Leitor afirma que bicicletas não podem usar as ruas, para não atrapalhar os carros

Um debate complexo no Vá de Bike: o leitor Ricardo Dirani tem toda a certeza de que ciclistas não devem usar as vias e que elas são de uso exclusivo dos automóveis. Veja seus argumentos e a opinião do Vá de Bike.

Um debate complexo anda acontecendo nos comentários de um dos textos do Vá de Bike. Um leitor, Ricardo Dirani, tem toda a certeza de que ciclistas não devem usar as vias e que elas seriam de uso exclusivo dos carros.

Sua argumentação se baseia no artigo 58 do Código de Trânsito, que afirma que os ciclistas devem usar os “bordos da pista”. Para Dirani, isso corresponde ao meio-fio e as bicicletas devem circular sobre a sarjeta. “É por onde eu vejo todo mundo que é louco de colocar uma bicicleta no meio do trânsito em Sampa”, afirma o leitor, apesar de sua página no Facebook contar que ele reside em Campinas.

Baseado em sua interpretação subjetiva da lei, Ricardo Dirani dispara frases que demonstram intolerância e falta de respeito pela vida humana, como quando diz que as Bicicletadas são “crimes”, comparando uma interrupção temporária no trânsito de automóveis (por causa de bicicletas, não por causa de outros carros) a assassinatos e estupros.

De uma lei extensa e intrincada como é o Código de Trânsito, Ricardo – não o Neis, dessa vez o Dirani – utiliza apenas um pequeno trecho de um único artigo para embasar sua argumentação egoísta e preconceituosa, deixando de perceber que o todo do Código de Trânsito prima principalmente pelo respeito à vida humana, acima até do direito de circulação.

Embora o discurso do leitor me incomodasse muito, pelo preconceito e agressividade sutilmente embutidos e por estimular atitudes agressivas contra ciclistas, evitei ao máximo escrever uma resposta até agora. Tento não entrar em conflito com quem comenta no Vá de Bike, permitindo seu direito de se expressar por mais equivocado que o leitor esteja, mas não posso correr o risco de permitir que algum desavisado acredite nos absurdos escritos ali.

Portanto, respondo com minha opinião através deste post. O direito de expressão do leitor continua valendo, afinal os comentários são abertos a qualquer um.

Frases

Algumas das frases que me estimularam a escrever este post:

“Sim. É crime [circular a uma velocidade baixa]. Cheque o artigo 48 [na verdade, se referiu ao 58, que diz para utilizar os bordos da pista]. Vocês têm que circular por via própria, e na ausência desta, junto ao meio fio, para não impor sua velocidade ao resto do trânsito.”

“Ah, mas disso eu tenho certeza [que as Bicicletadas continuarão ocorrendo]. Como continuarão acontecendo assassinatos e estupros. Sempre haverão [SIC] pessoas que se consideram acima da lei.”

“Na ausência da ciclovia, você tem que trafegar colado ao meio fio. Você não fica com uma pista só para você. Entende isso?”

“Estaremos pensando em um regime em que ruas são feitas para carros, e calçadas para pedestres, e que ciclistas têm que se encaixar em algum lugar no meio, ao invés de achar que têm um direito que não têm de ocupar qualquer coisa da pista que vá alem de seus ‘bordos’ *quando* não há acostamento ou ciclovia.”

A opinião do Vá de Bike

Ruas para pessoas

Ruas não são feitas para carros. Ruas são feitas para pessoas. Aliás, as ruas sempre foram feitas para as pessoas, desde o início. Para que elas se deslocassem em uma taba, em uma vila, em uma cidade.

Com o tempo, essas pessoas passaram a se deslocar em cavalos, em carroças e depois em máquinas movidas a motor, mas as ruas continuaram sendo essencialmente para levar essas pessoas para onde precisam ir, não importando o veículo que utilizem.

Bordos da pista

Quanto a ciclistas “acharem que têm um direito que não têm” ao ocupar a faixa, vamos rever o que diz o Código de Trânsito:

Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.

Bem, quando não há ciclovia, ciclofaixa ou acostamento – e dentro de uma cidade isso significa quase sempre – deve-se utilizar os bordos da pista. E é esse um dos pilares da argumentação. Pois vamos analisar esse aspecto.

Em primeiro lugar, o texto diz “os” bordos. Perceba que o artigo está no plural. Isso significa ambos, tanto no lado esquerdo quanto direito. Claro que não vamos utilizar a pista esquerda de uma avenida, sejamos razoáveis. Mas para sair em uma conversão permitida à esquerda, quando essa faixa serve apenas a quem vai virar em uma rua ou fazer um retorno, ou em ruas de tráfego menos intenso, onde na faixa direita circulam ônibus, é importante saber que esse uso é permitido por lei.

