Fórum Mundial da Bicicleta em Medellín mostra que América Latina abandonou “complexo de vira-lata”
Quarta edição promoveu integração entre ciclistas e debate qualificado, mostrando que a América Latina busca soluções adaptadas às realidades locais.
O quarto Fórum Mundial da Bicicleta (FMB), que aconteceu na cidade de Medellín (Colômbia) na última semana de fevereiro, deixou uma série de lições e um legado muito importante aos usuários de bicicleta na América Latina. A famosa expressão “complexo de vira-lata”, cunhada pelo escritor Nelson Rodrigues, não cabe mais aos países do hemisfério sul. O evento desse ano, assim como os outros três que o antecederam, contou com atividades e infraestrutura capazes de promover um debate internacional e qualificado sobre a mobilidade por bicicleta, a integração entre ciclistas de diversas partes do mundo e a expansão da luta pelo reconhecimento da bicicleta como um meio de transporte legítimo e viável.
Nascido em Porto Alegre (RS) após o trágico episódio de atropelamento coletivo protagonizado por Ricardo Neis durante uma manifestação pró-bicicleta, o Fórum, que teve três edições seguidas no Brasil, foi um sucesso na Colômbia. A edição de 2016 está definida para a cidade de Santiago, capital do Chile. O processo de escolha da cidade foi democrático e decidido em assembleia.
Países distintos, mesmas histórias
Diversas associações e ciclistas de várias partes do mundo participaram das atividades. Também estiveram presentes ativistas do Velho Continente e da Ásia, compartilhando histórias muito parecidas com as que experimentamos na América Latina. A luta pela inclusão da bicicleta como meio de transporte é uma questão crítica em muitas cidades ao redor do mundo e o Fórum tem essa capacidade de fazer o intercâmbio dessas histórias e aproximar pessoas – muito embora a estrutura do encontro em Medellín, que aconteceu dentro de um centro de convenções, tenha dificultado a troca mais próxima entre os participantes pela falta de espaços comuns de convivência.
Após a cerimônia de abertura do Fórum, em 25/2, aconteceu a tradicional manifestação de ciclistas pela cidade, reunindo mais de duas mil pessoas. A Massa Crítica de Medellín teve início na Plaza Mayor, local onde aconteceu o Fórum, e durou cerca de três horas percorrendo as ruas do centro e da periferia da cidade.
Diversas figuras importantes na área de mobilidade por bicicleta se apresentaram na sala principal de conferências. Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá que desenvolveu o projeto brasileiro de BRT (Bus Rapid Transit), disse durante uma palestra que cumpriu sua missão. “Fiz minha parte e agora é com vocês”. A ex-secretária de Transportes de Nova York, Janette Sadik-Khan, também participou do evento. Em quinze minutos, ela explicou suas estratégias de mudança na cidade norte-americana. Já o prefeito de Medellín, Aníbal Gaviria, em uma clara referência ao plano de ciclovias de São Paulo, afirmou: “temos que acreditar que é possível. Existem cidades que estão empenhadas na construção de 400 km de ciclovias.”
A fala que mais sintetizou o clima do fórum foi a do co-fundador das ciclovias de Bogotá, Jaime Ortiz, que mostrou uma imagem comum do mapa do mundo e depois outra imagem com linhas paralelas que destacavam a América Latina a quem ele chamou de “una” e o resto do mundo de “outra”. “Precisamos entender que tudo o que foi feito pela ‘outra’ deve ser aplicado na ‘outra’. Nós precisamos criar e estabelecer nossos próprios padrões e não cometer o erro de tentar aplicar na ‘una’ o que foi feito para funcionar na ‘outra'”, disse. Ortiz foi ovacionado pela plateia.
Veja aqui o que publicamos sobre esta e outra edições do Fórum Mundial da Bicicleta
*Paulistano
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Nem todo lugar. Aqui em SP ainda tem muito paulistando com complexo de vira-lata ao que diz respeito aos ciclistas e as ciclovias. Principalmente moradores de regiões nobres….
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