Ciclistas estendem faixa de protesto em cruzamento de Sorocaba/SP. Foto: Os 6 do Pedal

As ciclovias de Sorocaba estão sumindo – e os ciclistas estão preocupados

Na cidade que já foi referência nacional em ciclovias, trechos sumiram e estruturas foram removidas. Plano Diretor previa aumento, mas extensão da rede diminuiu

Inspirados em uma campanha do Vá de Bike, ciclistas sorocabanos tem chamado atenção para a importância de proteger a vida de quem pedala. Com faixas exibindo a frase “nenhum ciclista merece ser atropelado”, percorrem a cidade parando nos semáforos, para passar o recado aos motoristas.

“A gente começou a campanha porque agora acontecerão as votações das emendas do orçamento da cidade para 2023. E vamos mandar propostas para os vereadores em relação a ciclovias e à segurança do ciclista aqui na cidade”, explica Claudinei Jesus de Oliveira, fundador do grupo Os 6 do Pedal.

A cidade do interior paulista que já foi referência nacional em ciclovias vem perdendo estruturas no últimos anos. Um exemplo é a ciclofaixa da Rua Paes de Linhares, na Vila Fiori. Quando removida em 2017, mais de 70 ciclistas realizaram um protesto, mas até hoje a estrutura não voltou. Tampouco foi oferecida alternativa segura a quem se desloca em bicicleta.

R. Paes de Linhares, em Sorocaba: antes, estrutura para proteger a vida de quem pedala; agora, vagas de estacionamento para dar conforto a quem dirige. Imagens: Google Street View/Reprodução

BRT engoliu a ciclovia

Além de retrocessos arbitrários como o da Paes de Linhares, quem usa a bicicleta em Sorocaba também viu partes de ciclovias removidas após as obras do BRT (sistema de transporte rápido por ônibus).

“Há locais onde o BRT utilizou trechos onde antes havia ciclovia. Em alguns casos ela não foi refeita, em outros deixou a desejar e onde era compartilhado passou a ser só ônibus. E a prefeitura acabou liberando mesmo assim”, aponta Claudinei.

No vídeo abaixo é possível ver, aos 2:40, um ponto onde o ciclista tem que descer para a faixa onde circulam os ônibus, porque a estação do BRT foi construída sobre a ciclovia sem que fosse criada uma alternativa segura. Não há qualquer sinalização indicando ao ciclista como proceder, nem mesmo alertando os motoristas sobre a presença de bicicletas na via.

Perceba que não há opção para quem chega ali pedalando, a não ser contornar a estação pelo asfalto. Os ciclistas foram deliberadamente expostos a risco viário pela prefeitura, pois precisam descer à via em meio aos ônibus do BRT, para retornar à estrutura somente dezenas de metros depois.


Bicicletário mal posicionado

O descaso do projeto do BRT para com quem pedala é muito claro. Basta ver que os suportes do bicicletário foram instalados de forma que, se prenderem bicicletas ali, a circulação será totalmente interrompida para as bicicletas no canteiro central.

Para piorar a situação, quem estacionar a bicicleta no suporte do meio talvez tenha dificuldade em tirá-la dali se houver outras presas ao lado, já que pode não haver ângulo para manobrá-la.

Em vista de todas essas situações, Oliveira reforça a necessidade de cobrar o poder público. “Se a gente não reclama, acaba ficando sem espaço, porque tiraram a sinalização onde era compartilhado e ficou só para ônibus. Então a gente fez reclamações e alguns vereadores se manifestaram. Mas vamos ver se agora em outubro vão colocar alguma coisa no orçamento.”

Da forma que os suportes foram instalados, uma bicicleta presa a eles pode impedir a passagem. E a ciclovia, que seguia no canteiro central, foi interrompida pela estação do BRT sem que uma alternativa de circulação segura fosse criada. Imagem: Os 6 do Pedal/Reprodução

Ciclovia desmanchando

Outro problema que a cidade enfrenta é a falta de manutenção da rede cicloviária. Na ciclovia que margeia o Rio Sorocaba por exemplo, o pavimento está bastante rachado e com pedaços soltos.