Em segundo, até onde vai o bordo? Vejamos a definição de bordo no Código de Trânsito Brasileiro:

BORDO DA PISTA – margem da pista, podendo ser demarcada por linhas longitudinais de bordo que delineiam a parte da via destinada à circulação de veículos.

Bordo é, portanto, a margem da pista. Mas até onde ele vai? A lei não diz. Até as “linhas longitudinais de bordo”? Essas linhas só existem quando há acostamento e, nesse caso, a bicicleta deve circular por ele (o que obviamente é mais seguro). Não havendo bordo demarcado, o bordo vai até onde meu entendimento o levar, já que a lei não o especifica. E meu entendimento o leva até onde for necessário para que minha segurança seja garantida. Entenda por que mais adiante.

Um exercício de compreensão

Pedalando muito próximo ao meio-fio, maus motoristas que desrespeitam leis forçam passagem pela mesma pista e colocam em risco o ciclista, sem se importar com sua vida.

Vamos imaginar por um instante, apenas por um breve instante, que a argumentação desse leitor estivesse correta, que houvesse uma demarcação de bordo nas vias e que o ciclista só devesse mesmo pedalar sobre a sarjeta, correndo o risco de bater o pedal no meio-fio, de entalar a roda em uma grelha ou de não conseguir desviar de um buraco, caindo em meio aos carros.

Como todos os outros artigos do Código de Trânsito continuam valendo, quando Ricardo Dirani passasse com seu carro ao lado de um ciclista ele teria que respeitar o artigo 201, que o obriga a passar a uma distância de um metro e meio da bicicleta que está ali espremida junto ao meio-fio.

Como as faixas de circulação não conseguem abrigar a largura de um automóvel, mais 1,5m de distância, mais a largura de uma bicicleta, Dirani teria de mudar de faixa para fazer a ultrapassagem dentro da lei e sem colocar em risco a vida do ciclista. Para ele, portanto, seria totalmente indiferente se o ciclista está se jogando na calçada ou pedalando bem no meio da faixa, uma vez que seria necessário mudar de faixa de qualquer forma.

Não entendo então o porquê de tanta celeuma, já que o Sr. Dirani se mostra bastante cioso com o cumprimento das leis e não deixaria de cumpri-las apenas para provar um ponto de vista, sobretudo se isso implica em colocar vidas em risco.

Tenho certeza também que o Sr. Dirani respeita o artigo 192, que diz para manter distância lateral segura e não colar na traseira dos demais veículos, incluindo-se aí as bicicletas. Também dá preferência aos ciclistas em cruzamentos, de acordo com o artigo 214, e diminui a velocidade a ultrapassar uma bicicleta, conforme o art. 220 item XIII. Sabe ainda que os veículos motorizados são sempre responsáveis pela segurança dos não motorizados, de acordo com o art. 29 §2º.

Por mais que um ciclista, um pedestre ou até outro sagrado motorista esteja infringindo uma lei de trânsito, essa infração não justifica uma reação violenta e que incorra em crime de tentativa de lesão corporal ou de homicídio como forma de punir ou de “educar” alguém que esteja agindo incorretamente na via. Pense nisso.

Acima de tudo, quero crer que o Sr. Dirani respeita a vida humana, como pessoa de bem que pretende ser. Aquele ciclista utilizando a rua poderia ser seu amigo, se ele se desse a chance. Pode ser um pai, uma mãe, um filho sendo esperado por pais preocupados, o grande amor da vida de alguém. Dê-lhe o direito de chegar inteiro em casa.

Ciclista, ocupe a faixa

Sim, ocupe a faixa. Além de ser seu direito, é muito mais seguro. Não se importe se alguém com pensamento equivocado vai buzinar atrás de você, gritar impropérios contra sua mãe, esmurrar o volante e babar no banco de couro.

É melhor um motorista te xingar e mudar de pista para ultrapassar do que passar com o retrovisor a 10 centímetros do seu guidão, colocando sua vida em risco. E, mesmo que ele o faça, ocupando a faixa você tem um espaço de fuga à sua direita. Estando colado ao meio-fio, você só pode torcer para que ele não encoste em você com uma tonelada de metal a 70km/h.

Veja aqui no Vá de Bike por que ocupar a faixa e como fazê-lo de forma segura. Valorize sua vida, não a opinião de quem não se importa com ela.

