Sobre a tentativa de assassinar ciclistas em Porto Alegre

Na noite de 25 de fevereiro de 2011, a Massa Crítica de Porto Alegre, umas das oitenta e duas Bicicletadas do país, fazia seu passeio-protesto mensal, na tranquilidade de sempre, mostrando que as bicicletas também têm direito às ruas e que também somos trânsito.

Eis que um imbecil, estúpido, sem respeito à vida e provavelmente sem amor nem pela própria mãe, fica irritado porque a rua está tomada por bicicletas e não por carros.

Se fossem carros congestionando a rua, ele bateria no volante, bufaria e esperaria. Como eram bicicletas, ele se sentiu superior, achou que as bicicletas não tinham direito de ocupar a rua que ele deve ter comprado (assim como a habilitação) e resolveu ensinar uma lição a esses ciclistas baderneiros, que em vez de congestionar com um carro ficam por aí passeando de bicicleta com um sorriso na cara.


A pressa desse cidadão sem alma era mais importante que a vida das quase duzentas pessoas que estavam ali.


De dentro de seu carro, imbuído de coragem, ele tentou matar um monte de gente. Depois de passar pela massa, a valentia ficou estendida no chão junto aos ciclistas caídos, pois fugiu do local rapidamente, sem prestar socorro, provavelmente preocupado com os danos que pernas, cabeças e troncos tinham feito ao seu lindo Golf preto.

A valentia ainda não voltou até agora, já que ele não se apresentou para assumir o que fez com tanta coragem e certeza naquele momento frio. Abandonou o carro e provavelmente vai alegar que seu veículo havia sido roubado horas antes. E a justiça vai acreditar.

Apareça, seu covarde sem respeito à vida! Bata no peito e diga “fui eu sim”, se você tem tanta certeza de estar com a razão!


O ocorrido foi, sem a menor dúvida, um crime de trânsito, usando o carro como arma. Não foi um acidente, como a mídia tradicional cheia de dedos e medos insiste em relatar. Eufemismo é pouco.

A imprensa tem que perder esse medinho de ser processada ao relatar o que as imagens de vídeo mostram claramente: tentativa de assassinato sobre quase 200 pessoas, lesão corporal dolosa a cerca de 20 delas e danos materiais aos veículos de tantas outras. Por sorte, muita sorte, ninguém morreu.

Diretor da EPTC diz que órgão não foi avisado sobre pedalada coletiva“ – Click RBS
Claro que não foi avisado! Preciso de autorização pra sair de bicicleta na rua? Por que uma rua cheia de bicicletas é um absurdo e todas as outras entupidas de carros todos os dias é normal?

Ciclistas são atropelados por carro no bairro Cidade Baixa – Correio do Povo
Matéria que chama os participantes da Massa Crítica de “atletas”. Claro. E todo mundo que dirige é “piloto”.

Ciclista diz ter pedido calma a homem antes dele atropelar 10 – Terra
O pior dessa matéria são os comentários.

Delegado critica movimento de ciclistas atropelados no RS – Terra
Novamente, os culpados são as vítimas. Afinal, elas não dirigem como nós, só podem estar erradas. “Aqui não é a Líbia”, diz o delegado. Não, delegado. É a terra do “tudo pode quando se está de carro”.

Polícia trata atropelamento de ciclistas como lesão corporal sem intenção – Correio do Povo
Sem intenção. Certo. Então a intenção era matar, não lesionar.

Este texto comenta algumas bobagens e tendencionismos das matérias acima.

Talvez até mais do que o crime, chocam os comentários dos leitores nessas matérias. Muitas pessoas defendem o agressor, por só conseguirem se colocar atrás do mesmo volante e não no lugar das pessoas que estavam na rua quando foram colhidas pelo carro do demente. Defender um assassino como esse é ser conivente com os crimes de trânsito que tiram milhares de vidas no país todos os anos, matando mais que muitas guerras, sem ninguém dar a mínima.

São pessoas que aceitam os “acidentes” de trânsito como coisas da vida, algo inevitável, quando na verdade o são. As mesmas pessoas não deixariam mais seus filhos andarem de bicicleta na rua se sofressem um acidente que causasse uma fratura, mas permitiriam-nos dirigir mesmo tendo alguma morte ao volante na família.

É importante comentar nessas matérias, desconstruindo com argumentos sólidos os absurdos que algumas dessas pessoas comentam. Não podemos deixar que essa visão retrógrada, preconceituosa, desumana e criminosa contamine os meios de comunicação.

