
Ciclovia em Sevilha. Foto: Sevilla cycle chic
Como tornar uma cidade amiga da bicicleta: lições de Sevilha
Sevilha vem atraindo atenção mundial pelo seu rápido crescimento como cidade amiga da bicicleta. Conheça suas principais iniciativas.
Entre 23 e 25 de março de 2011 ocorreu em Sevilha, na Espanha, uma edição anual da Velo-City, conferência de planejamento cicloviário mundialmente respeitada que ocorre desde 1980. O evento internacional une milhares de especialistas, que compartilham suas experiências sobre o uso da bicicleta como meio de transporte urbano.
Sevilha vem atraindo atenção mundial pelo seu rápido crescimento como cidade amiga da bicicleta. A Peopleforbikes.org, uma organização americana, enviou um de seus membros à conferência, Zach Vanderkooy, e ele trouxe informações bastante interessantes sobre as iniciativas pró-bicicleta na cidade espanhola.

Bons exemplos para as cidades brasileiras

Em Sevilha, a porcentagem de uso da bicicleta cresceu de ínfimos 0,4% das viagens para significantes 7% em apenas 5 anos. É um exemplo inspirador de como resultados rápidos podem ser alcançados com investimento bem alocado.
O segredo foi a construção rápida de uma rede abrangente de infraestrutura e a implementação de um programa de aluguel de bicicletas. O uso da bicicleta revitalizou completamente a área central da cidade.
Alguns detalhes da transformação de Sevilha, citados por Vanderkooy no Peopleforbikes.org:
- Sevilha criou 160 quilômetros de infraestrutura cicloviária em 36 meses, entre 2007 e 2009.
- 85% do espaço para essa infraestrutura veio da remoção de área de estacionamento nas ruas ou de pistas para os automóveis; 15% veio do espaço dos pedestres, que foi compensado pela prefeitura com abertura de novos espaços em outras áreas.
- As melhorias aumentaram o número de viagens de 0,4% para aproximadamente 7%.
- Em 2005, uma grande praça pública foi reprojetada para ser mais acessível a pessoas e bicicletas:
- Duzentas vagas de estacionamento foram removidas.
- Mais de cem audiências públicas foram realizadas e houve oposição ferrenha da associação comercial e da vizinhança no início.
- Hoje, 22% dos clientes chegam de bicicleta, vários novos negócios foram abertos e o comércio ao longo da praça tem prosperado.
- Foi incorporado um sistema de captação de água da chuva ao novo design.
Família pedalando em ciclovia de Sevilha. Foto: Velo-city 2011 Em 2006, Sevilha remodelou uma grande via arterial de quatro pistas para ser uma praça compartilhada com via de automóveis e espaços para bicicletas e pedestres. Com bastante oposição no início, a mudança hoje é muito bem vista. “Isso destrói o mito de que as cidades européias ‘sempre foram desse jeito’. Esse espaço maravilhoso tem apenas cinco anos!”, elogiou Gil Peñalosa, diretor da organização 8-80 Cities e mestre de cerimônias da Velo-city 2011.
- A Câmara Municipal aprovou uma lei que limita apenas a moradores o acesso por automóvel à área central da cidade. A lei reduziu a quantidade carros que passam pelo centro de 25 mil por dia para 10 mil.
- “O ótimo é inimigo do bom.” A infraestrutura da cidade enfatiza a conectividade, não a perfeição. Não se compara às educadas ciclofaixas e vias compartilhadas do norte da europa, mas as ciclovias segregadas de Sevilha são seguras, úteis e te levam onde você precisa ir, sem interrupção.
- “Essa costumava ser uma rua perigosa para ciclistas e pedestres; agora, a maior ameaça é ser atingido por uma laranja caindo”, comentou Gil Peñalosa sobre uma rua reprojetada com ciclovias ao longo de uma fileira de laranjeiras.
Com base na descrição acima, quais semelhanças e diferenças você pode apontar com a estrutura cicloviária que vem sendo implantada em São Paulo? Comente no final da página!

