"Donos da rua" acham que ônibus atrapalham o Valet

A Veja São Paulo publicou semana passada uma matéria criticando a passagem de ônibus por uma rua que, sem estacionamento irregular ou fila dupla, comportaria um ônibus e um carro lado a lado.

O problema se agrava quando algum cliente de um dos catorze restaurantes da região estaciona o carro no meio da rua para entregar a chave aos manobristas. “Aí, os motoristas dos ônibus metem a mão na buzina e irritam quem quer comer com tranquilidade”, afirma Giliard dos Santos, funcionário da empresa de valet Golf Park.
Trecho da matéria da Veja São Paulo, disponível na íntegra aqui

Mesmo com citações absurdas como essa, o tom da matéria é de que os ônibus é que estão errados. Não vou me alongar explicando os porquês dessa falácia, apenas copio aqui o e-mail que enviei à redação da revista (vejasp@abril.com.br):

Lamentável a matéria “ônibus da discórdia”, publicada em 11/02. Ela deveria se chamar “restaurantes da discórdia” ou, melhor, “valets da discórdia”.

A matéria deixa a clara impressão de que os ônibus que circulam na R. Amauri “atrapalham” os serviços de valet, pois buzinam querendo passar quando os clientes param em fila dupla. Os donos da rua, ou melhor, os donos dos restaurantes, querem que o ônibus passe em outro lugar, alegando de forma sutil que ali não é lugar de ônibus. Afinal, “nem tem ponto na rua”.

Pois vamos aos fatos:

-• Há um ponto de ônibus na Rua Amauri sim. Ele fica do outro lado da Avenida Faria Lima, logo de esquina com essa. A Rua Amauri continua ali daquele lado, mas como não é o trecho da rua que os donos dos restaurantes se julgam proprietários, isso não interessa à discussão que eles levantam.

-• Se houvesse um ponto de ônibus ali, pediriam para retirar o ponto, porque atrapalharia o serviço de valet, que atende muito menos pessoas diariamente do que aquelas que se servem dos ônibus que por ali passam.

-• Os proprietários dos restaurantes fizeram sim uma reforma nas calçadas das vias (reformando o piso e tornando subterrâneo o cabeamento elétrico), em parceria com a prefeitura, mas isso não lhes dá título de propriedade sobre a via ou mesmo sobre as calçadas reformadas, que continuam sendo patrimônio público.

-• Quem realmente atrapalha quem? Os ônibus, que levam em cada um dezenas de pessoas, ou as poucas pessoas que param em fila dupla e local proibido (o que inclui os próprios manobristas), essas sim causadoras dessa celeuma? Alguns poucos mal-educados são mais importantes que o direito de circulação de milhares de pessoas por dia?

-• Há dois horários em que os clientes e manobristas dos serviços de valet tumultuam a rua e empacam o trânsito. Fora desses horários, não há congestionamento na rua, nem no horário de pico da manhã, nem entre 17 e 19 horas. Será que os culpados são realmente os ônibus?

-• Os manobristas da Rua Amauri guardam vagas de Zona Azul nas ruas adjacentes. Fazem isso estacionando o carro do cliente de forma que ocupe o espaço onde caberiam dois veículos; ao chegarem com um segundo carro, estacionam melhor o primeiro para que o segundo caiba lá.

-• Os manobristas da Rua Amauri param em vagas de Zona Azul e não colocam a “folhinha” do talão no veículo. Há um ambulante que faz isso caso a CET chegue para fiscalizar.

-• Os manobristas da Rua Amauri mudam de lugar e até mesmo empurram para cima da calçada as motos que estejam corretamente estacionadas, para poder estacionar os carros dos clientes. Algumas têm com isso seu alarme acionado, que fica gritando que o veículo está sendo roubado até o dono voltar e descobrir que “alguém” mexeu na sua moto.

-• Os manobristas da Rua Amauri colocam carros de clientes embicados nas portas das garagens de prédios comerciais e residenciais vizinhos, ocupando a calçada e impedindo a entrada e saída de veículos dos prédios “só por um minutinho”.

-• Os manobristas da Rua Amauri dão ré em alta velocidade na rua, para não ter que dar a volta no quarteirão.

-• Os manobristas da Rua Amauri param os carros em cima da calçada, atrapalhando o fluxo de pedestres. Muitas vezes ainda abrem totalmente a porta e ocupam um espaço ainda maior com o corpo, para impedir a passagem dos pedestres pobres enquanto os clientes chiques descem dos carros enormes e espaçosos ocupando a calçada toda. Outras vezes, param na perpendicular, fazendo os pedestres passarem pela rua. Se um agente do CET os aborda, eles alegam que é “só por um minutinho”.

Em anexo, algumas fotos do que realmente acontece na Rua Amauri. Convido a redação a passar nessa rua às 10 da manhã para ver como os ônibus não estão atrapalhando ninguém, ou às 4 da tarde. Ou ao meio-dia, para ver o comportamento dos manobristas.

A reportagem, com o viés com que foi redigida, presta um desserviço à população, colocando como prejudicial um serviço que atende milhares de pessoas diariamente, apenas porque ele conflita com os interesses das empresas de valet que agem como se fossem donas do bairro todo. Dá até impressão de matéria paga. Façam-me crer que ela não o é, por favor, com uma matéria mais esclarecedora e que avalie os diversos lados da questão, como ensinam na faculdade de Jornalismo quando explicam o que é um texto isento e ético.

Grato,

Willian Cruz

Fotos anexadas ao e-mail:

Faltou colocar fotos de carros parados em fila dupla, atrapalhando a passagem dos ônibus, mas quis mandar logo o e-mail.

21 comentários em “"Donos da rua" acham que ônibus atrapalham o Valet

  1. Ficou muito legal a matéria, parabéns. Agora só esperamos a resposta da Veja, será que foi um estagiário que fez a matéria para a revista…..rss.

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