169 comentários em “Leitor afirma que bicicletas não podem usar as ruas, para não atrapalhar os carros

  1. Tiago,

    Entendo seu ponto-de-vista.
    Porém, as palavras escritas ficam disponíveis para todos. E sempre podem ser úteis para quem não tem opinião formatada sobre o tema, tem mente aberta, e pode ver os dois lados da questão.

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  2. Sr. Dirani.
    Sinceramente, com todo o respeito, eu acho que o senhor têm algum problema sério… O que a maioria das pessoas não pensa, assim como você, não enxerga, é que os ciclistas melhoram o trânsito e não o pioram.
    Olha por essa perspectiva. Um carro ocupa o espaço de seis bicicletas. Seis carros, de acordo com sua medida mínima de 3,13 metros, ocupam quase 19 metros. Ou seja, se seis pessoas fossem de bicicleta, você teria 19 metros a menos de engarrafamento. E vc acha que a culpa do trânsito é do ciclista. Dá próxima vez que você ver um ciclista, você deveria agradece-lo por ser um carro a menos na rua, poluindo e entupindo as ruas. PENSA DIREITO!!

    E outra, acredito que você saiba ler… No CTB diz que as bicicletas trafegam com preferência sobre os veículos automotores.
    Então sinceramente, não dá para intender a sua opinião!

    Na minha opinião o senhor deveria entender que nós ciclistas fazemos muito mais pelo mundo e pelo futuro do que vocês motoristas.

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  3. eu sei, tiago, vc tem toda razão! mas eu, pelo menos, sou discípula de jó. tenho uma paciência do cão. é que eu era professora, eu acho. sei lá. mas quem se empolgou agora foi vc! rs. é isso, pedalar, pedalar, pedalar. é que quando a gente faz uma coisa que dá muito prazer, a gente quer que todo mundo passe por isso, não é assim?

    ca, vamo nóis!

    ter medo de pedal é para os fracos.

