Foto: Thiago Nakano, via Facebook

Estimulando a agressividade no trânsito através da publicidade

Veja um exemplo de publicidade que, indiretamente, estimula acidentes e mortes nas ruas.

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Segundo as anotações na imagem acima, que foi publicada publicamente no site de compartilhamento Imageshack, essa propaganda foi veiculada no jornal Diário Catarinense, no dia 4 de outubro de 2012. Na época, a imagem circulou muito nas redes sociais, sempre acompanhada de comentários de indignação de quem a repassava.

Não é necessário me alongar nas explicações: está claro que o slogan da fabricante Jeep estimula a agressividade nas ruas, reforça o conceito de cada um por si e, para convencer que é necessário ter um carro desses, vende antes a ideia de que é preciso ser cada vez maior e mais perigoso para exercer sua prioridade de circulação à força. Que vença o mais forte, o mais pesado, o mais largo, o mais assustador. Que vençam os predadores. Compre um, empurre os outros para fora do seu caminho e sinta-se alguém.

Ghost Bike em memória do ciclista Lauro Neri, morto por um motorista com pressa em São Paulo. Foto: Aline Cavalcante

Comportamento agressivo deve ser coibido

Propagandas como essa estimulam um comportamento que mata nas ruas, todos os dias. Uma maneira de dirigir que é considerada crime de trânsito e que pode dar cadeia. Estimulam a “disputa por espaço”, a “guerra nas ruas” e outros títulos que a imprensa tradicional costuma estampar. Mas não há “disputa por espaço” onde um único lado tenta negar ao outro o que é de direito de ambos. E não há “guerra” onde apenas um lado morre: o nome disso é genocídio.

Peças publicitárias que estimulam a agressividade, o “passe por cima” e o excesso de velocidade deveriam ser proibidas. Quem as cria deveria ser, no mínimo, condenado a pagar uma multa pesada. Porque, no fundo, essas peças (e esses criativos) estimulam nas ruas o comportamento que menos queremos: o de predador, o de homicida em potencial.

Mais amor, menos disputa. Carro grande ou veloz não é salvo conduto para dirigir como um animal e colocar em risco a vida de outras pessoas. E infelizmente é esse o conceito que se vende com propagandas desse tipo.

A agência responsável entrou em contato com o Vá de Bike para esclarecer que esse não é o posicionamento da Jeep, que não foi esse o objetivo do anúncio e que peças com essa abordagem não seriam mais veiculadas. O Conar chegou a ser acionado para avaliar essa peça publicitária, mas não há informações sobre o resultado.

Em tempo: esse tipo de publicidade nem de longe é exclusividade da Jeep, nem mesmo de carros grandes. Veja este outro exemplo e os links abaixo.

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21 comentários em “Estimulando a agressividade no trânsito através da publicidade

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    1. Deixa eu ver, você tem um, né?
      Vamos ser todos felizes: eu na minha bicicletinha, na sua frente, com 15 km/h, e você com um(a) SUV potente querendo passar e não pode.

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    2. acho que é o contrário, esses fanáticos por carro como o Eduardo se sentem tão oprimidos que chegaria a dar pena. Digo que chegaria a dar pena porque muito antes vem a indignação com o fato de que essa minoria motorizada e arrogante não percebe o quanto está prejudicando o resto do mundo com seus carrões. Em busca da auto-afirmação abandonam rapidamente sua humanidade. Para compensar suas frustrações com a vida tomam atitudes ameaçadoras.

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  2. Infelizmente esse anuncio reflete o modo do dirigir de muita gente que vejo pela rua, com gosto pela agressividade no transito, como se fossem transformados em “bestas humanas” ao dar ligar os motores. Acho até que se trator desse status venderia mais do esses carros.

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  3. Essa propaganda é ‘a cara’ do público alvo, acertaram na mosca!
    Pessoalmente tenho um forte (fortíssimo!) preconceito com donos dessas SUV’s. Em geral são arrogantes, mal-educados e chega de xingar esses caras que tô ficando nervoso!

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  4. Isso me lembra uma discussão que tive num forum (SSC) quando dizem que pedestre que atravessa fora da faixa está errado, e reclamam da velocidade das vias

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    1. De acordo com o artigo 254 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), atravessar fora da faixa é considerado infração leve e uma multa pode ser aplicada.

      Art. 254. É proibido ao pedestre:

      I – permanecer ou andar nas pistas de rolamento, exceto para cruzá-las onde for permitido;

      II – cruzar pistas de rolamento nos viadutos, pontes, ou túneis, salvo onde exista permissão;

      III – atravessar a via dentro das áreas de cruzamento, salvo quando houver sinalização para esse fim;

      IV – utilizar-se da via em agrupamentos capazes de perturbar o trânsito, ou para a prática de qualquer folguedo, esporte, desfiles e similares, salvo em casos especiais e com a devida licença da autoridade competente;

      V – andar fora da faixa própria, passarela, passagem aérea ou subterrânea;

      VI – desobedecer à sinalização de trânsito específica;

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  5. E ainda colocam no final da propaganda em letras pequenas “Reduza a velocidade, Respeite a vida” como se alguém fosse ver!
    Não generalizando, pois ainda existem pessoas com consciência, mas é só indignação mesmo…..

    Abraços a todos!

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  6. Respondendo ao Breno:
    Faz tempo que penso assim e mais vejo que é verdade. As mulheres gostam de SUVs da mesma forma que eu (1,80m) gosto de carros pequenos: nós dois nos sentimos gigantes dentro deles.

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  7. Não faz sentido ter um carro desses, e ficar parado, gastando gasolina a toa… Carro para a “selva”, chamada cidade, tem que ser um carro econômico, pequeno e que seja fácil de estacionar(já temos alguns chineses assim, porém deixa a desejar pela qualidade).

    Temos que ser mais inteligentes na cidade, e não predadores. se for para andar uns 14Km(o percurso que eu fazia até o meu antigo local de trabalho), pra quê ir de carro(e ter dificuldades para estacionar), ou ir de onibus(que demora e sempre tá cheio)??

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  8. “Compre um, empurre os outros usuários da via para fora do caminho e sinta-se alguém.”
    Infelizmente as pessoas compram essa ideia. O número de vezes que eu, dentro do meu carrinho, fui empurrada pra fora da minha pista por um carro grande que não dá seta e não espera a vez de entrar, simplesmente sai empurrando e intimidando, é surreal.
    Se é assim comigo no meu carro, só posso imaginar a frequencia com que isso acontece com bikes, esses monstros tirando fina. Consigo imaginá-los proferindo as clássicas frases “sobrevive o mais forte” e “o mundo é dos espertos”.

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  9. Conversando outro dia com minha mãe, que possui uma SUV, ela me afirmou que se sente segura, “encapsulada”, alta e protegida, em seu veículo. A ironia aí, portanto, é a de que anúncios como esse não necessariamente apelam pro lado brucutu do motorista, mas sim pro lado “não seja mais uma vítima”, “proteja-se no trânsito”, “dirija um tanque de guerra”.

    É, ainda, um comercial lamentável, embora sozinho não mate ninguém e seja na verdade um sintoma. Mas é necessário ver a coisa dentro do devido contexto e analisando a situação a partir dos olhos dos “predadores”.

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