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População sinaliza ciclovia em São Paulo, mas prefeitura remove imediatamente

Cidadãos sinalizaram ciclovia paralisada há mais de um ano, com sinalização pela metade, mas prefeitura removeu no dia seguinte, logo pela manhã.

Sinalização popular foi feita na madrugada de domingo, 4 de março. Foto: Divulgação

A avenida Ricardo Jafet amanheceu mais bonita – e segura – nesse domingo, 4 de março. A ciclovia, que teve sua implantação interrompida no início da gestão João Doria (PSDB), foi finalmente sinalizada. Mas não pela prefeitura.

Importante ligação entre Zona Sul, Zona Leste e Centro, a via é muito utilizada por pessoas em bicicletas, por ser plana, levar a diversos bairros da região e conectar pelo menos três estruturas cicloviárias da região. Uma contagem feita pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) em fevereiro de 2017 apontou que, em apenas 14 horas, 263 ciclistas passaram pela avenida, apesar da agressividade do tráfego no local.

Gráfico com o fluxo de ciclistas registrado na avenida Ricardo Jafet, em fevereiro de 2017. De acordo com a Ciclocidade, em regiões sem infraestrutura de proteção a ciclistas a proporção de mulheres fica em torno de 3%. Já em locais onde há ciclovia ou ciclofaixa, esta proporção tende a variar entre 9% e 14%. Fonte: Ciclocidade

Essas centenas de pessoas que utilizam a Ricardo Jafet diariamente vêm sendo expostas a risco pela prefeitura em razão da ausência de estrutura cicloviária, uma vez que a avenida apresenta grande fluxo de automóveis, presença intensa de caminhões e ônibus e ainda motoristas com comportamento agressivo para com os ciclistas e excedendo os limites de velocidade, devido às faixas largas e à baixa fiscalização.

Buscando segurança para quem pedala

Agora, um ano após a “suspensão” da sinalização oficial da ciclovia – paralisada até que fosse completada uma “revisão geral do plano cicloviário” da qual não se viu resultado até hoje – uma ação popular deu mais segurança a quem passa por ali de bicicleta. Ao menos por algum tempo.

Com pintura de solo, a área para ciclistas foi sinalizada na mesma posição do viário prevista pelo projeto original, simulando o novo padrão da prefeitura: uma faixa branca e uma vermelha, com pictogramas de bicicleta ao longo da ciclofaixa.

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Além da sinalização, foi pintado um grande painel de flores amarelas no muro que margeia o Riacho do Ipiranga, no centro da avenida. “As flores amarelas escolhidas como tema do painel se tornaram um símbolo da causa cicloativista paulistana após o prefeito João Dória Jr atirar no chão as gérberas amarelas oferecidas por uma ativista, em abril de 2017″, diz o texto recebido pela nossa redação (veja a íntegra no box abaixo). Também foi pintada a frase “VAI TER CICLOVIA” nesse mesmo muro (veja foto no final do box).

A gestão municipal certamente notou a ação, pois a reação foi imediata. Na ciclovia que está há um ano paralisada, a sinalização popular durou apenas um dia. Um. Dia.

Remoção relâmpago

Imagem: Reprodução

Infelizmente, a administração municipal foi extremamente rápida em remover a sinalização de segurança implantada de forma popular. Uma pintura cinza foi feita às pressas por sobre as cores pintadas pelos ciclistas.

À Folha de São Paulo, a CET já havia declarado no domingo mesmo que a removia, pois por não ser oficial ela traria “riscos aos ciclistas”. Falando assim, parece até que sem sinalização nenhuma (na verdade, com uma sinalização oficial pela metade), fica muito mais seguro passar de bicicleta por ali. Parece até provocação.

O órgão também diz no comunicado que ainda está – até hoje! – “estudando a melhor opção a ser implantada na região”. Pelo jeito, a gestão Doria continua eficiente apenas para remover as ciclovias.

Mas ainda há alguma esperança. Quando a população sinalizou uma ciclofaixa no Viaduto Bresser, no Centro, em julho do ano passado, a remoção ocorreu em poucos dias, porém a ação deu resultado: agora, a gestão municipal pretende implantar estrutura cicloviária ao longo da Rua Bresser, de forma oficial: veja a chamada para a Audiência Pública (e compareça!).

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Avenida Ricardo Jafet acorda linda e maravilhosa neste domingo

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Muitos conhecem a Avenida Ricardo Jafet como um dos principais acessos à Rodovia dos Imigrantes. Afinal, quem não gosta de ir à praia? Mas a Jafet também faz a ligação entre os bairros do Cambuci, Mooca, Aclimação, Ipiranga, Vila Mariana, Saúde, Sacomã, Vila Prudente e Jabaquara. Por este motivo, e também por ser plana, que ela é a rota natural de muitas e muitos ciclistas que passam diariamente por ali.

É por isso que a Linda Jafet acordou esta manhã mais acessível, mais colorida e bem mais alegre. A tão esperada ciclofaixa, aprovada em junho de 2016, iniciada em janeiro de 2017 e imediatamente interrompida pelo prefeito João Dória Jr foi completada durante a madrugada de sábado para domingo (4/3) pela própria população.

