo dos automóveis. Veja seus argumentos e a opinião do Vá de Bike.

Um debate complexo anda acontecendo nos comentários de um dos textos do Vá de Bike. Um leitor, Ricardo Dirani, tem toda a certeza de que ciclistas não devem usar as vias e que elas seriam de uso exclusivo dos carros.

Sua argumentação se baseia no artigo 58 do Código de Trânsito, que afirma que os ciclistas devem usar os “bordos da pista”. Para Dirani, isso corresponde ao meio-fio e as bicicletas devem circular sobre a sarjeta. “É por onde eu vejo todo mundo que é louco de colocar uma bicicleta no meio do trânsito em Sampa”, afirma o leitor, apesar de sua página no Facebook contar que ele reside em Campinas.

Baseado em sua interpretação subjetiva da lei, Ricardo Dirani dispara frases que demonstram intolerância e falta de respeito pela vida humana, como quando diz que as Bicicletadas são “crimes”, comparando uma interrupção temporária no trânsito de automóveis (por causa de bicicletas, não por causa de outros carros) a assassinatos e estupros.

De uma lei extensa e intrincada como é o Código de Trânsito, Ricardo – não o Neis, dessa vez o Dirani – utiliza apenas um pequeno trecho de um único artigo para embasar sua argumentação egoísta e preconceituosa, deixando de perceber que o todo do Código de Trânsito prima principalmente pelo respeito à vida humana, acima até do direito de circulação.

Embora o discurso do leitor me incomodasse muito, pelo preconceito e agressividade sutilmente embutidos e por estimular atitudes agressivas contra ciclistas, evitei ao máximo escrever uma resposta até agora. Tento não entrar em conflito com quem comenta no Vá de Bike, permitindo seu direito de se expressar por mais equivocado que o leitor esteja, mas não posso correr o risco de permitir que algum desavisado acredite nos absurdos escritos ali.

Portanto, respondo com minha opinião através deste post. O direito de expressão do leitor continua valendo, afinal os comentários são abertos a qualquer um.

Frases

Algumas das frases que me estimularam a escrever este post:

“Sim. É crime [circular a uma velocidade baixa]. Cheque o artigo 48 [na verdade, se referiu ao 58, que diz para utilizar os bordos da pista]. Vocês têm que circular por via própria, e na ausência desta, junto ao meio fio, para não impor sua velocidade ao resto do trânsito.”

“Ah, mas disso eu tenho certeza [que as Bicicletadas continuarão ocorrendo]. Como continuarão acontecendo assassinatos e estupros. Sempre haverão [SIC] pessoas que se consideram acima da lei.”

“Na ausência da ciclovia, você tem que trafegar colado ao meio fio. Você não fica com uma pista só para você. Entende isso?”

“Estaremos pensando em um regime em que ruas são feitas para carros, e calçadas para pedestres, e que ciclistas têm que se encaixar em algum lugar no meio, ao invés de achar que têm um direito que não têm de ocupar qualquer coisa da pista que vá alem de seus ‘bordos’ *quando* não há acostamento ou ciclovia.”

A opinião do Vá de Bike

Ruas para pessoas

Ruas não são feitas para carros. Ruas são feitas para pessoas. Aliás, as ruas sempre foram feitas para as pessoas, desde o início. Para que elas se deslocassem em uma taba, em uma vila, em uma cidade.

Com o tempo, essas pessoas passaram a se deslocar em cavalos, em carroças e depois em máquinas movidas a motor, mas as ruas continuaram sendo essencialmente para levar essas pessoas para onde precisam ir, não importando o veículo que utilizem.

Bordos da pista

Quanto a ciclistas “acharem que têm um direito que não têm” ao ocupar a faixa, vamos rever o que diz o Código de Trânsito:

Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.

Bem, quando não há ciclovia, ciclofaixa ou acostamento – e dentro de uma cidade isso significa quase sempre – deve-se utilizar os bordos da pista. E é esse um dos pilares da argumentação. Pois vamos analisar esse aspecto.

Em primeiro lugar, o texto diz “os” bordos. Perceba que o artigo está no plural. Isso significa ambos, tanto no lado esquerdo quanto direito. Claro que não vamos utilizar a pista esquerda de uma avenida, sejamos razoáveis. Mas para sair em uma conversão permitida à esquerda, quando essa faixa serve apenas a quem vai virar em uma rua ou fazer um retorno, ou em ruas de tráfego menos intenso, onde na faixa direita circulam ônibus, é importante saber que esse uso é permitido por lei.