A bicicleta é um veículo, reconhecida como tal pelo Código de Trânsito, com direito de circulação garantido nas vias públicas e prioridade sobre veículos automotores. E, por mais que os ciclistas estivessem completamente errados em usar a rua, isso não daria a qualquer motorista, mesmo que estivesse em uma viatura policial, de passar derrubando a todos como pinos de boliche, demonstrando total desrespeito à vida e falta de preparo para viver em sociedade.

A matéria abaixo mostra como ficou o carro do assassino e diz que a polícia já identificou o proprietário do carro, mas não sabe se era ele mesmo quem estava dirigindo. Mas porque não foram atrás, para prendê-lo em flagrante? Ele está foragido ou não interessa à polícia o flagrante?


Uma pessoa assim é um perigo a todos à sua volta. Não deve nem responder o processo em liberdade, pois corre-se o risco de, ao ver outro ciclista passando na rua, ter um novo acesso de ódio e dessa vez ter sucesso na tentativa de homicídio.

A primeira medida a ser tomada é revogar seu “porte de arma” (seu direito de dirigir). Temos que cobrar punição exemplar para esse criminoso, para evitar que crimes como esse continuem sendo tratados com “acidentes” e como algo inevitável, que faz parte da vida.

Não quero que algo assim faça parte da minha vida. E você, aceitaria algo assim na sua?

Não podemos nos calar.

Saiba mais

– Siga o Vá de Bike no twitter.

– Acompanhe no twitter a tag #naofoiacidente. Ao tuitar comentários e links sobre o assunto, por favor use essa tag.

– Visite o site da Massa Crítica de Porto Alegre e siga seu twitter. Eles estão colocando informações novas no ar conforme elas chegam. O caso já repercutiu até no exterior.

45 comentários em “Sobre a tentativa de assassinar ciclistas em Porto Alegre

  1. Senhorita Fernanda, se menores de 18 anos não tem legitimidade para nada o que faz tão púbere moçoila nessa internet tão perigosa?

    À parte de pilhérias, furto-me de explicar o óbvio gritante. Não terá serventia nenhuma. Melhor eu tentar conversar com a porta, que ao menos sabe abrir-se.
    Tarefa tão árdua e ingrata eu deixo aos companheiros, sempre melhores na verve. Vai, galera! comentem ae!

    (aposto que a senhorita é a favor da penalização de menores de 18 anos, né? não sei.. é um palpite)

    A EPTC já pediu pelo Twitter para que ciclistas parem de ligar avisando que vão sair para pedalar nas ruas.

    Saudações e bom pedal a todos

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  2. Engraçado dizer que bicicleta em movimento “tranca rua”… O que tranca a rua é carro forte estacionado em fila dupla… Só a bicicleta destranca a rua para as pessoas. Seguindo devagar e sempre.

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  3. Com certeza, nada, mas NADA, justifica o que esse indivíduo fez, mas também não se pode denominar de “passeio” um agrupamento de ciclistas que visam obter ciclovias nas ruas de porto alegre. Seria mais apropriado chamar de protesto. A propósito, segundo a EPTC, o movimento teria que solicitar apoio antes de simplesmente irem às ruas. É incrível como ainda tem gente que não conhece, ou não quer admitir como de fato é o comportamento de muitos brasileiros. Não somos um país com comportamento de primeiro mundo, infelizmente! Talvez se a EPTC estivesse lá isso poderia ter sido evitado. A permissão para bicicletas circularem nas vias se restringe aos bordos da pista de rolamento, quando não houver ciclovias (o que é o nosso caso) e não autoriza que bicicletas tranquem completamente a passagem dos outros veículos. O direito de um acaba quando começa o do outro. Acho muito válido que seja feito um movimento em prol dos bicicleteiros, que também, assim como os carros têm direito de circularem, mas acho que para isso tem que fazer da forma correta. Menores de 18 anos, que não tem legitimidade pra nada, não deveriam estar junto, principalmente crianças pedalando sem capacete. Enquanto vocês não respeitarem o básico, não conseguirão o que querem, pois mostram desorganização e descumprimento de certos preceitos.

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    1. que lógica é essa, a culpa é das crianças sem capacete? Faça-me o favor…. E antes de criticar o comportamento de brasileiros, por que você não se inspira um pouco nas sociedades europeias onde carros e bicicletas convivem de forma um tanto mais evoluída?
      Por que algumas pessoas insistem na tese de que a culpa é das vítimas?