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  4. Nossa, que disposição pra tentar convencer alguém que explicitamente não quer ser convencido…
    Parabéns ao heroicos argumentadores pró-vida, pró-ciclistas, pró-cidades humanas, pró-civilidade, pró-CTB, etc!
    Acho que eu já não tenho mais saco para esses debates. Acho que eu me conformei com o fato óbvio de que somos seis bilhões de mentes diferentes, com distintas perspectivas de mundo (mesmo que vez ou outra próximas em alguns aspectos). Existem momentos (e este é um desses, me parece) que o debate é inócuo demais para merecer o gasto de uma única molécula de ATP. Por exemplo: combater o racista e homofóbico Bostanaro no plenário da Câmara, em entrevistas para a mídia ou em manifestos públicos é fundamental, urgente, obrigatório; combater seus eleitores e defensores na seção de comentários de um post qualquer é pura perda de tempo. O anonimato e a impessoalidade da internet são perfeitos para os covardes que defendem qualquer absurdo sem o risco de represálias sérias. Aqui a lógica é a mesma. O tal Ricardo não quer dar o braço a torcer para nenhum dos bons argumentos apresentados à exaustão (queria ver se teria a mesma coragem de sustentar sua posição caso fosse milagrosamente autuado por um agente da CET), talvez até esteja se divertindo muito com os 15 kilobytes de fama repentina e ainda que postem mais um milhão de irrefutáveis argumentos o debate não avançará um milímetro sequer. Como o cara não é uma figura pública, não é o rei do Twitter, não tem programa na Globo, não foi capa da Playboy, não é colunista dos jornalões, não namora jogador famoso, não participou do último Big Bosta Brasil, em suma, como o cara tem uma esfera de influência muitíssimo limitada, banal (assim como eu e quase todos nós, aliás), talvez o melhor a fazer é deixá-lo com suas ideias e torcer para não encontrá-lo motorizado numa dessas avenidas da vida. O máximo que ele merece depois da primeira meia dúzia de comentários bem intencionados que lhe foram pacientemente dirigidos (e com os quais ele não aprendeu nada, apesar da polidez) é o ostracismo virtual ou ironias que não consumam mais que alguns segundos de digitação. É fato que bons argumentos sempre serão importantes para qualquer transformação social, mas daí a ficarmos martelando e martelando as mesmas teclas na vã esperança de que o sujeito irá em algum momento descobrir a roda e escrever “puxa, agora eu entendi o ponto! de fato calçadas foram feitas pra pedestres e as ruas de Sampa podem ser compartilhadas com civilidade por ciclistas e motoristas”, bah! só mesmo para quem tem muita paciência e tempo (coisas que eu não tenho sobrando, confesso, especialmente a primeira). Na minha modesta opinião a melhor resposta para pessoas como o tal Ricardo não pode ser formulada nem escrita, somente exemplificada: PEDALEM! PEDALEM! PEDALEM! PEDALEM! PEDALEM! PEDALEM! PEDALEM! Pedalem no meio da faixa e ignorem os hunos, godos e visigodos que queimarem a buzina na pressa de chegar até o próximo congestionamento! Sua vida vale muito mais do que a pressa deles, nós todos sabemos. E quando estiverem motorizados, façam exatamente aquilo que nenhum desses bárbaros faz ao volante: deem preferência aos pedestres nas faixas sem semáforos, reduzam a velocidade e se afastem dos ciclistas, sorriam quando possível e humanizem a cidade. O mundo será mudado (ou melhorado, para não ser tão utópico) pelo exemplo, e olhe lá! Haverá mais vítimas enquanto isso? Claro! Talvez eu seja o próximo a ser atropelado covardemente por um monstrorista defensor dos “bordos de 15 cm”, ou minha esposa, ou meus amigos. Muitos filhos ainda ficarão sem pais, muitas mães sem filhos, muitas esposas sem maridos e namorados sem namoradas. Mas isso não depõe contra a urgência de humanizarmos a cidade pelo exemplo (sempre e principalmente) e pelas palavras (quando houver abertura sincera para o diálogo). Lamento informar: sempre haverá Bostanaros, Ricardos (Neis e esse outro) e gente com os pensamentos mais esdrúxulos em relação a qualquer questão de bom senso cívico (e é claro que eles é que acharão esdrúxulo o pensamento dos seus antagonistas, sem surpresas aqui). A diversidade de ideias e ideais é um fato óbvio que merece tanto ser celebrado (quando não coloca em xeque o bem estar alheio) quanto combatido (quando coloca). Conformar-se com esse fato, com essa dissonância inevitável, é um passo importante para con-viver melhor ou no mínimo tolerar mais as diferenças; enfrentá-lo no momento e no local adequados e da maneira correta, outro. Cada um saberá reconhecer por si próprio esse momento e essa maneira. De minha parte, acredito que a menos que se tenha paciência e tempo de sobra para gastar com sardinhas e tubarões, melhor seria concentrar a energia (tão importante!) nestes últimos e deixar que o exemplo (ou a vida) responda à pequenez daquelas. Enquanto isso é bom torcer para que um destes peixinhos sacais não tente te mostrar à força que eles é que estão certos: bons argumentos jamais nos protegerão da barbárie alheia, como Porto Alegre provou. E chega que agora quem gastou tempo demais com sardinhas fui eu…

    COMPARTILHEM AS RUAS!
    Parabéns Willian pelo post e pela premiação merecida!

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  5. Meus prezados:
    No dia em que os motor-dependentes demorarem 15 minutos para que o carro se desloque 300 metros para ir até a padaria, talvez se lembrem que um dia souberam andar sobre duas pernas ou duas rodas…
    O que vivencio hoje na minha cidade (420 mil habitantes e 300 mil veículos) é que o percurso que eu faço de carro em 30 minutos, faço em 10 de bike. E nos semáforos? Gente babando, gesticulando com as mãos pra fora do carro, esmurrando o volante.
    Na rua onde eu moro, só havia um semáforo que fazia cruzamento com uma avenida de grande circulação. Hoje são CINCO. Sim, porque ninguém mais respeita a preferência do outro. E vamos criando uma sociedade de neuróticos e estressados ao volante.

    Num futuro não muito distante, andar de bike ou até mesmo a pé será uma questão de inteligência e pontualidade. Escrevam.

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  6. A discussão sobre quem é mais civilizado (Índia ou Inglaterra) não cabe aqui, mas acho que basta olhar os indicadores socio-econômicos para obter a resposta, certo? Chega a ser injusto fazer essa comparação entre uma das maiores potências do mundo ocidental e um país semi-tribal, onde metade da população é analfabeta, onde cristãos são perseguidos, igrejas queimadas, pastores mortos.

    Agora, quanto aos “ciclistas imporem sua velocidade ao resto do trânsito”, isso você tirou dos seus sonhos, meu caro sr Dirani. O ciclista é mais rápido do que o carro, taí o desafio intermodal para provar isso. Só porque não atinge velocidades de pico beirando os 100km/h – que, aliás, não levam a nada, é aquela velha história, acelera que nem um doido e depois freia que nem um doido no sinal – não significa que somos mais lentos.

