Milhares de ciclistas ocuparam avenidas em protesto contra remoção das ciclovias de São Paulo
Indignados com o descaso e omissão da prefeitura e também com as cada vez mais frequentes remoções de ciclovias, cidadãos foram às ruas exigir que as estruturas de proteção sejam mantidas
Na noite de sexta-feira, 31 de agosto, milhares de ciclistas ocuparam ruas e avenidas da capital paulista em protesto contra as recentes remoções de ciclovias na cidade.
Esses cidadãos manifestavam sua preocupação com a omissão e descaso da prefeitura em relação às estruturas de proteção ao ciclista, que vêm sendo removidas sem nenhum aviso, algumas para não mais voltar, ou que são destruídas com consentimento e omissão da prefeitura. Na Vergueiro, a remoção da ciclovia causou um atropelamento, forçando a prefeitura a implantar às pressas uma sinalização temporária – medida que deveria se repetir em TODAS as ciclovias que estão sumindo debaixo do asfalto novo.
Atraso na saída agregou mais participantes
Quem chegou às 18h, horário divulgado para início da concentração, encontrou a Praça do Ciclista relativamente vazia, o que decepcionou algumas pessoas. Mas conforme o tempo foi passando, mais gente foi se aglomerando na praça, até chegar a um ponto em que os ciclistas não cabiam mais ali. Com a saída marcada para as 20h, a manifestação começou às 20h45, dando tempo para mais pessoas chegarem ao local.
A Polícia Militar esteve presente em praticamente todo o trajeto, fazendo escolta e protegendo os participantes de possíveis motoristas agressivos que pudessem atentar contra a massa. Motocicletas da corporação faziam o corking, que consiste em bloquear os cruzamentos para que a massa de pessoas não seja cortada e invadida por automóveis e motocicletas, garantindo a segurança dos participantes.
23 de maio tomada por bicicletas
Com o mote “vai ter ciclovia”, a manifestação ocupou por completo um longo trecho da Avenida Paulista em um dos sentidos, seguindo até o Paraíso, de onde o grupo desceu para a avenida 23 de maio (assista na íntegra mais abaixo, nesta página). A avenida teve todas suas faixas no sentido bairro ocupadas pelo protesto por alguns minutos, depois dos quais os participantes começaram a pular o canteiro central para ocupar a outra pista.
O objetivo era passar para o outro lado da avenida e seguir no sentido centro, ação que foi mal compreendida por dois policiais que chegaram ao local vindos do outro lado, provavelmente sem estarem cientes de como a manifestação estava sendo conduzida por seus pares no outro lado da avenida. Houve alguns momentos de discussão e reações tensas dos policiais, sem entretanto haver agressão, até que eles desistiram de tentar impedir os milhares de pessoas que estavam pulando o canteiro central e permitiram que a manifestação prosseguisse, provavelmente informados pelos outros policiais sobre o procedimento que estava sendo adotado. Esses momentos foram registrados em nossa live.
Conforme o enorme grupo avançava, o efetivo policial fechava os acessos para os manifestantes não serem colocados em risco pelos motoristas. No fundo, viaturas da PM seguravam os automóveis. Paradas eventuais eram feitas para reagrupar a massa e aguardar que os policiais fizessem o corking.
Protesto em frente à Prefeitura
Chegando ao centro, decidiu-se coletivamente subir até a prefeitura, em um ato simbólico de questionamento ao prefeito Bruno Covas (PSDB). O prefeito, por sinal, foi citado em diversos cartazes e em frases de efeito, em alguns momentos de maneira bastante “contundente” – sinal da indignação causada com sua postura e suas ações em relação ao tema.
Depois de um longo tempo em frente à prefeitura, a maior parte das pessoas se dispersou, mas algumas centenas ainda prosseguiram de volta até a Praça do Ciclista – entre elas duas crianças, que pedalaram bravamente todos os 15 km do trajeto e certamente guardarão a memória dessa noite com orgulho pelo resto de suas vidas.
O que pensam os manifestantes
Veja nessas entrevistas a opinião das pessoas que participaram da manifestação (ou a assistiram de perto) sobre a remoção de ciclovias em São Paulo.
Íntegra da manifestação
Assista a manifestação inteira (ou pule para as partes que mais lhe interessarem, como a ocupação da avenida 23 de maio):
Galeria de fotos
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Hoje tive um dia inspirador.
Após uma noite de excelente sono, onde provavelmente minha alma deve ter viajado até Amsterdã, a terra das bicicletas, parece-me que algo tocou-me o coração, e me fez pensar no que tenho feito nos últimos 28 anos de minha vida: consertar carros. Não consegui atinar no momento, mas algo pesava em minha consciência. No final, pensei comigo mesmo: “Como pude passar as últimas quase três décadas de minha vida fazendo com que essa máquina poluidora, matadora de gente e devoradora de recursos naturais chamada carro, continuasse funcionando quando apresentava defeito? Por acaso não imaginava eu que estava assinando a minha própria sentença de morte? Contribuindo para que meus pulmões futuramente se saturassem de gases malignos, tudo à custa do conforto de ir ao mercado em dias de chuva sem me molhar, ou então de buscar meus filhos à noite em segurança? Quão egoísta tenho sido por quase trinta anos!”
Aquilo tocou-me profundamente a consciência, imaginem só, dedicar quase minha vida toda à perpetuação desse monstro maligno. Mas como nunca é tarde demais para se arrepender, decidi deixar a preguiça de lado e agir; toda jornada sempre começa pelo primeiro passo.
Após jurar nunca mais entrar em um carro, peguei um ônibus (tudo bem que ele também polui, mas dá pra dividir a culpa com 46 passageiros sentados e mais 50 em pé, creio que minha dívida perante a Mãe Natureza fica assim minimizada) fui à uma loja de esportes e adquiri uma nova e reluzente bicicleta; aliás, elas haviam acabado de chegar, trazidas por um caminhão enorme e poluidor. Nunca tive tanto prazer ao adquirir um veículo, fiquei vários minutos admirando sua pintura brilhante feita com derivados de petróleo, seu elegante quadro de alumínio extraído do solo com máquinas poluidoras movidas pelo horrível óleo diesel. E é claro, como não podia deixar de fazer, adquiri minha bermuda colada e meu capacete que protege só a parte de cima da cabeça, além da garrafa plástica de água que encherei de isotônico, para assim desbravar a selva de pedra, num mudo protesto contra as peruas escolares que transportam em segurança as crianças, os caminhões que levam meu alimento até o supermercado depois de serem trazidos de distantes locais por navios ou aviões.
E ainda, do alto de minha bicicleta de 27 marchas e brandindo meu capacete, gritarei em alto e bom som para todos aqueles que quiserem me ouvir, torcendo para que um dia a voz da consciência lhes toque a alma:
“Viva a bicicleta, a nova Virgem Maria do Brasil!”
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Vc é bem fraquinho de ironia.
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