Em segundo, até onde vai o bordo? Vejamos a definição de bordo no Código de Trânsito Brasileiro:

BORDO DA PISTA – margem da pista, podendo ser demarcada por linhas longitudinais de bordo que delineiam a parte da via destinada à circulação de veículos.

Bordo é, portanto, a margem da pista. Mas até onde ele vai? A lei não diz. Até as “linhas longitudinais de bordo”? Essas linhas só existem quando há acostamento e, nesse caso, a bicicleta deve circular por ele (o que obviamente é mais seguro). Não havendo bordo demarcado, o bordo vai até onde meu entendimento o levar, já que a lei não o especifica. E meu entendimento o leva até onde for necessário para que minha segurança seja garantida. Entenda por que mais adiante.

Um exercício de compreensão

Pedalando muito próximo ao meio-fio, maus motoristas que desrespeitam leis forçam passagem pela mesma pista e colocam em risco o ciclista, sem se importar com sua vida.

Vamos imaginar por um instante, apenas por um breve instante, que a argumentação desse leitor estivesse correta, que houvesse uma demarcação de bordo nas vias e que o ciclista só devesse mesmo pedalar sobre a sarjeta, correndo o risco de bater o pedal no meio-fio, de entalar a roda em uma grelha ou de não conseguir desviar de um buraco, caindo em meio aos carros.

Como todos os outros artigos do Código de Trânsito continuam valendo, quando Ricardo Dirani passasse com seu carro ao lado de um ciclista ele teria que respeitar o artigo 201, que o obriga a passar a uma distância de um metro e meio da bicicleta que está ali espremida junto ao meio-fio.

Como as faixas de circulação não conseguem abrigar a largura de um automóvel, mais 1,5m de distância, mais a largura de uma bicicleta, Dirani teria de mudar de faixa para fazer a ultrapassagem dentro da lei e sem colocar em risco a vida do ciclista. Para ele, portanto, seria totalmente indiferente se o ciclista está se jogando na calçada ou pedalando bem no meio da faixa, uma vez que seria necessário mudar de faixa de qualquer forma.

Não entendo então o porquê de tanta celeuma, já que o Sr. Dirani se mostra bastante cioso com o cumprimento das leis e não deixaria de cumpri-las apenas para provar um ponto de vista, sobretudo se isso implica em colocar vidas em risco.

Tenho certeza também que o Sr. Dirani respeita o artigo 192, que diz para manter distância lateral segura e não colar na traseira dos demais veículos, incluindo-se aí as bicicletas. Também dá preferência aos ciclistas em cruzamentos, de acordo com o artigo 214, e diminui a velocidade a ultrapassar uma bicicleta, conforme o art. 220 item XIII. Sabe ainda que os veículos motorizados são sempre responsáveis pela segurança dos não motorizados, de acordo com o art. 29 §2º.

Por mais que um ciclista, um pedestre ou até outro sagrado motorista esteja infringindo uma lei de trânsito, essa infração não justifica uma reação violenta e que incorra em crime de tentativa de lesão corporal ou de homicídio como forma de punir ou de “educar” alguém que esteja agindo incorretamente na via. Pense nisso.

Acima de tudo, quero crer que o Sr. Dirani respeita a vida humana, como pessoa de bem que pretende ser. Aquele ciclista utilizando a rua poderia ser seu amigo, se ele se desse a chance. Pode ser um pai, uma mãe, um filho sendo esperado por pais preocupados, o grande amor da vida de alguém. Dê-lhe o direito de chegar inteiro em casa.

Ciclista, ocupe a faixa

Sim, ocupe a faixa. Além de ser seu direito, é muito mais seguro. Não se importe se alguém com pensamento equivocado vai buzinar atrás de você, gritar impropérios contra sua mãe, esmurrar o volante e babar no banco de couro.

É melhor um motorista te xingar e mudar de pista para ultrapassar do que passar com o retrovisor a 10 centímetros do seu guidão, colocando sua vida em risco. E, mesmo que ele o faça, ocupando a faixa você tem um espaço de fuga à sua direita. Estando colado ao meio-fio, você só pode torcer para que ele não encoste em você com uma tonelada de metal a 70km/h.