    A quantidade de carros que eu ultrapasso é incomparavelmente superior à quantidade de carros que me ultrapassam. E eu também fico muito irritado com a brincadeira de congestionamento que os motoristas curtem fazer todo santo dia lá pelas 18h. Mas nem buzinar eu buzino. Só sigo adiante e chego em casa feliz.

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    1. Gunnar: e eu espero que alguem tenha percebido a dupla ironia de que 1) eu não fiz a comparação entre as civilizações e ainda assim 2) ninguem se indignou quando você a fez 🙂 Eu, pessoalmente, não acho que dê para comparar civilizações dessa maneira. A Inglaterra teve esse mérito, de se render diante de protestos não violentos, sobre a indiana. A indiana tem lá seus méritos sobre a inglesa. O triste é ver como alguem pode distorcer isso para cinicamente caracterizar a reação inglesa de covardia. É politicamente correto ofender países de primeiro mundo ao mesmo tempo em que se desfruta das benesses que eles proporcionam, e politicamente incorreto criticar países de terceiro mundo. Para mim essa é também uma atitude covarde e hipócrita. Duplamente hipócrita porque na hora de sugerir que o ciclismo é uma prática avant garde *por* ser adotada na Europa, ao ponto do Sr. Alkmin concluir que minhas restrições ao ciclismo se deveriam a eu não conhecer a Europa, nem a arrogância cultural, nem a de classe (quem seria eu para ter uma opinião pública sobre ciclismo se *nem sequer estive na Europa*, não é?) suscitou qualquer reação negativa.

      Eu vi o vídeo do desafio intermodal. Muito legal o vídeo e a proposta. Eu tenho uma pergunta: Se a bicicleta corre entre as faixas, como os carros podem fazer para manter o metro e meio de distância exigido? Porque pelo vídeo é a passagem pelo corredor de carros que dá a vantagem à bicicleta:
      http://www.ciclobr.com.br/diasemcarro/noticias93_4_Desafio_Intermodal_de_Sao_Paulo.asp

      Achei um artigo aqui que enfatiza que as bicicletas devem formar *fila única* pelo bordo da pista de rolamento: artigo 247:
      http://www.zuandeiros.com.br/index.php?act=leitura&sec=49&id=221

      Novamente a prática do Massa Crítica, de formar um bolo de bicicletas com o intuito de causar o maior transtorno possível ao tráfego da cidade * parece uma clara afronta ao código de trânsito. Se pelo menos uma pessoa já tiver tido a capacidade de interpretação de texto de que esse era o cerne do meu ponto, e não o legalismo específico de quantos metros quem tem que ficar de quem, eu já terei feito valer o meu tempo.

      *The purpose of Critical Mass is not usually formalized beyond (…) attempting to halt all normal city traffic.
      http://en.wikipedia.org/wiki/Critical_Mass

      Incidentemente, achei um outro post falando sobre problemas que estão surgindo na convivência entre ciclistas e corredores (!). Será que a pessoa quando sobe na bicicleta também tende a se transformar em um, sei lá, “bestaclista”? Vocês decidem:
      http://runnersworld.abril.com.br/blogs/correria/bomba-relogio-280697_p.shtml

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  7. MEU DEUS. O_O

    Esse maluco tenta justificar esta tentativa de assassinato em massa,com o motorista arrastando pessoas debaixo do carro como se fosse a coisa mais normal do mundo.

    http://www.youtube.com/watch?v=1TeOAwp6Fj4

    CUIDADO GALERA.
    Foi confirmado o que todo mundo já sabia..a que ponto patológico um indivíduo pode chegar…nesses casos nem a psiquiatria salva!
    MUITO cuidado,principalmente quem reside em Campinas.
    Vocês já tem a foto, é só ficar longe.