Essa ciclovia é parte da conexão entre a R. Antônio Silva Saladino e Av. Dr. Ulisses Guimarães. Há até grama crescendo nos buracos.

Pavimento da ciclovia junto ao Rio Sorocaba está desmanchando. Fotos: Claudinei Oliveira

Estrutura cicloviária deveria ter crescido

De acordo com o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade de Sorocaba, oficializado pela Lei nº 11.319/2016, a meta da cidade é chegar a 235 km de ciclovias em 2027. Para isso, o Plano prevê a construção de 120 km de novas ciclovias, em adição aos 115 km existentes na época de sua elaboração (2014).

Segundo o texto, algumas das novas ciclovias deveriam ser implantadas justamente por projetos como o do BRT. No entanto, em vez de ampliar a malha, as obras removeram estruturas existentes, criando grave risco para quem pedala.

Era de se esperar que, em 2022, a estrutura de proteção aos ciclistas da cidade já tivesse aumentado em torno de 60 km. Porém ela claramente encolheu desde a elaboração do Plano Diretor, tanto se considerarmos os casos citados pelos moradores quanto se avaliarmos os números divulgados pela administração municipal.

Veja o mapa da rede cicloviária proposta para Sorocaba pelo Plano Diretor:

A Rede Cicloviária proposta pelo Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade de Sorocaba e o texto que, além de informar a quilometragem prevista, ainda previa a expansão do IntegraBike. Imagem: PDTUM/Reprodução

Quantos km de ciclovias tem Sorocaba?

Atualmente, é praticamente impossível saber quantos quilômetros tem a rede cicloviária de Sorocaba. As informações deveriam estar disponíveis, claras e atualizadas nos sites da Prefeitura, da Secretaria de Mobilidade ou da Urbes, mas não é o que acontece.

Enquanto a página sobre o Pedala Sorocaba só tem dados até 2016, anunciando 126 km de ciclovias naquele ano, a página que centraliza as informações sobre o Sistema Cicloviário da cidade traz números que se contradizem em um mesmo parágrafo.

Quantos km de ciclovias tem Sorocaba? Nem a Prefeitura sabe. Imagem: website da Urbes/Reprodução

O texto começa afirmando que Sorocaba possui 110,8 km de ciclovias, mas logo passa a dizer que são 118 km, somados a 9 km de faixas compartilhadas com ônibus. Para piorar, boa parte desses 9 km passou a ser exclusiva para ônibus. Em outras palavras, representam estrutura cicloviária removida, pois deixaram de existir.

A impressão que fica é que nem a prefeitura sabe qual o tamanho e quais as condições reais dessa malha. Ou prefere não divulgar essa informação.

Antes compartilhada com bicicletas, faixa da R. Comendador Oetterer agora é exclusiva para ônibus. Mas, oficialmente, sua extensão ainda é considerada no cálculo da malha cicloviária da cidade. Imagens: Google Street View/Reprodução

Vidas em risco

A prefeitura de Sorocaba precisa entender que ciclovias não são um luxo, um incômodo, ou mesmo uma “despesa”. São um investimento na saúde da população, no meio ambiente e na segurança viária.

São estruturas de proteção à vida, que deveriam estar sendo mantidas, melhoradas e ampliadas. Como manda a Lei 11.319/2016.

2 comentários em “As ciclovias de Sorocaba estão sumindo – e os ciclistas estão preocupados

  1. Nosso abraço a toda equipe Vá de bike, informamos que o integra bike também foi desativado com promessa de retorno, infelizmente até agora nem sinal! Tempos sombrios para quem usa da bicicleta para se locomover pela cidade de Sorocaba.

    Comentário bem votado! Thumb up 5 Thumb down 0

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