Veja aqui no Vá de Bike por que ocupar a faixa e como fazê-lo de forma segura. Valorize sua vida, não a opinião de quem não se importa com ela.

169 comentários em “Leitor afirma que bicicletas não podem usar as ruas, para não atrapalhar os carros

  1. Gostaria de deixar minha opinião a respeito. Moro em BH e faço um trajeto diário casa/trabalho/casa que perfaz um total de 21 km. Quanto à esta discussão colocada pelo Ricardo Dirani, a qual respeito, sou de opinão contrária pelos seguintes motivos; Pelo menos aqui em BH não temos “massa crítica” todo dia. Quanto à questão de se trafegar de bicicleta pelas calçadas acho incoerente, pois pedestre não usa retrovisor e não fica olhando para tráz todo tempo, e o ciclista não pode prever se ele vai de uma hora para outra para a esquerda ou direita. Neste trajeto que faço, entre Venda Nova e Pampulha, tem um trecho de +ou- uns 4 Km. em que não se vê pedestre na calçada, ai sim eu opto por ela. Concordo com você que não devemos trafegar entre os carros, justamente por causa deste 1,5 m. de distancia e por corremos maior risco de acidentes.
    Um abraço a todos.

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    1. Olá Márcio! Muito brigado pelo respeito à minha opinião e disposição ao diálogo!

      Não sei se entendi a primeira razão por que discorda, em que minha opinião depende de haver “massa crítica” todo dia?

      Eu acho que uma bicicleta andando rápida na calçada é um risco para pedestres sim, e coincidentemente uma me passou tirando fina ontem. Mas dá para andar bem devagar com a bicicleta, e se não houver espaço para passar pelo pedestre com segurança, basta desmontar, passar, e montar de novo.

      Quando você diz que não devemos trafegar entre carros com bicicletas, você quer dizer no corredor de carros ou ao lado deles, em vias movimentadas? Quando faz isso, você ocupa uma faixa inteira ou se coloca próximo à calçada?

      Eu de fato tenho visto vídeos sobre ciclismo no trânsito, e estou achando bastante razoável que a bicicleta ocupe a faixa toda quando uma ultrapassagem pela mesma faixa não seria segura. O que não tem absolutamente nada a ver com formar um bolo de bicicletas e bloquear todas as faixas propositalmente, que é o que o Massa Crítica tenta vender como sendo tráfego normal de bicicletas e não um protesto do tipo que precisa de autorização para acontecer. Já vi vídeos de Massas Críticas sendo interrompidas pela polícia na Polônia e nos Estados Unidos, e espero que esta se torne a tendência mundial:

      Warsaw Car Killers Critical Mass 2002
      http://www.youtube.com/watch?v=xTkI1C7nDu4

      Atlanta Police change posture toward Critical Mass
      http://www.youtube.com/watch?v=Uic8HSefvto

      Continuo achando que pedalar por vias movimentadas é desnecessariamente arriscado e eu não faria. Como nunca fiz, mesmo nos muitos anos em que não tive carro. Gostei muito dos vídeos que achei do uso da bicicleta na Holanda, em que as bicicletas ficam bastante segregadas dos carros:

      Bicycle Rush Hour Utrecht (Netherlands) I
      http://www.youtube.com/watch?v=K_o3chL8phA

      Note como neste as bicicletas e os pedestres partilham tranqüilamente a via:

      Bicycle Rush Hour Utrecht (Netherlands) II
      http://www.youtube.com/watch?v=UlQYP4WN-5w

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      1. Bogotá e Amsterdã por exemplo só conseguiram a estrutura cicloviária separada com protestos, ocupando e bloqueando as vias. Pesquise!