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  8. Ok Dirani, reconheço q fui injusto com sua pessoa ao ligar seu nome junto do homicida do Golf-Cristhine, oq eu nãop espero é q vc um dia q encontrar uma massa critica seja aonde for não faça o mesmo q o teu xará, saia atropelando e matando p/ depois uma terceira personagem venha querer defender o mal-feito. Eu sei bem q o próprio Prabhupada falava mal do Ghandi, acontece q na minha opinião Ghandi estava transcedentalmente á frente da própria religião Hindu ou do movimento Hare-Krshna, isso não aconteceu com o próprio Jesus, qdo ele falou p/ o povo dar a outra face qdo apanhasse? Ou Martim Luther King q foi assassinado? Ghandi foi assassinado por um próprio patrício seu, um hindu fanático a sociedade infelizmente é cheia de gente mal-intencionada, veja o próprio exemplo do Ricardo Neis atropelando um monte de ciclista por achar q uma cambada de desocupado não tenha + oq fazer e oq ele justificou? Até agora NADA, só falou q estava querendo se matar na cadeia, (pena q não se matou), mas vc pegou um apreço por ele, entendo q vc é um cara informado e td + mas se vc está compactuando com este “meliante”, parece q vc no lugar dele fazeria o mesmo. Peço minhas humildes desculpas ao juntar seu nome q por ironia é o mesmo dele e julgá-lo de possível homicida, OK? Mas o convite p/ o rolê de bike está em aberto, desejo q um dia vc compartilhe essa felicidade de pedalar e sentir o vento ao rosto. 1 forte abraço e tds as pedaladas do mundo á vc, vc soube manter um bom nível de conversa!! Mas Ricardo Neis não tem boi não, eu quero que ele pague oq deve ao povo gaúcho e espero tbm não encontrá-lo pelo trânsito do nosso Brasil, vai saber das intenções dele!!

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    1. Obrigado Dodô. Eu tendo a não responder quando se chega nesse nível de irracionalidade, e só seguir em frente com o argumento principal. Mas fico feliz quando alguem se toca :-).

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      1. Agora eu entendi a fixação do Dirani por “andar colado ao meio-fio”.
        Vejam o que eu encontrei no antigo Código Nacional de Trânsito de 1966 (revogado em 1997, é bom lembrar):

        Art 87. Os condutores de motocicletas e similares devem:

        a) observar o disposto no art. 83;

        b) conduzir seus veículos pela direita da pista, junto à guia da calçada ou acostamento, mantendo-se em fila única, quando em grupo, sempre que não houver faixa especial a êles destinada.

        Penalidade: Grupo 3.

        Parágrafo único. Estendem-se aos condutores de veículos de tração ou propulsão humana e aos de tração animal, os mesmos deveres dêste artigo.

        Aaaaah, malandrinho! Tentando nos enganar, hein?

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          1. Entendi. A idéia então é obedecer o código de trânsito *desde* que você concorde com ele, certo? Então quando os carros não mudam de faixa, mas partilham a faixa com a bicicleta andando pela margem, o problema *em si* não é a infração ao código de trânsito, mas o fato de que *você* concorda com a regra de manter um metro e meio de distância.

            Você pode aproveitar e nos dizer qual é a sua opinião sobre bicicletas andando no corredor de carros, impossibilitando aos carros em ambas as faixas manterem-se a um metro e meio de distância da bicicleta?

            Polêmico. O que acha? Thumb up 3 Thumb down 6

          2. [Comentário oculto devido a baixa votação. Clique para ler.]

            Esse comentário não tem feito muito sucesso. Thumb up 2 Thumb down 7

        1. Fala Guilherme, seu pândego! Não é que você tem razão? A última vez em que peguei numa bicicleta foi em 1995! Olha o que dá ficar velho. Mas veja como o claro “junto à guia da calçada” foi substituído pelo (claramente para vocês) dúbio “pelo bordo da pista de rolamento”, mas a “fila única” permanece na codificação atual:

          Art. 247. Deixar de conduzir pelo bordo da pista de rolamento, em fila única, os veículos de tração ou propulsão humana e os de tração animal, sempre que não houver acostamento ou faixa a eles destinados:
          Infração – média;
          Penalidade – multa.
          BORDO DA PISTA – margem da pista, podendo ser demarcada por linhas longitudinais de bordo que delineiam a parte da via destinada à circulação de veículos
          http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9503.htm#art341

          Você pelo menos admite como uma massa crítica infringe a parte da fila única, ou nem isso?

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          1. A idéia da Massa Crítica é justamente questionar esta visão de que “ruas são para carros” e isso passa pelo questionamento, pela ação, no caso, dessa idéia de fila indiana.
            Como muitos motoristas estão aprendendo, compartilhar a rua não arranca pedaço e andar em fila indiana, principalmente quando estamos em grupo, é muito, mas muito chato mesmo.

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          2. Completando, o lance da fila indiana, pelo menos no meu caso, já ocorre naturalmente.
            Quando acontece de alcançar outro ciclista na via eu nunca emparelho, a menos que tenha certeza de poder ultrapassar e abrir uma boa distância.

            As leis estão aí pra serem cumpridas, mas também é papel nosso questionar e pressionar, quando elas são injustas, ou, como neste caso, formuladas sem base na experiência concreta.

