Ciclistas foram à casa de João Doria pedir que ciclovias não sejam retiradas em São Paulo (vídeo e fotos)

Mobilização foi motivada pelas declarações do prefeito eleito, sinalizando que muitas ciclovias na cidade serão desfeitas em sua gestão.

Uma carta foi entregue ao segurança, que se comprometeu a entregá-la a João Doria Jr. (PSDB), prefeito eleito de São Paulo. Imagem: Willian Cruz
Uma carta foi entregue ao segurança, que se comprometeu a entregá-la a João Doria Jr. (PSDB), prefeito eleito de São Paulo. Imagem: Willian Cruz

Cidadãos paulistanos pedalaram até a casa do prefeito eleito de São Paulo, na noite da quarta-feira 5 de outubro, para pedir que as ciclovias não sejam retiradas. Até uma pessoa com patinete estava no grupo. A manifestação foi motivada pelas declarações de João Doria Jr. à imprensa, sinalizando que muitas das ciclovias da cidade serão desfeitas em sua gestão.

Foto: Willian Cruz
Foto: Willian Cruz

Um grupo de cerca de 100 pessoas saiu da Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, por volta das 20h. Circularam por várias ruas dos Jardins, sob os olhares atentos da PM, que escoltou os ciclistas até o local e ajudou a segurar os carros em alguns cruzamentos. Ao chegar, outro grupo com pelo menos 20 pessoas já aguardava com suas bicicletas em frente à residência do novo prefeito.

A PM isolou o local, evitando conflito com os motoristas, e uma das ciclistas, Vera Borges, tocou a campainha em nome do grupo, pedindo para falar com Doria. Foi atendida por um segurança, que informou que ele não estava no momento e que estaria trabalhando em outro local. Uma carta foi lida em voz alta, com revindicações como a permanência das ciclovias e o não aumento dos limites de velocidade (veja no vídeo abaixo). O segurança recebeu a carta e garantiu que seria entregue ao prefeito eleito.

CICLOVIAS EM RISCO
Declarações de João Doria demonstram
risco de retirada de ciclovias
Mais de metade das ciclovias pode
ser retirada em São Paulo - veja mapa
Programa de Governo previa
expansão das ciclovias de São Paulo

Cartazes e die-in

Após a leitura da carta, os participantes deitaram no chão com suas bicicletas em um ato conhecido como die-in, representando os mortos no trânsito. O ato durou alguns minutos, aos gritos de “desacelera São Paulo” e “vai ter ciclovia”.

Nas bicicletas, cartazes passavam mensagens como “ciclovia fica”, “nem um metro a menos” e “ciclovida”. Veja na galeria de fotos, mais adiante nesta página. Pedimos desculpa pela qualidade das imagens, que foram capturadas da transmissão ao vivo, com suas restrições de resolução e iluminação.

Manifestantes deitaram no asfalto, simbolizando os mortos no trânsito. Imagem: Willian Cruz
Manifestantes deitaram no asfalto, simbolizando os mortos no trânsito. Imagem: Willian Cruz

 

Novos ciclistas

Ficou claro para nossa reportagem que a maior parte dos ciclistas ali presentes eram “recentes”, ou seja, pedalam em São Paulo há menos de três anos. Entrevistamos alguns dos participantes, sem perguntar seus nomes, por entender que quem está em um protesto nem sempre se sente à vontade para se identificar, com receio de represálias. Os depoimentos podem ser vistos no vídeo.

“A gente não quer nem um metro a menos de ciclovias porque isso é tirar os direitos dos ciclistas”, diz um rapaz aos 14:50 do vídeo. Ele usa a bicicleta diariamente há pouco mais de um ano e começou a pedalar já com a estrutura nova.

Outro entrevistado (aos 18:50) diz que pedala todos os dias da Mooca ao Butantã, usando ciclovias em parte do caminho. “A galera não respeita [fora das ciclovias]. Então a ciclovia não tem que parar, pelo contrário, tem que aumentar. A cidade é para todos, não só para os carros”, declarou. Ele se desloca de bicicleta há apenas um ano. Perguntado sobre a diferença de pedalar onde tem e onde não tem ciclovia, respondeu que “é uma grande diferença, a segurança é máxima na ciclovia. Fora é difícil. Fora é complicado. A galera não respeita.” Eventuais buracos e falhas nas ciclovias não diminuem a relevância das estruturas: “buraco você consegue desviar, carro é mais difícil”. As estruturas existentes “não são a melhor coisa do mundo, mas ajudam”.

Vera Borges, que fez a leitura da carta, explicou que as declarações do prefeito eleito preocuparam quem usa a bicicleta, por isso as pessoas se juntaram nessa manifestação. “São Paulo conseguiu reduzir muito a fatalidade dos acidentes nos últimos anos, por conta da baixa velocidade, das ciclovias. As mulheres estão pedalando mais, estão carregando seus filhos para a escola, tudo isso é muito importante. E parece que o Doria não tem muita informação, o que a gente está querendo é que ele nos procure realmente, para que a gente converse a respeito desse assunto, porque eu acho que a equipe dele não está muito bem informada sobre todas as conquistas que tivemos nesses anos, que facilitaram muito a vida de muita gente e salvaram muitas vidas. A pressa de ninguém vale uma vida e eu espero que o Doria entenda isso.”

Sobre os novos ciclistas, Vera diz que foi maravilhoso ver tanta gente nova participando de uma manifestação como essa. “Muita gente começou a pedalar por causa das ciclovias novas, então tem muita gente pedalando. Eu tenho 61 anos, pedalo uma média de 30 km por dia, ninguém pode dizer que São Paulo não seja ciclável. Eu dou aula particular e percorro essa cidade inteira de bicicleta. E eu me sinto com 30! Eu queria que as outras pessoas tivessem essa oportunidade que eu tenho, de pedalar e chegar aos 61 com a saúde que eu tenho. O dia que as crianças mesmo começarem a pedalar nessa cidade, vai ser a glória.”

Vídeo

Veja abaixo como foi a manifestação, com a leitura da carta e as entrevistas com os participantes. O vídeo foi transmitido ao vivo pela nossa fan page. Logo abaixo, nossa galeria de fotos.


Galeria de fotos

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