Proibição de circulação de caminhões
Tirar os caminhões da rua não ajuda em nada. É uma medida populista, para mostrar que a prefeitura está fazendo alguma coisa e contar pontos para a próxima eleição.
Terem iniciado a proibição de circulação no mesmo dia do início das férias não foi coincidência. Assim aproveitam a diminuição de congestionamentos que já ocorreria devido às férias e emprestam ela à medida de restrição de caminhões. Notem que, com poucas exceções, a prefeitura e a mídia televisiva divulgam informações sobre a diminuição do trânsito relacionando-a apenas aos caminhões, “esquecendo-se” de falar das férias.
Não digo que isso seja proposital: acredito mais na incompetência, na miopia social e nas coisas (mal) feitas com pressa do que na má fé. Os órgãos municipais divulgam a informação que lhes interessa propagar e os órgãos de mídia a repassam na base do copy/paste, sem opinar ou refletir sobre o assunto.
Nos jornais e telejornais, informaram de boca cheia que “cerca de 85 mil caminhões deixarão de trafegar“. Ok, 85 mil… Mas tem TRÊS MILHÕES E MEIO de veículos na rua (dados do ano passado)! Como é que pode melhorar tanto o trânsito tirando 85 mil caminhões, no meio desses três milhões e meio de veículos??
Na ponta do lápis
Façamos pois alguns cálculos grosseiros, porém otimistas. Vamos supor que um caminhão impacte o trânsito umas três vezes mais que um carro de passeio:
85 mil caminhões x 3 = impacto semelhante a 255 mil carros
255 mil representa 7,3% de 3,5 milhões. Legal! Mas… os congestionamentos diminuiriam em 7,3%?
Imagine que muitos desses caminhões serão substituídos por vans. A carga de um caminhão pode precisar ser dividida em até 3 vans.
Vamos supor que 1/3 desses caminhões seja substituído por, em média, 2 vans (estimativas modestas, hein) :
1/3 de 85 mil = 28 mil
28 mil caminhões divididos em 2 vans = 56 mil vans
Ou seja, retiraria-se da rua 57 mil caminhões e acrescentaria-se 56 mil vans.
Sendo ainda otimista e considerando que cada van impacta o trânsito em 1,5 vezes o que um carro impactaria, temos:
– Menos 57 mil caminhões: impacto equivalente a 171 mil carros
+ Mais 56 mil vans: impacto equivalente a 112 mil carros
= Saldo: equivalente a 59 mil carros, o que dá 1,7% daqueles 3,5 milhões…
1,7%?? Grande ajuda!
Tudo isso sem considerar que o congestionamento não é linear: passou de uma certa quantidade de carros, não tem como ficar mais ou menos entupido, fica tudo parado e pronto. Afinal, tem muita diferença um dia com 280km de congestionamento e um dia com 250? Se fosse linear, deveria ser uma diferença de mais de 10%… Esses 1,7% mudam alguma coisa?
Também não considerei na conta os 800 veículos novos que entram em circulação diariamente. Tudo bem, esses cálculos não tem rigor científicos (teriam se fossem embasados em estatísticas, mas elas não existem ou não são acessíveis).
Alta nos preços
E é mais que óbvio que isso tudo vai influenciar nos preços. Imagine que você tem um mercadinho que costuma fechar às 8 da noite. Você costumava receber as mercadorias ao longo do dia, mas agora vai ter que receber de madrugada. Quem vai ficar lá pra receber a mercadoria, armazenar, registrar a entrada? Algum funcionário, pago pra isso… Ou você, dono do mercado, que vai ter que colocar alguém no seu lugar de manhã para não ter que trabalhar 16 horas por dia. Esse custo vai ser repassado para o consumidor, claro. Pode até ser pequeno, mas vai.
Mesmo nos casos em que a entrega só vai mudar de dia, a loja pode precisar aumentar os estoques, para durarem um dia a mais. Estoque também tem custo, como qualquer pessoa com formação ou vivência nessa área sabe. O dinheiro desse custo vai sair de algum lugar – adivinhe de onde?
Há mais custos adicionais. Uma entrega à noite tem maior custo de pessoal. Os roubos de cargas simples terão também uma pequena porcentagem de aumento, o que também gera um custo adicional que vai sair do bolso do consumidor. Os transportes que forem divididos em veículos menores terão frete mais caro, afinal sai mais caro transportar em três vans do que em um caminhão pequeno, até pelo aumento de pessoal alocado na entrega.
Enfim: não resolve
Essa medida é só pra passar um pano, porque a eleição tá chegando. Não adianta colocar a culpa nos caminhões, nos acidentes, na chuva, nos carroceiros, nos semáforos não-inteligentes e até no próprio rodízio. O problema do trânsito é muito carro na rua! E isso só vai ser resolvido quando o município der aos cidadãos melhor transporte público (o que não é o mesmo que ônibus com TV) e quando as pessoas se tocarem que o trânsito é causado pelos carros que elas mesmas dirigem. Não adianta esperar a solução cair do céu, cada um tem que fazer a sua parte. Reclamar e colocar a culpa nos outros é fácil…
Fizeram o rodízio pra diminuir os carros na rua nos horários de pico, até que o dia todo virou pico. Agora proíbem os caminhões, o que também não vai resolver nada. No mês que vem, quando as férias acabarem e tudo entupir de novo (na verdade continua entupido, mas comparado com o mês passado parece refresco), quero ver o que vão dizer. Provavelmente vão achar outro culpado da vez.
Leonardo, se há caminhões que param em fila dupla para descarregar, que eles sejam multados por isso. Já existe legislação para tal. Não vamos proibir todos os caminhões de circular porque alguns param em fila dupla, outros furam sinal fechado, outros não dão seta, não é mesmo? Até porque se fôssemos seguir esse raciocínio teríamos que proibir todos os automóveis particulares, pois há muito mais automóveis parando em fila dupla para pegar crianças nas escolas todos os dias do que caminhões fazendo isso para descarregar mercadorias…
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Bom, acho que parte desta resolução nao seria sobre a locomoção dos caminhões mas sim quando eles descarregam, visto que quase nunca eles estacionam, sempre param em fila dupla, dai pelo menos faria um pouco mais de sentido essa resolução (um pouquinho só)
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