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          3. A bicicleta é uma excelente solução para a mobilidade urbana. Deve ser incentivada e utilizada no combate ao sedentarismo e a obesidade. Os níveis de segurança no trânsito aumentam na medida em que aprendemos a conviver pacificamente, sem segregação, respeitando os direitos de cada cidadão.

            Há séculos, desde o uso do cavalo, estamos deixando de usar somente o próprio corpo para movimentar-se. Os efeitos dessa mudança de comportamento já começaram a apresentar problemas, entre eles a obesidade e o estresse. Precisamos reverter esse quadro e recuperar nossa capacidade locomotora. Não precisamos ser tão velozes quanto os guepardos, que capazes de alcançar a velocidade de 100 Km/h, mas podemos pelo menos evitar a atrofia de nossos membros se optarmos pelo transporte ativo ao invés de depender somente do transporte passivo.

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  9. Alguém simplesmente reparou na úlitma e conclusiva frase do artigo que esclarece que os ciclistas têm “preferência sobre os carros”?

    Nem precisa discutir, a lei é clara, como é clara a educação em países desenvolvidos: a preferência no trânsito é:
    1. Pedestre (o ser humano em si, detentor do direito de ir e vir por si só)
    2. o ciclista (por que o legislador assim entendeu)
    3. o piloto de veículo motorizado (porque claramente alguém vestido com uma roupa de 1 tonelada de metal, está claramente em vantagem em relação aos demais).
    4. O semovente, ou seja, veículos com tração animal (porque o animal é irracional e nem sempre pode-se prever se ele vai sair atropelando ciclistas na massa crítica em Porto Alegre, ou se ele vai guardar a distância de 1,5m devida a todo veículo durante a ultrapassagem…)

    Infelizmente, por força da profissão, quando faço fotos externas, tenho que usar minha pickup enorme, barulhenta, de cabine dupla, que polui pra cacete, porque tenho que levar quilos de equipamentos, mas minha peugeot 1962, garimpada num mercado de pulgas e restaurada com todo carinho, geralmente é meu meio de transporte diário.

    Outra infelicidade que vejo aqui no Brasil, depois de ter vivido 8 anos na Europa, é que carro é sinal de status e diploma de preguiça. O cara quer ter um carro, nem que seja mil, parcelado em 5 anos, pra pegar gatinhas, ou pra sentir-se livre para andar por onde for. E tem aquela sensação benfazeja de sair de casa, sem chuva, com som, controlando uma máquina poderosa e poder chegar exatamente no seu ponto final, com o ar ligado, etc.

    O dia em que realmente o ser humano aprender a viver em comunidade, aí não teremos mais discussões desse tipo. Porque se eu preciso usar o carro, eu terei o dever de pensar que meu ‘brou’ ali do lado, optou pela magrela para não encher meu nariz de carbono, e para liberar mais o tráfego da cidade. E quando eu estiver de bike, eu saberei que o motorista também estará pensando em mim, e em como fui legal com ele, permitindo que ele trafegasse mais tranquilo, numa cidade com um carro a menos.

    Abraços.

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    1. Exatamente. O dia em que a prioridade forem os transportes coletivos (COLETIVO, alguém ainda acredita nessa palavra?), quando a gente puder andar de bicicleta livremente, quando quiser, por prazer ou por opção. Sabe o que vai acontecer nesse dia? Haverá menos carros, só aqueles de quem realmente precisa de um, e eles poderão trafegar com a velocidade que quiserem e manterem a distância necessária das bikes. Sem nenhuma necessidade de xingamentos e agressões.

      Como outros comentaristas já apontaram, a discussão tem que ser pautada não pelo individualismo de quem acha que tem o direito de andar com seu carrão sem zelar pela segurança dos mais fracos, ou por aquele que busca um modo alternativo (mas também individualista) de transporte. A palavra é COLETIVO e a solução para TODOS, pedrestes, ciclistas e motoristas é o investimento em transporte coletivo.

      Mas é claro que agora é uma questão de chamar a atenção dos motoristas para um fato bem simples: vocês tem uma arma nas mãos, e é responsabilidade de vocês cuidar da segurança de pedrestes e ciclistas. A vida deles é mais importante que a sua velocidade e, enquanto estão seguindo a lei, eles devem ser respeitados. Exigir que ciclistas andem no meio-fio é um absurdo. A maioria das orientações para ciclistas na cidade onde vivo diz explicitamente o contrário: o meio-fio é perigosíssimo, os bueiros são armadilhas mortais.

      Um abraço a todos!