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  2. Fernanda, não ficamos sem argumento, o fato é que somos ameaçados de morte todos os dias por motoristas malucos. Aí vem alguém e me fala que estamos errados, porque protestamos contra isso. Sendo que essa pessoa não é ciclista (pelo visto vc também não é) e não faz idéia do que nós passamos todo os dias. Eu sou ciclista e motorista, sei dos dois lados da moeda! Então, antes de ficar dando opiniões, achando isso, achando aquilo, citando Buda, citando Ranato Russo, procurando vídeo no YouTube. Vai andar de bicicleta. Eu desafio, ande uma semana de bicicleta. Seguindo todas as regras, andando nos bordos da pista, parando no sinal, tudo… Aí depois vc me fala como vc foi tratada pelos motoristas.
    É muito fácil vir criticar sem saber do outro lado!
    Ele não usou nenhum palavrão contra mim, mas a opinião dele me ofende mais do que me xingar. Eu sinceramente abomino o Ricardo. Uma opinião não é simplesmente uma idéia, ela representa a forma como agimos e somos. Portanto, se ele tem essa opinião, ele tem atitudes desse tipo, ou pensa que são certas.
    Então eu peço a vocês, se não são ciclistas, não venham falar com a gente como se soubessem do que estão falando, porque VOCÊS NÃO SABEM!

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  3. Fernanda, me desculpa se eu Te ofendi com a palavra NERD! Nao preciso andar de skate para desopilar meu fígado, porque sou ciclista de e pedalo mais de 500 Km’s por semana! Portanto fico mais de quatro horas por dia, encima de uma bicicleta, lidando com imbecis no trânsito. Quando vi esse imbecil falando isso aqui! Nao agüentei!
    As pessoas nao sabem o quanto é difícil ser ciclista e o quanto nos somos desrespeitados!
    Eu sou um atleta, treino no lugar certo, nao fecho carros, nao ocupo a pista. Mas sou chamado de vaga indo, maluco, folgado, atoa, filho da puta! Sou fechado for carros, caminhões motos! Enfim, é uma merda! Mas eu amo o ciclismo e nao vou parar nunca!
    Mas nao agüento ver alguém defendendo que estamos errados, porque andamos mais devegar que carros!
    Então apesar de eu nao estar falando com vc! Me desculpe! Mas eu mantenho o q falei para o Ricardo! Se vc é parente dele amiga, ou ate ele mesmo disfarçando o comentário, para nao quebrar a imagem de culto dele. Infelizmente para mim esse cara é um idiota! E deveria passar um mês andando de Bike na rua pra entender o nos passamos, pra depois vir aqui e falar merda pra gente!
    E vc Fernanda, fala de tratar bem os outros, mas me chama de filho de Vó (aí, como me machucou!) sem nem saber de absolutamente nada de mim! Presta atenção!

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    1. Bom, parece que andar de bicicleta é estressante. Sim, o trânsito é caótico. E eu sou a favor de ciclovias justamente para garantir a segurança, para que os que gostam de andar de bicicleta não tenham que ficar se arriscando e estressando. E eu falei de tratar bem os outros porque você começou a xingar uma pessoa que o tempo todo que eu vi, não usou um palavrão nem com você, nem com ninguém. E você e mais outros, só pelo fato dele defender um ponto de vista diferente do seu, na hora em que fica sem argumentos, recorre ao xingamento, como se você soubesse quem ele é e como ele se comporta no trânsito. Você não conhece ele e você não me conhece também. E eu não preciso conhecer você para xinga-lo quando você xinga alguém de uma forma que me incomoda, mesmo não tendo sido diretamente pra mim. Gostei do seu pedido de desculpas. E é isso, eu só xinguei você porque você partiu pra esse recurso.

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  4. E na minha opinião, Henrique, você não passa de um FILHO DE VÓ, mal criado e que vai contra a tendência mundial de tratar bem as pessoas mesmo quando elas discordarem de você. Olhe-se no espelho antes de chamar alguém de nerd, simplesmente porque alguém demonstra ter lido algo que você não leu. E vai andar de skate, sei lá, pra ver se consegue desopilar esse seu fígado. Seu filho de vó.

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  5. No brasil, na real, ruas nao sao o melhor lugar para bicicleta ,mas poderiam ser se os motoristas nos respeitassem mais, o bom mesmo era ter ciclovia por tudo, mais seguro.

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  6. Frederico, nem adiante. Esse bosta desse Ricardo Dirani não responde quando a coisa engrossa pro lado dele!
    Ele gosta de ficar dando uma de intelectual, que lê muito, que já ajudou os lenhadores vesgos do Afeganistão, que gosta de Legião Urbana. Mas na minha opinião, ele não passa de um NERD, mal informado e que vai contra a tendência mundial de aceitar a bicicleta como um transporte benéfico para a sociedade.
    Não adiante discutir com um imbecil desses!
    É melhor ignorar!