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    2. Fernanda, você disse “Não somos um país com comportamento de primeiro mundo, infelizmente!”. Procure imagens desses países (e.g. Holanda, Dinamarca) e você verá várias pessoas trafegando de bicicleta sem capacete. Lá não é obrigatório, pois há respeito entre as pessoas no trânsito, sejam elas ciclistas, motoristas ou pedestres. E crianças são incentivadas a pedalar.

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  4. Cenário fictício, autoria de um amigo meu: “Um motorista de carreta vê seu caminho impedido por dezenas de carros num engarrafamento, sem paciência, fica estressado com a lentidão e resolve acelerar pra cima dos carros, jogando carros para todos os lados. Outros motoristas de carreta concordam que o estressado estava errado e exagerou, mas dizem que os carros não deveriam estar ali quase parados, atrapalhando o trânsito deles, afinal eles são maiores e mais potentes que aqueles carrinhos todos. E o imposto que uma carreta paga é muito maior que o imposto que um carro paga. Portanto, carretas têm muito mais direito de trafegar em qualquer lugar que um carrinho minúsculo.”

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  5. Os primeiros vídeos acima, estão dando erro, não consegui acessá-los. Há alguma ordem judicial impedindo que se veja os vídeos? Um psicopata desse tipo, tem de ser preso e ter a carteira de motorista cassada, probido pelo resto da vida de dirigir. Ainda bem que ninguém morreu. Minha solidariedade às vítimas e a todos os ciclistas. Que aliás deveria ser o veículo mór das grandes cidades, menos poluição de todos os tipos e uma grande melhora nos índices de saúde da população.
    Alexandre Lambert
    P. S. O Delegado perdeu uma boa oportunidade de ficar calado, e deveria no mínimo ficar sem o cargo durante um bom tempo. Companheiro Tarso Genro assuma esse caso pessoalmente, por favor! É o que lhe pede, um membro da corrente Mensagem ao PT.

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  6. Uma outra sugestão é a seguinte: Esse demente é funcionário PÚBLICO do Banco Central. Poderia ser feito um abaixo-assinado exigindo a sua DEMISSÃO IMEDIATA! Eu me recuso a ficar pagando salário pra um cara desses, ainda mais agora que ele vai usar esse dinheiro para contratar advogados sacanas pra livrar ele da cadeia. Fica ai a sugestão, espero que ela seja acatada!

    Abraços, e INFELIZMENTE devo dizer que sou motorista de carro, mas tenho um enorme respeito pelos ciclistas, e meu sonho, que espero viabilizar logo, é ir ao trabalho de bike!

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  7. Cara… soube apenas hoje pela manhã do acontecido… o pessoal do meu trampo, sabendo que sou ciclista urbano me avisou e mostraram o vídeo… caí em rantos como criança… e ainda choro quando vejo o mesmo… contem comigo para qualquer manifestação, em qualquer hora, em qualquer lugar!

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  8. O que esse troglodita fez é um completo absurdo, e nem mesmo deveria ser dado direito à explicação. Ninguém precisa de explicação, precisamos é que a justiça brasileira faça o que deve fazer. O sujeito não é “suspeito”, é culpado, e não é por lesão corporal, mas sim de tentativa de assassinato de dezenas de pessoas.

    Quem está errado? Eu, que ocupo a pista dos carros com um carro, ou as bicicletas, que tem seu direito garantido à circulação em vias públicas pelo CTB? NENHUM DOS DOIS, as vias de todo o sistema viário brasileiro devem ser divididas, e todos tem o direito de ir e vir em qualquer veículo que seja amparado pela lei, motorizado ou não. Pra mim, a pena dele deveria ser aplicada na hora: linchamento!

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  9. E eu, que estimulo meu filho de 13 anos a adotar a bike como meio de transporte?
    Sempre fico com a pulga atrás da orelha, pensando se o que eu estou fazendo não é uma insensatez.
    Fico sempre pensando no que aconteceria se um animal desses pegasse meu filho ou a minha esposa.

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  10. No próximo dia mundial sem carro, que tal sairmos espalhando correntes entre os postes para deixar os carros travados. As pessoas iam parar horas nos carros e iam perceber que carro é uma loucura!

    Esse meu plano só tem uma falha, as pessoas já ficam paradas no transito todos os dias e não cai a ficha…

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