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  10. Bom Dirani já leu algum livro indiano? Se não leia uma das jóias da religião do mundo: “Bhagavad Gitá”, garanto q é uma revolução interior q talvez vc esteja neste momento precisando, eu mesmo já li 5 versões dele a + interessante é a do respeitadissimo A.C. Bhaktivedanta Swami Prahbupada um grande líder espiritual q traduziu vários livros sacros hindus p/ a língua inglesa, (q ironia, não). E p/ vc q disse q a Índia é um país atrasado, leia uma frase do Mahatma Ghandi: “Se um único homem atingir a plenitude do amor, neutraliza o ódio de milhões!” VC precisa de paz e o homicida do Golf-Cristhine tbm , aliás esse psicopata já tá solto hein? Olha pessoal do bem, cuidado pq se juntar os Ricardos, Neis e Dirani vai ser a grande matança, Deus me livre!

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    1. Olá Dodô. Obrigado por perguntar. A ironia maior, eu acho, é que uma das críticas mais bem estruturadas que conheço a Gandhi é do próprio Prabhupada. Você pode vê-la nestes dois trechos, por exemplo:

      http://harekrishnablog.blogspot.com/2008/12/everyone-is-trying-to-become-supreme-so.html

      “Nosso Mahatma Gandhi tentou parar violências. Ele começou o movimento da não-violência mas de fato ele tinha que morrer pela violência. Então os ksatriya, eles são treinados em violência para se tornarem violentos para pararem violências.”

      http://causelessmercy.com/?P=RV5&ND=true

      “(…) Mahatma Gandhi (…) interpretou o Bhagavad-gita numa tentativa de fundamentar sua teoria da não-violência. Como é possível provar não-violência a partir do Bhagavad-gita? O próprio tema do Bhavagad-gita involve a relutância de Arjuna em lutar e Krishna induzindo-o a matar seus oponentes.”

      Prabhupada escreveu extensamente sobre Gandhi:
      http://www.harekrsna.com/sun/editorials/09-06/editorials680.htm

      “Srila Prabhupada explica que não apenas a filosofia de não violência de Gandhi é espúria, mas também o mito de que ele trouxe a independência é espúrio. O que nos leva a outro importante ponto filosófico: quando pessoas em com poder e posição políticos assumem uma identidade de santidade e então promovem filosofias espúrias que não se fundamentam em sastra, então é preciso manifestar-se em defesa da verdade, independentemente de quão impopular isso pareça para a maioria dos ouvintes. Muitos ao redor do mundo engoliram o mito de Gandhi como se ele fosse verdadeiro, e dizer a verdade sobre a situação é a única maneira de de derrubar o mito.”

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  11. “Para o amigo que acredita que catalogar pontos de vista contrários aos seus como erros que inviabilizam o diálogo, aquele abraço, e boa sorte. Nunca é tarde para aprender.”

    Didi, honey, sweetheart,
    não se trata de catalogar o seu ponto de vista como erro.
    trata-se de entender, se dar conta, compreender, ver a ficha cair, que o buraco é mais embaixo.
    o seu jeito de ver e entender o mundo é absurdamente diferente do meu.
    eu achei que fosse pouca coisa, que fosse só uma questão de medo, mas depois de ver vc (rsrs, que gostinho vc me deu agora!) catalogar os pontos de vista de uma nação milenar (culturalmente riquíssima) como erros que justificam a miséria em que grande parte da população vive, ah, eu entendi que é besteira continuar. quer dizer, eu sabia, eu já disse algumas vezes que achava que seu caso não tinha solução. mas eu sou uma boba romântica incorrigível. sempre iludida.
    E sobre índia X inglaterra, engraçado, não tenho a menor vontade de conhecer a inglaterra. só uma coisa da inglaterra me atrai, os beatles. e na índia tudo me atrai. a religião, a comida, as roupas incríveis que aquelas mulheres usam, tudo, tudo, menos tomar banho no ganges, quer dizer.
    aliás, o disco que eu mais gosto dos beatles é o da fase índia.
    eu sei que vc não vai rever seus conceitos. nem tem como, eu acho. mas espero que um dia uma luz te ilumine.

    deixo aqui um vídeo que eu queria que vc visse. por que vc, amigo, só por deus, como diria minha mãe. então, já que não há mais nada a discutir, desejo toda a paz do mundo pra vc. estou mesmo mandando vibrações positivas mentalizando o seu nome. e essa música me enche de paz, talvez te toque de alguma forma.

    http://www.youtube.com/watch?v=wynYMJwEPH8&feature=related

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