Mais uma Ghost Bike, infelizmente – sábado 27/03/10

A mensagem abaixo foi enviada essa semana pelo Cleber Anderson e explica a situação por mim:

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Infelizmente, ontem, sábado – 20 de março de 2010, por volta das 15h, Manoel Pereira Torres, um senhor ciclista de 53 anos que usava todos os dias sua bicicleta para sair da Favela da Paz em Interlagos até o Itaim onde trabalhava como porteiro na R. Joaquim Floriano, atravessava a rua na faixa de pedestres depois que o farol abriu para ele, quando foi atingido violentamente por uma moto que vinha a toda velocidade pela faixa dos ônibus na Avenida Vereador José Diniz, sentido centro bairro um pouco antes do início do Clube Banespa. A velocidade que a moto passava foi tanta que arremessou o corpo do Sr. Manoel contra o semáforo a uma altura de 3 metros. Sua bicicleta, arremessada contra o poste de aço, dobrou ao meio.

A ironia é que no projeto da Nova Avenida Vereador José Diniz deveria constar uma ciclovia, que simplesmente foi “esquecida” pelas autoridades da época. Depois de cobrados, ficaram de construir outra de “compensação”, paralela à avenida nova. Nela circulam muitos ciclistas que, devido à aclividade da região, encontram ali uma boa forma de atravessar as avenidas Água Espraiada e Vicente Rao, que ficam em vales profundos.

Quem vai “compensar” a morte do Sr. Manoel e o risco que outros ciclistas correm sem a ciclovia prometida?

Cleber Ricci Anderson
pessoalmente presenciou o corpo do Sr. Manoel
e sua bike dobrada ao meio
Ghost Bike
Foto: ghostbikes.org

A notícia não saiu nos jornais. Afinal, “seu” Manoel era só um porteiro, morava numa favela. Fosse alguém de classe média alta, teríamos sabido pela imprensa e não por uma testemunha. Fosse um participante do Big Brother, um ator de novela, um empresário ou um jogador de futebol conhecido, haveria comoção nacional. Mas seu Manoel, ora… era só um Manoel qualquer, não é mesmo? Mais um que entra para as estatísticas de pelo menos um ciclista morto por semana, por assassinos que trafegam em alta velocidade, ou por outros que acreditam poder adestrar os ciclistas a pedalar na calçada colocando em risco suas vidas com uma “fina” que pode ser fatal.

Ciclistas se unirão amanhã, sábado 27, para instalar no local do acidente assassinato uma bicicleta branca, conhecida como Ghost Bike. Para que a morte do seu Manoel não seja só um incômodo ao trânsito, para que o poder público acorde e veja que a política de omissão tem seu preço em vidas, para que a CET pare de aceitar trocar vidas por fluidez, para que todos vejam que a vida de qualquer cidadão tem o mesmo valor.

A massa se reunirá na Praça do Ciclista, às 9 da manhã, para se dirigir até Av. Vereador José Diniz, altura do número 1750, para realizar a instalação. Será uma manifestação pacífica, democrática, cidadã e importante para conscientizar as pessoas – e principalmente o poder público – sobre a importância de uma cidade mais humana, que valorize mais a vida das pessoas do que a velocidade com que as máquinas podem trafegar. A homenagem será feita por volta das 11h, caso você queira se dirigir diretamente até o local.

Compareça ao ato, com ou sem bicicleta. Mesmo de carro você será bem vindo. Esperamos que com isso a Subprefeitura de Santo Amaro se sensibilize para a necessidade de uma ciclofaixa ou ciclovia no local, de sinalização protegendo o ciclista na região. Não adianta fazer vista grossa: o ciclista existe, faz parte do trânsito, trafega por todas as regiões da cidade o dia todo, tem o mesmo direito de se deslocar do que os donos de automóveis e motocicletas e o mesmo direito de chegar vivo em casa no final do dia.

Fazer vista grossa para a existência do ciclista nas vias da cidade é condenar muitos deles à morte. Vamos acordar, prefeitura. Vamos acordar, CET. Matar indiretamente, sem ter que olhar nos olhos da vítima, não pesa na consciência e permite dormir à noite. Decisões que priorizam o fluxo de veículos motorizados em detrimento da segurança de pedestres e ciclistas resultam em mortes, pensem nisso.

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14 comentários em “Mais uma Ghost Bike, infelizmente – sábado 27/03/10

  1. Neste dia passamos eu e meu filho, somos ciclistas também…na hora nossos olhos se encheram de lágrimas, pq eu tb fui atropelada por um motoboy em dezembro/2009.
    Fico indignada com o desrespeito ao ciclista, a impressão é que as pessoas tem o prazer de tirar fina…prá logo em seguida ficar parado no farol!
    É muita ignorância!
    Sem contar que os motoboys, que deveriam ter um pouco mais de companheirismo, são os que mais fecham a gente!
    Essa cidade tem que MUDAR!
    Há pessoas que me dizem que aqui não foi feita prá nós! E então, eu vou me conformar e não vou fazer nada?!

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  2. Hoje pedalando na av. faria lima, um onibus que deveria estar na faixa da direita, entrou pra esquerda onde eu estava, ele quis me assustar, nao estava competindo com ele e sim deixei a passagem livre pra ele. Eu consegui chegar nele e disse que ele estava errado, ele ficou quieto. Muitos motoristas de onibus sao mal educados. Tambem vejo que tem ciclista que nao respeita m as sinalizaçoes,precisamos ser todos educados pra andar no transito.

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  3. eu moro bem perto de onde foi o acidente, passei de carro no local logo depois e vi a bicicleta amassada e o corpo dele coberto com alguma coisa enquanto não podiam retirar do local. ontem passei na altura do acidente e vi a ghost bike. muito triste. eu sempre falo pra minha mãe que quero ir pra escola de bicicleta, mas agora ela tem mais medo do que já tinha antes.

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  4. Quarta-feira 24/3 tive o cotovelo fraturado em acidente de bike na volta do trabalho. Óbviamente não se compara ao preço pago pelo Sr. Manoel. Só faço esse comentário para dizer que todos os ciclistas sofrem, em escalas diferentes, com as agressões da cidade sem infra-estrutura e com o trânsito brutal. Minhas condolências à família do Sr. Manoel. Tragédia!

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  5. Uma ciclovia teria ajudado? Desculpe, mas pelo que entendi a culpa foi do motociclista que atravessou no vermelho, não? Mais importante que criar uma ciclovia, não seria punir e fiscalizar esses contraventores?

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  6. Meu.. eu vi esse senhor morrer. Eu moro no prédio na frente de onde ocorreu esse assassinato.. só ouvi o barulho e da janela da cozinha vi o seu manuel caido no meio da avenida. é uma cena bastante impressionante. Esterie lá com minha familia com certeza!

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