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  7. da próxima vez que o trânsito engarrafar, vou agredir os motoristas. afinal, eles estão fazendo uma manifestação sem a autorização das autoridades. logo, tenho todo o direito de usar a violência.

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  8. eu preciso ir ao trabalho, eu preciso ir à faculdade, eu preciso ir à casa da minha namorada, eu preciso ir à casa dos meus amigos, eu preciso ir me divertir. como meio de transporte, opto pela bicicleta.

    como faço?

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  9. não, ô dirani, não tô desumanizando, não. tô demonizando, mesmo. vc não foi capaz de responder um só comentário meu (e diz agora que é por que fui agressiva, claro, mas vc respondeu comentários que foram ainda mais agressivos que os meus).
    é muita baixeza vc ir até o meu blog pra procurar motivo pra me dizer qualquer coisa. é ridículo. como se eu não soubesse o que eu mesma escrevi. como se vc fosse achar qualquer contradição entre o que eu disse aqui e o que eu vivo. ô babaca, aviso: um blog é editado. a vida, não. então, não pense que somos amigos por que puxa, vc também já se viu num beco sem saída. o que vc sabe sobre mim? o que vc pode apreender do que eu escrevi? nada, nada. um milésimo da minha vida tá escrito ali. e o que a gente conta, nunca é o que a gente vive. nunca! limite-se a falar de bicicletas, ok? se quiser falar da minha vida, vai ter que fazer um blog contando da sua, e aí eu vou ter que querer ler (quem sabe, um dia, se eu tiver curiosidade de estudar o raciocínio dos boçais eu me interesse em ler sua história). por enquanto, o que posso te dizer é: sua mãe ou te bateu demais, ou te bateu de menos. problema da cabeça, vc obviamente tem.
    ah, sim, claro, vc se faz de surdo até enlouquecer, aí me acusa de estar cheia de ódio e ressentimento. sai pra lá! mas a culpa é minha. te chamei tanto pra falar comigo, deu no que deu. eu não sou cicloativista. eu sou uma pessoa mais feliz desde que abandonou o carro e passou a andar de bicicleta. vim até aqui pra dizer isso pra vc: vai pedalar e vai ser feliz. e pára de encher o meu saco. não queria me ajudar? então, some! já é uma ajuda enorme. agradeço de coração.

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  10. dirani, vc me provoca náuseas. pode ler o que quiser, pode espalhar o que eu disse, não tô nem aí. primeiro vc me ignorou, agora é minha vez.
    pra vc, eu não estou. passar bem.

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    1. moreno, desumanizar seu oponente é desumanizar a si mesma. se você cultiva sentir nauseas pelas pessoas, logo sentirá náuseas de si mesma. você está vivendo uma guerra que é toda dentro de sua cabeça. não é uma guerra menor por isso, mas quando você aprender a não levar as coisas a ferro e fogo, vai descobrir pessoas muito mais dispostas a te ajudar, e será muito mais feliz.

      essa discussão toda começou com o cruz revoltado com o artigo da folha falando em uma guerra dos ciclistas contra os monstroristas. eu estou aqui para lembrar vocês de que vocês estão sim, em guerra, e estão sim, cheios de ódio e ressentimento. isso transparece em cada palavra que dirigem a quem não é cicloativista. e não precisa ser assim.

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  11. Gente! Eu precisava voltar aqui. Precisava!
    Acho que todo mundo viu que fui solenemente ignorada, certo?
    Que o Sr. Dirani não respondeu um sequer de todos os meus argumentos. Certo?
    Vcs são testemunhas!
    O que vcs me diriam se eu contasse que o mesmo Sr. Dirani se deu ao trabalho de ler o meu blog e aí ele resolveu conversar comigo. Me disse o seguinte:
    “Dias difíceis, Priscila?”

    Aí ele cita um trecho de um texto meu, e continua:

    “É engraçado como é fácil a gente assumir coisas erradas das pessoas com quem a gente debate. Eu não imaginava você assim tão frágil. Pensando agora em retrospecto, como você já se dirigiu a mim me cobrando força, coragem, talvez eu devesse ter imaginado. Fiquei agora com uma impressão forte de que se a gente se conhecesse melhor, descobriria que temos muito mais em comum do que de diferente. Eu já me vi, por exemplo, nesse tipo de beco sem saída que você parece descrever no texto acima, várias vezes. Vezes demais.”