Já traçada com a nova tipologia definida pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a ciclofaixa conta também com sinalização horizontal e 50 balizadores para delimitar o espaço para as bicicletas e garantir o acalmamento dos automóveis que circulam a altas velocidades pela via. Ainda como parte das ações do grupo, um grande painel de flores amarelas foi pintado coletivamente no muro que margeia o Riacho do Ipiranga.

Linda Jafet, mais humana e alegre para todos

Esta é uma iniciativa da sociedade civil e reúne moradores de diversas regiões de São Paulo, em sua maioria ciclistas, para pintar o trecho da ciclofaixa que deveria estar pronto há mais de um ano. A ideia surgiu da necessidade premente da estrutura cicloviária no local somada à vontade de mostrar que esse tipo de alternativa de transporte permite outra relação com a cidade e a implementação dessas estruturas traz consigo benefícios não apenas para quem usa a bicicleta, mas para todos os cidadãos.

Em um ano de administração, a atual gestão não construiu um centímetro sequer de ciclovias. Ameaçou a retirada de várias e não apresentou seu plano de expansão, que deveria fazer parte do planejamento cicloviário da cidade. No mesmo período, o número de mortes de ciclistas e pedestres no trânsito aumentou em 48%.

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Queremos viver em uma cidade para pessoas! As flores amarelas escolhidas como tema do painel se tornaram um símbolo da causa cicloativista paulistana após o prefeito João Dória Jr atirar no chão as gérberas amarelas oferecidas por uma ativista, em abril de 2017. Sem as flores e sem a ciclofaixa, a Ricardo Jafet é apenas um lugar sem beleza ou graça, que serve de passagem a automóveis em altas velocidades.

Espaços transformados como esse tornam a rua e a interação com a cidade possíveis e afetuosas, colaboram com a segurança de todos que passam por ali e estimulam a conexão com a cidade, no sentido contrário ao movimento de segregação e individualismo pregado pelo uso massivo do carro.

Nas redes sociais, o trecho da ciclovia vai ganhar nome e perfil no Instagram! A ideia da Linda Jafet é humanizar um espaço esquecido da cidade e divulgar a ação por meio da apropriação do local pela população. Usando marcações, usuários podem compartilhar fotos e vídeos feitos no local ajudando a dar visibilidade à causa, às reivindicações e mostrar o dia a dia do local.

Um sonho (quase) interrompido

Foto: Divulgação

Com projeto aprovado em junho de 2016 e verba liberada em dezembro daquele mesmo ano, a obra de implantação da ciclofaixa da Av. Ricardo Jafet chegou a ser iniciada pela prefeitura de São Paulo em janeiro de 2017. Sua execução foi cancelada por ordem do atual prefeito, João Dória Jr, atendendo à pressão de vereadores contrários à implantação do plano cicloviário na cidade.

Com a interrupção do trabalho, apenas parte da pintura vermelha, que sinaliza o espaço reservado aos ciclistas, havia ficado no local. O restante da estrutura planejada, como placas de sinalização, sinalizadores no chão e balizadores não havia sido implantado, prejudicando principalmente a segurança de quem pedala pela avenida.

A estrutura facilitará e viabilizará o uso do espaço para centenas de pessoas diariamente. Segundo pesquisa realizada em fevereiro de 2016 pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), a avenida recebe em média 263 ciclistas por dia [nota do VdB: esse número foi levantado em apenas 14 horas de contagem, portanto a quantidade diária de pessoas em bicicleta é certamente maior].

Essas viagens têm perfil variado: são trabalhadores, estudantes e mesmo pessoas em busca de lazer. A contagem da Ciclocidade mostra ainda que há potencial para mais do que dobrar o número de ciclistas por lá, pois é comum que contagens similares, realizadas em outros pontos da cidade, registrem fluxo entre 500 e 600 ciclistas por dia, mesmo em locais que apresentam conflito com veículos motorizados. Conta a favor o fato de que a Ricardo Jafet é uma via plana e linear, o que encorajaria até mesmo ciclistas iniciantes ou com pouco preparo físico a usar o lugar.

Íntegra do texto enviado pelo perfil Linda Jafet para nossa redação

Vídeos

Veja em 360º a sinalização que durou apenas um dia na Avenida Ricardo Jafet, nesse vídeo de José Renato Bergo:

Outro vídeo que mostra a sinalização feita pelos ciclistas, publicado por Leonardo Nascimento no Twitter:

Veja vídeo publicado no instagram Linda Jafet, mostrando a sinalização removida:

17 comentários em “População sinaliza ciclovia em São Paulo, mas prefeitura remove imediatamente