Como mudar nossas cidades?
Para tornar uma cidade amiga das bicicletas e das pessoas, é preciso termos prefeito e vereadores comprometidos com mudanças, sem medo de tentar o novo e de contrariar setores acomodados da sociedade. Também é importante que cidadãos participem das audiências públicas e demandem mudanças na cidade que beneficiem pessoas, não automóveis ou mercado imobiliário.
Como em toda mudança de cultura, haverá forte resistência. Do jeito que a cidade está, todos já sabem como funciona e a maioria se adapta à situação ruim; com o anúncio de grandes mudanças, vem o receio de parte da população de não conseguir se adaptar à nova situação. Em especial o setor do comércio, que é voltado hoje aos clientes que chegam de carro.
É importantíssimo esclarecer que os clientes são as pessoas e não os automóveis, eliminando o receio de que menos carros signifique falta de clientes. Ciclista também é consumidor.
Não há dúvidas quanto a melhoria da qualidade de vida.
Mas, no Brasil, estou um pouco pessimista.
Seria bom se tivéssemos prefeitos e vereadores com disposição para as mudanças.
Acontece que nossos vereadores nem trabalhar eles querem. Eles não comparecem à Assembleia há mais de 30 dias. Desde a volta das férias 15 de fevereiro.
É uma lastima.
Vou aprender espanhol e visitar essa cidade.
Legal o que foi feito em Sevilha. As grandes cidades não possuem mais espaço apenas pra carros. Nos grandes centros o negócio é transporte público eficiente de qualidade e ciclovias/ciclofaixas adequadas. Ou será que o único jeito é uma avenida de 2 andares? (minhocão!?).
Caro Netto, não é necessário construir avenidas e viadutos. O centro de Sevilha possui ruas e becos bastante estreitos, o que basicamente fizeram foi:
– Condicionaram o acesso dos automóveis ao centro histórico;
– Disponibilizaram um VLT que conecta o centro ao metro e outros terminais da cidade;
– SUPER estruturaram oas vias para os modos suaves, ou seja, requalificaram os espaços públicos e vias com uso apenas aos pedestres e ao uso da bicicleta.
Espaços existem, bastam apenas dividir da melhor e mais sustentável maneira.
Verdade, Felipe. Como nos conta o Zé Lobo da Transporte Ativo nessa matéria, sempre há espaço para estrutura cicloviária. 🙂
A cidade de Sevilla nos deu um ótimo exemplo de cidadania, solucionando o problema de mobilidade urbana de forma correta e equilibrada. Pena que o pensamento tacanho de muitas pessoas na cidade de São Paulo e de outras importantes cidades brasileiras tornem inviáveis projetos como esse. Como fazer nós sabemos, mas o problema é bater de frente com os interesses comerciais e de alguns grupos sociais que não admitem perder o espaço destinado aos seus veículos motorizados. Torço para que muito em breve alguém consiga enfrentar essa situação e fazer uma mudança de comportamento radical – e andar de bicicleta é muito bom!
Estive em Sevilla ano passado e pude constatar que é uma ótima cidade para se locomover de bicicleta. Aluguei uma bicicleta de uma loja, o Sevici era um pouco complicado e não tão barato assim, foi uma ótima experiência pedalar naquela cidade.
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Muito bonito o filme.
Interessante a solução deles. Até onde posso perceber, trata-se de tráfego segregado.
Mas não vou ficar esperando que o poder público se sensibilize para construir ciclovia aqui em SP.
Vou continuar pedalando e exigindo meu direito de compartilhar a rua com os motorizados.
Já está muito mais fácil andar de bicicleta do que de carro, pelo menos para quem acha o congestionamento uma atividade sem sentido. É preciso ter alguma paciência e um tanto de prática para exigir, respeitosamente, o espaço necessário.
É também a oportunidade diária de demonstrar civilidade.
Eu quero mais do que isso, quero que o trânsito seja seguro para as crianças. Não é pedir muito!
Parabéns, Willian, pelo excelente trabalho. Já votei em você e voto mais!
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