    Eu vim trazer isso a público pra deixar bem claro para o Sr. Dirani que eu me senti assediada.
    Se ele tivesse conversado comigo, respondido minhas questões, aí ia ser outra coisa.
    Mas o cara age como se eu não tivesse dito nada, e depois vem querer dar uma de “olha, até que a gente é parecido”.
    Não seja ridículo, Dirani. Ou melhor, não seja mais ridículo.
    Eu respondi:

    “Dirani,

    Fique feliz por eu não te responder com um palavrão.

    Não me dirija a palavra, por favor.
    Em público não foi capaz de responder aos meus argumentos, foi?
    Então não me venha mandando e-mails.

    Sim, esses dias tem sido difíceis.
    E encontrar gente como vc só piora tudo.
    Mas coragem e força, graças a deus, eu tenho.
    Diferente de vc.
    Covarde.”

    Dirani, preste bem atenção no que eu vou te dizer: se eu me sentir ameaçada, cercada, qualquer coisa do tipo, não tenha dúvida de que eu vou tomar toda e qualquer medida que estiver ao meu alcance para impedir vc de me assediar. Não tenha dúvida.

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    1. Elaiá, heim, Sra. Moreno…

      Se você quiser começar uma conversa com alguém, esta aqui não é uma boa maneira de convencer as pessoas a falarem com você:
      “mas é muita falta de coragem pra um marmanjo!”

      Se você não conseguir resposta, aumentar esse tom vai ajudar você menos ainda:
      “façam valer a vontade de suas mães. eu não ia gostar de saber que meu filho, que se chama leonardo (coração de leão) me saiu um belo de um bunda-mole. coragem, homens. coragem!”

      Especialmente quando você mesma escreveu o que você pensava de ciclistas, e o que sua mãe pensou quando viu você na bicicleta:

      “A cara da minha mãe quando me viu andando de bike, um misto de “ah, eu tinha uma filha linda” (sim, verbo no passado) com “onde foi que eu errei?”. (…) Mas é assim mesmo que as pessoas vêem os ciclistas: uns kamikazes. Bom, é assim que eu me sinto com os olhares quando ando na rua de bicicleta, e é assim que eu via os ciclistas, pra ser sincera…”
      http://cidadedeideias.blogspot.com/2011/03/terceira-ideia.html

      Eu teria tido pouco interesse em lhe dirigir a palavra depois dessas e das outras, até ler aquele seu texto em seu blog. Ele estava lá, sozinho, com zero comentários, e com todos os sinais de alerta de alguém precisando muito de ajuda. Eu tentei lhe estender uma mão, e você, que diz que dá carona a pessoas estranhas em pontos de ônibus em Sampa, ficou com medo. Com medo de um email.

      Sabe o disco Quatro Estações do Legião Urbana? Renato Russo descreve lá uma experiência que eu devo ter tido mais ou menos na mesma época que ele, no fim dos anos 80: ele achou um livro da Bukio Dendo Kiokai num hotel, A Doutrina de Buda. E de lá a mensagem mais forte que tirou foi “o pior medo é o medo de ter medo”. Tenho muito pouco medo de ter medo. De evitar riscos desnecessários, como pedalar do lado de carros. Para que, me quebrar todo, por nada? Mas por boas causas, eu abracei meus riscos sim. Eu estive em zona de guerra, por opção. Quase perdi um olho. Quase perdi a razão. Mas só me arrependi de não ter ficado mais por lá.

      Eu talvez não devesse, mas vou postar o seu texto aqui. Não só um trecho, mas a totalidade, do jeito que eu mandei para você. Porque é um bom texto, porque você o publicou para todo mundo ver, porque você citou todo o resto do meu email e porque qualquer pessoa que te conheça deveria ao menos tentar te estender uma mão uma hora dessas:

      “não vou mais procurar casa. não vou mais procurar trabalho, nem vou fazer entrevista nenhuma. não vou mais costurar, não vou mais cozinhar, não vou fazer mais nada. vou vender todas as minhas roupas, ficar só com sete mudas, uma para cada dia da semana. mais dois pijamas. uma mochila. vou vender todos os meus móveis, vou vender tudo o que seja possível botar um preço. vou fazer um grande garage sale, um enorme e gigante família vende tudo. vou dar minhas fotos pra quem quiser. vou picotar meus tecidos e vender em retalhos. vou cozinhar uma última vez, tudo o que tem nos armários, pra vender em porções. vou pedir pro pai do leo guardar na casa dele o que for do leo. vou pegar parte do dinheiro pra arrumar essa casa pra entregar pro dono. vou pagar minhas contas, quitar minhas dívidas, fechar a conta no banco. vou pagar a bicicleta, bloquear o celular, ver se meu irmão quer ficar com o telefone fixo. vou dar um beijo no meu filho e dizer daqui a um ano eu volto. ele vai estar banguela, mais alto, mais esperto, mais velho. não sei de mim. tudo vendido, contas pagas, mochila nos ombros, vou andar. não sei pra onde. não sei por que. não sei pra que.
      Postado por Priscila Maria às 10:59 0 comentários Links para esta postagem”
      http://blogdaismalia.blogspot.com/2011/04/nao-vou-mais-procurar-casa.html

      Eu li Demien e O Lobo da Estepe Também, há quase vinte anos. Tive O Jogo das Contas de Vidro por muito tempo, comecei a ler, mas nunca fui muito longe nele. Fiquei com vontade de tentar de novo, de ler aquilo. Se não em alemão, pelo menos em inglês. O título em alemão sempre me fascinou. Der Glasperlenspiel. O pouco que eu li era tão diferente dos outros, e de Sidarta, que parece que àquela altura Hesse havia realmente encontrado alguma coisa diferente para dizer sobre a dor de viver.

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  12. “e se são 300 pedalando? Nossa, caiu o mundo! Não se pode falar em obstrução da via, pois as bicicletas estão trafegando! Devagar como bicicletas, mas estão trafegando.”

    Ok. Você já deu o seu argumento, eu já mostrei como infringe o código de trânsito, e você já retrucou que as leis são só para quem discorde de você. Acho que o debate está concluído.

    Enquanto isso, uma mensagem de uma ciclista profissional para os cicloativistas: “Share the road; don’t steal it”. Partilhe a rua, não roube a rua.
    http://www.youtube.com/watch?v=6R810JiJiUk&NR=1

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  13. Meu… fila indiana? 300 bikes em fila indiana? Quando eu era adolescente e ia com meus amigos para o Parque Ibirapuera, nem existia ainda a bicicletada. Se estivéssemos em 3 ou mais, tomávamos a faixa da direita da Avenida Brasil sem dó! Não iríamos correr o risco de ser prensados contra o meio-feio e tomar pancada de retrovisor no guidão só pra deixar um monte de apressados folgados passar! É ruim hein! E a calçada na Avenida Brasil todos sabem que é impossível até para pedestre! O engraçado é que se um carro tá indo devagar quase parando, ok! Uma buzinada como se fosse um xingamento, vira-se um pouquinho o volante pra esquerda e pronto! Aí, se tem meia-dúzia pedalando fica tão mais difícil assim virar o volante? E se o fizer não vá derrubar o motoboy que tá passando no corredor ao lado à 70 km/h hein, olha lá (a propósito os motoboys ensinaram muitos motoristas a usarem o retrovisor). Voltando ao assunto, e se são 300 pedalando? Nossa, caiu o mundo! Não se pode falar em obstrução da via, pois as bicicletas estão trafegando! Devagar como bicicletas, mas estão trafegando. Agora vamos substituir as bicicletas por automóveis. Se tivermos 300 carros à frente do carro em que você está (pra quem a carapuça servir), você não conseguirá enxergar o fim da fila de carros. Logo, se estiver tudo parado, se conformará assim como seus iguais. Sabe que não tem como passar, não adianta buzinar que ninguém vai mover seu carro pra dar passagem pra mais um folgado do trânsito que não curte a lentidão e só fica buzinando! Aí se é uma, duas, dez, trinta ou trezentas bicicletas que estão empatando só um pouquinho, o motorista vira o cão.

    Antes do direito do motorista de passar com seu carro pela via, está o direito que o ciclista tem de permanecer vivo e ileso ao também trafegar pela via, independente da vontade do folgado buzinando atrás. E se alguém ainda consegue discordar disso, sinto muito mas merece um chinelada na poupança e ir dormir sem sobremesa! ¬¬

    Não se precisa de leis quando se age com bom senso!

    Não venham retrucar que não obterão resposta!
    Sem mais,
    Murilo

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