  1. Uma outra ameaça é o “Asfalto Novo” ( https://g1.globo.com/sao-paulo/especial-publicitario/prefeitura-de-sp/noticia/programa-asfalto-novo-investe-r-550-milhoes-para-recapear-vias-de-sao-paulo.ghtml) que ao refazer os asfaltos as marcas de ciclofaixas serão apagadas por tabela. E sabe lá quando irão refazer as ciclofaixas, o que indica que lá tinha uma ciclofaixa são as placas de “Bicicleta” e “Expressamente Proibido Estacionar”, … Se ninguém solicitar as marcas no asfalto, a prefeitura convenientemente irá esquecer de fazê-las. Tem uma avenida perto onde moro que refizeram o asfalto. Pedi no SP156 para refazerem, mas apenas um trecho foi feito, enquanto a outra, que é depois do cruzamento, ainda não deram sinal que iriam fazer. E sem as “tachas” que separariam as faixas. Só há a pintura, e, nem sempre inteira, em locais de cruzamento com outras ruas, não está printado de vermelho, o que de certa forma faz sentido. São medidas para economizar …

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      1. Explica isso para aquele senhor que foi atropelado E morto por uma bicicleta sob o minhocão (tinha ciclovia por ali e o ciclista pedalava fora dela).

        Polêmico. O que acha? Thumb up 2 Thumb down 6

        1. mimimi mimimimi

          Só deixo aqui uma reflexão:

          Mortos no trânsito de são paulo, por obra de veículos motorizados (2014, dados CET): 1249 pessoas. mortos atropelados por bicicletas: 1 (2015, ontem). 1249 X 1. mortos pela poluição de veículos automotores ao ano: 7.800 (dado, FM-USP). mortos por poluição produzida por bicicletas: 0. 7.800 a 0. somando-se as estatísticas: 1249 + 7800 = 9049, e 1 + 0 = 1. 9049 x 1. nove mil e quarenta e nove. a um.

          logo se conclui que:

          1. a bicicleta é perigosa pra kct.

          2. esses ciclistas são doidos terroristas que ficam matando as pessoas.

          3. tem que proibir a bicicleta em são paulo, tão matando todo mundo.

          O senhor estava atravessando fora da faixa. Logo, assumiu o risco de ser atropelado.

          Então não fale merda carrocrata

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          1. Nossa que imbecil!

            Com esse seu argumento (errado) “O senhor estava atravessando fora da faixa. Logo, assumiu o risco de ser atropelado.”

            Posso justificar qq atropelamento de ciclista fora da ciclovia!

            Pedestres sempre tem prioridade, pois são mais frágeis, depois bicicletas, motos e assim em diante… Por conta de energúmenos como esse que existe toda essa rivalidade.

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              1. Como um movimento (das bicicletas), que deveria ser pacífico e positivo se transforma em ódio?
                Por isso esses discursos nunca recebem o apoio da população. Muito ódio e pouco carisma.
                Já até inventaram jargão: carrocrata. Aiai.

                Ah, vou de bicicleta para o trabalho quase todos os dias, para quem acha que sou um “carrocrata”.

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              2. Marcelo, como já foi dito, você não passa de um IMBECIL. Quer dizer que só porque o pedestre estava fora da faixa tudo bem atropelá-lo?????

                Então coloca a sua MÃE fora da faixa para todo mundo passar por cima: carro, bicicleta, ônibus, etc.

                PALHAÇO!

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  4. Creio que o problema é a resistência da subprefeitura e de seus comerciantes. O que em parte explica porque na Gestão Haddad fez às pressas, numa última tentativa de fazer a ciclovia. A subprefeitura atual junto com os comerciantes e estabelecimentos que são afetados por outras ciclovias que passam na subprefeitura. Como retaliação aproveitaram essa mudança de gestão, para apagar pela primeira vez. Essa segunda foi retaliação da comunidade de ciclistas da região. A forma mais pacífica de resolver isto é através de solicitações ( muitas mesmo, quase que um abaixo assinado comentado ) nos canais da prefeitura, como no SP156. Aproveitando também o momento de discutir a mobilidade ( lembram-se da passarela que não tinha acesso a cadeirantes ? ) no caso da reforma das linhas de ônibus. Com certeza irá afetar a mobilidade de muitos, como a dos cadeirantes (!), e idosos, que provavelmente irá jogar muitos para outros modais, como bicicleta.

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    1. Ao fazerem esta retaliação, perderam a oportunidade de ser bem visto pela comunidade de ciclistas, e, por um processo na administração passada pela irregularidade. Agora a prefeitura está amargando com a desaprovação dos ciclistas e com isto vai irritando a população pois os ciclistas irão utilizar as ruas paralelas o que vão atrapalhar de qualquer maneira com ou sem ciclovia.

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  5. Este governo e alguns vereadores mediocres não estão nem ai com a mobilidade. Vivem na contramão da modernidade sómente porque as ciclovias foram implantadas pelos governos anteriores.

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  6. Poxa….já pensei em fazer isso na Domingos de Moraes (sério mesmo), agora que acabou a obra do metrô Sta Cruz, ligando a ciclovia praça da Arvore à Vila Mariana, um trecho tão pequeno e que facilitaria tanto, e não seria uma obra difícil já que seria apenas uma continuação em um trecho pequeno…

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